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Roseiras Dolorosas (comentado)


Página Maria Granzoto
Editora de Literatura Brasileira ArtCulturalBrasil
Arapongas - Paraná
granzoto@globo.com

ROSEIRAS DOLOROSAS
(José Antonio Jacob)

Estou sozinho em meu jardim sem cores
E, ainda que eu tenha mágoas bem guardadas,
Cuido dessas roseiras desmaiadas
Que em meu canteiro nunca abriram flores.

Tais quais receosas almas delicadas
Elas se encolhem sobre seus temores
E abortam seus rebentos nas ramadas,
Enquanto vão morrendo em suas dores.

Quantas almas, que por serem assim,
Como essas tristes plantas no jardim,
Calam-se a olhar o nada, tão descrentes...

Feito as minhas roseiras dolorosas
Que só olham para a vida, indiferentes,
E não me dão espinhos e nem rosas.

Introdução

Creio que todos os leitores que tiveram o privilégio de ler poemas de José Antonio Jacob, esse ilustre mineiro de Juiz de Fora, puderam sentir o estado d`alma com que o poeta escreve. Revestindo, retocando, modificando, desnudando o homem, a terra e tudo mais que a vida se nos apresenta. O soneto « Roseiras Dolorosas « e um belo exemplo dessas afirmações.

O Título

As “Roseiras Dolorosas” não produzem flores, mas sentem dores. As roseiras não entendem o ciclo da vida. Ou, ao contrário, por entendê-lo em sua essência, preferem a omissão, o recolhimento em suas próprias dores ? Por que agem dessa forma ? E por que são roseiras sem espinhos, descaracterizando-se dentre as espécies da flora? É interessante observar a escolha do adjetivo “dolorosas”, cujo sufixo traduz a intensidade da dor (- osas = cheio de) e também imaginar que se antepusermos a letra “r” ao sufixo, teremos a palavra “rosas”

O primeiro quarteto

Estou sozinho em meu jardim sem cores
E, ainda que eu tenha mágoas bem guardadas,
Cuido dessas roseiras desmaiadas
Que em meu canteiro nunca abriram flores.

Um jardim sem cores... Como pode um jardim significar ausência, o nada? Na verdade o que esse jardim apresenta são mágoas, falta de vida, de alegria! Visto que a palavra jardim provém do Hebreu “gan”, que significa proteger, defender e “éden” que significa prazer. Estes são normalmente descritos segundo seus estilos: clássico (anteriores ao século XV), barroco, paisagístico, exibicionista, pitoresco e murado (a partir do século XV), romântico e anglo-chinês (a partir do século XVI), metódico (entre os séculos XVI e XVIII), rococó (entre os séculos XVII e XIX), sentimental (principalmente nos séculos XVIII e XX), estilos mistos (entre os séculos XV e XVIII e depois do século XIX), contemporâneo (início do século XX, em diante) ou ainda segundo sua pátria: grega, romana, italiana, francesa, etc...

Pode-se observar que antes mesmo das primeiras civilizações, existiu o "Jardim do Paraíso", onde Deus colocou Adão e Eva.

O jardim, desde a antiguidade, sempre foi um espaço de lazer e prazer mesclando um paradigma de sonho e realidade. Através deste espaço, era possível viajar no tempo, experimentar sensações diferentes, promover encontros e entrar em contato com a natureza em sua mais exuberante expressão. Segundo Michael Corajaud, o jardim é como fragmento de um sonho e deve ser compartilhado por todo e qualquer usuário, incluindo os portadores de algum tipo de deficiência - visual, auditiva ou física. Nesta abordagem do poeta é preciso perceber que, além da solidão em que se encontra e dos aspectos sensoriais da visão, do olfato e tato, estão os seus sentimentos, “as mágoas bem guardadas”, tão bem zeladas tanto quanto as roseiras que não produzem flores, embora não estejam mortas, mas completamente alheias à realidade, visto que estão desmaiadas, desacordadas, isoladas do mundo real.

A roseira é muito antiga. Nenhum dos cultivadores e peritos modernos sabe dizer com certeza onde ela surgiu pela primeira vez. Acredita-se que a primeira rosa cresceu nos jardins asiáticos há 5.000 anos. Na sua forma selvagem, a flor é ainda mais antiga. Fósseis dessas rosas datam de há 35 milhões de anos. Cientificamente, as rosas pertencem à família Rosaceae e ao gênero Rosa L.com mais de 100 espécies, e milhares de variedades, híbridos e cultivares. Segundo os alquimistas, a rosa simboliza o segundo caminho na vida, o primeiro é o do Lírio - o desapego. O caminho da rosa é o “Caminho do Amor”.
Este caminho leva-nos a viver a vida intensamente, desejando usufruí-la ao máximo. O poeta demonstra que é humano e que sente inteiramente o prazer e a dor. Por isso conhece muito bem a ambos. O poeta está só, mas suas roseiras, não

.O segundo quarteto

Tais quais receosas almas delicadas
Elas se encolhem sobre seus temores
E abortam seus rebentos nas ramadas,
Enquanto vão morrendo em suas dores.

Não há rosa sem espinhos, reza o bem conhecido ditado, nascido da observação atenta da constituição botânica da rainha das flores. Aplicada à vida, tal constatação está a indicar que toda ela, a vida, está entretecida por uma alternância de altos e baixos, de prazeres e agruras, de alegrias e tristezas, de faustos e nefastos. E, convenhamos que uma coisa se enquadra muito bem na outra. Isso, por vezes, acabrunha-nos, e faz-nos passar a vida revoltados e a tentar eliminar todos os espinhos que nela se cravam quase com laivos de maldição. Tarefa árdua, senão inútil, pois eles fazem parte da nossa natureza, como os espinhos o são, até, das rosas mais delicadas.

O temor é um movimento da potência apetitiva, da qual é próprio buscar e evitar um dado objeto, como diz Aristóteles. Ora, o que ela busca é o bem, e o que evita é o mal. Por onde, qualquer movimento dessa potência que importe em buscar um objeto, há de sempre tê-lo por bom; e qualquer que implique a fuga, há de tê-lo por mau. Por onde, como o temor implica a fuga, há de primariamente e em si mesmo ter o mal como seu objeto próprio.

Mas, também pode visar o bem, na medida em que este tiver relação com o mal. — E isto pode dar-se de dois modos. De um, enquanto o mal priva do bem; pois é por ser privativo deste que é mal. Por onde, quando fugimos do mal como tal, necessariamente o fazemos porque ele nos priva do bem amado, que buscamos. E por isso, disse Agostinho antes, que a causa única de temermos é não querermos perder o bem amado. — De outro modo, o bem está para o mal, como a causa deste, a saber, enquanto que um determinado bem tem a virtude de produzir qualquer mal no bem amado. Por onde, como a esperança visa, segundo já dissemos dois termos, a saber, o bem para o qual tende, e aquilo pelo que espera haver de alcançar o bem desejado, assim também o temor visa, dois termos, a saber, o mal de que foge e o bem que, pela sua virtude, pode infligir o mal. E o temor é tamanho que conduz as roseiras ao aborto das suas rosas, sempre em constante sofrimento. Eis aí o bem e o mal. Um alimentando-se do outro em ricas metáforas e pleonasmos semânticos!

O primeiro terceto

Quantas almas, que por serem assim,
Como essas tristes plantas no jardim,
Calam-se a olhar o nada, tão descrentes...

Pessoas tristes, descrentes da vida por circunstâncias várias, tornam-se caladas e sós. Em especial a falta de amor, de carinho, de compreensão, falta de RECONHECIMENTO, TÃO PRESENTES E COMUNS NOS DIAS ATUAIS! De repente vem o medo de que o amor se pudesse esgotar. Inúmeras vezes já ouvimos, ou até nos sentimos com um olhar no nada, no vazio do universo, e ficamos ali estáticos, sem dar conta do tempo que passamos olhando fixamente ao nada. Quase sempre ninguém se importa. Às vezes ficamos ali, vivendo aquele momento nos leva a um nada. É como se desligasse, ou como dizem os mais modernos: é uma viagem. Daí nossa face revela o sentimento que dentro de nós veio à tona. Nem sempre ou talvez a maioria das vezes esse olhar para nós pode ser como busca de uma resposta, pois só podemos encontrá-la naquele tempo em que nos esvaziamos de nós mesmos, porque só assim entramos numa intimidade. Mas qual é nossa intimidade? Seria com nossos planos frustrados, alguma derrota, quem sabe uma saudade, uma perda ou uma ausência?

O último terceto

Feito as minhas roseiras dolorosas
Que só olham para a vida, indiferentes,
E não me dão espinhos e nem rosas.

O que é indiferença? Seria um desvio de comportamento, um costume, uma forma de sobrevivência, um mecanismo de defesa, de resistência, ou conseqüência do egoísmo e do medo? O fato é que todos nós, uns mais outros menos, somos indiferentes, "passamos ao largo" de muitas coisas, realidades, fatos e pessoas, em algumas situações, até de nós mesmos.

A indiferença tem um poder devastador. Ela é a companheira doentia do dominador e opressor, também dos que preferem as desigualdades, a violência, o ódio e a morte. Os indiferentes, de uma forma ou de outra, ferem, rejeitam, excluem, matam! E como o mundo está entupido de pessoas assim! Está correta a conclusão: o contrário do amor não é o ódio, mas a indiferença.

A partilha, o reconhecimento e o exercício de uma cidadania ativa, despida de segundas intenções, tornam-nos atentos e ligados a tudo e uns aos outros, envolvem-nos com o sofrimento do outro e com a alegria de todos. É por isso que cremos na renovação da vida. Quando não nos isolamos em nossos "mundinhos", quando evitamos pensar só em nós mesmos, quando abrimos nossos olhos e ouvidos, os sinais, a graça e o amor de Deus nos constrangem e denunciam a nossa indiferença, movendo-nos para caminhos novos que transpiram vida, justiça, esperança e paz.

Conclusão

“Roseiras Dolorosas” provoca e induz a um mundo infinito de interpretações: amor, desamor, inclusão, exclusão, justiça, injustiça, infertilidade, fertilidade. Enfim, é um soneto para ser lido e relido com o olhar que cada um possui.

Traz-nos ensinamentos vários, sem pretender chegar a tanto. Depende do leitor e da sua leitura de mundo. Há muita gente que acredita que se manter indiferente quanto a uma situação é “a mais inteligente alternativa” para: garantir a sua posição, manter a sua credibilidade e confirmar a sua pretensa competência.
Manter-se indiferente, mesmo tendo o poder de agir ou de mudar uma circunstância, seja para se preservar, ou seja, para evitar se envolver, é a mais clara expressão da falta de competência e de coerência profissional.

Se você pode agir para mudar ou melhorar o que quer que seja, então haja, e em hipótese alguma se omita. Ser reconhecido por se omitir é manter-se supostamente intacto na sua zona de conforto, é deixar de trabalhar para o bem comum (de uma equipe, de uma empresa, de um projeto, com o cliente) e principalmente é se esquivar da responsabilidade sobre o seu próprio trabalho.

Alguns podem considerar uma excelente estratégia de atuação e até se “auto” classificar como alguém ponderado/comedido, e transmitir aos outros este posicionamento, e assim tornar uma desculpa justificada quando a sua responsabilidade é questionada ou identificada. É um mito acreditar que as pessoas não reconhecem este padrão de comportamento ou, mais ainda, acreditar que ninguém o percebe. Todos sabem muito bem o que está acontecendo, mas poucos são os que se fazem algo para efetivamente mudar o contexto e deixar claro que este tipo de comportamento é inaceitável.

O espírito de liderança e de colaboração rejeita completamente a omissão, e jamais se alia ao que é individualmente mais confortável e, sempre se posiciona e atua para construir solução que beneficia o conjunto. No mundo dos negócios, há a inacreditável aceitação pelo posicionamento omisso e indiferente.
Porque muitas vezes é melhor (para o indivíduo) preservar-se do que correr o risco de se posicionar e de solucionar o que precisa ser solucionado, que pode não ser agradável à todos (inclusive para si próprio).
O culto ao individual faz as pessoas esquecerem que precisam atuar juntas para crescer e que por mais talento que se tenha, este só tem valor e agrega valor quando é reconhecido pela forma como se age. Manter-se indiferente ao que suas ações significam para os outros no seu contexto e no contexto dos outros é desrespeitar a própria inteligência e a inteligência dos outros. Tenha sempre presente que você precisa estar atento ao que lhe cerca e que deve aos outros a coerência do seu posicionamento.

Conquistar espaço, nada mais é do que conquistar a confiança de todos pela coerência entre a sua forma de pensar e de agir, especialmente a de fazer poesia com tamanha maestria para determinados grupos que apenas olham para si mesmos. Não vêem as rosas e nem as roseiras. A roseira demora a entender que somente estando nua poderá alcançar a primavera e gerar novas rosas. É muito dolorido ser uma roseira sem rosas e sem espinhos...

REFERÊNCIAS

ANDERSON, W.L.; EDMINSTER, F.C. The multiflora rose for fences and wildlife. Washington: U.S.Department of Agriculture. 1954. 8 p.
BARASH, C.W. Roses – An Illustrated Identifier and Guide to Cultivation. New Jersey: Chartwell Books, 1991. 128 p.
BARBIERI, R.L., CARVALHO, F.I.F. Co-evolução de plantas e fungos patogênicos. Revista Brasileira de Agrociência, Pelotas, v.7, n.2, p. 79-83, 2001.
BARBOSA, J. G. Produção Comercial de Rosas. Viçosa:Aprenda Fácil, 2003. 200p.
BROERTJES, C., VAN HARTEN, A.M. (Eds.). Applied mutation breeding for vegetatively propagated crops.
Developments in Crop Science, Amsterdam, v.12., p. 197- 204, 1988.
DAUDT, R. H. S. Censo da Produção de Flores e Plantas Ornamentais no RS na Virada do Milênio.2002. 107f. Dissertação (Mestrado em Fitotecnia) – Faculdade de
Agronomia, Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
DENSMORE, R., ZASADA, J.C. Germination requirements of Alaskan Rosa acicularis. Canadian Field
FONTANA, G. Le cinque rose botaniche considerate Le antenate delle rose attuali. Vita in Campagna, Verona, v.6, p.16, 1997.
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Lineu Roberto de Moura



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