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UMA CIDADE SEM MEMÓRIA CULTURAL É UMA CIDADE SEM FUTURO HISTÓRICO

Resposta ao Passado

 
 
APRESENTA
 
 
RESPOSTA AO PASSADO
José Antonio Jacob
 
Eu costumava no cair das tardes
Atravessar a ponte Arthur Bernardes
E olhar de longe o azul desfalecer.
E lá de cima o morro feito um músculo,
Eriçado no muque do crepúsculo,
Espiava a natureza escurecer.
 
Como é possível responder ao passado de nossas vidas? Não há como voltar no tempo! Mas, Deus, na Sua infinita sabedoria, legou-nos a memória! E é através dela que podemos responder ao tempo que já se foi. Creio que o poeta José Antonio Jacob, com maestria inigualável, nos ensina, através da poesia, como isso é possível.
 
Eu me encolhia sob a noite calma
E deixava o fantasma da minha alma
Ir vaguear nas cintilações errantes.
E a brandura da noite me lembrava
As coisas doces que o meu pai contava
E que eram coisas simples e distantes.
 
Aqui nota-se a importância da História em nossas vidas. A maioria das pessoas considera História uma chatice, mesmo depois de adultos. Isto se deve muito as formas de ensino que eram somente baseadas em cronologia, fatos, mitos, nomes importantes, lugares etc. Sim a história é realmente feita de tudo isto, mas não é somente isto. Saber a cronologia serve para nos situarmos e localizarmos os fatos ocorridos, mas não quer dizer que você precise memorizar cada data e cada acontecimento, a história é muito mais que isto. Os nomes são importantes, afinal aquela determinada pessoa realizou alguma ação que fez com que fosse lembrada mais tarde: “coisas simples e distantes.”
 
Quem sabe estrelas de outros universos,
As que Bilac ouvia nos seus versos?
 
Bilac. Quem é ou foi essa pessoa? E essas estrelas a que se referem os dois escritores? A personificação, figura aí presente, tão bem utilizada pelos dois escritores! Você, certamente já conversou com estrelas e nem se deu conta! História e Literatura, par cultural que todo o indivíduo deveria conhecer. Estudar o passado.é possível compreender o presente, e só assim é possível evitar que os mesmos erros sejam cometidos no futuro".
 
Depois de ter descido o escuro véu
E a noite estar aberta lá no céu
De não se ver as cores nem o chão,
Das chácaras, das várzeas e dos campos,
Uma constelação de pirilampos
Beliscava de luz a escuridão.
 
A presença da escuridão predomina neste verso. Lembra-nos a negritude universal, que se utilizou essencialmente da poesia como meio de propagação de suas ideias e como movimento poético, com valores estéticos diferenciados dos padrões ocidentais e inseridos no seu grito de revolta, encontrou ecos em todo o mundo negro, principalmente na África e nas Américas, transformando a poesia numa arma de combate contra a assimilação cultural, o racismo e o colonialismo europeu, a que os negros estavam submetidos, convertendo o movimento poético-cultural em político-social, que enorme influência teria na luta pela independência dos estados africanos colonizados pelas nações europeias, e na conscientização do negro em diáspora que o levou a reivindicar o seu lugar na sociedade e na história do país onde vive , teve e tem participação ativa em sua construção. Quem diria que eu pude lembrar-me desse foco debaixo de seis versos lindamente construídos? Quem ou o que seriam os “pirilampos”? A sociedade racista? Fonologicamente instigante é como o poeta “brinca” com as palavras” ao falar da noite e sorrateiramente introduzir a luz com “pirilampos”! Analisemos a palavra: além de emitir luz intermitente, (pisca -pisca), é um inseto venenoso, também conhecido por vagalume. A sonoridade de “piri” onde a vogal “i” irrita, aguça entre duas consoantes (surda/bilabial, a primeira e a segunda, que mantém os alvéolos em contato intermitente, o que acarreta um movimento vibratório rápido), jogando em seguida o “lampo”! Se fosse usada a palavra “vagalume”, não daria essa imagem colorida em nossas mentes! Metaforicamente inquietante e inspirador!
 
Zumbia em volta um revoar de insetos
E um grilo com seus saltos indiscretos
Lembrava-me o mambembe lá da praça,
Fazendo piruetas além da conta...
Numa janela a mariposa tonta
Rufava em vão as asas na vidraça.
 
Quem ainda não ouviu “Mambembe”, de Chico Buarque? É a fotografia perfeita dos insetos humanos que se proliferam neste País, nesse entra e sai governo. Não adianta gritar, espernear, contorcer-se: podemos desesperadamente bater asas que sempre permanecerão a desigualdade, desesperança e injustiças!
 
Para a cidade eu ia distraído,
Mas sempre ouvia o som desiludido
Daqueles que passavam sem me olhar.
Então eu contemplava o céu distante,
Qual sonâmbulo que se encanta diante
De um sonho que o impede de acordar.
 
Essa estrofe nos remete a William Shakespeare: “Aprendi que não posso exigir o amor de ninguém.../Posso apenas dar boas razões para que gostem de mim.../E ter paciência para que a vida faça o resto...” Quantas vezes somos ignorados até mesmo por pessoas da família ou da comunidade que ajudamos a construir de modo sadio e profícuo? Dessa forma, ainda nos resta o sonho. Este, ninguém pode nos roubar...
 
O Comércio abaixara suas portas,
Umas enferrujadas e outras tortas,
A escapar-se dos riscos das calçadas.
Os sapatos passavam apressados,
Corrediços, tropeados e afobados,
Feitos bandos de caça em retiradas...
 
Depois quando eu voltava do impossível
E punha os pés no meu mundo visível,
Mundo de casas, lojas e quitandas,
Eu vinha imaginando o amanhecer,
Pois logo o sol faria adormecer
Esse mundo de sombras das varandas.
 
As duas estrofes acima são mais que provocantes! São possíveis no mundo do agora e do leitor e impossíveis no mundo do poeta. Mas este sonha acordado! É o fenômeno possível/impossível que só as almas sensíveis são capazes de imaginar, assim, conforme o poeta! A ausência de diálogo direto entre visões diferentes do sentido do patrimônio não significa que a definição do que é o patrimônio cultural não possa ser entendida como resultante de um processo de negociação de sentidos e significados disputados. Por isso, até os consagrados valores atribuídos habitualmente ao patrimônio histórico – por exemplo, antiguidade, autenticidade, raridade ou beleza – podem ver o seu sentido alterado quando o caráter emocional, social ou político dos receptores se vem adicionar aos critérios pragmáticos dos especialistas. Para quê abrir portas? Desentortá-las? Reparar calçadas esburacadas? Para quê e para quem? Assim age a maioria dos homens, especialmente os políticos mal intencionados, bandos que só veem o próprio umbigo, tão logo termine o período dos pleitos!! Na verdade, existe hoje uma manifesta valorização dos efeitos práticos da emoção (ou da emoção coletiva) causados pela presença de um objeto ou bem patrimonial, cujas origens não exploramos suficientemente, principalmente no que se refere aos seus efeitos. Ah! Quanto desgosto me causa ver um cadeirante, por exemplo, “lutando”, literalmente, para atravessar uma rua ou rodar sua cadeira numa calçada! Pudera aqui colocar foto de uma calçada que existe bem próxima à rua em que moro! Nela, certamente, só passam as almas penadas ou os fantasmas que permeiam aquele terreno aonde existe uma “Casa dos Bem Apessoados”, que a ela têm acesso pelo estacionamento, adentrando ali com seus luxuosos carrões! Ah, “vasto mundo”, não é Raimundo?
 
Tinha um sobrado antigo e desbotado
Com um jardim sem flores, pendurado,
Qual um quadro sem cor na rua calma.
E sempre que eu passava ali defronte
Ouvia o burburinho de uma fonte
Soluçando no fundo da minha alma.
 
Disse Marilena: “A cultura é mais do que belas artes. É memória, é política, é trabalho, é história, é técnica, é cozinha, é vestuário, é religião, é festa, etc. .Ali onde seres humanos criaram símbolos, valores, práticas, há cultura. Ali onde é criado o sentido tempo, do visível e do invisível, do sagrado e do profano, do prazer e do desejo, da beleza e da feiura, da bondade e da maldade, da justiça e da injustiça, ali há cultura.”(CHAUÍ, 1982:37-47). Eu diria: feliz do homem que pode ouvir e sentir uma fonte jorrando água em burburinho ou ainda possa lembrar-se de um sobrado. Eu disse ainda! Por quê? Basta conjecturar os caminhos da medicina. É isso mesmo! Da medicina!
 
Na esperança de ser o choro que ela
Derramava do alpendre da janela,
Eu me agachava ali na doce espera...
Então podava os ramos da saudade,
Na mesma crença e na tranquilidade
Que o jardineiro espera a primavera.
 
O tempo passa tão rápido, pessoas entram e saem da nossa vida. Você nunca deve perder a oportunidade de dizer a essas pessoas o quanto eles significam para você. Porém, é preciso entender que os homens, amam de sobremaneira uma alma, e não um corpo, uma vez que o querer voraz do físico é deslumbramento... é paixão que cedo se apaga em ciclos, feito as estações do ano. Assim, cria seu próprio mundo cheio de sonhos e fantasias. Resgata o seu passado histórico, recuperando sua fonte de inspiração e pureza. Mergulha no seu passado e refugia-se em paisagens exóticas, lugares ermos ou solitários. Faz renascer o herói capaz de tudo enfrentar. Entra em contato com seu eu, com seus sentimentos mais íntimos fazendo emergir o lirismo. A natureza, a mulher, o amor, são exaltados em toda a sua plenitude. Quem, nesta vida, ainda não podou “ ramos da saudade “ de um ente querido, de um lugar, fato, tempo? E por que acreditar nas flores que, possivelmente a primavera possa trazer? A primavera do seu passado é, ao menos, semelhante à primavera do hoje? Creio que não. Figuras de linguagem, com predomínio da metáfora enlevam, encantam e induzem o leitor no emaranhado da imaginação. Contagiante!
 
E desde então quanta saudade minha
Dessa ingênua ruazinha cativante
Estendida na vida, ao rés do chão:
Parecia um pedaço de barbante...
Ela é a lembrança mais aconchegante
Que mora dentro do meu coração.
 
Estes versos ratificam os comentários anteriores, com predomínio da adjetivação.
 
Suas casinhas baixas com jardins,
Cujos quintais entravam nos confins
Dos meus remotos sonhos de menino.
Nesse terreiro esplêndido das flores,
Eu semeei todas vindouras dores
Que iriam florescer no meu destino.
 
As pessoas são treinadas a usar a memória como depósito de informações, mas não a pensar, ter sutileza, perspicácia, segurança, ousadia! Têm diplomas, mas como depósitos de informações. Sabem falar de assuntos lógicos, mas tropeçam nas pequenas: nas pequenas dificuldades emocionais. Todos nós, em algum momento, deveríamos questionar a razão da nossa existência, todos os momentos já vividos e sobre o que estamos semeando para o futuro. Que tipo de jardim queremos? E como estamos preparando o solo que receberá essas sementes que escolhemos ou que a vida nos ofereceu ou deu? 
 
De dentro do meu fôlego ambulante
Eu não parava ali: seguia adiante!
Olhando nas vitrinas, pelas gretas,
O vulto do meu corpo refletido,
Que ia passando, curvo e entristecido,
Pelo roteiro longo das sarjetas.
 
E assim, do nada, vinham para as boêmias;
As voláteis criaturas de almas gêmeas.
As Almas Raras, íntimas e eternas,
Dos meus Poetas da Graça e da Harmonia,
Espíritos que espalham a poesia
Sobre os balcões molhados das tabernas.
 
As duas estrofes acima levam-me a Eclesiastes 3:1-8 que faz parte dos livros poéticos e sapienciais do Antigo Testamento da Bíblia cristã e judaica, vem depois do Livro dos Provérbios e antes de Cântico dos Cânticos [1 "Para cada coisa há uma estação, e um tempo para todo propósito debaixo do céu: Um tempo para nascer, e tempo de morrer; tempo para plantar, e tempo para arrancar o que foi plantado; Um tempo para matar, e tempo de curar; um tempo para se decompor, e um tempo para construir; Um tempo para chorar, e tempo de rir; tempo de prantear, e tempo de dançar; Um tempo de espalhar pedras, e tempo de ajuntar pedras; tempo de abraçar, e tempo de abster-se de abraçar; A hora de começar, e tempo de perder; tempo de guardar, e tempo de deitar fora; Um tempo para rasgar, e tempo para costurar; tempo de guardar silêncio, e um tempo para falar; um tempo para amar, e tempo para odiar; um tempo de guerra, e um tempo de paz.
 
"São as vitrines da vida que muitos se recusam em vê-las ou não têm o olhar necessário para tanto”.
 
Os cantores da métrica e da rima,
Também dos versos brancos, (feito o Lima),
Mestres da perfeição e da elegância,
Roberto Medeiros... Belmiro Braga...
Alves Júnior... Dormevilly e Zoquinha...
Enviando saudações lá da distância,
Lembrando-me que o tempo não apaga
O que ficou escrito numa linha.
 
O que se diz pode ser esquecido com o passar do tempo, mas o que se escreve, por maior que seja a tentativa de apagar, isso jamais ocorrerá. As marcas ficarão para a eternidade! Graças a esse ato, o de escrever, é que podemos ler grandes escritores, a exemplo dos citados pelo poeta, podemos conhecer a história dos ancestrais, podemos ler o grande poeta Jacob, podemos ler o mundo passado e presente!
 
Mas eis que o pintor inventor das cores
Eternizou o meu jardim sem flores
Numa singela tela de morim.
Por ela entrei um dia em minha infância,
Andei, cresci e assim ganhei distância
E nunca mais ninguém soube de mim.
 
Assim ocorre também com os pintores: suas letras são as suas telas. Nesse caso, eles já nos antecipam as cores, diferentemente do escritor que nos dá a liberdade de usar as cores que desejam os nossos sentimentos.
 
Desde então começou o meu caminho
De Sexta Feira Santa da Paixão...
- Vem meu filho para eu cortar-lhe as unhas,
Que logo vai passar a procissão!
Papai do Céu não gosta de mumunhas:
Não me faças pirraça e dá-me a mão!
 
O poeta nos leva a desenhar um calvário, que poderia ou não ser ou estar na sua trajetória de vida, quando se refere à Paixão de Cristo. Durante a nossa caminhada por este mundo, nós não vivemos só de alegrias! A tristeza, a agonia, a dor física ou moral em algum momento pousam em nossa alma. Ocorrências desagradáveis, escolhas mal feitas, “a dor do desamor” podem, perfeitamente, nos acompanhar durante algum tempo do nosso viver ou incorporar-se definitivamente. Vêm sem pedir licença e ficam.
 
"Mas, Ele está mortinho, Coitadinho!"
- É procissão e Cristo morreu não!...
E a minha mãe na minha frente orando,
No rosário, a descrença ia desfiando
E mais adiante ia um Jesus de cera...
Eu vinha atrás, com meus pezinhos nus,
Olhando o capuchinho de capuz
Comer os doces nacos de uma pera.
 
Bons tempos aqueles em que os pais levavam seus filhos à Igreja e às celebrações religiosas, mesmo que, por ser criança, quase nada entendesse com profundidade, o que até hoje muitos adultos não o fazem. Muito menos levar seus filhos a participar de eventos religiosos, independentemente do credo a que pertencem. Talvez esteja aí a razão para tanto desvirtuamento da nossa juventude.
 
Era o tempo sutil das carambolas
E as mulheres traziam nas sacolas,
Ainda, seu cheiro morno das cobertas.
E trocavam olhares confidentes;
Assaz desiludidas ou contentes
Passavam sonolentas ou despertas...
 
Sutil é o modo com que o poeta aborda o comportamento feminino dos idos tempos! Os olhares falavam pelo corpo! Extremamente o oposto dos dias atuais, onde o inverso é verdadeiro!
 
Do outro lado do rio havia a feira:
Tudo vinha do campo, de carroça,
Com os torrões da terra camponesa.
Frutos puríssimos da natureza
E dos ventres caipiras lá da roça.
 
História não é só MACRO, é também MICRO, por exemplo: Você tem a história da sua rua, do seu bairro, da sua cidade, do estado, país, do planeta, da sua família ( será? ), este último é uma das melhores formas de se aproximar da história, saber nossas origens pode ajudar em diversas coisas, como por exemplo, em nosso país existe um pré-conceito racial muito grande, mas todos se esquecem que no Brasil, não existe uma raça definitiva, todos nós somos miscigenados, ou seja somos uma mistura de duas ou mais raças, então saber as origens da sua família pode surpreendê-lo e muito. Acostumada a trabalhar com pessoas das mais diferentes idades, conheço crianças e jovens que desconhecem, por exemplo, a origem do ovo. Acreditam que é “fabricado”, a exemplo de outros tantos alimentos! Nem sabem o que é “roça”!
 
Eu esperava uma semana inteira
Para ir lá, pôr a mão... Para mexer...
"Olha a tangerina! Olha a beterraba!".
Agora eu sei que tudo isso se acaba,
Que o tempo passa sem a gente ver...
 
Porém muita gente me pergunta: “Por que você gosta de História, de ficar remexendo o passado”?
 
Normalmente a maioria não pensa assim, acha que "quem vive de passado é museu", que "águas passadas não movem moinhos" e o resultado disto é uma total fatal de memória do que já aconteceu, pois para essas pessoas se já aconteceu não tem mais importância. Mas é justamente o contrário, é por já ter acontecido é que podemos ver as consequências ("entender o presente") e assim evitar que os mesmos erros sejam repetidos ("fazer um futuro melhor"), está é a verdadeira importância da História. Ensinar a partir das ações do passado, e dentro disto você pode incluir até sua vida pessoal, por exemplo, aquele relacionamento que não deu certo, você pode rever suas atitudes, e descobrir o que contribuiu para o término, e assim você pode fazer diferente em um próximo. Ou ainda uma receita que não ficou tão boa, sim, receita, tudo isto é história, sua história pessoal tão ou mais importante que a história macro. Todos nós temos uma relação muito específica com o Tempo. 
 
Todos nós sentimos que o Tempo é um fator fundamental nas nossas vidas. Temos fases em que sentimos que o Tempo está contra nós… e temos outras fases em que sentimos claramente que o Tempo está a nosso favor. 
 
Sentir o Tempo é, sobretudo, sentir as emoções que experimentamos ao longo do tempo…
 
Muitas vezes paro e penso… lembro-me daquilo que foi dito de forma tão forte e acintosa… e as emoções vêm de novo... revivo toda a situação e o amargo de boca fica, por algum tempo…
 
Outras vezes, mais raras, lembro-me daquela situação fabulosa… que eu não estava nada à espera… fecho os olhos e as imagens vêm rápidas… e o meu coração enche-se dessa alegria transbordante que vivi naquele momento… 
 
Esta é a minha relação com o Passado… os bons e os maus momentos que o Poeta tinge neste poema, de maneira magistral. Verdadeiras telas da vida do ontem...
 
O tempo é breve instante que se estende
Na alegria ou na dor. E a gente aprende,
Que um dia o sol se mostra e noutro chove.
Eu perguntei ao tempo o seu encanto
E respondeu-me, suave, a voz de um santo:
- O tempo é a eternidade que se move!
 
E esquecemo-nos totalmente que existe outro Tempo, de dimensão mais profunda e muito mais autentica… o Tempo de Ser. 
Quem sou eu?
O que é que ficou do Passado em mim?
Como é que as emoções, sobretudo as que continuam a funcionar em mim ao nível do inconsciente, travam a minha progressão e o meu Futuro... 
Esta é a principal questão a que a Terapia da Linha do Tempo responde. 
A minha Linha do Tempo reflete de forma inconsciente, todas as minhas memórias.
A Terapia da Linha do Tempo permite aceder a essas memórias e “limpar” os registros emocionais que ainda nos prendem ao Passado.
Todas as mudanças profundas que eu queira fazer acontecem ao nível do Inconsciente.
 
E a vida prosseguia terna e mansa...
Era tão boa a vida, meu senhor!
-Festa junina todo junho tem!
Passa a moça solteira, corre a criança,
Passa o doente, o saudável e o doutor,
E detrás as famílias vão também.
 
Li, em algum lugar, há muito tempo, que não devemos dizer que não temos tempo suficiente. Nós temos exatamente o mesmo número de horas diárias que foram e são dadas a Helen Keller, Pasteur, Michelangelo, Madre Teresa, Leonardo da Vinci, Thomas Jefferson, Albert Einstein, Oscar Niemeyer!  
 
Assim, “Era tão boa a vida, meu senhor!”, diz sabiamente o Poeta! Notem o tempo verbal empregado... Hoje, aqueles senhores, a maioria dos mandatários deste País, perdem o tempo de que dispõem, utiliza-no em falcatruas e roubalheiras, sem a mínima decência, “ignorando” o uso do tempo para quê foram escolhidos!
 
Olha, lá! - Um varal de bonequinhos
E que desengonçados, coitadinhos!...
“ São de algodão, rapaz, chegue-se mais,
Compre-me algum que só custa dez reais!”
- Os bonequinhos (e eu lhe sou sincero)
Não têm vontade própria e não os quero!
 
“Um varal de bonequinhos...”, diz o Poeta! Somos milhões de bonequinhos! E dentre estes há os que se vendem por ninharias, exatamente por não terem vontade própria, por falta de caráter, porque se perdem no tempo e dele se esquecem! 
 
E do outro lado as ilusões de seda,
Enfileiradas no ar, em alameda,
Com rabiolas de argolas bem compridas.
Era o balé sutil da sedução,
Que me tocava fundo o coração,
O decolar das pipas coloridas!
 
Atente-se ao primeiro verso: já é o outro lado... Talvez “ilusões”, mas de seda! E o que isto poderá significar? Segundo Fiorenzo Omenetto, um dos materiais mais elegantes da natureza  - na transmissão da luz, aprimoramento da sustentabilidade, aumento da resistência e em incríveis avanços na área médica. No palco, ele mostra algumas coisas intrigantes feitas com o versátil material. 
 
A seda sempre trouxe consigo certo ar de nobreza e até certo folclore criado em torno da sua história. A seda é muito conhecida por um brilho e toque únicos. Os seus filamentos são um dos mais finos que conhecemos na natureza e a sua qualidade mais importante é exatamente a imagem de nobreza que ela traz consigo desde a época de sua descoberta.
 
Eu via essas figuras multicores,
Rostos risonhos, palhacinhos, flores,
Em rodopios soltos pelos ares,
Como as aves sinuosas nos volteios.
Abaixo eu desatava os meus olhares
Daqueles tristes bonequinhos feios.
 
E a vida sempre andando para frente...
 
Esses versos ratificam a assertiva de que o tempo é a coisa mais preciosa na vida. Ele influencia cada momento e tudo o que fazemos. Para gerir o tempo é administrar a vida! Assim, a seda é bem diferente do algodão, metaforicamente falando, com sustentação nos versos do Poeta, cuja Sabedoria vai muito além do que possamos imaginar! Eu diria, muito mais que seda..., mas que seda! Por isso é possível desatar o olhar de tantos “bonequinhos” que se infiltram em nossa caminhada...
 
Ninguém ainda soubera na cidade
Do verdadeiro nome e a realidade
De uma anciã que arrastava a sua dor,
Andando pelas ruas aos tropeços,
Com seu saco de trapos aos avessos,
Que mágoa lhe causara esse amargor?
 
Quantos de nós, independentemente da idade que tenhamos, “arrastamos” as nossas dores, aos avessos? Mas o que seria o avesso? As nossas realidades aparentes, as nossas sombras, as nossas incertezas... Mas o avesso, do avesso, do avesso, pode ser a paz tão difícil de ser conquistada. Mas, em certos momentos, acabamos “descobrindo” que o avesso é o nosso lado certo. E isso poderá levar tempo, muito tempo...
 
"Vida Apertada!" (riam os garotos).
Ela morava em seus tamancos rotos
E poderia ser Nossa Senhora,
Pois nos seus olhos cintilava a luz...
A mesma luz dos olhos de Jesus
Que eu vejo ali naquela cruz agora!
 
Lembram-me os versos de Jacob, os de Cruz e Sousa: “Do carro azul do progresso/ Fazei girar essa mola!/Prendei-os sim, -- mas à escola/Matai-os sim, -- mas na luz! E então tereis trabalhado/O negro abismo sondado/E em nossos ombros levado/Ao seu destino essa cruz!!...” In “ Entre Luz e Sombra”. Penso seriamente na Educação dos jovens de hoje. Como haver luz no sofrimento? É preciso tempo para redescobrir...
 
O Céu é dos humildes e dos fracos?!
Ó Nosso Senhor, dá-me compreensão!
"Cortou seu pé José? Pisou em cacos?
E quem o fez perder o seu juízo?"
- Foi sem querer não tive essa intenção...
" Não me interesso e aguente o seu prejuízo!”
 
Assim me repreendia uma vizinha,
Que já morreu faz tempo, coitadinha...
 
Caminhamos em cacos de vidro descalços e não sangramos... Ficamos entorpecidos em páginas de histórias do tempo já vivido, procurando fugir dos nossos tropeços, mas seguimos em frente... Cortamo-nos em estilhaços que nunca existiram no chão do nada, mas ficamos dilacerados ao pisarmos em nossos restos acobertados pelo barulho do vazio, aparentemente enlouquecidos pelas lembranças do passado! Ah, Poeta! Quanta magia profunda carregam esses versos!
 
Meus dias eram de poeira e de bola...
“Vem, filho, que é preciso ir à escola!”
E a meiga Heloisa vinha na janela.
Num triste dia um anjo pôs-lhe um véu,
Pediu que olhasse os filhos lá do céu,
Meu Deus, quanta saudade eu sinto dela!...
 
Hoje, raros são os campos em que a bola pode levantar a poeira. A maioria morreu. E a morte é a chance de se sentir vivo quando a vida não te dá uma vida. Nada é por acaso e os fatos acontecem em seu tempo certo, que é o tempo de Deus ( que não é o mesmo do homem ). A despedida última indica mudanças de rumo, descoberta de coisas novas e sentimentos nunca dantes experimentados. Quem parte já cumpriu o seu papel e tem o seu tempo vencido. Mas não há regras, normas. Cada um tem o seu. E foi assim com Heloísa... cujo nome traz o significado de lutadora! Eu ainda tenho a minha em batalha!
 
Depois que a voz do pranto se acalmava,
(Também na dor o sonho nos conforta)
Lá fora, pela noite, eu escutava,
O soluço desse anjo em minha porta...
 
A tristeza é parte de quem ama! Revela como pensamos, sentimos e agimos. Expõe o desejo íntimo da alma, o nosso “eu interior", esperanças, sonhos, lembranças, ideais, motivações. As vezes é possível que percebamos essa manifestação, mas talvez não a expressemos como deveríamos ou mesmo não vivemos de acordo com ela, assim estamos reprimindo os nossos sentimentos e impulsos, o que gostaríamos de ser ou fazer, estamos adormecendo nossos objetivos secretos, as ambições, os ideais mais íntimos. São muito expressivos, Os frutos da semeadura amadurecem e logo podem ser colhidos. Tudo tem um ciclo certo. Cada coisa a seu tempo. Na natureza tudo se move, tudo está em evolução.
 
De tarde, em casa, havia a ave-maria,
Na vizinhança, em frente, eu sempre ouvia
O tilintar festivo dos talheres.
Na reza eu me pegava a imaginar,
As famílias reunidas no jantar,
Felizes homens, crianças e mulheres...
 
A Ave-Maria era todos os dias, anunciada pelo badalar dos sinos, às l8 horas, denominada “A HORA DO ÂNGELUS”: relembra para os católicos, através de preces e oração, o momento da anunciação - feita pelo ANJO GABRIEL a MARIA - da concepção de Jesus Cristo, acreditada como livre do pecado original.. O seu nome deriva do início da frase: "ANGELUS DOMINI NUNTIAVIT MARIE” é o que nos conta a História. E logo após, vinha o jantar, com a família toda reunida! Tão diferente dos dias atuais! Qual é o quadro atual? Nem sino, nem reza, nem jantar em família ( é um para cada canto, sanduíche, lanche a sós... E a Felicidade? O que é? 
 
Quando cresci, fiquei desorientado
Com as coisas que eu via do meu lado:
- Fantasmas partilhando a minha mesa?!
Quanta desilusão! Quanto falsete!
E ainda vinha comer neste banquete
O espírito penado da Tristeza.
 
Verdade, Poeta! Hoje os “fantasmas” partilham a nossa mesa! Mesa? Que mesa? Quantos sabem o que é isso? Ou melhor, quantas famílias jantam reunidas?
 
Tanta coisa infeliz eu tinha ali
Que eu me assombrei na vida, e qual zumbi,
Fugi de casa, doido e sem destino.
Por isto eu tenho essa desesperança
De ouvir a voz faminta de um menino
No sorriso alegre de qualquer criança.
 
Todo esse desnorteamento, essa falta de esperança no retorno daquela família de sólidos alicerces deve-se a que ou a quem? A sociedade atual nos oferece um ambiente altamente nocivo para cultivar valores humanos. Portanto a pergunta a propor é: estamos passando por uma crise de valores? Ou então: para onde vão nossos valores? Ou melhor, ainda: estamos vivenciando uma crise em nossa capacidade para cultivar valores? No entanto, ainda se pode recuperar o caminho desandado. Para isso precisamos que cada cidadão, a partir de sua função que exerce na sociedade, tome consciência dos efeitos que deixam suas atitudes na construção de um país mais justo onde se respeite a dignidade do ser humano. Até quando entenderemos que o ser humano não foi feito para ser prisioneiro do trabalho, da moda, da comodidade, da superficialidade? Que todas estas coisas foram feitas para que o homem as usasse de forma ordenada de acordo com seu fim. Qual é o fim do homem neste mundo? Acumular bens e riquezas ou transcender no serviço aos demais? Por querer atingir o sucesso não percamos a excelência em nosso ser, sendo este o momento de trocar esta crise de valores por uma atitude positiva frente ao sentido de nossas vidas. Realmente, Poeta, é grande a desesperança reforçada pela metáfora redundante do “sorriso alegre de qualquer criança.” 
 
Era noite de festa na Matriz,
E eu vestido de anjinho e tão feliz
De poder chegar ao céu naquela hora
E tão pertinho da Virgem Maria.
E a minha mãe chorava de alegria
Por me ver coroar Nossa Senhora.
 
E que olhinhos piedosos Ela tem...
Minha Mãezinha me abençoa... Amém!
 
 
 
 
Certamente o Poeta viveu intensamente essa passagem no seu tempo de criança, porque a sensação que nos transmite é a de que também nos sentimentos “anjinhos” quando crianças; de  que também pudemos coroar Nossa Senhora no dia 31 de maio ( maio, mês de Maria, mãe de Jesus ) e a de que as duas mães puderam nos abençoar. Não poderia haver um encerramento sem esse encerramento.
 
A “Resposta ao Passado”, Poeta Jacob, foi dada com maestria! Viajei por tantos lugares e vivenciei as mais diferenciadas emoções. Pude sentir que ainda sou, apesar dos obstáculos que cruzam nossa caminhada. E nessa jornada, reacendeu em minh’alma a certeza de  que ainda terei tempo de ser um pouco mais que fui e sou. Obrigada, Poeta!
 
REALIZAÇÃO
 



 
 
 
Nota ArtCulturalBrasil: Os nomes e lugares encontrados no "Resposta ao Passado" são referentes a Juiz de Fora/MG, cidade natal do poeta. 
 
 
 
 

2 comentários:

  1. Meus parabêns seu blog e um blog cultural de alto nivel

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    1. Caro Alcides Artesanatos
      Agradecemos suas espontâneas palavras de incentivo para o nosso blog.
      Com estima, saúde e paz,
      ArtCulturalBrasil

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