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UMA CIDADE SEM MEMÓRIA CULTURAL É UMA CIDADE SEM FUTURO HISTÓRICO

Período Arcaíco - fase anteclássica, ou medieval


Ilustração - auladeliteraturaportuguesa.blogspot.com

INTRODUÇÃO

Hênio Tavares assim pensa: - "A rigor, haveria apenas duas escolas gerais: a Clássica, apolínea e unitária, na qual os artistas são mais ou menos fiéis a certos modelos, e dão aos seus estilos uma certa unidade; e a romântica, , dionisíaca e multiforme, na qual os artistas se individualizam na procura de processos pessoais e dão aos seus estilos independência nitidamente subjetiva."

Escolas principais ou maiores

Evidentemente, seria esta uma classificação por demais simplista. Assim, Hênio Tavares, vai um pouco mais longe: "Na história da literatura universal podemos destacar três grandes ciclos: o oriental, o clássico e o ocidental".

No oriental, inclui as literaturas mais antigas. No clássico encontra a antiguidade grego-latina, também citada e que serviu de "modelo ao clásico moderno renascentista e ao neoclássico do século XVIII." E no ocidental, estão as literaturas ocidentais (como o próprio nome diz), incluindo-se o período medieval, que foi como um hiato histórico entre o clássico antigo e o clássico do Renascimento".

Finalmente, Hênio se decide: "As escolas principais, ou maiores, sob o ponto de vista rigorosamente estético, são: a Clássica, a Romântica, a Realista, a Simbolista e a Modernista".

Quanto ao Parnasianismo, movimento, sem dúvida, dos mais importantes da literatura ocidental, Hênio, cuja opinião respeitamos - inclusive por ter o mesmo pensamento de outros grandes historiadores e teoristas literários - não considera uma escola, mas uma notável tendência do Realismo. Nas mesmas condições estariam o Naturalismo e o Impressionismo.

O ensaísta não deixa de ter em boa conta outras "variadas tendências que cada uma dessas escolas apresenta".

Dentre elas está, a fase anteclássica , ou medieval (período arcaíco) que trataremos no pequeno histórico deste capítulo.

Fase anteclássica, ou medieval

O período anteclássico, ou medieval, "o primeiro das literaturas ocidentais", abrange, em Portugal, os séculos XII a XV, antes, portanto, da descoberta do Brasil.

Foi, aliás, por esta época que nasceu o Soneto, o único poema de forma fixa que conseguiu vencer o perpassar do tempo. Não o conheceram, pois, os gregos e os latinos da antiguidade clássica. Vamos encontrar na fase anteclássica a poesia de inspiração provençal (Escola Trovadoresca, com as "cantigas de amor", as "cantigas de amigos" e as "cantigas de maldizer"): e a poesia de influência espanhola (Escola Palaciana, assim chamada porque a poesia popular, já no século XV, começou a decair, passando a viver mais nos palácios e nas cortes). A Escola Trovadoresca, surgida na Povença, condado ao sul da França, constituìa-se de poetas-cantores e músicos, nos séculos X até o XIII.

A poética desse tempo era chamada "gaia ciência".

(Alexandre Costa, Questões sobre a História da Literatura Portuguesa)
auladeliteraturaportuguesa.blogspot.com


Segundo muitos historiadores, inclusive Marques da Cruz, existiam o "jogral", o "segrel" o "menestrel" e o "trovador".

O "jogral", uma espécie de "bobo da corte", tinha, também, por profissão, divertir os reis, os grandes senhores e o público, com suas chalaças e momices. Cantava, tocava instrumentos, principalmente a viola e o alaúde. Ainda executava acrobacias e era domador de serpentes. Os jograis iam de terra em terra, de castelo em castelo, cantando e recitando. Não produziam as poesias que interpretavam. Boêmios, viviam da generosidade dos senhores nobres, deles recebendo dinheiro, roupa e alimentos. Conta-se que Eduardo I, rei da Inglaterra (de 1272 a 1307), chegou a contratar cerca de 450 jograis para realçarem a festa de casamento da princesa Margareth, sua filha. Ao lado do jogral, não raro, se apresentava, a "jogralessa", de qualidades artísticas semelhantes às do seu parceiro. Os franciscanos diziam-se "jograis de Deus".

O "segrel", também profissional, era o cantor que acompanhava um nobre ou um eclesiástico. Uma espécie de jogral da corte. havia, porém, o segrel instruído, às vezes, mesmo, um ex-eclesiástico, capaz de compor as cantigas.

O "menestrel" era o músico e cantor ambulante dos tempos da antiga cavalaria, vivendo como profissional, agregado aos trovadores fidalgos. Fazia versos e cantava pelos castelos, sempre envolto em grande popularidade. Acompanhava, com seu instrumento, os cantos dos senhores. Quando de origem clerical e, portanto, com qualidades intelectuais, exercia papel saliente nas cortes, onde organizava divertimentos e espetáculos artísticos. Jean de Froissart (1337 - 1410) foi menestrel. Homem culto, cônego, secretário da rainha da Inglaterra.

O "trovador" estava acima do jogral, do segrel e do menestrel. Compunha as próprias cantigas, mas entregava a parte da música e da execução aos jograis e aos segréis, que mantinha para esse fim.

Os trovadores, homens ilustres, nobres e até reis, participavam da arte da poesia, ao lado de burgueses de comprovado talento. Seu tema principal era o amor, baseado numa teoria platônica, embora de quando em quando, se tratasse de paixão verdadeira. Bernard de Ventadour (1140 - 1195), diga-se de passagem, foi o único poeta provençal que, sem o manto da hipocrisia, manifestou livremente sua paixão...

Há quem distinga os trovadores dos troveiros que, a rigor, não passam de formas diferentes da mesma idéia. Os trovadores (do provençal "troubadours"), falavam e escreviam na "langue d"oc" (sul da França). Os troveiros (do francês "trouvère"), usavam a "langue d'oil" (norte da França).

Importantes trovadores provençais ("langue d'oc) foram: Bernard de Ventadour, já citado, o mais "moderno" de todos; Arnaut Daniel (1150 - 1220), inventor da "sextina"; Girard de Bourneuil (1150 - 1220), tido, por muitos, como o inventor do soneto; Bertrand de Born, que foi fidalgo do Périgord (antiga região da França) e morreu frade em 1210; Peire Vidal (1150 - 1210); Peire d'Auvergne (século XII); Peire Cardenal, nascido em 1210 e morto no fim do mesmo século; Guiraut Riquier (1250 - 1294); Rambaldo de Vaqueiras (1180 -1207); Guilherme de Aquitânia (Guilherme IX), conde de Poitiers e duque de Aquitânia e de Gasgonha (1071 -1127), um dos mais antigos poetas em língua romântica. Diz-se que foi o primeiro trovador.

Na França ("langue d'oil), foram troveiros de algum relevo (século XIII); Conon de Bèthune; Colin Muset; Philippe de Nanteuil; Gace Brulé; Jean Bodel; que deixou Arrás, sua terra natal, em 1202, por estar leproso; Thibaud IV (1201 - 1253); Blondel de Nesles; Adam de la Halle, rico burguês, chamado "O Corcunda", e que foi exilado de sua terra natal, (também Arrás), em 1269, por questões políticas. Eram quase todos cavaleiros, nobres, senhores; e os seus poemas eram líricos. Entre eles, contava-se Ricardo Coração de Leão (1157 - 1199).

As atividades trovadorescas, dentro da Provença, diminuíram muito nos séculos XII e XIII, mas adquiriram cores novas e novo alento em outros países.

Na Alemanha medieval, os próprios compositores cantavam: eram chamados "Meinstersingers" (mestres cantores) e "Minnesingers" (cantores de amor). Os principais: Spervogel, morto em 1180, pioneiro de uma segunda linha de evolução das formas líricas"; Dietmar von Aiste, que fez uma boa aliança da canção popular com a arte da lírica provençal; Friedrich von Haussen (1150 - 1190), amigo do imperador Frederico Barba-Roxa; Heinrich von Morungen (1150 - 1222), conforme Fritz Martini, "o primeiro que elevou a canção alemã a um alto grau de perfeição"; Reinmar von Hangenau (1160 - 1205), poeta de renome, na corte do duque Leopoldo, em Viena; Walther von der Vogelweide, possivelmente de origem austríaca (1170 - 1230) , de acordo com Martini, " o maior trovador da Idade Média Alemã, e um dos líricos de sempre". Com Frederico II, patiu Walther para a Sexta Cruzada (1228 -1229). Escreveu Klabund: "Ele odiava os padres e o falso deus que se achava em Roma. Queria ver face a face o Deus verdadeiro. Entoou para os cruzados a canção da cruzada". Disse mais Klabund: "Ainda na morte queria honrar seu nome: seu túmulo deveria ser um prado para as aves".

Os trovadores na Itália, em especial ao norte, empregaram inicialmente, a língua da Provença.

O Cancioneiro castelhano, por excelência, é o de Baena, compilado por Juan Alonso de Baena, que morreu em 1445. Nesse Cancioneiro encontram-se poesias de mais de 40 poetas da corte de D. João II de Castela.

É claro que as criações dos trovadores não tinham a estrutura do que hoje chamamos trova, ou seja uma estrofe de quatro versos setissílabos rimados ( o primeiro com o terceiro e o segundo com o quarto). Eram pequenos poemas sem limite de versos, para serem declamados ou cantados.

Consta que o primeiro trovador a cultivar em versos de sete sílabas, como a fazemos atualmente, foi Afonso X, de Leão e Castela, o "rei-sábio", também cognominado o "Astrônomo".

Não obstante haver adotado o castelhano como língua oficial, ele compôs as "Cantigas de Santa Maria", em louvor à Virgem, em galaico-português (língua catalã muito ligada ao provençal), contendo 420 poemas musicados, entre os quais um número superior a 200 trovas. (Em 1961, a Universidade de Coimbra reeditou essa obra.)

Cerca de 30 outros poemas que produziu, na maioria satíricos de conteúdo moral e político, estão incluídos nos Cancionairos da Vaticana e da Biblioteca Nacional, a que aludiremos logo adiante. Afonso X, nasceu em 1221 (Toledo), reinou de 1252 até 1282, quando foi deposto por seu filho D. Sancho IV. Morreu em 1284 em Sevilha.

Em 1128, Portugal se desmembrou de Leão (Leon) e se transformou em reino.

D. Diniz (1261 - 1325), o grande rei-trovador, que subiu ao trono português em 1279, chamado o "Lavrador", ou o "Trovador", compôs centenas de cantingas. Em seu reinado, a trova brilhou intensamente. Antônio Ferreira, um ", clássico moderno", assim se referiu a ele: "honrou as musas, poetou e leu".

D. Diniz, escreveu as "Baladas e Pastorelas", "Cantares de amigo" e "Cantingas de amor", pontos altos dos cancioneiros medievais. Sua poesia trovadoresca, diz Marques da Cruz, "tem o traço inconfundível da poesia provençal: é ingenuamente amorosa e espontânea, brotando da alma como a água brota da fonte".

Aliás, não podemos esquecer os grandes Cancioneiros Portugueses (1198 - 1354). Portugal tornou-se, inclusive, um admirável celeiro de trovadores.

Tais produções se acham reunidas em três "Cancioneiros": o "Cancioneiro da Ajuda", com 310 canções, o "Cancioneiro da Vaticana", pertencente à Biblioteca do Vaticano, com 1.205 cantigas, de cerca de 130 poetas da Espanha (inclusive D. Afonso X), e de Portugal, entre estes D. Pedro (Conde de Barcelos) e D. Diniz (rei de Portugal); e o " Cancioneiro da Biblioteca Nacional de Lisboa" (antiga "Colocci Brancuti"), com 1.647 composições, das quais 1.100, aproximadamente, repetidas do "Cancioneiro da Vaticana".

No "Cancioneiro da Ajuda" encontra-se a famosa "cantiga de amor", a "Ribeirinha"", de Paio Soares Taveirós, composta em 1189, e que Carolina Michaélis de Vasconcelos considera o mais velho texto conhecido da poesia portuguesa. Cantiga dedicada à favorita de D. Sancho I - D. Maria Pais Ribeiro - mais conhecida como a "Ribeirinha". Todavia há fontes que indicam como autor da mesma o próprio D. Sancho I, também trovador, e primeiro rei-poeta de Portugal.


Ilustração - artbible.net

Por curiosidade, transcrevemos um pequeno trecho da cantiga, em rimas consoantes:

No mundo non me sei parelha
mentre me for' como me vay
ca ia moro por vos - e ay
mia senhor branca e vermelha,
queres que vos retraya
quando vos eu vi em saya!

A Escola Palaciana teve sua produção reunida no chamado "Cancioneiro Geral", obra bilíngue, que o fidalgo-poeta Garcia de Resende (1470 - 1536) compilou e o rei D. Manuel I de Portugal (1469 -1521), mandou publicar em 1516. São mais de 1.000 produções de 286 poetas portugueses dos séculos XV e XVI, escritas em espanhol e em português, já revelando influência erudita. Aí é evidente a feição nova da poesia castelhana, mais perto do "dolce stil nuovo" de florença, do que da corte de Afonso III e de D. Diniz, seu filho.

No "Cancioneiro Geral" encontram-se produções poéticas de Gil Vicente, Sá de Miranda, Bernardim Ribeiro, D. Pedro (Condestável de Portugal), Jorge de Aguiar, Diogo Brandão, além do próprio Garcia de Resende.

O colecionador do "Cancioneiro Geral" foi secretário particular do monarca português D. João II (1455 - 1495), que reinou de 1481 a 1495.


Créditos de autoria:
Vasco de Castro Lima

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