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UMA CIDADE SEM MEMÓRIA CULTURAL É UMA CIDADE SEM FUTURO HISTÓRICO

Nestor Vítor


Página Maria Granzoto
(1868-1932)
Paranaguá - Paraná

granzoto@globo.com



Poeta, contista, ensaísta, romancista, crítico e conferencista. Foi amigo e estudioso da obra de Cruz e Sousa. Autor de uma vasta obra, assim também um divulgador da literatura estrangeira, em particular da francesa. Nestor Vítor dos Santos nasceu em Paranaguá, estado do Paraná, Brasil e faleceu no Rio de Janeiro/RJ, onde residia.

O Momento Literário (Nestor Vítor)
por João do Rio

Recebo-o na volta da sua longa viagem. Nestor Vítor está transformado. A violência, aquele ar de pedagogo zangado com que procurava convencer os discípulos, desapareceu. É um cidadão que passou por Paris, que viveu em Paris, que civilizou todas as arestas do temperamento na polidez de Paris.

Três anos antes faria reflexões a propósito do meu inquérito, reflexões onde haveria de certo alguns desaforos, alguns axiomas, algumas ironias e muito talento. No momento em que lhe pedia as suas idéias, entretanto, sorriu.

— Já?

— Quando quiser. O tempo de refletir. Os jornais não deixam a gente tempo para muita coisa.

Passou os olhos pelo questionário.

— Mas é grave!... Mando-lhe a resposta, amanhã. E sabe? encantado, positivamente encantado...

No dia seguinte recebia a seguinte carta:

"Meu caro João do Rio. O terceiro livro, de Abílio, adotado na escola em que aprendi a ler, é que me proporcionou os primeiros arrebatamentos que o verso me produziu. A "Minha Terra", de Casimiro de Abreu, o "Adeus aos meus amigos do Maranhão", de Gonçalves Dias, e a "Ode aos Baianos", do primeiro José Bonifácio, incluídos naquela miscelânea, deixavam-me fora de mim quando eu os lia, ou mesmo simplesmente ouvia ler, tanto mais se a leitura era feita em voz alta e com certa ênfase. Eu caía quase que em verdadeiro paroxismo, tal a deliciosa exaltação que se apoderava do meu espírito.

Nessas ocasiões nunca me passou pelo cérebro a ambição sequer de algum dia poder fazer coisa assim. Aqueles homens estavam aos meus olhos muito acima de quanto me fosse dado nesse sentido aspirar.

Na escola eu só fiz jornalismo manuscrito. Podia por fim tirar umas vinte ou trinta cópias, tendo conseguido comprar um polígrafo. A influência dos nossos poetas só dois anos depois é que frutificou com o estimulo de um jornalzinho, A Violeta, que rapazes mais velhos do que eu publicavam então na minha terra:

As flores são lindas,
São castas, são belas,
São lindas estrelas
Que brilham no ar...

Lembra-me que foram estas as minhas primeiras trovas, benigna, indevidamente elogiadas pelos mocinhos que me aceitaram para seu colaborador.

Depois comecei a freqüentar o clube literário que havia na nossa cidade e ainda hoje existe, em cuja biblioteca pude encontrar-me com a literatura nacional e portuguesa.

Os poetas e os romancistas, eles e alguns críticos mais acessíveis, é que conquistavam a minha maior atenção, principalmente Gonçalves Dias, Castro Alves, Fagundes Varela, José de Alencar, Bernardo Guimarães e o autor de uma história da literatura portuguesa, cujo nome esqueci. Li Os Lusíadas, por indicação do meu professor de línguas; mas, de todo, não pude achar-lhes sabor.

Foi Gonçalves Dias quem sobrepujou as demais influências dessa época. Pelos meus quatorze anos de idade compus um poemeto, em não sei quantos cantos, ingênua imitação às poesias indianistas do autor do "I - Juca-Pirama":

Qual perla mimosa de nácar corada,
Que nasce encoberta no fundo do mar...

Era assim que começava.

Depois que fui sabendo traduzir do francês, ao mesmo tempo que manuseava Ramalho Ortigão, Eça de Queirós, Guerra Junqueiro — os versos da Morte de D. João produziram-me um grande abalo —, fui lendo Vítor Hugo, Chateaubriand, Madame de Staël, os livros da história da literatura de Villemain, fora os clássicos, que tinha de traduzir em estudo, por obrigação.

De Vítor Hugo, mais do que a d'Os Miseráveis, deliciou-me a leitura de Nossa Senhora de Paris, e, ainda mais do que esta, a do Homem que ri e d'Os Homens do Mar. Seu livro, porém, que eu não me limitei a ler apenas uma vez, mas que volta e meia tinha às mãos, porque ele me interessava particularmente, era o seu William Shakespeare, que obtive de uns salvados, com um grosso volume das obras dos grandes autores italianos, mais os de Villemain a que já me referi.

Esse William Shakespeare, e depois os primeiros volumes de Hugo, que andei procurando de propósito, foram dos livros em que mais meditei até aos meus dezessete anos de idade, já aí com a louca, em todo caso nobre ambição que obras tais tão facilmente, na idade em que eu estava, inspiram. Devo juntar a estes os livros de Staël, principalmente os de crítica e de história, — as páginas em que ela se refere à sua vida, aquelas outras, excelentes, sobre a Alemanha, suas reflexões relativas à Revolução Francesa, etc.

Em todo caso já me achava então um tanto impressionado com o naturalismo, tenho lido principalmente muitos volumes de Zola. Custou-me a princípio aceitá-lo. Lembra-me de ter feito, aos quinze anos talvez, um ensaio intitulado Vítor Hugo e Emílio Zola, em que me declarava francamente pelo primeiro.

Chegando ao Rio com o propósito de preparar-me para o curso anexo da Escola Politécnica, estudos que iniciei num estabelecimento particular, um dia, por acaso, vi e comprei num livreiro A Filosofia d'Arte, de H. Taine, quase pelo mesmo tempo em que adquiria as Flores do Mal, de Baudelaire. Estas eu já conhecia um pouco de leitura superficial que fizera na província, levado pelo entusiasmo essencialmente comunicativo de um meu amigo, Emiliano Perneta, que chegava de S. Paulo, em período de férias.

As duas obras seduziram-me a tal ponto que eu reneguei as matemáticas e resolvi entregar-me de corpo e alma à literatura, participando isso mesmo a quem me cumpria dar satisfação a tal respeito.

Daí por diante entreguei-me ao estudo das ciências, da filosofia e da literatura em geral, com a decisão e o ardor próprios de quem julga que enfim encontrou o seu caminho. Ao mesmo tempo ia produzindo alguma coisa, mais verso do que prosa, então.

Não devo calar que Alberto de Oliveira, e Machado de Assis um pouco, principalmente na sua tradução d"O Corvo", de Edgar Poe, exerceram a maior influência de que me lembre, tratando-se de autores nossos, nas minhas produções dessa época.

É claro que depois disso, convivências e tantas outras leituras vieram que foram atuando e têm vindo a atuar mesmo até hoje na minha formação. De quantos amigos intelectuais tenho podido contar, nenhum como Cruz e Sousa, por exemplo, concorreu principalmente para me dar estímulo e inspirar-me paixão na minha fase de combate aqui no Rio. Mas quando nós nos encontramos, as minhas tendências já se achavam definidas nas suas linhas gerais. Foram, pois, esses de que acima falo que me deram o que se chama o impulso inicial.

Das minhas obras qual a que prefiro?

Sempre tive predileção pela que ainda não produzi. As outras só em dias especiais é que as posso reler. Depois, não me parece que valha a pena falar de coisas que fiz, tendo eu sempre a impressão de que o público não se lembra delas, tanto mais que a maior parte dos leitores as desconhece por completo.

Se atravessamos ou não um período estacionário em literatura?

Estamos mais ou menos nas mesmas condições de todo o Ocidente. Neste instante é mais em Roosevelt que se concentra a atenção universal, representante como ele é, ainda não de uma característica renascença, mas de um momento de crise, o planeta inteiro achando-se na perplexidade de quem não sabe ao certo para onde irá.

Há forças poderosíssimas em ação — há o movimento industrial e o movimento socialista; mas que pode conhecer antecipadamente o que vai resultar da incubação formidável a que assistimos?

Parece que o mundo terá dentro em pouco o seu eixo de influência inteiramente deslocado da posição em que se achava, e o governo da humanidade irá cair em outras mãos que não aquelas de quem mais dependeu até agora a marcha da civilização.

Mas até que ponto e como essa deslocação se há de produzir? Quais os seus resultados práticos? Que abalos ou cataclismas hão de provir daí, que modificações sofrerá com isso a geografia política e até o destino das diferentes raças humanas?

Nós outros, brasileiros, não temos sido de todo indiferentes a essas graves preocupações.

A maior parte dos nossos escritores, é certo, poetas, autores de contos, romancistas, ainda obedecem ao programa de há vinte ou trinta anos atrás. Seus amores, ou então o esplendor da nossa natureza e a poesia dos nossos costumes, os absorvem quase por completo. Eles são mais ou menos parnasianos no verso e naturalistas fazendo contos ou romance. Como exemplo, dois excelentes autores, Alberto de Oliveira e Coelho Neto.

Mas há outros que já acordaram mais vivamente para a hora.

Por enquanto, preocupado franca e diretamente com essas perspectivas de que falo, só há um livro de arte, — Canaã, do Sr. Graça Aranha.

O romance tolstoísta, Ressurreição, do Sr. Curvelo de Mendonça, também é característico do momento, embora muito pouco no Brasil, onde ainda nem quase se pensa sobre essas coisas.

É de citar também A América Latina, do Dr. Manuel Bomfim, corajoso livro de crítica e doutrinamento, palpitante de atualidade.

Além desses, há outros que igualmente vêm a sua hora, porque nascem das circunstâncias da ocasião.

Por exemplo, produto da indecisão ou perplexidade de que falei, e do nervosismo que ela determina, está-se criando em todo o mundo um novo ramo literário, que, bastardo como seja, merece no entanto esse nome, quando praticado por homens de talento e de capacidade artística. Refiro-me à literatura de informação aos produtos de interessantes reportagens, primeiro publicados na imprensa e depois coligidos em volume, abrangendo os mais vários e, às vezes, os mais curiosos e importantes assuntos.

Ora, As Religiões no Rio e este livro em que v. me dá a honra de colaborar pertencem ao gênero, e, como eu já disse noutra ocasião, não encontram competidores no nosso meio. De modo que de v. também se pode dizer que é legitimamente um representativo.

Os trabalhos críticos dos Srs. José Verissimo, Sílvio Romero e Araripe Júnior, homens, todos três, que estudam incessantemente e têm o senso do tempo em que vivem, devem ser por isso mesmo considerados como agentes positivos na nossa literatura.

Seria injusto não lembrar o aparecimento de um livro de muito valor, e com ele o de uma forte individualidade, até então ignorada, como era a do Sr. Euclides da Cunha antes de publicar Os Sertões, que é a obra a que me refiro.

As valiosas páginas desse seu volume inicial, além do raro rebrilhamento da forma, são concebidas num espírito todo moderno, de informação e psicologia que procura ser honesta e certa, de um realismo, às vezes mesmo de um pessimismo, que fazem violento contraste com as basofias, de boa fé, porém ingênuas, que tanto caracterizam a atmosfera do Segundo Reinado. Mas nem isso se deixa de sentir que estes inflexíveis, talvez mesmo às vezes demasiado rigorosos, modos de ver do escritor de hoje, nascem do mais fundo e sério sentimento de amor e interesse pela terra brasileira que um filho dela possa nutrir.

Também o bom livro do Sr. Oliveira Lima, No Japão, é obra lida entre nós com o mais justo interesse. Ele nos poderá aproveitar não pouco no decisivo momento que atravessamos.

Não devemos, por fim, esquecer aqui o grupo de jornalistas que ora mais influência estão exercendo em nosso meio; é com toda razão que eles conseguiram esse predomínio. Homens do talento e preparo de Alcindo Guanabara, Eduardo Salamonde, Medeiros e Albuquerque, Olavo Bilac e alguns mais, obteriam vencer em qualquer parte, uma vez colocados na imprensa.

Menos políticos do que tiveram de ser os jornalistas de há quinze anos atrás, os Quintino, os Patrocínio, os Ferreira de Araújo, os Rangel Pestana, mais desilusionados e realistas, em todo caso eles são os representantes dos novos ideais de acordo com o espírito da época.

Hoje nos é talvez mais indispensável acompanhar este último e precaver-nos à altura das suas exigências, do que o era a própria obra da abolição e a vitória do princípio republicano. Sem estas duas coisas a nação poderia perfeitamente subsistir então, enquanto que ela corre hoje em dia riscos os mais sérios, se não souber ver a hora e não tiver a energia necessária para colocar-se como exigem os seus problemas vitais.

É claro que de quanto se faça em letras, quer no novo sentido, quer continuando ou completando a obra que foi a novidade anterior, só o que seja realizado superiormente é que há de ficar, como sempre tem acontecido. Digo isto, meu caro João do Rio, para responder ao seu último quesito dos que se prendem a esta questão.

Não me parece que os centros literários constituídos nos Estados de há uns anos para cá ofereçam tão cedo o perigo ou a vantagem — conforme se encare — de criar literaturas à parte.

O centro, seja como for, ainda exerce tal influência sobre a periferia em nosso país, que Estados há onde se é mais ortodoxo em relação a uns quantos preconceitos criados nos grupos literários do Rio, do que mesmo aqui.

A criação desses centros prova, pois, que eles, na sua maioria, não são mais do que produtos de imitação, devidos à influência da nossa Academia de Letras.

Terminando, sobre a questão de saber-se se o jornalismo é um bom ou mau fator para a arte literária, direi que se ele não existisse, se a evolução das coisas já tivesse podido eliminá-lo, substituindo-o por instituição melhor, seria bem bom para a arte literária. Mas como isso ainda não se realizou, e pelo contrário, o jornalismo resiste de cada vez mais vivaz, parece-me que hoje ela não o pode dispensar.

Muito cordialmente."


...


A VOZ DISSONANTE E SIMBÓLICA DE NESTOR VÍTOR
Monalisa Valente Ferreira
Doutoranda em Teoria e História Literária
IEL – UNICAMP

As tentativas de definição da crítica literária brasileira, para melhor entender o seu objeto e estabelecer métodos de análise, alcançaram, nos primeiros decênios de XX, várias facetas, muitas instauradas sob o signo de idéias advindas de fora. A linha diretriz, entretanto, que se delineava naquele tempo era a baseada em critérios cientificistas pautados nos determinismos da raça, do temperamento, do meio e do momento. Elementos estes que fizeram escola no Brasil, graças ao veio romeriano e às análises de José Veríssimo e de Araripe Jr. As teorias aqui transplantadas, por sua vez, já passavam a ter o tom das adaptações para que melhor fossem aplicadas à realidade brasileira. Eficazes ou não, estas aplicações constituem já um primeiro momento de se tentar entender o Brasil, por ele mesmo ou nas trilhas de modelos estrangeiros.

Se tomarmos como parâmetro a convergência da literatura e da história, ambas como entradas para a produção da crítica contemporânea, como bem queria Sérgio Buarque de Holanda, observaremos que, àquela época de Sílvio Romero - fosse pelos influxos exteriores ou pela dimensão estética -, o entendimento da crítica frente ao seu objeto seguia as discussões prementes do seu contexto histórico. Não podemos negar, entretanto, o caráter historicista que muitas vezes a contornava, caráter este diverso do que seria aplicado, posteriormente, na década de 40, por Sérgio Buarque.

Sabemos que os impasses da crítica ainda continuam e são várias as entradas e vertentes do caminho ou descaminho crítico. Não considerar isto seria, de certa forma, desprezar o dinamismo histórico. No presente estudo, pretendemos apresentar alguns dos impasses da crítica nos primeiros decênios de XX, com o objetivo precípuo de perceber vozes diferenciais dentro de um contexto centrado no determinismo e suas ressonâncias no pensamento crítico brasileiro. Para tanto, elegemos dois críticos relevantes na época que delimitamos: Nestor Vítor e José Veríssimo, com um olhar mais apurado para o primeiro. Esta escolha deveu-se à percepção de pontos divergentes, nestes dois analistas, quanto ao modo de pensar e realizar a crítica, embora ambos inseridos em um mesmo contexto.

Captar a voz que seguia na contramão do discurso do fazer crítico, naquele tempo, permite entender aspectos básicos da crítica literária brasileira, pois apontam para as querelas entre analistas, as vertentes críticas e a recepção destas pelos outros críticos de obras literárias naqueles decênios. Não que a voz diferencial representasse uma posição hierárquica dentre o elenco de críticos que por ora tateavam sobre as obras, mas ela nos ajuda a entender os entraves que algumas análises acarretam.

O centro do presente estudo será, como já pontuamos, o paranaense Nestor Vítor, a partir de seu escrito “Os críticos...os novos” (1979). As ilações entre o seu pensamento crítico e a análise que este autor fez sobre Olavo Bilac serão abordadas. Para melhor visualizarmos a voz dissonante e simbólica do crítico, traremos eventualmente, para confronto, a análise de José Veríssimo sobre o mesmo poeta parnasiano. Com isto perceberemos que, em um mesmo contexto histórico, formas de olhar o objeto literário se ampliam, mesmo que o foco por vezes o deforme. Ao traçarmos alguns aspectos da obra crítica acima, fazendo os devidos cruzamentos, buscaremos mostrar as possíveis contradições ou aproximações entre a teoria e práxis de Nestor Vítor.

Os novos

Ao tratar sobre os novos, em “Os críticos...os novos”, evidenciam-se nos elementos apresentados por Nestor Vítor uma tentativa de demarcar territórios, a favor de uma crítica distinta dos laivos cientificistas. O fio condutor que logo se delineia no início desse texto é o da construção e que, mais tarde, fará adeptos em grupos com linhas ditas modernistas, mas no fundo convencionais, em Estados como o Rio de Janeiro e a Bahia. [1] Essa visão da ordem como imperativo faz-se presente como maneira de Nestor Vítor demonstrar os descaminhos que os novos trilhavam. Denominando-os neófitos ou nefelibatas, o analista paranaense deixa escapar, por vezes, em um tom moralista e linguagem simbólica carregada de expressões nebulosas, uma consonância com o contexto crítico da época que por ora negava: o determinismo. Assim, a formação do núcleo intelectual, dos novos, mostraria morbidez, segundo o crítico, desde as suas origens; um apodrecimento, fruto do “funesto desagregamento por franca degenerescência orgânica” (p.286). Apesar desta linguagem que nos faria, apressadamente, aliá-lo ao pensamento em vigor da época, o desenvolvimento do texto nos revelará uma cisão com este.

Na parte II de seu texto crítico, Nestor Vítor elenca alguns nomes que, embora tidos como extravagantes, singularizam-se pelo trilhar solitário entre zoilos, solidão esta que os permitiria ocupar o campo dos notáveis. Não pelas afinidades de idéias, e sim, pelo poder de divergir, de escandalizar. Zola, Tolstoi e Ibsen são alguns escritores enumerados pelo crítico, a fim de exemplificar este poder de singularização. Para estes, segundo o analista paranaense, existem continuadores, como Hauptmann, Maeterlick.

O crítico não deixa de associar a corrente místico-simbolista, da qual era adepto, à tradição. Na atitude de isolamento dos autores, percebe-se, portanto, “um sentimento geral que a todos os liga, e que lhes dá um aspecto melancolicamente harmônico” (p. 288). Ao valorizar esta posição dos escritores frente à sociedade de sua época, Nestor Vítor marca a sua própria: a linhagem Rosa-Cruz de um simbolista que possui uma postura dissonante, singular, diante dos achaques desagregadores da intelectualidade do momento. Por isso, a seu ver, a linguagem dos novos mostra-se epiléptica, incapaz de recuperar a cisão existente entre o homem e o mundo. Assim, o crítico projeta para o futuro os prováveis eleitos, predestinados a guiar os homens, a fim de que se organize a nova civilização: “...serão raríssimos os dentre eles verdadeiramente predestinados a resistir até o fim”.

Nesta visão, percebe-se a linhagem teórica de Nestor Vítor, embora o seu texto se instaure sem o signo das citações de bases: Nietzsche, Carlyle, Alomar, Weber são autores não ditos, mas percebidos em seu texto profuso. Ao contrário de Sílvio Romero, cuja autoridade pauta-se nas leituras diversificadas e citações inumeráveis de autores, e de José Veríssimo, que revela uma preocupação com a análise literária e um olhar atento e minucioso ao seu objeto e na maneira de fazer a crítica, Nestor Vítor não atesta autoridade. Além de deixar ao leitor a indagação constante quanto ao seu suporte teórico, não se atém de maneira profícua ao seu objeto de análise.

A linguagem do crítico paranaense é obscura, epiléptica, para usar a mesma adjetivação que ele deu aos novos. Penetrar no seu pensamento crítico torna-se uma senda de labirintos, com códigos, termos simbólicos, inefáveis, etéreos, que fazem jus aos adotados pela escola que se agremiara. Assim, “funções excelsas”, “alma diamantina – límpida, maravilhosa e forte”, “gloriosas agruras propícias a toda a lapidação”, “aliptas lubrificantes”, “abençoadas procelárias”, “nobres instintos”, “legítimo Sonho”, “impulso para o Nascente”, “inconsciência”, “novo gênio”, “língua melodiosa”, “a legítima poesia de um entre quente e melancólico lirismo” são algumas expressões que aparecem no texto “O crítico...os novos” e que bem exemplificam o comentário acima.

Um elemento que aparentemente aproxima a crítica de Nestor Vítor a de José Veríssimo, ao lado da questão do temperamento do artista, é a presença de uma preocupação com as condições de produção e recepção da arte em um país como o Brasil. O desafeto de Sílvio Romero aprofunda-se nas referências feitas à situação do país quanto à arte e, embora de fundo pessimista, apresenta a possibilidade de uma convergência público/autor/obra. Entretanto, no primeiro crítico, Nestor Vítor, as condições aparecem apenas de forma pontual, quase um comentário como um pretexto para ascender o seu grupo simbolista. Ele aponta a impossibilidade de, em um país incaracterístico, tanto pela raça quanto por fatores primários a terra, surgirem artistas e obras de valor, o que justificaria, segundo o mesmo, a inabilidade dos novos: “...esses neófitos desaparecerão amanhã...esse aprendizado cruel para o exercício das funções excelsas, principalmente em países como este, que atravessam períodos rudimentares, onde tais funções são tão irremediavelmente indistintas, tão irremediavelmente indistintas, tão desoladoramente incaracterísticas ainda” (p.290) Ou seja, meio americano áspero, rude, incapaz de permitir ao artista aflorar em toda a sua plenitude. (p. 291)

As “almas sugestivas” que poderiam florescer naquele espaço fazem parte, no entanto, de um grupo eleito pelo crítico, capaz de dar rumo ordenador e contínuo ao fomento da arte, pois ultrapassa a objetividade parnasiana e transcende para o caminho do entendimento do país. Luís Delfino é escolhido, portanto, para presidir este grupo, uma vez que, assim como aqueles poetas isolados, este seria “Rei Lear da Arte, sozinho, meio obscuro,[...] tendo, no entanto, a consciência de que [...] dos flancos lhe saiu uma geração agora célebre”(p. 292) Nestes elogios fortuitos a seus conterrâneos, percebe-se que Nestor Vítor os investe de uma importância exagerada quanto à produção artística desses escritores.

Em suas críticas, Nestor Vítor não se debruça sobre a especificidade da obra, nem aprofunda outros elementos convergentes a ela, em seu contexto histórico. A impressão é de que a sua linguagem truncada, obscura, plaina por regiões inatingíveis, de difícil acesso, com análises vagas e metafóricas das obras e com uma direção visível de defesa daqueles a quem era ligado: o grupo simbolista.

Olavo Bilac sob as penas naturalista e simbolista

Como exercer uma crítica cuja preferência pelos ideais artísticos recaia em apenas um grupo? Se o crítico deve fazer a análise somente daqueles autores os quais tenha afinidade, como queria Alceu de Amoroso Lima, Nestor Vítor segue em parte este preceito, pois a sua análise geralmente pontua, como elemento norteador da arte brasileira, os simbolistas. Isto é, ao tratar de autores, cujas posições estéticas lhe são avessas, faz isto mais como pretexto para iluminar os seus escolhidos. Assim foi com Olavo Bilac. Em seu texto um tanto autobiográfico, “Como nasceu o simbolismo no Brasil” (1979), Nestor Vítor relata o seu encontro com o escritor e a necessidade deste em observar se havia certa empatia, comunhão de idéias entre eles. Segundo o crítico paranaense, logo travado o contato com o livro Poesia do poeta parnasiano, ele reconheceu que “todo e qualquer esforço por aproximar-nos muito um do outro seria vã”. Algo, claro, que não aconteceria com os estetas simbolistas, como é apresentado ao longo de sua narração.

Na primeira parte de seu estudo, Nestor Vítor refuta a posição de José Veríssimo sobre Bilac. A análise do crítico paranaense recai na análise biográfica e na popularidade do poeta. Estes elementos são apresentados com leve tom irônico: “Bilac...cujas qualidades e defeitos de homem todos adoram ou perdoam: a realização mais completa do tipo de poeta que o nosso meio pôde assimilar.” Trata de sua beleza – ou ausência desta -, de sua boemia, de sua vida de solteiro, da saúde e dos possíveis comentários que os admiradores fazem de sua vida particular e literária. Nestor Vítor revela, nessa crítica, uma linguagem mais simples que a adotada em “Novos” e o tom ameno de um possível diálogo dos admiradores do poeta parnasiano.

Na segunda parte, o crítico aponta alguns poetas como iluminados na arte poética. Estes, como já dissemos, fazem parte de seu grupo seleto: Luís Delfino, Cruz e Souza, Luís Murat, Alberto de Oliveira, Raimundo Correia, B. Lopes. Ao contrário de Bilac, “que não tem vôos geniais” (p. 875) e que “representa no verso o termo médio da nossa capacidade estética”, estes poetas alcançam, segundo Nestor Vítor, o mais alto patamar da realização estética. Nessa análise, ele também compara as qualidades de artista ao do homem e penetra no biografismo. Assim, o crítico associa o ócio, a vida desregrada de Bilac a sua atividade artística escassa: “De par com essas qualidades de artista, que implicam a ausência de tantas outras, é preciso ver qualidades e os defeitos do homem. / Esse bom gosto que de suas produções ressalta evidencia-se de sua vida igualmente....Esse ócio, no entanto, como o tem aplicado ele até hoje? ....Lendo livros quase sempre ligeiros, revistas leves, fazendo crônicas para ganhar algum dinheiro, e no mais flanando com os amigos, freqüentando cafés e teatros, deitando-se tarde, levantando-se tarde igualmente”. (p. 875)

O autor da História da Literatura Brasileira, por sua vez, afirma que Olavo Bilac era “um poeta abundante, o que é uma distinção a mais em terra de tão copioso versejar; e, com serem os seus versos dos melhores que aqui se fazem, os amadores ainda mais os apreciarão pela sua relativa e bem-aventurada escassez” (p. 848). José Veríssimo debruça-se, portanto, sobre o livro de poemas Poesia, do citado poeta, e destrinça os elementos estéticos de sua obra, fazendo a análise da forma e associando-o à condição de produção no Brasil e a uma tradição. Para completar, exemplifica as suas análises com trechos de Bilac.

Tal prática revela uma posição distinta da análise de Nestor Vítor, pois penetra de maneira mais detalhada nos elementos intrínsecos à obra, embora com um laivo impressionista que recai no gosto, no juízo de valor, no belo. Na crítica do paranaense a Olavo Bilac, percebemos, logo em seu início, o rebate à postura de José Veríssimo frente ao poeta parnasiano: “O sr. José Veríssimo, há pouco tempo, quando se publicava a edição definitiva das Poesias, opinou que o traço mais característico de Olavo Bilac era ser o mais correto dentre todos os poetas do Brasil./Eu penso que não é assim.”(p. 872) Os ataques sutis de Nestor Vítor a José Veríssimo adviriam da crítica deste aos simbolistas? É provável que sim.

Na quarta parte do texto “Olavo Bilac”, Nestor Vítor aponta a possibilidade de o brilho do poeta parnasiano esvaecer, caso houvesse o surgimento de um outro caminho, mais engrandecedor, para o Brasil. Com o uso de uma linguagem simbolista, e querendo talvez expressar a força dos decadentistas, o crítico afirma: "Só havia uma possibilidade de que empalidecesse, ainda em vida sua, a auréola formada em torno à fronte....: era se o Brasil subitamente acordasse para um engrandecimento verdadeiramente imprevisto: se ele ganhasse outra cerebração , se se fizesse águia, e brandisse poderosamente, em demanda de altos horizontes, duas asas possantes" (p. 877).

Ainda no texto sobre Olavo Bilac, entre muitos outros de Nestor Vítor, evidencia-se um impressionismo para julgamento da obra literária, certa causerie, com um tom ameno, embora ainda deixe entrever a linguagem um tanto cifrada do analista paranaense. A não preocupação em estabelecer critérios objetivos, a quase-ausência de citações que dêem ao leitor pistas da base teórica do crítico, bem como uma análise sem dissecar objetivamente a obra literária, tal qual procedera José Veríssimo em estudo sobre o mesmo autor, Olavo Bilac, constituem elementos que apontam para um diferencial em relação ao historicismo e cientificismo reinante da época.

A ressonância da voz dissonante

Com essa medida crítica, a voz dissonante e simbólica de Nestor Vítor por um lado privilegiaria alguns escritores, adeptos da linha dos valores espirituais, estético-místico e deixaria muitos no plano do mediano, como Olavo Bilac. Por outro, liberto do academismo, estaria aberto à compreensão da vanguarda modernista. O grupo baiano, por exemplo, com Carlos Chiacchio e Eugênio Gomes à frente, teria na figura de Nestor Vítor um mentor para o modernismo naquele estado. Linha um tanto presa às convenções, diga-se de passagem, mas que mostra o desdobramento da crítica de Nestor Vítor em Estados como o dele, que estavam também à margem das discussões estéticas do Sudeste.

Como bem apontara Wilson Martins (1983, p. 333), havia em Nestor Vítor "certa concepção grupal da vida literária...hostilidades tribais e sob as espécies de uma luta pelo prestígio". Associações de pensamentos e atitudes de Maeterlinck, Ibsen, Nietzsche, Tolstói ao grupo simbolista de que ele fazia parte eram freqüentes. Ao tratar sobre o poeta simbolista Alphonsus de Guimarães, José Veríssimo permite-se evidenciar o seu desagrado quanto a corrente simbolista. Primeiramente, em relação àqueles escritores acima especificados, Veríssimo afirma que, pelo talento, logo se libertam dos seus preconceitos e levantam vôo independente (p.831). Os que ficam presos à reação espiritualista/simbolista, seriam os parvos: "o simbolismo de fato apenas existe por um grupo de medíocres, que não tem outro valor que o que a si mesmo se dão em um vil espírito de parceria" (p. 831). Tal pensamento, de certa forma, tem certa consonância com a atitude de proteção que Nestor Vítor imbuía-se em relação aos seus conterrâneos. Fenômeno da decadência social e moral era como José Veríssimo caracterizava a postura do grupo preso ao misticismo.

Diante destes elementos da crítica do paranaense, podemos perceber uma posição um tanto incômoda em que, filiado a uma corrente que percorria na contramão da esteira cientificista, e da qual José Veríssimo fazia parte, previa, por outro lado, uma possibilidade de mudança na arte brasileira.

A ressonância de Nestor Vítor adviria, portanto, de sua antevisão de um movimento de vanguarda modernista, como bem notara Bosi em sua “História Concisa da Literatura Brasileira”, embora este contato com aquela vanguarda viesse mediado por elementos moderados, de equilíbrio. O analista estabeleceria uma crítica afastada dos padrões parnasianos dominantes naquele momento, constituindo uma cisão com os valores acadêmicos e objetivos. Além desse aspecto, Nestor Vítor seria lembrado pela História da Crítica Brasileira pelo seu papel de recuperação, mesmo que fosse através de uma forma exacerbada, de escritores ditos marginais como Cruz e Souza.

Bibliografia

BOSI, Alfredo. História concisa da literatura brasileira. 2.ed. São Paulo: Cultrix, [s/d].

MARTINS, Wilson. A crítica literária no Brasil. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1983. Vol. I.

VERÍSSIMO, José. Um poeta simbolista: o sr. Alphonsus de Guimarães. In: COUTINHO, Afrânio (Org.). Caminhos do pensamento crítico. Rio de Janeiro: Pallas, 1980. Vol. II.

__________. O Sr. Olavo Bilac. In: COUTINHO, Afrânio (Org.). Caminhos do pensamento crítico. Rio de Janeiro: Pallas, 1980. Vol. II.

VÍTOR, Nestor. Olavo Bilac. In: COUTINHO, Afrânio (Org.). Caminhos do pensamento crítico. Rio de Janeiro: Pallas, 1980. Vol. II.

__________. A crítica...os novos. In: Obra crítica de Nestor Vítor. Rio de Janeiro: Fundação Casa de Rui Barbosa, 1979.

__________. Como nasceu o simbolismo no Brasil. In: Obra crítica de Nestor Vítor. Rio de Janeiro: Fundação Casa de Rui Barbosa, 1979.

Fonte: http://www.unicamp.br/iel/site/alunos/publicacoes/textos/v00005.htm



POESIAS
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MORTE PÓSTUMA

Et vraiment quand la mort viendra que reste-t-il?
P. Verlaine

D'esses nós vemos: lá se vão na vida,
Olhos vagos, sonâmbulos, calados;
O passo é a inconstância repetida,
E os sons que têm são como que emprestados.

— Dia de luz. – Respiração contida
Para encontrá-los despreocupados,
Aí vem a morte, estúpida e bandida,
Rangendo em seco os dentes descarnados.

Mas embalde ela chega, embalde os chama:
Ali não acha nem de longe aqueles
Grandes assombros que aonde vai derrama!

E abre espantada os cavos olhos tortos:
Vê que se eles têm os olhos vítreos, que eles...
Eles já estão há muito tempo mortos!

Do livro: "Transfigurações", Rio de Janeiro:
H. Garnier Livreiro Editor,1902

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DUETO DE SOMBRAS


Ah! descuidosa Ofélia, é o irresistível que me está chamando,
Mas não te deixarei abandonada ...
A coroa de rosas desfolhando,
Não pela doida correnteza,
— Mãos esguias de cera enregelada —,
Irás, mas docemente, aos meus dois braços presa,
Teu olhar, a sorrir, no meu olhar fitando.

— Mas como é frio este caminho!
— Abriga-te em meu manto de loucura!
— Estás tão alto! Não alcanço o teu carinho...
Eu era mais feliz com a paz que há na planura ...

— Sobe! - Subirei, que te amo!
— Sobe, sofrendo embora! Leva para o alto a fé!
Lá em cima de uma árvore nova pende um ramo
(Palma? Loureiro? - áureo_e viril) que não se sabe para quem é.

Turris eburnea (1900)

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OS VERSOS


Versos ... são candelabros que se tocam
Tirando estrelas do cristal ferido ...
Óleo de que perfumes se deslocam.
Estranhos, num vapor vago e fluido...

Bergantins marchetados de ouro e prata
A balouçar num mar sonoro e ardente,
Que todo em nenúfares se desata
E em ilhas verdes, infinitamente ...

Versos ... largas cadeias de diamante,
Lançadas de um extremo a outro da Terra
Para pô-la risonha e soluçante,
— Áureas grilhetas de amorosa guerra ...

Flores do Desespero, doloridas,
Lírios feitos de sangue, transmudados,
Sob o ardor das insônias homicidas
Qual um punch a luz verde germinados ...

Versos! que alma sonora e tumultuosa
— Céu em que os astros chocam-se cantando —
Que alma grande, alma nobre, alma ansiosa
Não vos anda risonha procurando.

Dos Eleitos vós sois os mensageiros!
Canta, por eles, florescente rima,
Por eles mergulhais, filtros traiçoeiros,
As almas numa embriaguez opima.

Adernando-vos leves e graciosos
É que o Poeta arrebata e nos transporta
Para aqueles países fabulosos
Do Sonho, abrindo ao Infinito a porta.

Não pode alguém se libertar dos laços
Sob os quais o tenhais escravizado
Enquanto lhe ritmar, sonora, os passos
A grilheta de um verso terso e ousado.

Ah! toda esta ânsia que nos arde ao seio,
Todo este fogo que nos queima a boca,
Se revela das formas neste anseio,
Nesta sofreguidão absurda e louca.

Porém, se nós pudéssemos apenas
Abrir os olhos, dominar o Mundo,
E em atitudes nobres e serenas
Mostrar-lhe todo o nosso estranho fundo...

Se em palavras se dissesse tudo,
Num ardor, num cantar vivo e direto,
Fora melhor que se ficasse mudo:
Era mais simples e era mais completo...

Transfigurações (1902)

 
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