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UMA CIDADE SEM MEMÓRIA CULTURAL É UMA CIDADE SEM FUTURO HISTÓRICO

Paulo Bomfim

Página Maria Granzoto
30 de setembro de 1926 – São Paulo - SP


“Deixa que as coisas te interpretem
Que o vento sinta tua pele,
Que as pedras meditem teus passos,
E as águas criem tua realidade.”
( Paulo Bonfim, in Descoberta )


Professora Maria Granzoto da Silva
Editora de Literatura Brasileira ArtCulturalBrasil
Arapongas - Paraná


Paulo Lébeis Bomfim ( ou Bonfim ) nasceu no dia 30 de setembro de 1926 em São Paulo (SP). Recebeu influência dos seus pais, avós especialmente de um tio, Carlos Magalhães Lebeis, retratado por Cândido Portinari. O ambiente familiar foi fundamental na sua inclinação para as Letras. Seu pai, médico, era homem bastante culto e sua mãe, além de tocar violão também cantava. Pode-se dizer que desde que nasceu já começou a conviver com saraus a que compareciam escritores e artistas conceituados como: Vicente de Carvalho, Guilherme de Almeida, Mario de Andrade. No âmbito da pintura, Tarsila do Amaral era uma das presenças constantes e, no da música, as pianistas Guiomar Novaes e Magdalena Tagliaferro, entre outros.

Abandonou o curso de Direito, que havia iniciado por volta de seus 20 anos, preferindo continuar trabalhando como colaborador dos jornais “Diário de São Paulo”, “Correio Paulistano” e “Diário de Notícias”. Seu primeiro livro, “Antônio Triste”, lançado em 1946, com prefácio de Guilherme de Almeida e ilustrações de Tarsila do Amaral, recebeu o Prêmio Olavo Bilac, concedido pela Academia Brasileira de Letras, em 1947.

Atuou como relações públicas da "Fundação Cásper Líbero" e fundador, com Clóvis Graciano, da Galeria Atrium. Produziu "Universidade na TV" juntamente com Heraldo Barbuy e Oswald de Andrade Filho; "Crônica da Cidade" e "Mappin Movietone". Apresentou na Rádio Gazeta, "Hora do Livro" e "Gazeta é Notícia". Entre 1971 e 1973 foi curador da Fundação Padre Anchieta, diretor técnico do Conselho Estadual de Cultura de São Paulo e representante do Brasil nas comemorações do cinqüentenário da Semana de Arte Moderna, em Portugal.

Publicou, em 1951, "Transfiguração". Em 1952, "Relógio de Sol". Lança as primeiras cantigas, musicadas por Dinorah de Carvalho, Camargo Guarnieri, Theodoro Nogueira, Sérgio Vasconcelos, Oswaldo Lacerda e outros.

Publica, em 1954, "Cantiga de Desencontro", "Poema do Silêncio", "Sinfonia Branca" e depois, em 1956, "Armorial", ilustrado por Clóvis Graciano. Em 1958, lança "Quinze Anos de Poesia" e "Poema da Descoberta". Publica a seguir "Sonetos"(1959), "O Colecionador de Minutos", "Ramo de Rumos" (1961), "Antologia Poética" (1962), "Sonetos da Vida e da Morte" (1963). "Tempo Reverso" (1964), "Canções" (1966), "Calendário" (1968), "Poemas Escolhidos" (1974), "Praia de Sonetos" (1981), com ilustrações de Celina Lima Verde, "Sonetos do Caminho" (1983), "Súdito da Noite" (1992), "50 Anos de Poesia" e "Sonetos" pela Universitária Editora de Lisboa. Em 2000 e 2001 publicou os livros de contos e crônicas “Aquele Menino” e “O Caminheiro”. Publicou, em 2004, “Tecido de lembranças” e, em 2006, quando o poeta completou 80 anos de idade, “Janeiros de meu São Paulo” e “O Colecionador de Contos”.

Suas obras foram traduzidas para o alemão, o francês, o inglês, o italiano e o castelhano. No dia 23 de maio de 1963, passou a ocupar a cadeira 35 da Academia Paulista de Letras tendo sido saudado por Ibrahim Nobre. Presidente do Conselho Estadual de Cultura e do Conselho Estadual de Honrarias e Mérito, na década de 70. O poeta é, ao completar 80 anos, o decano daquela Academia.

Em 1982, recebeu o título Personalidade do Ano, concedido pela União Brasileira de Escritores

Em 1993, foi agraciado com o Prêmio pelo Cinqüentenário de Poesia, concedido pela União Brasileira de Escritores.


Recebeu, em 1982, o Troféu Juca Pato de Intelectual do Ano, concedido pela União Brasileira de Escritores.

Vale ressaltar que é amante incondicional do soneto e sobre ele disse, durante uma entrevista: “Considero o soneto o traje a rigor do pensamento. Sinto-me perfeitamente à vontade escrevendo-os e lendo-os.”


Soneto I
 
Venho de longe, trago o pensamento

Venho de longe, trago o pensamento
Banhado em velhos sais e maresias;
Arrasto velas rotas pelo vento
E mastros carregados de agonia.

Provenho desses mares esquecidos
Nos roteiros de há muito abandonados
E trago na retina diluídos
Os misteriosos portos não tocados.

Retenho dentro da alma, preso à quilha
Todo um mar de sargaços e de vozes,
E ainda procuro no horizonte a ilha

Onde sonham morrer os albatrozes...
Venho de longe a contornar a esmo,
O cabo das tormentas de mim mesmo.

* do livro Transfiguração

“Paulo Bonfim não precisa de apresentações. Será esta uma afirmação correta? Sim, se pensarmos nos homens e mulheres de nossa geração que tiveram professores e escolas como nós tivemos. Basta lembrar um tempo de grupo escolar em que, ao terminá-lo, já saíamos conhecendo Monteiro Lobato – em sua série infantil – e começando a ler Cidades Mortas e Onda Verde... Paulo Bonfim entrou em nosso universo com o seu livro de estréia Antônio Triste, publicado em 1947.

A poesia chegava cedo na vida de todos nós. Hoje, certamente, pensando nos jovens, é preciso fazer um pequeno retrospecto da vida do nosso Príncipe dos Poetas Brasileiros, título que Paulo Bonfim recebeu em 1991, outorgado pela Revista Brasília.

Por sua dedicação e empenho há a comemoração do Dia dos Bandeirantes, celebrado pela primeira vez em 14 de novembro de 1961.

Atuou na área jornalística, tendo iniciado suas atividades no Correio Paulistano. Assis Chateaubriand o levou para o Diário de São Paulo, onde permaneceu por dez anos com seu “Luz e Sombra” e “Notas Paulistas” para o Diário de Notícias do Rio. Teve papel importante na televisão.

Produziu o programa Universidade na TV, com Heraldo Barbuy e Oswald de Andrade Filho, do qual pouca gente deve lembrar. Foi, de fato, atuante nesse grande universo jornalístico. Nunca o abandonou. E continuou homem público, com sua reconhecida generosidade dedicada a todos aqueles que dele se aproximaram. Poder-se-ia ainda ir destacando o seu papel de animador cultural, de historiador, de atuante e participante cidadão, interessado sempre no nosso patrimônio maior, a cultura.

O livro 50 Anos de Poesia, com ilustração de Tarsila do Amaral, chega em boa hora, permitindo que todos nós, antigos e novos, possamos acompanhar a trajetória do poeta, desde o seu iniciar com Antônio Triste. A edição é muito bem pensada e as 460 páginas que a compõem permitem um reencontro daqueles que já conheciam os passos do poeta e o encontro dos que se iniciam no conhecimento da obra de Paulo Bonfim.

Desde Antônio Triste (1947) até Súdito da Noite (1992), o poeta passeia pelo tempo e vence, com esforço e sabedoria, todos os entraves para trazer, a cada um de nós, a sua bela forma de cantar em versos a vida, a morte, o mundo, a beleza e a História.

É singular, ímpar, quando descreve personagens, como neste trecho, roubado do livro para ser dividido com o leitor:

“Lembrava-me um balão que, multicor,
Se vê no firmamento:
Não se sabe donde veio.
Não se sabe aonde vai.
Não era velho.
Não era moço,
Não tinha idade
Antônio Triste.”

Também sabe brindar o leitor com versos como este:

“Algo me veste
O existir
Algo cobre com um sorriso
A idéia de sorrir
Algo inventa palavras
Em lavras de vento
Algo arde
Nos passos em que sou tarde
Algo ama em meu amor
Algo alga em praia além
Algo alma
Em meu ninguém.”


Ou no seu “Colecionador de Minutos”:

“Abro a janela. Colho o instante que passa.”
“À meia-noite, os ponteiros se amam.”
“No calendário, os dias são vidas.”
“Saudade de tudo que não seremos.”
“De tudo somos ricos. Nada nos pertence.”

Mas, talvez, no Armorial, esteja o ponto de nossa confluência. É nesta obra, dedicada aos seus “antepassados que ainda não regressaram do sertão, estes três séculos de espera”, que encontramos, na poesia e no poeta, a obra e a alma do historiador. Por não ser possível reproduzir todo o conteúdo deste preito aos nossos desbravadores do território brasílico, ficamos com este:

Canto X

“Ó pousos, ó cansaços, ó jornadas,
Parnaíbas de amor que não regressam;
Candeias inflando o breu da noite,
Cerrações, retentivas de partidas.
Tietês correndo fundo na saudade,
Rostos submersos, águas sertanistas,
Canção de remos no arraial de espumas,
Proas alimentadas de paisagem
Ó pousos não pousados duas vezes,
Ó serras, ó martírios não falados,
Ó melros decepados em vitórias...
Longo é o sono da terra adormecida
Imersos em nós mesmos contemplamos
Leões brasonados perseguindo.”

E, assim, poderíamos buscar outros e outros expressivos momentos do poeta, mas será o bastante se encerrarmos com estes versos:

“Monção de meus desejos e alegrias
Velho trono florindo desenganos,
Enfeitado de flechas e destinos
Levai meu corpo além das corredeiras
Para que me entre pela selva eterna,
Conduzindo meus próprios pensamentos.”

A completar o livro, um Apêndice muito bem pensado, original, acima de tudo por nos trazer, com muita criatividade, a genealogia do grande desbravador paulistano e cidadão-príncipe Paulo Bonfim.” ( in Fortuna crítica: José Sebastião Witter )

É, hoje, Coordenador de Cerimonial e Relações Públicas do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo.

Sua poesia, vinculada à terceira geração do modernismo, tematiza com freqüência a cidade de São Paulo. o que contribuiu para Paulo Bonfim se tornasse um dos poetas mais populares do estado.

Obra literária

Transfiguração, 1951; Relógio de Sol, 1952; Cantigas, musicadas por Dinorah de Carvalho, Camargo Guarnieri, Theodoro Nogueira, Sérgio Vasconcelos e Oswaldo Lacerda; Cantiga de Desencontro, Poema do Silêncio, Sinfonia Branca. 1954; Armorial, 1956 ( seu preferido ); ilustrado por Quinze Anos de Poesia e Poema da Descoberta, 1958; Sonetos" e O Colecionador de Minutos, 1959; Ramo de Rumos, 1961; Antologia Poética, 1962; Sonetos da Vida e da Morte, 1963. Tempo Reverso, 1964; Canções, 1966; Calendário, 1968; Poemas Escolhidos, 1974; Praia de Sonetos, 1981; Sonetos do Caminho, 1983; Súdito da Noite, 1992. Em 2000 e 2001 publicou os livros de contos e crônicas Aquele Menino e O Caminheiro; em 2004, Tecido de lembranças e, em 2006, Janeiros de meu São Paulo e O Colecionador de Contos.


Referências

Jornal da Poesia
Paulo Bonfim - 50 Anos de Poesia, de Paulo Bonfim. Green Forest do Brasil, 460 págs.,
- http://www.wikipedia.org/ 

 
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Um comentário:

  1. Paulo Bomfim tem hoje um site oficial, sou a responsável e gostaria que ajudassem a divulgar o Príncipe dos poetas brasileiro. Meu e-mail dibonetti@portalartes.com.br ou dibonetti@dibonetti.com
    Meu twitter que uso para divulgar o site do poeta: @dibonetti Obrigada

    Saudações

    Di Bonetti - diretora
    http://www.portalartes.com.br

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