Visite nosso faceArtCulturalBrasil

UMA CIDADE SEM MEMÓRIA CULTURAL É UMA CIDADE SEM FUTURO HISTÓRICO

Luiz Delfino


Desterro - Florianópolis - SC
1834-1910
De sonhos d'oiro e luz calça o desejo:
E então, de dia, em rosa abre o seu riso,
E em ampla estrela, à noite, abre o seu beijo...
Luís Delfino dos Santos (Desterro, 25 de agosto de 1834 — Rio de Janeiro, 31 de janeiro de 1910) foi um político e poeta brasileiro, considerado o segundo poeta mais importante de Santa Catarina, superado apenas por Cruz e Sousa.
Luís Delfino foi também senador por Santa Catarina no início da República Velha.
Morou em sua cidade natal até os dezesseis anos de idade. Mudou-se então para o Rio de Janeiro, onde se formou em medicina. Foi um dos mais importantes médicos da época. Casou-se com Maria Carolina Puga Garcia , com quem viveu até sua morte, em 1910.
Não publicou nenhum livro em vida, o que fez com que sua obra quase se perdesse no tempo. Sua poesia, de rima e métrica perfeitas, era publicada freqüentemente na maioria dos jornais e revistas da sua época, o que o fez conhecido e amado como poeta. Foi eleito pelos colegas escritores "Príncipe dos Poetas Brasileiros" em 1898. Foi chamado também de "Victor Hugo brasileiro".
Sua obra é imensa - escreveu mais de cinco mil poemas - e foi publicada em quatorze livros, por seu filho,Tomás Delfino dos Santos, entre 1926 e 1943.
Sua poesia vai do romantismo ao parnasianismo, passando pelo simbolismo. A perfeição na rima em métrica dá cadência e musicalidade à obra de Luís Delfino. O amor e a mulher eram seus temas preferidos.
...

O AMOR
O amor!... Um sonho, um nome, uma quimera,
Uma sombra, um perfume, uma cintila,
Que pendura universos na pupila,
E eterniza numa alma a primavera;

Que faz o ninho e dá meiguice à fera,
E humaniza o rochedo, e o bronze, e a argila,
Sem o afago do qual Deus se aniquila
Dentro da própria luminosa esfera.

A música dos sóis, o ardor do verme,
O beijo louco da semente inerme,
Vulcão, que o vento arrasta em tênue pós:

Curvas suaves, deslumbrantes seios
De vida e formas variegadas cheios.
É o amor em nós, e o amor fora de nós.
...
A PRIMEIRA LÁGRIMA

Quando a primeira lágrima caindo,
Pisou a face da mulher primeira,
O rosto dela assim ficou tão lindo
E Adão beijou-a de uma tal maneira,
Que anjos e Tronos pelo espaço infindo
Qual rompe a catadupa prisioneira,
As seis asas de azul e d'ouro abrindo,
Fugiram numa esplêndida carreira.
Alguns, pousando à próxima montanha,
Queriam ver de perto os condenados
Da dor fazendo uma alegria estranha.
E ante o rumor dos ósculos dobrados,
Todos queriam punição tamanha,
Ansiosos, mudos, trêmulos, Pasmados...
...
ALTAR SEM DEUS

Inda não voltas? — Como a vida salta
Destes quadros de esplêndidas molduras!
Mulheres nuas, raras formosuras...
Só a tua nudez entre elas falta ...
Pede-te o espelho de armação tão alta,
Onde revias tuas formas puras;
Pedem-te as cegas, lúbricas alvuras
Do linho, que a Paixão no leito exalta.
Pedem-te os vasos cheios de perfume
Os dunquerques, as rendas, as cortinas,
Tudo quanto a mulher de bom resume,
Escolhido por tuas mãos divinas...
E sai do teu altar vazio, ó nume,
A tristeza indizível das ruínas ...
...
QUE VOS DARIA?


Se tiverdes um dia um capricho, senhora,
Um capricho, um delírio, uma vontade enfim,
Não exijas o carro azul que monta a Aurora
Nem da estrela da tarde o plaustro de marfim;
Nem o mar, que murmura e aí vai por mar em fora
Nem o céu d'outros céus, elos de céu sem fim,
Que se isso fosse meu, já vosso, há muito, fôra.
Fôra vosso o que é grande e anda em torno de mim...
Mostrásseis num só gesto ingênuo, um só desejo...
O universo que vejo e os outros que não vejo
Sofreriam por vós vosso último desdém.
Que faríeis dos sóis, grãos vis de areias d'ouro
Mulher! Pedi-me um beijo e vereis o tesouro
Que um beijo encerra e o amor que um coração contém.
...
O MAL DA VIDA

Amor, pois, é a esplêndida loucura,
E a miséria de um sol que nos invade?
Caiu alguém aos pés da formosura
Que lhe não deixe aos pés razão, vontade?

Este delírio vem da eternidade,
Vem de mais longe, eu sei: - quem o procura
Acha-o mais velho do que Deus: quem há-de
Fugir do mal da vida por ventura?

E o amor é o mal que acaba em paraíso;
E para dar-nos céus num só lampejo
Basta-lhe um pouco, um nada é-lhe preciso:

De sonhos d'oiro e luz calça o desejo:
E então, de dia, em rosa abre o seu riso,
E em ampla estrela, à noite, abre o seu beijo...
...

3 comentários:

  1. Anônimo00:30

    Outro esplêndido sonetista. Talvez tenha sido um dos poetas que melhor cantaram o amor e a mulher. Muito bom, realmente. Como é gratificante saber que temos, neste blog, um pouco de cada bom poeta, onde possamos recordar de poemas dos quais até já tínhamos esquecido. Parabéns aos organizadores por tão feliz ideia.
    Humberto Rodrigues Neto.

    ResponderExcluir
  2. Anônimo15:51

    O mais Incrível, na minha opinião, poema dele é o "O Amor de Deus".
    Por favor, pesso-lhes que postem!

    ResponderExcluir
  3. Anônimo12:29

    SONETO A LUIZ DELFINO - *25.8.1834 - +31.1.1910 - P.Alegre - RS - em 17.11.2011 - . -

    Luiz Delfino, vate portentoso,
    só de sonetos compôs mais de mil;
    e cultuou o amor carnal e o gozo
    com verve poderosa e varonil.

    Não me canso de ler o caudaloso
    rio dos versos de calor febril,
    que brilham no céu límpido e formoso,
    quando aparece assim da côr de anil !

    Quantas musas e deusas exaltou
    nessas poesias cultas que criou
    com tanto esmero e assaz dedicação !

    Por tudo o que deixou-nos na escritura
    de tantas obras na literatura,
    merece dos leitores a ovação !

    IALMAR PIO SCHNEIDER

    ResponderExcluir