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UMA CIDADE SEM MEMÓRIA CULTURAL É UMA CIDADE SEM FUTURO HISTÓRICO

José Lino Grünewald

Maria Granzoto da Silva
Editora de Literatura ArtCulturalBrasil

(1931 - 2000)

José Lino Fabião Grünewald
(Rio de Janeiro, 13 de fevereiro de 1931 - 26 de julho de 2000) foi um poeta, tradutor, crítico de música, artes plásticas, literatura e cinema, e jornalista brasileiro, sendo um dos participantes do grupo de poetas Noigandres.
Nascido no bairro de Copacabana, José Lino Grünewald, conhecido como Zelino pelos colegas da Noigandres, obteve o diploma de Bacharel em Direito na Universidade do Brasil, atual Universidade Federal do Rio de Janeiro, em 1953, trabalhando na Fundação Getúlio Vargas.
Começa a colaborar na imprensa em 1956, por intermédio do poeta Mário Faustino, destacando-se na crítica literária e, principalmente, de cinema, sendo esta última embasada por conceitos filosóficos nas décadas seguintes, escrevendo para o Jornal do Brasil, Correio da Manhã, O Globo, Tribuna da Imprensa, Última Hora, O Estado de São Paulo, Jornal da Tarde e Folha de São Paulo até o ano de 1993.
Em 1957 tornou-se o último dos cinco membros do grupo Noigandres, fazendo parte da edição da sua revista a partir do nº 5, em fins de 1962, sendo o principal finciador deste número. Foi também um dos editores da revista Invenção, segunda porta-voz da poesia concreta, desde o seu primeiro número, em 1962, ao último, em 1966. Grünewald já era, anteriormente, participante da equipe editora da página homônima, no jornal Correio paulistano, desde 1960.
Em 1969, organizou e traduziu A Idéia do Cinema, com ensaios de Walter Benjamin, Eisenstein, Godard e Merleau-Ponty. Como crítico de cinema, foi dos primeiros a valorizar a obra dos cineastas Jean-Luc Godard e Alain Resnais no Brasil.
Nas décadas de 1980 e 1990 traduziu inúmeras obras, entre elas Os Cantos, de Ezra Pound e Grandes Poetas da Língua Inglesa do Século XIX, pelas quais recebeu prêmios Jabuti de Tradução de Obra Literária em 1987 e 1989.
Em 1990 recebeu da Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA), o Prêmio de Tradução pelo livro Poemas de Mallarmé.
Também fez parte do Conselho Superior de MPB, do Museu da Imagem e do Som, e do Conselho Superior de Cinema.
Casado com Ecila Azevedo Grünewald e pai de Rodrigo e Bernardo, José Lino Grünewald morreu de câncer aos 69 anos e está enterrado no cemitério São João Batista, em Botafogo, zona sul da cidade do Rio de Janeiro.

A poética
Considerado um dos grandes esquecidos da história da Poesia concreta, autor de uma obra que permanece como uma das mais expressivas e criativas do concretismo paulista, Grünewald não foi, no entanto, sempre um poeta concretista.
Um e dois”, de 1958, cujos poemas mais antigos foram escritos em 1956, representa, em sua primeira parte, a fase “pré-concreta” do poeta, trazendo versos líricos, eróticos e de protesto, utilizando-se de invenções poéticas de Stéphane Mallarmé e de Ezra Pound, avançando na utilização não tradicional do branco da página.

Soneto burocrático

Salvo melhor juízo doravante,
Dessarte, data vênia, por suposto,
Por outro lado, maximé, isso posto,
Todavia deveras, não obstante

Pelo presente, atenciosamente,
Pede deferimento sobretudo,
Nestes termos, quiçá, aliás, contudo
Cordialmente alhures entrementes

Sub-roga ao alvedrio ou outrossim
Amiúde nesse ínterim, senão
Mediante qual mormente, oxalá quão

Via de regra te-lo-ão enfim
Ipso facto outorgado, mas porém
Vem substabelecido assim, amém.
In: O Carioca. Revista de arte e cultura, nº 3, Rio de Janeiro, setembro-outubro de 1996.


Na sua segunda parte comparece o poeta concreto. "Aqui, Grünewald trabalha o espacial, a geometria do poema e suas possibilidades sonoras. Ainda assim, o poeta traz elementos da fase anterior. Notadamente, o gosto pelas oposições. O encadeamento de frase de grafia ou sonoridade semelhante, produzindo novas imagens poéticas a partir de seu inusitado contato", escreve, de maneira simples e precisa o jornalista Dellano Rios .
Grünewald se manterá fiel a proposta do concretismo por quatro décadas, sendo considerado um concretista mais ortodoxo que os outros participantes do grupo Noigandres pelo seu amigo Augusto de Campos.
Em “Escreviver” de 1983, Grünewald repete a mesma estrutura bipartida do seu livro de estreia, que representa as suas faces concreta e pré-concreta.
“Escreviver” reúne as jóias raras da poesia de José Lino Grünewald, crítico cultural ligado à vanguarda concreta O tempo se ocupa de exigir que se esqueça de determinadas coisas, acontecimentos e pessoas, para que outras sejam lembradas. Este troca, no entanto, nem sempre é justa. Grosso modo, da Poesia Concreta ficou a produção de Décio Pignatari, Augusto e Haroldo de Campos - os “patriarcas”, como os chamaria Paulo Leminski -, a história da dissidência de Ferreira Gullar e as experiências posteriores de seguidores, caso do próprio Leminski. Dos satélites que orbitavam o trio, hoje pouco se fala. O movimento concretista cearense, liderado por José Alcides Pinto, por exemplo, é ignorado dentro do próprio Estado.
Traduções Publicadas
§ A Idéia do Cinema. (Trad. e org.). Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1969. Ensaios de Walter Benjamin, Eisenstein, Godard, Merleau-Ponty, entre outros.
§ Benjamin, Horkheimer, Adorno, Habermas. (Trad. e org.)São Paulo: Abril Cultural. Textos escolhidos. Coleção Os Pensadores.
§ Grandes Poetas da Língua Inglesa do Século XIX. (Trad. e org.) Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1988.
§ Mallarmé, Stéphane. Igitur; ou, A loucura de Elbehnon. Rio Janeiro: Nova Fronteira, 1985. Ed. bilíngüe.
§ Mallarmé, Stéphane. Poemas. (Trad. e org.). Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1990. Ed. bilíngüe.
§ Merleau-Ponty, Maurice. O cinema e a nova psicologia. In: Xavier, Ismail. (Org.) A Experiência do Cinema. Rio de Janeiro: Graal, 1991.
§ Poetas Franceses do Século XIX. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1991.
§ Pound, Ezra. Cantos. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2002.

Obra própria
§ Um e dois. 1958.
§ Escreviver. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1987.
§ Carlos Gardel, lunfardo e tango. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1994.
§ Um Filme é um Filme: o *Cinema de Vanguarda dos Anos 60. São Paulo: Companhia das Letras, 2001. Com Ruy Castro. (Org.)
§ O Grau Zero do Escreviver. São Paulo: Perspectiva, 2002. (Coletânea da maior parte dos trabalhos literários do autor, organizada por José Guilherme Corrêa)

Antologias organizadas
§ Grandes sonetos da nossa língua.Organização de José Lino Grunewald. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1988.
§ Bocage. Poemas. Organização de José Lino Grunewald. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1988.
§ Camões, Luís de. Líricas. Organização de José Lino Grunewald. Rio de Janeiro: Nova Fronteira.
§ Os Poetas da Inconfidência. Organização de José Lino Grunewald. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1989.
§ Quental, Antero de. Antologia. Organização de José Lino Grunewald. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1991.
§ Pedras de Toque da Poesia Brasileira. Organização de José Lino Grunewald. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1996.



Referências Bibliográficas
3. Khouri, Omar. Noigandres e Invenção. Facom. Faap. (PDF). Faap.br (Setembro de 2006).


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