Rio de Janeiro - RJ
1906 - 1965
Augusto Frederico Schmidt
Augusto Frederico Schmidt
(Rio de Janeiro, 18 de abril de 1906 — Rio de Janeiro, 8 de fevereiro de 1965) foi poeta da segunda geração do Modernismo; falou de morte, ausência, perda e amor em seus poemas. Espírito criativo e polivalente, foi também empreendedor, tendo sido um dos fundadores da cadeia de supermercados DISCO, no Rio de Janeiro, e tornou-se amigo do presidente (1956-1960) Juscelino Kubitschek, tendo criado o slogan de sua campanha, "50 anos em 5". Escreveu inúmeros discursos para o presidente e várias de suas idéias vieram a ser realizadas, como a criação da Operação Pan-Americana (OPA), uma iniciativa que iria inspirar a Aliança para o Progresso, criada pelos Estados Unidos na administração Kennedy. Foi delegado do Brasil na ONU e Embaixador na Comunidade Econômica Européia.
Como editor, ele publicou livros importantes como "Casa grande e senzala", de Gilberto Freire, e "Caetés", de Graciliano Ramos. Entre seus principais livros estão "O galo branco", "Estrela solitária" e "Prelúdio à revolução". Era casado com Yedda Ovalle Schmidt.
Além de poeta, Augusto Frederico Schmidt também foi presidente do Club de Regatas Botafogo entre 1941 e 1942. Um de seus últimos atos de sua gestão foi idealizar a fusão do clube que presidia com o homônimo de futebol, Botafogo Football Club, criando assim o Botafogo de Futebol e Regatas. A idéia surgiu em decorrência da morte do atleta de basquete Armando Albano durante uma partida entre os dois clubes. Apesar de idealizador, o cargo de presidente do novo clube não ficou com Schmidt, mas sim com Eduardo Góes Trindade, então presidente da outra agremiação. (Wikipédia)
Soneto a Camões
As tuas mágoas de amor, teus sentimentos
Diante das leis que regem nossas vidas,
Desses fados que dão e logo tiram,
E a que estamos escravos e sujeitos.
As tuas dores de amar sem ser amado,
De procurar um bem que não se alcança,
E no canto clamar desesperado
Pelo que nunca vem quando se busca.
Poeta de enamoradas impossíveis
E que num negro amor desalteraste
Essa sede de amar dura e terrível,
As tuas mágoas de amor, tuas fundas queixas,
Como uma fonte ficarão chorando
Dentro da língua que tornaste eterna
Soneto cigano
As tuas mágoas de amor, teus sentimentos
Diante das leis que regem nossas vidas,
Desses fados que dão e logo tiram,
E a que estamos escravos e sujeitos.
As tuas dores de amar sem ser amado,
De procurar um bem que não se alcança,
E no canto clamar desesperado
Pelo que nunca vem quando se busca.
Poeta de enamoradas impossíveis
E que num negro amor desalteraste
Essa sede de amar dura e terrível,
As tuas mágoas de amor, tuas fundas queixas,
Como uma fonte ficarão chorando
Dentro da língua que tornaste eterna
Soneto cigano
Lembra-me sempre a viagem, a grande, a estranha viagem.
As mulheres brincavam e riam ao pé das enormes fogueiras.
Rostos da cor do bronze, olhares misteriosos,
E mãos escuras para todos os misteres.
Lembra-me sempre a viagem, as estradas perdidas
Por onde seguíamos atrás das auroras ingênuas
Que corriam cantando, e atrás das horas fugidias—
Horas que pareciam dançar ao ruído de pandeiros.
Era tudo uma grande inocência e descuido.
O futuro sombrio, as ambições, os medos,
Não me lembro de os ter sentido nesses tempos.
Colhíamos, então, flores e frutos nos caminhos,
Amávamos o amor nas morenas mulheres,
E adormecíamos à mercê dos ventos e das chuvas.
V (Sonetos)
Noites, estranhas noites, doces noites!
A grande rua, lampiões distantes,
Cães latindo bem longe, muito longe.
O andar de um vulto tardo, raramente.
Noites, estranhas noites, doces noites!
Vozes falando, velhas vozes conhecidas.
A grande casa; o tanque em que uma cobra,
Enrolada na bica, um dia apareceu.
A jaqueira de doces frutos, moles, grandes.
As grades do jardim. Os canteiros, as flores.
A felicidade inconsciente, a inconsciência feliz.
Tudo passou. Estão mudas as vozes para sempre.
A casa é outra já, são outros os canteiros e as flores
Só eu sou o mesmo, ainda: não mudei!
Soneto XLIX
Morrer, Senhor, de súbito, não quero!
Morrer como quem parte lentamente
Vendo o mundo perder-se pouco a pouco
E com o mundo as imagens da memória.
Morrer sabendo próxima e implacável
A hora de deixar o doce efêmero.
Morrer o olhar voltado para a altura
Para a Face de Deus, ardente e pura.
Morrer como quem vai se despedindo
A fixar as paisagens mais antigas
E os seres mais longínquos, já partidos.
Morrer levando a vida já vivida!
Morrer maduro, e não qual fruto verde
Por violência dos galhos arrancados.
SONETO
Os laranjais em flor. Noites estranhas
Em que o amor era flama e juventude.
Luas novas no céu, flores novas na terra,
Frutos para nascer, palpitando nas árvores.
Laranjais que a lua doce e quieta
Amadurecia com o seu sorriso enternecido;
Laranjais em flor que o vento amava,
Que o vento apertava nos seus longos braços;
Laranjais que já destes tantos frutos
Dizei-me hoje: onde estão aqueles olhos
Cheios de mistérios e ternuras inéditas?
Dizei-me, árvores: onde estão aquelas mãos
De febre, aquelas mãos morenas e macias,
E aqueles seios nascendo no corpo em flor?
De Estrela Solitária (1940)
Nenhum comentário:
Postar um comentário