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UMA CIDADE SEM MEMÓRIA CULTURAL É UMA CIDADE SEM FUTURO HISTÓRICO

Paulo Eiró

Santo Amaro - São Paulo - SP
1836 - 1871
Paulo Francisco Emílio de Sales, o poeta Paulo Eiró, nasceu, quando Santo Amaro era Município, em 15 de abril de 1836, filho de Francisco das Chagas e Maria Angélica. Seu pai era o Professor Antônio Francisco das Chagas, que foi também o primeiro Presidente da Comarca de Santo Amaro.



Aos 11 anos se apaixonou pela prima Cherubina Angélica de Salles, que foi sua musa por toda a vida. Paulo já lia em francês e aos 12 anos escreveu junto com o pai: Taboas Chronologicas.
Aos 19 anos formou-se pela Escola Normal de São Paulo e foi nomeado como professor em Santo Amaro, exercendo o magistério por oito anos com intervalos.



Nos primeiros anos de magistério a vida de Paulo Eiró foi tomada de uma verdadeira febre para a poesia, não conseguia disfarçar a paixão que sentia pela prima e musa, mas a esperança de conquistá-la acabou, pois a mesma estava de casamento marcado. Ele começou a ficar absorto nas aulas e, à noite os santoamarenses viam-no a caminhar pela Vila, o olhar perdido no chão. Começaram então os passeios pelos lugares próximos nos quais gastava o dia inteiro e não almoçava e nem jantava. Apesar da preocupação da mãe, ele sentia o enfadamento de tudo, somente uma esperança o animava: entrar na Faculdade de Direito. Entrou para a faculdade, licenciando-se na Escola Primária da Vila e transferindo sua residência para São Paulo.



Ficou conhecido como um poeta admirável e até algumas das suas poesias eram faladas nas arcadas acadêmicas da atual São Francisco. As esquisitices anteriores da época da Vila que haviam desaparecido no início do período estudantil, retornaram de uma hora para outra, queria sempre ir para casa e se fechava no quarto, não almoçava, não jantava. Às vezes seguiam-se dias de entusiasmo e bastante estudo até a próxima crise. A família preocupada trouxe-o para Santo Amaro, aí a próxima esquisitice foi mística. Inflamou-se no desejo de matricular-se no Seminário e não aceitava conselhos para demover tal idéia. O pai, que já tinha outro filho ordenado padre, até que não achou má idéia, e acompanhou-o ao Seminário Episcopal no Bairro da Luz. Neste período, Paulo Eiró, já contava com 23 anos e era considerado pelos colegas do Seminário como velho, contribuía também sua expressão facial sempre triste e o ar de ausência. Com o seu humor novamente em crise andava pelo quarto, ou então espalhava pelo Seminário suas poesias tristes e abolicionistas, motivo pelo qual foi aconselhado a voltar a Santo Amaro e a seu pai foi sugerido que destruísse os cadernos com suas poesias o que foi feito pelo Professor Francisco das Chagas.



Sua próxima esquisitice foi a viagem a Mariana/MG, novamente os conselhos de nada adiantaram e sua partida aconteceu sob os olhares tristes da mãe e do pai. Da viagem, a família pouco teve noticia, exceto que quando pelo caminho pernoitou, na casa de parentes e amigos, mas se sabe que ele não conseguiu chagar a Mariana/MG. Como a viagem foi feita a pé, durante meses não se teve noticia dele. Vamos reencontra-lo, voltando sem a bagagem, tendo no bolso apenas um livro gasto de anotações.

Ao entrar em São Paulo, sente uma movimentação nas proximidades da Praça da Sé, muitos carros e luzes, então resolve ir até lá. Com aguda curiosidade resolve entrar na Igreja. Era um casamento, mas ao reconhecer a noiva vê que é a sua musa, a mulher que ele tanto amou agora casava-se e estava perdida para sempre. Até os padrinhos eram seus amigos e parentes, mas ninguém notou sua presença e novamente se põe a caminho a pé para voltar para Santo Amaro. Veio compondo a poesia:


FATALIDADE:


Que vista! O sangue se afervora e escalda!
Por que impulso fatal fui hoje à Igreja ?
Quer meu destino que, ao entrar, lá veja
Noiva gentil de cândida grinalda.

Nos olhos sem iguais, cor de esmeralda,
Lume de estrelas, plácido lampeja:
Seu branco seio de ventura arqueja;
Louros cabelos rolam-lhe da espalda.


Hora de perdição! Sim adorei-a;
Não tive horror, não tive sequer medo
De cobiçar uma mulher alheia.

Unem as mãos; o órgão reboa ledo;
Em alvas espirais, o incenso ondeia...
E eu só, longe do altar, choro em segredo!


Novamente morando na Chácara, a vida sem sentido e morosa da Vila, Paulo Eiró, se dedica a escrever e faz também viagens, a Tatui,a Sorocaba e proximidades. Passa-se o tempo e o poeta encontra-se envolvido numa viagem ao Rio de Janeiro através do Porto de Santos, aonde chegou a pé. Da viagem à Corte, sem dinheiro, novamente não ficaram registros, mas sabe-se que a convivência intelectual era pura emoção. Naquela época pelo Rio de Janeiro circulavam Machado de Assis, Bernardo Guimarães, José de Alencar, entre outros.



Na volta para a Chácara dedicando à poesia, foi convidado pela Comissão dos Festejos pelos 36 anos de S.M. Imperial D. Pedro II, para ceder os originais do drama Sangue Limpo que seria representada em São Paulo. Paulo Eiró participou da montagem e marcação das cenas . entusiasmado. Nos ensaios em São Paulo, sua alegria era tamanha, novamente Paulo Eiró, estampava no rosto a felicidade e junto ao grupo de artistas renomeados da época ele reencontra a lucidez, chegando muitas vezes a transmitir com sua fala o significado do texto.



O dia 2 de dezembro de 1861(dia das comemorações) começou com paradas militares, missa na Igreja da Sé e à noite no teatro São Paulo, localizado no Pátio do Colégio, foi encenado o espetáculo com a presença dos figurões do Governo, estudantes, e quase todos os moradores de São Paulo. Apesar da emoção presente em Paulo Eiró a crítica dos jornais não foram favoráveis e ao lê-las com decepção, novamente retornaram suas crises.



Nos próximos dois anos Paulo Eiró, dedica-se, em meio a crises, a dar aulas na escola primária em Santo Amaro, mas as alternâncias da sua demência obrigaram os familiares a pedir seu afastamento. As viagens ficavam cada vez mais freqüentes, ele ia a São Paulo e ao Rio de Janeiro, havia períodos em que não se tinha noticias dele, sem noção do tempo retornava à Chácara, sua saúde estava cada vez mais precária e a família criou o hábito de deixar o portão fechado para que ele não fugisse.



Mas em um domingo, pela manhã, ele encontra o portão aberto, atravessou a Vila e entrou na Igreja de Santo Amaro. Era hora da missa e todos estavam presentes e sem que a sua família notasse ele começou a interferir no que o padre falava. Todos ficam pasmos ao ver sua ousadia de falar durante a Santa Missa,seu pai, leva-o de volta para casa mas só a toma consciência que era hora de interná-lo quando ele quebra um crucifixo.



Em maio de 1866, Paulo Eiró, aos 31 anos, foi internado no Hospício dos Alienados que se localizava na várzea do Carmo na Rua Tabatinguera em São Paulo. Durante 5 anos ele definha, entre crises de demência e lucidez. Mas sua família também foi acabando, seu pai morreu em 1867 e sua escrava Ana em 1869.



Então no dia 27 de junho de 1871 faleceu Paulo Emílio de Salles, o poeta Paulo Eiró, no Hospício dos Alienados, de meningite, aos 36 anos de idade.



Bibliografia consultada:1. Consalves, José. Paulo Eiró - noticia bibliográfica, IN: Sangue Limpo, 1949.2. Paes, José Paulo. Pequeno Dicionário de Literatura Brasileira, 1968. 3. Schmidt, Afonso. A vida de Paulo Eiró.
Pesquisa e redação: Míria de Moraes
Nota do artculturalbrasil
Paulo Eiró, apesar de brilhar na Faculdade de Direito de São Paulo, não pôde ter uma vida feliz. De sua turma participaram dois futuros Presidentes da República; Campos Sales e Prudente de Morais; porém não concluiu o curso.

AMEI-TE
Amei-te! do poeta a alma incendida
Precisava adorar, fosse um momento,
Formosa estátua sobre altar de argento
No molde do seu peito derretida,
Estátua foste, sim! nem comovida
Tornar-te pôde meu atroz tormento.
Essa chama infeliz que, sem sustento,
Me devorava pouco a pouco a vida.
Mas o culto fanático abalado
Está por teu rigor, por esse zelo
Com que, paga de amor, me dás agrado.
Amante posso ser, deixar de sê-lo...
Mulher, o coração é limitado:
No fundo dos vulcões também há gelo...
TAMERLÃO
Cometa pavoroso, que galopa
Nos caminhos do céu e o orbe tritura;
Granada que rebenta, que fulgura,
De mortos junca a terra e em sangue a ensopa;
Furacão despeado, a fera tropa
Que Timur arrancou aos campos do Ura,
Espraiando, convulsa, ainda murmura:
"Avante! Avante! ao coração da Europa!"
Ouves? A forte voz do Cã retumba:
"Ao poente! Não faltam ao Mongol
Louros para a cabeça, ou para a tumba!"
E pôs-se a caminhar; tem por farol
O destino: que importa que sucumba?
É no ocidente que se põe o sol!

...
Nota: Tamerlão, como se sabe, foi aquele famoso conquistador oriental (1336-1405), que dominou grande parte da Ásia e também a Rússia. Morreu quando conquistava a China. Péricles Eugénio da Silva Ramos, ao relembrar esses fatos acrescente: "Na Pérsia, levantavam torres com os crânios das populações trucidadas"
Ainda em nota de Péricles Eugênio da Silva Ramos, versos 8, 10, 14 - "Na verdade, Tamerlão, morreu quando seguia rumo oriente"

Realização


14 comentários:

  1. Anônimo18:39

    Olá! amiga Tere como o mundo dá voltas!!!
    teatro "PAULO EIRO" no bairro de SANTO AMARO, lugar onde vivi minha infância
    obrigado,por me remeter ao passado(ontem)
    MARIA LUIZA VANDERSTAPPEN

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  2. E eu, amiga TERE, fiz meu curso primário no Grupo Escolar Paulo Eiró, em Santo Amaro.
    Nem sei mais se existe ele ainda.
    Deu saudades ler tudo isso...
    Eu também escrevo alguma coisa.
    Quem quiser me ler pode visitar minha página...
    http://recantodasletras.uol.com.br/autores/Athosalexandria
    Abraços de coração amiga...

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  3. Marisa12:31

    Eu também estudei lá, era um prédio velho e foi demolido, será que alguém tem alguma foto? bjus.

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  4. centenário paulo eiró12:59

    2010 O GRUPO ESCOLAR DE SANTO AMARO E HOJE EE. PAULO EIRÓ, SITUADO A RUA: PADRE JOSÉ MARIA,Nº 210, (AO LADO DO TERMINAL DE SANTO AMARO),
    ESTARÁ COMPLETANDO 100 ANOS DE EXISTÊNCIA.
    A ESCOLA ENGAJADA NO PROJETO DO CENTENÁRIO DA EE. PAULO EIRÓ PEDE A TODOS AQUELES QUE AQUÍ ESTUDARAM OU TRABALHARAM E QUE POSSUEM ALGUM TIPO DE DOCUMENTO OU FOTOGRAFÍAS, QUE NOS ENVIEM PARA A PRESERVAÇÃO DE NOSSO ACERVO,E PARA QUE POSSAMOS DEIXAR REGISTRADOS PARA AS PRÓXIMAS GERAÇÕES A HISTÓRIA DESTE QUE FOI A PRIMEIRA ESCOLA PÚBLICA DE SANTO AMARO.

    GRATA

    DUCI WEISS

    paulo.eiro@yahoo.com.br

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  5. 'após muitas pequisa encontrei este plog maravilhoso faço parte de cia teatral estamos montando uma peça sobre Paulo eiro ...
    quem quizer conhecer o grupo ...
    transfoorme@hotmail.com
    www.grupotransfoorme@hotmail.com

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  6. Bom dia!!!
    Sou funcionária da E.E. Paulo Eiró.Fiquei emocionada ao ler o reláto da triste,embora linda, história do escritor.
    Minha filha cursa a primeira série na escola e terei um imenso prazer em repassar-lhe , o que aqui aprendi.
    Coloco-me a sua inteira disposição, no sentido de contribuir nas comemorações do centenário.

    simonemontes-simonemontes.uema@gmail.com

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  7. Anônimo21:21

    Sou professora na EE Paulo Eiró, estamos em busca de materias sobre a história da nossa tão querida escola...fotos antigas, relatos de ex alunos e funcionários ajudarão muito na preservação histórica.

    Abraços,

    lucia_adao@hotmail.com

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  8. Anônimo22:54

    Fui aluna do antigo GRUPO ESCOLAR PAULO EIRÓ e tenho uma grande saudade desta escola, lembro até hoje de uma caixa d'agua redonda que tinha lá no fundo do pátio, até hoje sonho com esta querida escola,até as salas de madeira que existia nos fundos da escola, e quem não se lembra do TIO BIJU?, pois é o tempo passa mas na minha mente é como se tivesse a fotografia do passado, não se apaga nunca e quando vou para Santo Amaro e passo por lá me dá uma tristeza e saudade ao mesmo tempo.

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  9. Quantas lembranças. Estudei lá de 1967 a 1970. Lembro-me do Tio Biju, do Sr. Getúlio, Professora Maria Odete, Professora Maria Nilda, Professor Nivaldo. Lembro-me do orfeon... tantas lembranças.

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  10. Quantas saudades. Estudei lá entre 1967 e 1970. Quantas lembranças.

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  11. Anônimo15:35

    Estudei na Faculdade Paulo Eiró, sito à Rua Barão de Cotegipe, 111 = Granja Julieta no período de 1973 à 1976.
    hoje a Faculdade não Existe, onde devo procurar o Historio Escolar ? alguém poderá me ajudar

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    Respostas
    1. Caro Altino, escreva o endereço do seu e-mail e publique aqui. Caso alguém saiba como ajudá-lo poderá entrar em contato, ok?
      Desejamos boa sorte.
      Tente também em nosso facebook, lá vc poderá publicar seus recados. Abaixo do banner de cada página do blog tem um link que se acionado entra direto em nosso facebook. Tudo de bom e tomara tenha resultado feliz!

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  12. ALTINO MARÇAL VIEIRA15:37

    ONDE LOCALIZAR DUCUMENTAÇÃO DA FACULDADE PAULO EIRÓ

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  13. Pessoal que está procurando documentação da Faculdade Paulo Eiró/Costa Braga, tentem na Secretária da Educação que fica na Rua Vitalina Grassman 335, Jardim Monte Azul. A última informação que tenho é que os arquivos da paulo Eiró estão arquivados lá.

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