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UMA CIDADE SEM MEMÓRIA CULTURAL É UMA CIDADE SEM FUTURO HISTÓRICO

Miguel Russowsky


Santa Maria - RS
1923 - 2009
"Alegre-se e sorria, por favor!
Um sorrisinho dá felicidade,
pois contagia e ativa o bom humor"

Miguel Kopstein Russowsky, filho de Jacob Russowsky e de Eva Russowsky, nasceu em 21/06/1923 em Santa Maria, Rio Grande do Sul. Casou-se com Vitória Toaldo Russowsky e teve quatro filhos: Leila Brunoni, June Braganholo, Miguel Igôr Russowsky e Silvia Herter.
Cursou o primário na Escola São José, em Jaguari e o secundário no Colégio Estadual Santa Maria (Maristas), entre 1933 e 1940 (pré-médico).
Em 1940 entrou na medicina URGS e formou-se em 1946, aos vinte e três anos em Porto Alegre.
Exerceu clínica e cirurgia geral durante os últimos 50 anos de profissão, sempre pela medicina livre, sem vínculos empregatícios.
Em 1962 iniciou a construção do Hospital São Miguel, onde trabalhou até o ano de 2006, com 83 anos de idade. Hoje dedica seus dias à poesia, seu grande hobby.

Aos 82 anos de idade Miguel Russowsky é um moço poeta de 82 anos. Indelevelmente, porém, um receio perpassa seu novo livro: o de que a energia física não acompanhe tanta vitalidade poética. Tranqüiliza-te, poeta. A inspiração empresta ao corpo a necessária saúde; e, este, oferece à arte o tonificante dom do verso imbatível. Nestes tempos de desvairo e atropelos, mesmo um jovem versejador sente-se, por momentos, um vulcão com temores de súbita extinção. Medos passageiros. Pois poucos sentimentos quanto a poesia são tomados de igual perenidade.Um livro bastante singular este Cantares de um vulcão quase extinto. Em grande parte do livro, abate-se sobre o poeta a tristeza da perda da filha June, sua parceira de versos nesta edição. Tristeza e revolta transparecem. Até porque é condição da vida os pais partirem antes dos filhos. Quando o contrário, a dor toma conta dos dias. O tom elegíaco e ferido respira fundo e toma-se de alívio. No mais é a soma de perda, saudade, angústia. E revolta. Mas mesmo dos versos sangrando surgem cicatrizes de luzes pelo amor que por toda a vida do poeta tem espargido abundantemente. As sete partes do livro transparecem amor, apesar do pranto que notamos em “As lágrimas abrigam-se no lenço... / O lenço faz sigilo de imediato... A insônia apalpa o seu perfil imenso, também temos a esperança em “E descansar por quê? — pergunto pasmo — / Se há novos sonhos, cheios de entusiasmo / num velho coração?... (o meu) — Que bom!”A simbologia da “extinção” que o poeta traz à tona para quase corporificar sua dor, é, em verdade, um S.O.S. para que seu cantar seja salvo pela própria energia ressuscitava da vida e da poesia. Lazárica ressurreição merece o amor no coração do poeta. Cantares de um vulcão quase extinto se reacenderá a cada dia, na voz de cada amanhecer, em cada boca que se oferece ao beijo e a cada frase que se ilumina em verso. Milagre possível pela existência de poetas iguais a Miguel Russowsky.



Rossyr Berny Editor




Oração do Poeta

– Que me darás, Senhor, pela jornada
de dores, privações e misereres?
– Eu te darei a noite salpicada
de estrelas e silêncio. Que mais queres?

– E para a solidão da madrugada?
– Já fiz o mundo cheio de mulheres.
procura e encontrarás a tua amada.
Faz os mais lindos versos que puderes.

– Mas como irei, Senhor, reconhecê-la?
– Há no céu, entre todas, uma estrela
que apenas tu verás. Que mais perguntas?

– E este frio e esta angústia que ora sinto?
– Quando ela penetrar em teu recinto
a primavera e a paz hão de vir juntas.


Promessas

Estava eu só Passou... Sorriu... Olhei-a...
Estremeceu. Estremeci. Sucede
que o imprevisível manda e a gente cede.
No céu azul brilhava a lua cheia.

Depois... as conseqüências... — Quem as mede
se a razão, sem razão, já titubeia?
E o mar acariciando o ardil, na areia:
"O vinho é bom sorver antes que azede!"

Vai-se o verão. Agora é frio e neva.
Palavras sem valor, o vento as leva.
As juras antecedem as desditas.

Um instante de amor — eternidade!
Dois instantes de amor — fidelidade'
... Nem todas as mentiras foram ditas.


Outono em meio

O vento desistiu de seus andares,
cansou-se e resolveu dormir mais cedo.
As folhas, nem balançam no arvoredo.
Borboletas...algumas pelos ares.

Nuvenzinhas solteiras e sem medo
buscam no céu seus noivos ou seus pares.
Cá por dentro borbulham os cismares
numa ausência de rumos e de enredo.

(- Ó tardes, de domingo, ensolaradas!...)
O silêncio murmura uma cantiga
para ouvirmos a sós...mas de mãos dadas.

Deixemos, por enquanto o lábio mudo!
E o relógio, deixemos que prossiga...
Conversar?...Para que, se sabes tudo?!.


Noite sem aurora

A noite de um adeus não tem aurora
mas tem silêncios longos por recheio;
tem farpas arranhando, bem no meio...;
tem desesperos mil vagando fora...

A noite de um adeus, eu sei que chora
ao ver a sepultura de um anseio.
Não a censuro e até a manuseio
com estes versos que componho agora.

A noite de um adeus ensina a gente
ter dias sem relógio...e alguém já disse
que nunca cicatriza totalmente.

A noite de um adeus...só bem depois
expõe a solidão, numa velhice,
em que murchamos tristes nós, os dois.


Arrependimento

Um por um, os meus sonhos, nesta vida,
Despi no andar do tempo modorrento
Qual árvore esfolhada pelo vento
Numa tarde outonal, entristecida.

Quebrei-me um pouco, assim, a cada ida
À procura não sei de qual intento.
Deixei amor, amigos e, ao relento,
Destroços de minha alma enrijecida.

E hoje, velho, ao voltar da caminhada,
Tropeço em meus pedaços pela estrada
Com saudosa visão aqui e ali.

Não mais me iludo, e essa descrença atesta
Que passarei o tempo que me resta
Recolhendo os pedaços que perdi.


Tarde nevoenta... em julho

Domingo sem ninguém...A casa está vazia.
O silêncio no horror persistente blasfema.
Quer se fazer ouvir. Ó tolo estratagema!...
Eu posso ouvi-lo bem, mas qual a serventia?

A solidão nem quer me servir como tema...
...e a tarde se espezinha imensamente fria...
Ó Tristeza, vem cá! Se queres companhia
ajuda-me a cerzir pedaços de um poema

Talvez assombrações que possuam prestígio
se queiram embutir em tercetos, com zelo,
para dar-lhe feições de soneto-prodígio.

Alguém se desmanchou em brumas do passado
e quer ressuscitar de cor, num atropelo.
Se lembrar é viver, eu devo estar errado.


Receita de saúde e felicidade

Não antecipe nunca o sofrimento!...
Diga “Bom Dia!” ao sol que lhe saúda.
Seja qual um discípulo de Buda:
- É mister se gozar cada momento.

No “que será...será” que não se muda,
se abrigam primaveras...(mais de um cento!)
os “depois” nem podem ser tormento
se os “agoras” lhe derem boa ajuda.

“Cara feia” - sinal de enfermidade -
com certeza, costuma sobrepor
mais pesos aos obstáculos da idade.

"Alegre-se e sorria, por favor!
Um sorrisinho dá felicidade,
pois contagia e ativa o bom humor"



Domingo...(de licor e açúcar cândi)

Manhã de sol...A luz passeia a toa...
Explode a primavera em frenesi.
Meu bairro, todo chique, não destoa,
parece um ogro alegre que se ri.

Mignon, gentil, arisco, sobrevoa,
a namorar a rosa, um colibri...
...e perfumes no ar...-Que coisa boa!
O céu está pertinho...É logo ali!

Meu domingo é grande (- Muito grande!)
Cheinho de licor e açúcar cândi.
Estou de bem com toda a humanidade.

Minha amada virá...(telefonou-me)
e ela não quer que lhe revele o nome,
que tem dez letras...(é ?... -FELICIDADE!)

6 comentários:

  1. Miguel Russowsky;

    FECUNDIDADE e TALENTO de mãos dadas.

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  2. Anônimo19:36

    MIGUEL RUSSOWSKY


    Meu triste coração chora,
    a inesperada partida
    todo o céu consolo implora
    bálsamo para esta ferida.


    Meu triste coração chora
    não compreendo tua sorte,
    que de repente chega a hora
    para estar frente à morte.


    Como queres que compreenda
    a inesperada partida
    que não te ver eu entenda
    como parte desta vida.



    Tua poesia é a, aurora,
    tuas trovas são estrelas
    todo o céu consolo implora
    o que será, sem ti delas.


    E nesta triste verdade
    sem ti a senda florida,
    chorando pede piedade
    bálsamo para esta ferida...

    Cristina Oliveira Chavez / USA

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  3. VERSOS ETERNOS

    - a Miguel K. Russowsky (in memoriam) -


    A lua tece a estrada... E a eternidade
    abre o portal do etéreo firmamento.
    Enfim, a vida, sem dor, falsidade...
    Enfim, o peito livre de tormento.

    Não mais o véu que turva a realidade
    da plenitude, onde há entendimento
    do amor que existe na simplicidade...
    Do amor maior, alheio ao sofrimento.

    Além dos passos da térrea jornada,
    por entre as ruas de luz constelada,
    anda o poeta, versejando, em paz.

    Semeia versos de encanto e ternura...
    Irriga sonhos... Cobre-os com doçura...
    E Deus se encanta - como o fez jamais!


    - Boa viagem, querido e eterno amigo -

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  4. Que Saudades de Miguel,

    apesar do céu ganhar

    um exímio menestrel,

    deixou a terra a chorar!





    Tuas trovas, teu sorriso,

    misturando até tristeza,

    estarão no paraíso

    levando a sua beleza!

    Fique com Deus e os anjos , meu irreversível amigo
    Se vc estivesse aqui hoje ,eu lhe escreveria um e mail assim: FELIZ DIA DO MÉDICO!!!
    Maria Ignez

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  5. Só hoje com esta lua plena de prenhez reuni coragem para falar das minhas lágrimas por tua partida meu amigo. Quantos telefonemas eu fiz para expressar minha admiração, como foi bom a gente conversar sobre esse teu universo de puro encantamento. Suas cartas vou guardar para sempre meu amigo, como um mapa a indicar o caminho na noite mais nebulosa. Adeus, ou até breve!

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  6. Agradecemos com profundo respeito as manifestações dos leitores em admiração e afeto ao notável filantropo, médico e poeta, Miguel Russowsky, que inesperadamente nos deixou carentes de sua presença física, mas nos presenteou com um vasto legado de amizade e carinho humanitário. Aos amigos, familiares e demais admiradores, nossos mais profundos preitos de admiração poética.
    José Antonio Jacob/ArtCulturalBrasil.

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