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UMA CIDADE SEM MEMÓRIA CULTURAL É UMA CIDADE SEM FUTURO HISTÓRICO

Trailer José Antonio Jacob II


Ed. Almas Raras 2007
Edição esgotada



Varal de Luzes
(José Antonio Jacob)

Vem, dá-me a mão princesa, o mundo é belo!
Deixa um bilhete simples sobre a estante,
Descalça os teus pezinhos do chinelo
E vem comigo caminhar adiante.

Se o azul combina o tom com o amarelo
E o arco-íris se inclina em céu distante,
Por que tu vives dentro do castelo
Se a vida te ilumina a todo instante?

Ajunta estes teus sonhos cor de mel
Nas rimas de um soneto bem escrito
E exprime teus encantos no papel...

Colore neste dia um tom bonito
Que a noite põe estrelas no teu céu,
Como um varal de luzes no infinito!


Mãos nos Bolsos
(José Antonio Jacob)

Noites e noites passo sem dormir,
Ao meu lado a esperança não desperta,
Quando amanhece eu não sei para onde ir.
Abro a janela e a rua está deserta...

Destranco a porta e a deixo ao dia, aberta,
O sol lá fora se recusa a vir,
O que há em mim de alegre quer sair
E o que me deixa triste não liberta.

Quero ir embora, adeus! Saio a tossir,
O vento esbarra em mim sem eu sentir
E a rua espicha-se no meu caminho.

Com as mãos nos meus bolsos sigo adiante,
Nesta cidade grande ando distante,
Depois volto mais triste e mais sozinho...


O Vendedor de Bonequinhos
(José Antonio Jacob)

Todo  dia na beira da calçada
Uma corda encantada eu estendia
E nela pendurava uma braçada
De bonequinhos feios que eu vendia.

Eram polichinelos que eu fazia
De trança de algodão à mão desfiada,
No pano das feições não conseguia
Puxar-lhes traços de melhor fachada.

Ao desbotar o azul no fim do dia,
Quando eu os desatava dos alinhos
Desse varal de cordeação brilhante,

Esses desengonçados bonequinhos
Desciam-me nas mãos com alegria
E me davam abraços de barbante!


Sublimação
(José Antonio Jacob)

Segue distante o pensamento humano,
No encalço das idéias fugitivas,
Sempre buscando achar num outro plano
A lógica das coisas evasivas.

Passeante dessas fugas pensativas,
O homem, hora após hora, ano após ano,
Estima ao seu revés a mágoa e o engano
E ao seu prestígio as sinas positivas.

Mas só diria o que aprendeu da Vida
Se tivesse a certeza definida
Daquilo que a existência não lhe exprime...

E apenas numa frase resumisse
A idéia exata e a essência mais sublime
De tudo o que pensou e nunca disse!


Repouso no Sítio
(José Antonio Jacob)

Longas horas no sítio de repouso,
Tendo a paz do pomar por companhia,
A passar o meu dia preguiçoso,
Sentindo "não sei quê" de nostalgia.

Não escuto o gemido lamentoso
Da Voz que me persegue noite e dia,
Ouço apenas o pio doloroso
Que é de alguma ave doente em agonia.

E me sinto abatido e descontente,
Se bem que esteja à toa em meu caminho,
Passeando calmamente junto às flores.

Mas tenho medo de seguir em frente:
Será que poderei andar sozinho,
O que será de mim sem meus temores?


Além da Porta
(José Antonio Jacob)

E novamente a rua está deserta!
Mais uma vez cheguei tarde à janela
E o que passou de bom em frente dela
Não viu que a minha porta estava aberta.

Eu nunca apareci na hora certa,
Mas sei que lá adiante a vida é bela
E que sempre há uma nova descoberta
Fora do meu pijama de flanela.

A Voz que me acompanha e que me fala,
De essa vez não me assusta e me conforta:
“Ânimo, Antonio! deixa essa casa! - Anda!”

Eu saio do meu quarto para a sala
E decidido vou além da porta,
Mas volto quando piso na varanda.


Figurinhas
(José Antonio Jacob)

Por onde eu ando levo a mágoa estranha,
De uma culpa, uma dor que me desola.
É uma pequena voz que me acompanha
De uma criança magra a pedir esmola.

Assim como o vinil, que na vitrola,
Engasga na canção que a agulha arranha,
Meu velho coração no peito embola
No mesmo tom que o entristece e assanha.

Para me distrair em minha rede,
Enquanto me descanso do verão,
Rabisco caretinhas na parede...

Risonhas figurinhas de carvão
Agradecidas por não terem sede,
Nem de precisarem pedir-me pão.


Carretéis
(José Antonio Jacob)

Nem bem o sol abria os seus bordados
De luminosas cores, entre as bigas
De carretéis e fósforos usados,
Eu já premeditava as minhas brigas.

Para vencer armadas inimigas,
Enfileirava de olhos encantados
Um exército imenso de soldados
Numa carreira longa de formigas.

O que passou da vida não senti
E o tempo inteiro fui ficando ali
Nos digitais alegres do passado.

Esta alma calma, que ainda vive em mim,
É aquele menininho sossegado
Que brinca de guerreiro no jardim.


De Volta aos Quintais
(José Antonio Jacob)

Mesmo corrido o tempo guardo apreço
Aos meus passos cansados, desiguais,
Que sempre me levaram sem tropeço
Ao refúgio da infância nos quintais.

Nada mudou! De longe reconheço
A confraria alegre dos pardais
E as mesmas roupas claras nos varais:
- Nunca tirei dali meu endereço!

Apenas me ausentei de casa cedo,
Qual criança que se afasta do folguedo
Para mais tarde o aconchegar a si.

Eu sou esse menino arrependido
E quero o meu brinquedo envelhecido
Para brincar no tempo que perdi!


Revelação
(José Antonio Jacob)

Nada sabeis de mim e sabeis nada
Porque venho regresso de outra lida.
Nada me perguntastes na chegada,
Também nada eu direi na despedida.

Se eu volto de uma alegre caminhada
Ou se deixei tristeza na partida...
Pode ser que ao final dessa jornada
Nada ainda sabereis da minha vida.

Não entendeis do céu que nos assiste?
Trago nos olhos grandes o olhar triste,
Tais quais olhos da noite arregalados.

Espiai essas estrelas tão banais:
Tantos mundos distantes revelados,
Mas que aos olhos dos homens são iguais!


Domingo em Casa
(José Antonio Jacob)

Todo domingo é assim: hora comprida...
Contraio os músculos (que horrível tique)
Para arrumar a casa sacudida,
Antes que a confusão se multiplique.

Como se fosse criança extrovertida
Empurro móveis pela sala a pique,
Depois desfaço e faço outra investida
E acabo na cozinha em piquenique.

Todo domingo é assim: o Nada é lento...
(O Nada é a preguiça que nos dá)
Nessa hora boa pulo no sofá.

Como é saudável adormecer, sonhar...
Quando mais tarde acordo sonolento
Eu reponho a mobília no lugar.


Solidão
(José Antonio Jacob)

Meu céu cinzento é um teto em minha sala
E nele eu vejo os dias da poltrona,
Se eu quero dar um passo uso a bengala,
Tenho uma artrite que não me abandona.

Passo nas juntas óleo de mamona,
Pois quando dobro o joelho a perna estala,
Na minha casa nada mais funciona
E eu ligo o rádio, mas ele não fala...

Chego à janela e fico a olhar auroras,
Falo sozinho o dia inteiro à toa,
Eu não tenho aonde ir! Não tenho mais aonde!

Para escutar a voz de outra pessoa
Eu saio às ruas perguntando as horas,
Mas quem passa por mim não me responde.


Relização





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