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UMA CIDADE SEM MEMÓRIA CULTURAL É UMA CIDADE SEM FUTURO HISTÓRICO

Henriqueta Lisboa (Comentado)





Página Maria Granzoto
Professora Maria Granzoto da Silva
Editora de Literatura Brasileira ArtCulturalBrasil
Arapongas - Paraná
granzoto@globo.com




HENRIQUETA LISBOA






A poetisa, ensaísta e tradutora Henriqueta Lisboa nasceu na cidade de Lambari, no Estado de Minas Gerais, no dia 15 de julho de 1901, fruto da união entre o deputado federal João de Almeida Lisboa e Maria Rita Vilhena Lisboa.
Dedicou-se à poesia desde muito jovem. Com Enternecimento, publicado em 1929, de forte caráter simbolista, recebeu o Prêmio Olavo Bilac de Poesia da Academia Brasileira de Letras. Aderiu ao Modernisno por volta de 1945, fortemente influenciada pela amizade com Mário de Andrade, com quem trocou rica correspondência entre os anos de 1940 e 1945. Sua produção inclui, além da poesia, inúmeras traduções, ensaios e antologias. Foi a primeira mulher eleita para a Academia Mineira de Letras em 1963.
Em 1984, recebeu o Prêmio Machado de Assis da Academia Brasileira de Letras pelo conjunto de sua obra. Foi professora de Literatura Hispano-Americana e Literatura Brasileira na Pontifícia Universidade Católica (Puc Minas) e na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Poeta sensível dedicou sua vida à poesia. Considerada um dos grandes nomes da lírica modernista pela crítica especializada, Henriqueta manteve-se sempre atuante no diálogo com os escritores e intelectuais de sua geração e angariou muitos leitores ilustres durante sua vida, dentre eles Mário de Andrade, Carlos Drummond de Andrade, Manuel Bandeira, Cecília Meireles e Gabriela Mistral.
Sobre sua poesia, Drummond nos deixou o seguinte testemunho: “Não haverá, em nosso acervo poético, instantes mais altos do que os atingidos por este tímido e esquivo poeta.”
Num dia desses, em que a vida nos obriga a parar no tempo, nada mais me restava a não a minha paixão: a literatura. E comecei a pensar no tempo em que estava perdendo, forçosamente, naquele período! Então resolvi ler o poema a seguir publicado e a refletir sobre o tempo.
O TEMPO É UM FIO

O tempo é um fio fino bastante frágil.
Um fio fino que à toa escapa.

O tempo é um fio.
Tecei! Tecei!
Rendas de bilro com gentileza.
Com mais empenho franças espessas.
Malhas e redes com mais astúcia.

O tempo é um fio que vale muito.

Franças espessas carregam frutos.
Malhas e redes apanham peixes.

O tempo é um fio por entre os dedos.
Escapa o fio, perdeu-se o tempo

Lá vai o tempo
como um farrapo
jogado à toa!

Mas ainda é tempo!

Soltai os potros aos quatro ventos,
mandai os servos de um pólo ao outro,
vencei escarpas, dormi nas moitas,
voltai com tempo que já se foi...


Em “A Arte de ser velho”, Vinícius de Moraes escreveu:

É curioso como, com o avançar dos anos e o aproximar da morte, vão os homens fechando portas atrás de si, numa espécie de pudor que o vejam enfrentar a velhice que se aproxima. Pelo menos entre nós, latinos da América e, sobretudo do Brasil. E talvez seja melhor assim; pois se esse sentimento nos subtrai em vida, no sentido de seu aproveitamento no tempo, evita-nos incorrer em desfrutes de que não está isenta, por exemplo, a ancianidade entre alguns povos europeus e de alhures.

Não estou querendo dizer com isso que todos os nossos velhinhos sejam nenhuma flor que se cheire. Temo-los tão pilantras como não importa onde, e com a agravante de praticarem seus malfeitos com menos ingenuidade. Mas, como coletividade, não há dúvida de que os velhinhos brasileiros têm mais compostura que a maioria da velhorra internacional (tirante,é claro, a China), embora entreguem mais depressa a rapadura.

Talvez nem seja compostura; talvez seja esse pudor eu falávamos acima, de se mostrarem em sua decadência, misturado ao muito freqüente sentimento de não terem aproveitado os verdes anos como deveriam. Seja como for, aqui no Brasil os velhos se retraem daqueles seus semelhantes que como se poderia dizer, têm a faca e o queijo nas mãos. Em lugares públicos não têm sido poucas as vezes em que já surpreendi olhares de velhos para moços que se poderiam traduzir mais ou menos assim: “Desgraçado! Aproveita enquanto é tempo, porque não demora muito e vais ficar assim como eu, um velho, e nenhuma dessas boas olhará mais sequer para o teu lado...”

Considerações conceituais acerca da transcendência

O ser humano é um ser essencialmente transcendente. Ele não se conforma com a realidade e, por isso, sempre se projeta para além dos seus limites de conhecimento. Mas que vem a ser a transcendência?

Walter Brugger (1987), em seu Dicionário de Filosofia, informa que o vocábulo origina-se do latim “transcendere” e que etimologicamente significa a ação de superar. Do ponto de vista epistemológico, transcendência diz respeito à independência de consciência. Em relação à experiência humana, transcendente significa o supra-sensível e o inexperimentável, este último no sentido de especulação do pensar.

Brugger destaca que na atualidade, a filosofia existencial redescobriu a transcendência e menciona as concepções de Jaspers e de Heidegger. Para Jaspers a existência humana se constitui pela transcendência, ou seja, por sua abertura ao Absoluto. Heidegger compreende a transcendência como elevação do ente isolado ao mundo em geral, ao ente-no-todo, ao ser, apesar de não determinar o que seja este ser.

José Ferrater Mora (1977) ressalta, em seu Dicionário de Filosofia, que o termo transcendente costuma ser entendido ao que está para lá de alguma coisa; transcender é sobressair. Amiúde se tem admitido que algo transcendente é superior a algo imanente. A esse respeito, Mora exemplifica que ao se destacar a superioridade infinita de Deus em relação ao criado, se diz que Deus transcende o criado, logo, Deus é transcendênciatranscendência divina ligadas a questões teológicas e metafísicas.

Este autor considera, também, o ponto de vista gnoseológico acerca do conceito de transcendência, ponto no qual desempenha um importante papel o modo de conceber a relação sujeito-objeto. Declara que a doutrina dos transcendentais mais conhecida, apesar de não ser a única, é a de São Tomás, ao defender que o que o intelecto apreende, antes de tudo, é o ente enquanto ente; portanto, o ente em geral.

José Ferrater Mora (1977) assinala que entre as doutrinas mais importantes relativas à transcendência, o sentido que ele opta para exemplificar é o transcendental explorado por Kant, uma vez que nele se manifestam um novo uso e, além disso, uma transformação do emprego tradicional. Assim, para Kant, o transcendental está determinado pelo conceito de possibilidade de conhecimento: “Chamo transcendental a todo conhecimento que se ocupa não tanto dos objectos como do modo de os conhecer na medida em que este modo é possível à priori.” O sistema de tais conceitos pode ser chamado de filosofia transcendental. Kant distingue entre transcendental e transcendente; o primeiro alude ao que torna possível o conhecimento da experiência; o segundo refere-se ao que se encontra mais além de toda a experiência.

O teólogo Leonardo Boff (2000) compreende a transcendência como um desejo e uma capacidade do ser humano para transcender a si mesmo, ou seja, de sair de seu estado atual para buscar algo novo. Destaca que o ser humano é um projeto infinito. Embora a finitude seja inerente à condição humana, porque caminhamos para a morte, o homem busca o infinito, e aí reside a dimensão da transcendência.

Boff assinala que “somos seres de enraizamento e seres de abertura”. Eis, então, os sentidos de imanência/transcendência. “A raiz nos limita porque nascemos numa determinada família, numa língua específica, com um capital limitado de inteligência, de afetividade, de amorosidade”. Esta é nossa dimensão de imanência. “Mas somos simultaneamente seres de abertura”, visto que ninguém amarra as emoções, ninguém é capaz de nos aprisionar totalmente. Esta é a nossa dimensão da transcendência, a qual nos oportuniza romper limites, ir além, superar e violar os interditos. Boff (2000:4) ressalta que:

"Creio que a transcendência é talvez o desafio mais secreto e escondido do ser humano. Ele se recusa a aceitar a realidade na qual está mergulhado porque se sente maior do que tudo o que o cerca. Com seu pensamento, ele habita as estrelas e rompe todos os espaços. Essa capacidade é o que chamamos de transcendência, isto é, transcende, rompe, vai para além daquilo que é dado. Numa palavra, eu diria que o ser humano é um projeto infinito."

Ante o exposto, é possível afirmar que a dimensão da transcendência impulsiona o homem a buscar novos modos de vida e de sobrevivência, a interagir com os outros, a criar e recriar a cultura, que vitaliza e nutre o ser humano a se erguer ante as vicissitudes existenciais e acreditar na possibilidade um novo tempo, um novo mundo, um novo homem.

Henriqueta Lisboa: peculiaridades líricas e ecos transcendentes 
É com essa perspectiva conceptual que almejamos investigar peculiaridades líricas de Henriqueta Lisboa, escritora mineira, que transitou entre as vertentes simbolista e modernista e que viveu entre 1901 e 1985, no Rio de Janeiro e em Belo Horizonte. Sua fecunda obra constitui-se de livros de poemas, ensaios, organização de antologias e traduções. Lisboa recebeu inúmeros prêmios, entre os quais destaca-se o “Prêmio Machado de Assis”, pelo conjunto de sua obra, que lhe conferiu a Academia Brasileira de Letras em 1984.

Ao longo da sua produção lírica, é possível notar certos temas considerados típicos. São eles: o amor, a religião, a infância, o folclore e o patriotismo, as questões sociais, e a morte, sendo este último, o de maior evidência, e destacado pela crítica como o mais importante, visto que este tema assume o título de algumas de suas obras. No presente ensaio, contudo, serão exploradas as imagens transcendentes que se podem ser identificadas em vários poemas de Lisboa, a partir de eixos semânticos a saber: a) fim- morte- infinito; b) limites- contingências- restrições- consciência; c) ascensão- elevação- psiquismo inconsciente entre outros.

Os aspectos supracitados conduzem a uma análise da poética de Henriqueta na perspectiva transcendente, a partir da Crítica do Imaginário, em que os regimes diurno e noturno da imagem se destacam. O regime diurno da representação pode ser definido como o trajeto representativo que implica os reflexos posturais, assim como a argumentação de uma lógica da antítese e o “fugir daqui” platônico. Assim, a tendência do homem em se manter ereto vai-se configurar em esquemas ascensionais na busca da elevação, do cume, da luz, em oposição à queda que remete às trevas, à escuridão.

As constelações imagéticas que representam esse regime, em termos gerais, são luz x trevas, ar x. miasma, arma heróica x laço, céu x inferno, alegria x tristeza e por aí vai. O regime noturno da imagem estará constantemente sob o signo da conversão e do eufemismo. Ao contrário do regime diurno, o regime noturno não antagoniza com o tempo, mas, sim, procura conciliar-se com ele e mesmo fazer parte dele. Desse modo, em torno deste regime vão gravitar os símbolos que remetem a imagens de inversão, de intimidade, bem como aos símbolos cíclicos. Os dois primeiros vão originar as estruturas místicas do imaginário e os últimos, as estruturas sintéticas.

Em termos gerais, as constelações imagéticas que representam esse regime são o fogo (chama), o filho, a árvore, o germe, a roda, a cruz, a rua, o andrógino, o deus plural, o microcosmo, a criança, o Pequeno polegar, o animal gigone, a cor, a noite, a mãe, o recipiente, a moradia, o centro, a flor, a mulher, o alimento, a substância. E os esquemas verbais são amadurecer, progredir, voltar, enumerar, descer, possuir, penetrar.

As considerações críticas e as análises dos poemas, a seguir, serão acompanhadas das imagens relacionadas aos regimes diurno e noturno consoante os estudos de Gilbert Durand (1997) à luz da Crítica do Imaginário, anteriormente mencionada.

Blanca Lobo Filho (1973:15) pontua que Henriqueta preocupou-se com questões que sondam o significado da vida de maneira profunda, pois o poeta é dotado de uma especial percepção, que lhe faculta edificar especulações e observações variadas e bastante significativas em pormenores, acerca da existência humana e do viver em geral. A esse respeito, Blanca Lobo Filho (1973:53) declara que para Henriqueta Lisboa a humanidade representa o perfeito ápice da natureza, visto que a humanidade mantém-se lado a lado com todas as outras criaturas. Lisboa compara a energia do ser humano com a força que pode ser encontrada em toda a criação natural. Assim, o poeta José Antonio Jacob, também mineiro, pergunta em seu poema:

QUANTO TEMPO NOS RESTA?
(José Antonio Jacob)

Nossa vida é uma história mal contada,
Uma vaga novela incompreendida...
Para alguns é um feliz conto de fada,
Para outros uma lenda indefinida.

Vivemos de alvorada em alvorada,
(Que tempo ainda nos resta nessa vida?)
A dar sorrisos largos na chegada
E a lamentar a perda na partida.

Que bom matar o tempo numa rede,
Se ele nos desse a viva eternidade
De um quadro pendurado na parede...

E, enquanto a vida passa e o tempo avança,
Quanta tristeza vai numa saudade,
Quanta alegria vem numa esperança!

O poeta antevê o tempo como um estado mais livre que eliminará as limitações da vida presente, isto é, tal acontecimento neutralizará e dissolverá as tristezas deste mundo e conduzirá o indivíduo a um clima mais agradável denominado eternidade.

A alma revitalizada não possui mais a necessidade das luzes de sua vida anterior, quando estava confinada nos limites do corpo. 

Nesse poema de Henriqueta, optou-se por analisar alguns fragmentos do poema “O tempo é um fio” de O menino poeta, a fim de evidenciar um posicionamento de Lisboa acerca da vida, de modo inquietante e transcendente.

O tempo é um fio
bastante frágil.
Um fio fino
que à toa escapa.

Verifica-se, nos fragmentos, a reflexão perante da passagem do tempo, simbolizado pelo fio da vida, frágil, que pode escapar de repente. Chevalier & Gheerbrant (1995:430-431) informam que o simbolismo do fio é 
essencialmente o do agente que liga todos os estados da existência entre si, e ao seu Princípio. O fio, com efeito, liga este mundo e o outro e todos os seres. O fio é ao mesmo tempo Atma (self) e prana (sopro). [...] Representa o vínculo entre os diferentes níveis cósmicos (infernal, celeste, terrestre) ou psicológicos (inconsciente, subconsciente) etc.
A vida terrena, neste poema, está simbolizada pelo tempo, um fio valioso, que precisa ser cuidado atentamente, tecido meticulosamente por mãos hábeis, que valorizam o viver. Caso o ser humano descuide de tal fio, ele escapará, e, por conseguinte, sua vida também.

O tempo é um fio
que vale muito.
O tempo é um fio
por entre os dedos.
Escapa o fio,
perdeu-se o tempo.

(O menino poeta, p.90)


Ante o exposto, constata-se que o homem possui o precioso fio em suas mãos; e Henriqueta, por meio de seu poetar, concita o leitor a desvelar a grandeza da existência humana e o uso do tempo/vida com que cada ser humano foi presenteado.

O segundo grupo de símbolos do regime noturno são os cíclicos. Gravitam em torno do domínio do próprio tempo. Agrupam-se em duas categorias, conforme se privilegia o poder de repetição infinita de ritmos temporais e o domínio cíclico do devir ou, pelo contrário, se desloca o interesse para o papel genético e progressista do devir, para essa maturação que apela aos símbolos biológicos, por que o tempo faz passar os seres por meio das peripécias dramáticas da evolução.

Os símbolos da medida e do domínio do tempo vão ter tendência para desenrolar seguindo o fio do tempo, para ser míticos, e esses mitos serão quase sempre mitos sintéticos que tentam reconciliar a oposição que o tempo indica: o terror diante do tempo que foge, a angústia diante da ausência e a esperança da realização do tempo, a confiança numa vitória sobre ele. O fio, tal qual o tecido, é um ligador, é também tranquilizante ligação, símbolo da continuidade, inconsciente coletivo pela técnica circular ou rítmica da sua produção. Neste sentido, o poema supracitado, explora, metaforicamente, a imagem do fio como o tempo/vida que o ser humano possui como dádiva divina.

Considerações finais

Pode-se inferir que o símbolo, com seu duplo sentido – concreto e próprio, alusivo e figurado, - nos revela os regimes antagonistas sob os quais as imagens vêm se agrupar. O símbolo surge como restabelecedor do equilíbrio vital e psicossocial comprometido pela noção da morte; atua também estabelecendo o equilíbrio antropológico que constitui o humanismo ou o ecumenismo da alma humana.

Durand, na obra A imaginação simbólica (1988:101) assevera que a função da imaginação é antes de mais nada, uma função de eufemização, porém não simplesmente ópio negativo, máscara que a consciência veste diante da horrível figura da morte, mas, ao contrário, dinamismo prospectivo que, através de todas as estruturas do projeto imaginário, tenta melhorar a situação do homem no mundo.

Portanto, este estudo buscou analisar alguns poemas de Henriqueta Lisboa, sob a ótica transcendente, à luz da Crítica do Imaginário em que os regimes diurno e noturno da imagem são enfatizados. E ainda, ressaltar aspectos líricos de uma voz feminina que favorecem o ensino da literatura na atualidade.



Sua primeira obra, intitulada Fogo Fátuo, foi publicada quando ela tinha apenas 21 anos, o que confirma seu talento precoce. Ao público infantil ela reserva três livros – O Menino Poeta, de 1943; Lírica, de 1958; e o relançamento, em 1975, do primeiro trabalho devotado às crianças, lançado igualmente em disco pelo Estúdio Eldorado.

Um dos maiores impactos em sua carreira literária é a participação no movimento modernista, em 1945. Nesta época ela foi incentivada a integrar esta escola pelo amigo Mário de Andrade, principalmente através das cartas que ambos trocaram entre 1940 e 1945.

Além dos poemas, Henriqueta produziu várias traduções, ensaios e antologias. Escritora de intensa sensibilidade, ela se devotou de corpo e alma à criação de seus poemas. Ao longo de sua trajetória literária, a poetisa sempre se manteve receptiva a novos estímulos e sugestões de seus contemporâneos, conquistando assim inúmeros admiradores no meio artístico e intelectual, entre eles Mário de Andrade, Carlos Drummond de Andrade, Manuel Bandeira, Cecília Meireles e Gabriela Mistral.

Henriqueta foi homenageada, em 1984, com o Prêmio Machado de Assis da Academia Brasileira de Letras por sua obra como um todo. Paralelamente ao ofício literário, ela atuou também no campo do magistério, como professora de Literatura Hispano-Americana e Literatura Brasileira na Pontifícia Universidade Católica (Puc Minas) e na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), e como inspetora escolar.

Esta célebre poetisa morreu em 9 de outubro de 1985, na cidade de Belo Horizonte. Em 2002 houve vários eventos comemorativos em prol de seu centenário de nascimento, quando então foram relançados vários de seus livros, em meio a diversas realizações de natureza cultural.

Em sua bibliografia constam inúmeras obras, entre elas Velário (1936); Prisioneira da noite (1941); A face lívida (1945), dedicado à memória de Mário de Andrade, morto nesse mesmo ano; Flor da morte (1949); Madrinha Lua (1952); Azul profundo (1955); Nova Lírica ((1971); Belo Horizonte bem querer (1972); Pousada do ser (1982) e Poesia Geral (1985), coletânea de poemas escolhidos pela própria escritora, extraídos do total de sua obra, a qual foi publicada uma semana depois de sua morte.

Tempo no sentido Lato

O que é o tempo?

Esta pergunta tem intrigado estudiosos, matemáticosfísicosfilósofos e curiosos ao longo da história da humanidade. Contudo, dificilmente chegar-se-á a um consenso da definição absoluta e definitiva de tempo porque ele é, para o ser humano, em senso comum, apenas um evento psicológico, apenas uma sensação derivada da transição de um movimento. O tempo, apesar de estar vinculado a eventos externos ao indivíduo, sempre será definido de forma idiossincrática, tanto que estudiosos conceituados ousaram sentenciar:

"É o jeito que a natureza deu para não deixar que tudo acontecesse de uma vez só." (John Wheeler)

"Uma ilusão. A distinção entre passado, presente e futuro não passa de uma firme e persistente ilusão." (Albert Einstein)

"Cada segundo que passa é um milagre que jamais se repete." (Antiga frase dita pela Rádio Relógio do Rio de Janeiro).

Crianças de colo não têm a noção de tempo, e adultos com certas doenças neurológicas e ou psiquiátricas podem perdê-la.

A noção humana de tempo encontra-se ligada de forma íntima às percepções fornecidas pelos sentidos - com destaque certamente para o sentido da visão - o que faz com que a noção humana de tempo encontre-se diretamente influenciada pela luz e suas propriedades. 

Considerando que a luz, ao propagar-se livremente, não se "esgota", dado que conseguimos enxergar estrelas cuja luz viajou por mais de 10.000 (dez mil) anos-luz de distância, e que se algum corpo metafísico realizasse uma viagem a mais de 300.000 km/s - a rigor, 299 792 458 metros por segundo, atual velocidade da luz - este poderia contemplar uma viagem no tempo: enxergaria seu passado e não mais teria a percepção de tempo normal. Esse princípio também é realizado com dispositivos de filmagem, fotos e câmeras - eles nada mais fazem do que impressionar matéria física de maneira a reter a luz dos acontecimentos, e também podem ser consideradas "viagens no tempo". Estes fatos são extraordinariamente narrados por Camille Flammarion em "Narrações do Infinito".

Com base na percepção humana, a concepção comum de tempo é indicada por intervalos ou períodos de duração. Pode-se dizer que um acontecimento ocorre depois de outro acontecimento. Além disso, pode-se medir o quanto um acontecimento ocorre depois de outro. Esta resposta relativa ao quanto é a quantidade de tempo entre estes dois acontecimentos: à separação temporal dos dois acontecimentos distintos dá-se o nome de intervalo de tempo; à separação temporal entre o início e o fim de um mesmo evento dá-se o nome de duração. Uma das formas de se definir depois baseia-se na assunção de causalidade.

O trabalho realizado pela humanidade para aumentar o conhecimento da natureza e das medições do tempo, através de trabalho destinado ao aperfeiçoamento de calendários e relógios, foi um importante motor das descobertas científicas.

Em outras palavras, o tempo é uma componente do sistema de medições usado para sequenciar eventos, para comparar as durações dos eventos, os seus intervalos, e para quantificar o movimento de objetos. O tempo tem sido um dos maiores temas da religião, filosofia e ciência, mas defini-lo de uma forma não controversa para todos - em uma forma que possa ser aplicada a todos os campos simultaneamente - tem eludido aos maiores conhecedores.

Os gregos antigos tinham duas palavras para o tempo: chronos e kairos.

Enquanto o primeiro refere-se ao tempo cronológico (ou sequencial) que pode ser medido, esse último significa "o momento certo" ou "oportuno" um momento indeterminado no tempo em que algo especial acontece. 


Medir o tempo significa registrar coincidências. Quando alguém marca um compromisso, digamos às 13:00 horas do presente dia, está informando que ela estará no local combinado quando o ponteiro grande do relógio colocado naquele local coincidir com a marca no dial sobre a qual há a inscrição "12", e o ponteiro pequeno coincidir com a marca associada à inscrição "1".

A medida de tempo requer, portanto, um aparelho que produza eventos repetitivos e regulares - o relógio. A igualdade esperada entre o intervalo de tempo que separa quaisquer dois eventos especificados no relógio e os intervalos que separam as associadas repetições destes mesmos dois eventos é alcançada mediante a simetria propositalmente estabelecida na construção do mecanismo físico que irá funcionar como "base de tempo" do relógio - normalmente um oscilador de alguma natureza: mecânico, elétrico, ou outro. Em particular, esforço deve ser despendido para garantir que cada ciclo se processe sob condições análogas às presentes nos ciclos anteriores, tanto no que se refira às condições iniciais do ciclo - particularmente no que tange à energia total, configuração e distribuição de massa, e mesmo à carga elétrica total, do sistema - tanto no que se refira à evolução do ciclo - com destaque para garantias quanto à constância das leis físicas que governem o mesmo.

Nos relógios mecânicos o oscilador normalmente é constituído por um sistema massa mola, ou em casos de alguns relógios, por pêndulos. Nos relógios elétricos o oscilador pode ser construído apenas com componentes elétricos, mas por questões de precisão, é muito comum que as oscilações deste sejam controladas por um cristal piezelétrico, cristal no qual as vibrações mecânicas de sua estrutura são acompanhadas pela produção de cargas elétricas nas superfícies do mesmo em virtude de suas propriedades estruturais a nível molecular.

Embora relógios com elevada precisão sejam artefatos encontrados com uma enorme facilidade nas mais variadas formas, modelos e tamanhos nos dias atuais, e às vezes custando menos que banana, tal precisão e acessibilidade é algo muito recente na história das sociedades. Na época das grandes navegações, há cerca de 500 anos atrás, dispositivos como estes estavam apenas nos sonhos dos navegadores. A história do relógio dá por si só um livro, e prêmios milionários eram oferecidos para quem conseguisse construir um relógio com precisão requerida à navegação àquela época, visto que a determinação da longitude quando em alto mar não era viável através da observação das estrelas a menos que se estivesse de posse de tal equipamento com precisão razoável. Em suas primeiras versões, a construção de relógios com incertezas de dezenas de minutos ao dia já implicava um grande progresso.

Na ausência de relógios artificiais a humanidade valeu-se, ao longo de sua história, da regularidade observada em certos fenômenos naturais, com destaque para os astronômicos, para estabelecer seus padrões para a determinação e medida do tempo: nestes termos à rotação da Terra devemos o intervalo de tempo conhecido por 1 dia, às fases da Lua devemos a definição de semana - período equivalente a 7(sete) dias; a Lunação serviu de base para a definição de mês, à Translação da Terra devemos o conceito de ano, e assim por diante.

As unidades de tempo mais usuais são o dia, dividido em horas, e estas em minutos, e estes em segundos. Os múltiplos do dia são a semana, o mês, e o ano, e este último pode agrupar-se em décadas, séculos e milênios.

O tempo em contexto social

Pode-se afirmar a existência de um tempo social urbano, de caráter disciplinador e que se configura explicitamente a partir da segunda metade do século XIX. Trata-se de um período onde a industrialização e o advento de novas técnicas, paralelamente ao crescimento das cidades produzem uma nova sociedade urbana. Nesse sentido surgem os relógios urbanos alocados em pontos estratégicos das cidades, como por exemplo, em estações ferroviárias e de barcos, bem como os apitos das fábricas demarcando os turnos de trabalho. Esses novos instrumentos visuais e sonoros surgem na paisagem urbana e são voltados para disciplinarização do corpo trabalhador em um novo ordenamento social, caracterizada por grandes contingentes humanos e pela vida citadina.

Concluindo, como anda seu tempo? Por um fio? Quanto tempo ainda nos resta?


BIBLIOGRAFIA
BRUGGER, Walter. Dicionário de filosofia. 4 ed. Tradução brasileira por Antônio Pinto de Carvalho. São Paulo: EPU, 1987.
CHEVALIER, Jean. & GHEERBRANT, Alain. Dicionário de símbolos. 9 ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1995.
DURAND, Gilbert. As estruturas antropológicas do imaginário. São Paulo: Martins Fontes, 1997.
___________. A imaginação simbólica. São Paulo: Martins Fontes, 1988.
FILHO, Blanca Lobo. A poesia de Emily Dickinson e de Henriqueta Lisboa. Tradução de Oscar Mendes. Belo Horizonte: Imprensa Oficial do Estado de Minas Gerais, 1973.
___________. Interpretação da lírica de Henriqueta Lisboa. Belo Horizonte: Imprensa Oficial, 1965.
LISBOA, Henriqueta. Lírica (obra poética reunida). Rio de Janeiro: Livraria José Olympio, 1958.
________________. Obras completas: I Poesia Geral (1929-1983). São Paulo: Livraria Duas Cidades, 1985.
MORA, José Ferrater. Dicionário de filosofia.Traduzido do espanhol por António José Massano e Manuel J. Palmeirim. Lisboa: Publicações Dom Quixote, 1977.
RANGEL, Paschoal. Essa mineiríssima Henriqueta. Belo Horizonte: Editora O Lutador, 1987.
SILVA, Adriana Levino da. O itinerário do sol: o tempo em Caetano Veloso. Dissertação de mestrado em Literatura Brasileira. Brasília: UnB, 1998.

Site consultado:
BOFF, Leonardo. Tempo de transcendência. O ser humano como um projeto infinito. (Palestra) Lumensana publicações eletrônicas. http://www. scrid.com/doc.  Acesso em 08 de agosto de 2010.
Fontes:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Henriqueta_Lisboa
http://www.revista.agulha.nom.br/hlisbo00.html

Realização

 (abre em outra página)

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