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O Tempo e o Vento


Página Maria Granzoto
O Tempo e o Vento - Érico Veríssimo – II



Numa atenção especial à leitora do BLOGARTCULTURALBRASIL, Angela, conforme comentário que foi postado em 08 de abril e que diz: “Quanto a Érico Veríssimo devo dizer que senti falta do seu romance O tempo e o Vento. Tão importante que alguns de seus livros dessa série transformaram-se em mini séries da globo.

Abraço Angela


Aí segue, prezada leitora, uma síntese do romance com breves comentários. Esperamos que aprecie. São pessoas como você que engrandecem a nossa cultura brasileira!



O Tempo e O Vento é a maior obra do escritor Érico Veríssimo. Ela conta a história da família Terra Cambará durante dois séculos, começando nas Missões e seguindo pelo século XX. Sob o ponto de vista desta família passa a história do Rio Grande do Sul e o drama de seu povo, na cidade fictícia de Santa Fé.



O Continente I


A Teiniaguá conta sobre Luzia, Florêncio e Bolívar. Florêncio é o filho de Juvenal e melhor amigo de Bolívar durante a infância. Luzia é a neta de um agiota que se estabelece em Santa Fé. Doente mental, Luzia é sádica, como a teiniaguá, uma lenda gaúcha que conta de uma princesa moura transformada em cobra com cabeça de diamante que gosta de ver outros sofrerem, mas sua beleza atrai todos os homens, incluindo Florêncio e Bolívar. Ela se casa com Bolívar depois que este volta da guerra, muito perturbado. Lentamente eles começam a se afastar dos amigos. Por fim (quase tudo isto observado pelo ponto de vista do médico da cidade, Carl Winter) ela demonstra todo sadismo ao continuar em Porto Alegre durante uma visita mesmo estando uma epidemia de cólera acontecendo. Ao voltarem, ambos se trancam no quarto após uma violenta discussão de Luzia com Bibiana. Luzia se sente presa a Santa Fé. Bibiana, que estimulara a união passara a viver no Sobrado, construído no terreno da casa de seu pai e tomado pelo agiota, sabe como Luzia é má. O doutor finalmente fala com Bolívar e este revela que tudo que queria era fugir para uma guerra. Como eles estão de quarentena no Sobrado, obra de vingança do Coronel Bento Amaral por ser Bolívar filho do homem que lhe talhou o rosto, Rodrigo sai atirando do Sobrado contra os homens que lhe prendiam humilhantemente em casa e cai morto, enviuvando Luzia e deixando órfão de pai seu filho Licurgo.


A Guerra conta a história dos anos finais de Luzia e sua disputa com Bibiana pelo amor de Licurgo enquanto este cresce. Luzia está na época com um tumor no estômago, e a preocupação principal de Bibiana é permanecer no Sobrado. Luzia, ao final, perde a guerra não declarada, pois o que queria era um filho cosmopolita, e Licurgo continua em Santa Fé.


Ismália conta a história de Licurgo já mais velho trabalhando em Santa Fé com seu melhor amigo, o jornalista Toríbio, pela proclamação da República, tudo enquanto envolvido com o casamento com a prima Alice, filha de Florêncio Terra e a amásia, Ismália, que é uma china (palavra usada até hoje em partes do Rio Grande do Sul que designa uma "mulher da vida") submissa a Licurgo do qual este gosta e permanece assim pelos anos que seguem e engravida dele. A luta pela República enfim tem sucesso e a rivalidade dos Terra Cambará com os Amaral continua com Alvarino e Licurgo, como antes fora com Bento e Rodrigo.


As continuações são O Retrato e O Arquipélago.


O Retrato dividido em quatro partes, conta a história da família Terra Cambará até 1945, completando junto com o Arquipélago mais 50 anos da história do RS.


Rosa-dos-ventos conta da chegada de Rodrigo Cambará do RJ logo após a deposição de Getúlio Vargas em 1945, visto apenas sob o ponto de vista dos habitantes da cidade fofocando sobre seu passado e sobre sua atual situação de saúde, política e família, com opiniões variadíssimas. Aparece aqui a explicação para o título do livro: o retrato é uma pintura feita por um pintor de Rodrigo com vinte e quatro anos em que a própria personalidade de Rodrigo, junto com seu passado presente e futuro, parece transpirar. Chantecler mostra o jovem Doutor Rodrigo Terra Cambará chegando a Santa Fé em fins de 1909, idealista, pensando em revolucionar a cidade. Sua primeira empreitada é a campanha civilista pelo candidato Rui Barbosa para presidente, pela qual ele funda o jornal “A Farpa”, que é usado por Rodrigo e seus amigos, especialmente o pintor espanhol anarquista Pepe Garcia, que como o Doutor Winter se sente preso misteriosamente à Santa Fé. Pepe trabalha como tipógrafo n' A Farpa e Rodrigo escreve artigos em favor de Barbosa. Mas Hermes da Fonseca vence a eleição e Rodrigo se desilude com a política. Rodrigo também age com um desprendimento total em relação a dinheiro, presenteando e ajudando muitos, como o jovem Marco a quem ele dá dinheiro para começar uma fábrica, e os vários pobres das favelas de Santa Fé aos quais ele atende gratuitamente, distribuindo comida e alimentos no inverno, apesar da reprovação do anarquista Pepe e de seu positivista amigo, o Tenente Rubim. No plano romântico Rodrigo se enamora de Flora e corteja-a do modo tradicional, muito a contragosto. Sua carne é fraca, no entanto, e ele acaba por se deitar algumas vezes com uma jovem Caré, tal qual o pai, e outras jovens. Mas ainda assim continua pensando em sua Flora, filha de um arruinado estancieiro, Aderbal Quadros.Também deve se destacar que Santa Fé está toda preocupada com a passagem do cometa Halley, já que diziam que este destruiria a Terra ou envenenaria a todos com sua cauda. O título deste segmento, Chantecler, deve-se ao personagem de uma peça de Rostand que estréia em Paris durante esta época, no qual o personagem principal é um galo imponente que se ilude achando que o sol não nasce sem o seu cantar, tal qual Rodrigo se vê como uma figura capaz de corrigir todos os males de Santa Fé.


A sombra do anjo conta a história de Rodrigo já casado e com dois filhos em 1914-15, numa Santa Fé sem Pepe e com adversários inertes. Rodrigo continua fazendo clínica e morando na cidade, enquanto o pai e o irmão passam a maior parte do tempo no Angico, a fazenda da família. O que move a história é, no plano político, a candidatura ao Senado do Marechal Hermes da Fonseca, seu desafeto, e no plano pessoal a paixão que Rodrigo sente por Toni Weber. A família Weber é uma família de músicos austríacos que chegam a Santa Fé, com quem Rodrigo primeiro não simpatiza por serem da pátria aliada a Alemanha a quem odeia em tempos de guerra. Mas após ouvi-la passa a simpatizar com ela e se apaixona por Toni. Quando estes são roubados por seu empresário, Rodrigo arranja que possam permanecer na cidade, trabalhando no cinema às custas de Rodrigo. Numa das visitas ao Sobrado ele finalmente conquista Toni, que também o ama. Eles passam a se encontrar, pouco, mas intensamente na casa dela. Um dia ela vai ao hospital de Rodrigo (ele clinicava lá e o doutor Carbone operava) e conta a ele que está grávida. Rodrigo pensa em aborto, em casá-la, em tudo. Mas nada adianta, pois quando ela está para se casar com um colono, ela se mata. Rodrigo confessa isso ao irmão e ao padre, que cuidam dele. Quando ele vai para o Angico, tenta disfarçar, mas acaba contando ao pai, que se desaponta com ele. Rodrigo fica então em sua cama, quase enlouquecido, pensando, delirando, com o mal que fizera àquela que ama.


Uma vela para o Negrinho, conta já em 1945 sobre os filhos de Rodrigo Cambará reagindo a conjuntura político- familiar do momento. Floriano está a visitar o cemitério e vê a tumba de Toni Weber sem conhecer a história por trás da moça, pensando numa história para escrever. Fala com Pepe no bar, que diz que Rodrigo o traiu e traiu o Retrato. Depois começa a inventariar a família e a pensar no irmão mais novo, o comunista Eduardo. Enquanto isto Eduardo está a fazer um discurso comunista na praça a frente do Sobrado enquanto Rodrigo convalesce. Após o discurso Floriano e Eduardo discutem e Rodrigo chama Eduardo para conversar. Floriano vai até o pátio com Maria Valéria, que acende uma vela para o Negrinho do Pastoreio (reza a tradição que ele acha o que foi perdido) para que os Terra Cambará encontrem o que perderam.


O Arquipélago, que fecha a trilogia O tempo e o vento, continua contando a história da família Terra Cambará com o Dr. Rodrigo. Os conflitos da família Cambará convergem para uma encruzilhada de tempos e memórias. Rodrigo tem um acerto de contas definitivo com o filho, Floriano, que começa a escrever o grande romance de sua vida. Entrelaçada por Reunião de Família, a história da família se reunindo após a queda de Vargas, com Rodrigo a beira da morte em 1945 continua a história de Rodrigo e Toríbio. Depois de dois infartos e sofrendo de edema pulmonar, Rodrigo passa o tempo todo acamado, com a amante num hotel da cidade (ela veio do Rio de Janeiro por conta própria), e os filhos desentendidos. Floriano, o intelectual passivo está apaixonado por Sílvia, mulher de seu irmão Jango, um homem simples. Eduardo milita o comunismo e ataca o pai até em praça pública, enquanto Bibi simplesmente se sente deslocada em Santa Fé, com o segundo marido. Maria Valéria está cega e Flora mantém um casamento apenas de fachada com Rodrigo. A maioria do tempo vê-se discussões políticas entre Rodrigo, Tio Bicho (amigo da família e confessor de Floriano), Irmão Zeca (filho bastardo de Toríbio que se tornou irmão marista), Terêncio Prates (sociólogo formado pela Sorbonne e estancieiro), acabando sempre na figura de Getúlio Vargas que Rodrigo tanto defende. Rodrigo enquanto isto também desobedece às ordens de Dante Camerino, seu médico (ele chegou a ter um encontro com a amante) e Floriano confessa a Tio Bicho o que sente por Rodrigo. As anotações (Caderno de Pauta Simples) de seu filho mais velho, o escritor Floriano, também intercalam a história. Elas são um preenchimento de lacunas sobre acontecimentos menores da história; reminiscências de infância e adolescência, onde se lembra como se sentia por Rodrigo, o colégio interno onde era um dos amantes da mulher do diretor (eram ambos pederastas); impressões sobre o dia-a-dia daquela reunião; memórias de quando era professor universitário de Literatura Brasileira em São Francisco, onde reencontra Mandy Patterson, a americana que namorara no RJ e o afastou de Sílvia. E aparece também um germe para o romance que pretende escrever, fechando duzentos anos de história, que é na verdade a história da própria família Terra Cambará, dando caráter autobiográfico ao personagem (ele vai afinal, escrever o livro que agora lemos), começando pela história de Pedro Missioneiro, uma que ele não chegou a conhecer já que Ana Terra nunca revelou. Essas duas últimas citações dão caráter autobiográfico a Floriano, já que o autor foi professor de Literatura Brasileira e, bem, escreveu esta história. A primeira parte é O deputado, que conta sobre Rodrigo em 1922, deputado estadual chimango. Mas a desilusão com o partido, que ele e seu pai passam a sofrer, leva-o a renunciar ao cargo com um discurso inflamado na assembléia municipal. Passa então mais uma noitada no Rio e volta para Santa Fé e discute política com os amigos e se prepara psicologicamente com o irmão para a revolução que eles temem que virá. Lenço encarnado conta sobre a revolução de 23 e a participação dos Cambarás. Por causa das fraudes nas eleições estaduais, começa uma luta entre os borgistas (chimangos, situação, inimigos dos Cambarás) e assisistas (maragatos, oposição, derrotados pela fraude, ironicamente com a participação dos ex - inimigos jurados dos Cambarás) A revolução começa em janeiro e as tropas dos maragatos se reúnem, mas só partem com o consentimento e sob o comando de Licurgo quando Alvarino Amaral decide lutar separado. É um sinal das cicatrizes que ficaram da revolução de 95, quando a filha de Licurgo, seu sogro e um agregado morreram. A coluna dos Cambará leva Miguel Ruas, o promotor que nem sequer gaúcho era; Liroca, quixotesco; a Cacique Fagundes e Juquinha Macedo, dois chefes tradicionais (o primeiro morre); caboclos pegos no meio do caminho (vários dos quais morrem); Rodrigo, Toríbio e Licurgo. Eles marcham pelo estado, andando mais que lutando, e por estas batalhas caem uns e tomam-se munição e outras coisas. Ruas morre na tomada de Santa Fé e Licurgo numa das últimas batalhas, com Rodrigo ao seu lado gritando por um médico, esquecido que ele mesmo era um. Por todo este tempo as mulheres e crianças ficam no Sobrado, Flora desesperada (este capítulo revela que Flora conhece as escapadas do marido, a de Toni Weber em especial) e Maria Valéria cuidando de tudo. A revolução acaba em outubro, com vários mortos e uma paz que manda que o governador reeleito Borges de Medeiros não o seja mais e outras concessões. Um certo Major Toríbio é a parte que relata sobre os três anos seguintes, as revoltas contra Artur Bernardes, presidente na maioria do tempo em que isto se passa (Washington Luís toma posse mais para o fim). Toríbio se junta, contra a vontade de Rodrigo, a Coluna Prestes. Mas ele só é visto mais ao final da história, que se passa a volta de Rodrigo, chocado pela morte da filha (ele leva um ano para se recuperar, ainda assim nem muito) e ainda perturbado com a do pai. Mostra também a partida do quieto Floriano, já com jeito para letras, para estudar em Porto Alegre. Quando finalmente recebe notícias de seu irmão, vindas do já tenente-coronel Rubim, Rodrigo parte para o Rio e Toríbio é liberto da prisão. Chegando ao Sobrado, Toríbio conta de sua experiência com a Coluna Prestes aos mais chegados e como só se salvara de morrer porque um militar cuja vida Rodrigo salvou era o responsável pela execução. Mas foi preso ainda assim. É importante dizer também que, desiludido com a medicina após a morte de Alicinha, Rodrigo vende a farmácia e a Casa de Saúde aos médicos que o ajudavam, Dante Camerino e Carlo Carbone, fecha o consultório e entrega a administração do Angico ao sogro. O cavalo e o obelisco é a história da Revolução de 1930, mostrada desde poucos meses antes até poucos dias depois. A medida que a tensão cresce vai mostrando-se a confusão de sentimentos sobre o Getúlio Vargas que Rodrigo desgosta e vem a admirar tanto mais tarde. Como o pai, Rodrigo é obrigado a se aliar com os antigos inimigos (Laco Madruga dessa vez) relutantemente. Floriano, já mais velho, parasitando de modo ainda mais relutante em Rodrigo e sentindo-se mal por isso é obrigado pelo pai. Homem de paz, quando durante a tomada da guarnição federal de Santa Fé o pai é ameaçado de morte por um homem que era amigo, Floriano não o mata em defesa do pai, mesmo depois que este já havia sido alvejado pelo Tenente no ombro. Floriano foge então sendo chamado de covarde pelo pai. O homem, Tenente Bernardo Quaresma, estava acuado no escritório, não tendo sentido a explosão das granadas por estar acompanhado de um cachorro, que depois assombrou Santa Fé. Rodrigo acaba por dar o primeiro dos tiros que mata este Tenente, que era apaixonado pela mulher com quem Rodrigo estava traindo Flora na época, uma poetisa. Rodrigo passa a se atormentar pela morte de Quaresma a partir daquele dia. Depois ele se encontra com Getúlio Vargas na estação, faz um discurso dramático e parte para o Rio de Janeiro.


Noite de Ano-Bom mostra um único dia: 31/12/1937. Começando com o enterro da mãe de Arão Stein, que se encontra na Guerra Civil na Espanha, financiado por Rodrigo. Eduardo, influenciado por Stein, já principia a militar o comunismo. Floriano se sente um covarde por não ter revelado à Sílvia seus sentimentos, que agora percebe o quanto eram profundos ao vê-la, no dia de seu noivado com Jango. Então se lembra do relacionamento com a americana no RJ que o afastou de Sílvia. Já aqui a história se foca mais em Floriano que Rodrigo e mostra o quão corrompida foi a família desde 1930. O noivado realiza-se sob um clima pesado com Rodrigo defendendo, apesar de ainda não ter digerido, o Estado Novo de todos, inclusive seu irmão Toríbio. Escala também o nazi-fascismo em Santa Fé. Corre tudo relativamente bem, exceto pelo desentendimento entre Toríbio e Rodrigo, até que alguém propõem um brinde à Getúlio Vargas e ao Estado Novo. Toríbio se revolta, faz um pequeno escândalo e sai com Floriano para um baile numa das favelas de Santa Fé. Tentando seduzir uma jovem mulata, mete-se numa briga com o outro pretendente. Floriano ainda ataca um de seus inimigos com uma garrafada (gesto que não pode realizar em prol do pai), mas muita tarde. Toríbio é ferido na virilha e se esvai em sangue, chegando morto ao hospital, suas últimas palavras sendo "Um piazinho de merda.". Do diário de Sílvia vem o preenchimento dos anos seguintes à tragédia, com impressões sobre seus sentimentos em relação a Floriano, quase idênticos aos que este sentia; o casamento infeliz e sem amor com Jango; as dúvidas quanto a sua religiosidade; a correspondência com Floriano; as confidências com e de Arão Stein (de volta da Espanha. Mais tarde expulso do PC, começa a enlouquecer) e Zeca (já usando o nome de Irmão Toríbio). Lembra-se também da infância infeliz e como idolatrava a "gente do Sobrado", sentindo-se em incesto quando dorme com Jango. E registra as reações em relação à guerra, a volta de Pepe Garcia e o que Floriano lhe escreve dos EUA.


Encruzilhada, a última parte tem um título que define a situação em que a família, passa pela situação em que o país se encontra naquele final de 1945: estão numa encruzilhada da vida. Começa a história com Arão Stein, enlouquecido pela expulsão do PC se matando, enforcado na figueira, na praça central de Santa Fé. Em seguida passa-se seu funeral e enterro (Rodrigo não fica sabendo), onde Rodrigo, Zeca e Roque Bandeira discutem mais uma vez. Stein é enterrado sem ter a alma encomendada, como todo suicida. No Sobrado, Floriano se cruza com Sílvia, abraça-a e beija-a, mas ambos se separam e ela foge. Depois ele e Sílvia têm uma conversa séria e ela lhe entrega para ler seu diário. Antes de lê-lo, Floriano tem a conversa definitiva no qual desabafa tudo o que pensava e sentia sobre sua relação com o pai, cortando definitivamente o cordão umbilical que os prendia, reconciliando-se com ele e consigo mesmo. Rodrigo, já liberado por Dante para voltar ao Rio, manda Sônia, sua amante, de volta antes do previsto e planeja romper com ela. Floriano sobe até seu refúgio no sótão e lê o diário de Sílvia, sente-se afinado, inveja Zeca por ter com ela uma intimidade que ele nunca terá e finalmente lê a última frase onde ela revela estar grávida. Rodrigo e Flora ouvem isto e ficam felizes. Rodrigo prepara-se então para voltar ao RJ, mas morre antes. Seu funeral se processa como era de se esperar. Na noite de Ano - Bom acontece a festa tradicional, morre Laco Madruga, vê-se todos os personagens por uma última vez e muito é revelado. Floriano planeja construir as pontes que ligarão sua ilha a este Arquipélago de pessoas. E ao final, enquanto o neto de Alvarino Amaral, admirador do escritor e conterrâneo,Floriano Cambará, compõe seu primeiro poema e pensa em se aconselhar com ele. Floriano escreve as primeiras linhas de seu romance que contará a história de sua família: as primeiras palavras de O Tempo e O Vento.

Em síntese, trata-se de um conjunto de sete livros, que conta à história da formação do povo Rio Grande do Sul, Érico Veríssimo de uma maneira original e fascinante mistura ficção com fatos da realidade político e social do Brasil: como a guerra dos Farrapos, a era Vargas, entre outros. A obra divide-se em: O Continente, O Retrato, O Arquipélago, O Continente- A história remonta ao século XVII, época da evangelização dos jesuítas, e o encontro de um índio, Pedro Missioneiro, criado pelos padres jesuítas e Ana Terra. do encontro dos dois nasce Pedro Terra. Ana Terra é obrigada a partir em caravana, quando castelhanos invadem a fazenda da família, matam seu pai e irmãos e a violentam, mas ela consegue esconder o filho, chegam então ao lugar que mais tarde se tornaria a cidade de Santa Fé, onde se passa toda a trama. O romance passa-se por várias gerações da família Terra, Cambará, Caré e Amaral, Pedro Terra cresce e tem uma filha Bibiana Terra, que se casará com capitão Rodrigo Cambará, moço muito bonito e galanteador, com espírito desbravador e aventureiro, que morre em batalha. O Retrato- No início do século XX, Licurgo Terra Cambará, e seus filhos Toríbio e Rodrigo vivem no Sobrado, a casa mais bonita e famosa da cidade, o primeiro é homem rude e ama o campo, já Rodrigo gosta de luxo e vai estudar medicina em Porto Alegre, de onde volta com todas as novidades da época, como gramofone, vinhos, conservas, etc. Vive em conflito com o pai que é homem conservador e não se deixa seduzir pela sofisticação do mundo moderno. Rodrigo volta também com a idéia de exercer a profissão, se casar, para esquecer a vida regada a mulheres e muito dinheiro que teve na capital, quer se tornar “homem sério”, já seu irmão Toríbio vive de aventuras. Rodrigo, bonito, vaidoso, e galanteador, mesmo depois de casado continua a ter aventuras. No auge de sua mocidade, um amigo seu espanhol, pinta seu retrato em tela gigante, que se torna sua uma espécie de ponto de reflexão e comparação para Rodrigo, em todas as épocas de sua vida. O Arquipélago- Rodrigo passa por várias fazes em sua vida, após a morte da filha que mais adorava Alicinha, ele larga o ofício de médico e vai para a carreira política, onde se envolve em negociações não muito corretas, como troca de favores e tráfico de influências. No final de sua vida ele já doente, e de cama, após um ataque no coração, não encontra o apoio em sua família, sua esposa se quer dirige-lhe a palavra, arrasada e machucada após as várias aventuras do marido, seus filhos não o admiram e não concordam com seu tipo de vida, e estão mais interessados na herança. A história passa a ser contada sob o ponto de vista de Floriano, filho de Rodrigo, que representa o lado oposto do pai, reflexivo e tímido, vive o trauma de nunca ter tido a admiração do pai, pelo fato de ter se acovardado na frente de um campo de batalha. Fato que rebaixava o rapaz, por ter tido em seus antepassados grandes guerreiros, e todos morridos em combate. E também sob o ponto de vista de Silvia, agregada da família, que tem um amor platônico por Floriano, mas acaba se casando com seu irmão, por conveniência, os dois tem uma vida infeliz e vazia, e Silvia não consegue engravidar, para desgosto de todos. O romance acaba com a morte de Rodrigo e o fim de toda aquela geração, que já não seguiriam os passos do pai. Encontramos nesta obra, romance, aventura e análises psicológicas profundas que segundo informações são os questionamentos do autor diante de seus conflitos com a família e a própria vida, no final o abraço entre Rodrigo e Floriano, representa o perdão do próprio Érico ao pai e a si mesmo.



Como se vê O Tempo e o Vento é uma trilogia épica que remonta ao passado histórico do Rio Grande do Sul, dos séculos XVIII e XX, focalizando as disputas de terra e poder pelas famílias Amaral, Terra e Cambará. Está dividido em O Continente, cobrindo o período histórico do século XVIII até 1895, com as lutas do início da República. O Retrato trata das primeiras décadas do século XX e O Arquipélago chega até l945, durante o governo de Getúlio Vargas.



O Tempo e o Vento foi uma minissérie da Rede Globo exibida de 22 de abril a 31 de maio de 1985, em 25 capítulos. O roteiro é baseado na obra homônima de Érico Veríssimo, adaptada por Regina Braga e Doc Comparato, e dirigida por Paulo José. Apesar de levar o nome da trilogia escrita por Érico Veríssimo, a minissérie desenvolve apenas tramas abordadas no primeiro volume da obra: "O Continente". Foi exibida em comemoração aos vinte anos da emissora. A minissérie foi reapresentada três vezes: em março de 1986; em junho de 1991, durante a sessão “Vale a Pena Ver de Novo” em versão compacta, de dez capítulos, somente com as histórias de Ana Terra e Capitão Rodrigo; e de 3 de janeiro a 27 de janeiro de 1995, em 16 capítulos, nas comemorações dos 30 anos da TV GLOBO.


Bibliografia consultada:



1. ABREU, Maria Isabel. Projeção anglo-americana de Erico Verissimo. Georgetown, University of Georgetown, s.d.
2. AMADO, Jorge. Erico Verissimo pelo mundo afora. In: CHAVES, Flávio Loureiro (Org.). O Contador de Histórias: 40 anos de vida literária de Erico Verissimo. Porto Alegre: Globo, 1981. p.29-34.
3. ANDRADE, Jorge. O galho da nespereira. In: CHAVES, Flávio Loureiro (Org.). O Contador de Histórias: 40 anos de vida literária de Erico Verissimo. Porto Alegre: Globo, 1981. p.1-15.
4. AYALA, Walmir. Minha infância com Erico. In: CHAVES, Flávio Loureiro (Org.). O Contador de Histórias: 40 anos de vida literária de Erico Verissimo. Porto Alegre: Globo, 1981. p.26-28.
5. BACELAR, Armando. Ideologia e Realidade em Erico Verissimo. In: Segundo Congresso Brasileiro de Crítica e História Literária. Anais. São Paulo, Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Assis, 1963. p.543-551.
6. BORDINI, Maria da Glória. Criação Literária em Erico Verissimo. Porto Alegre: L&PM / EDIPUCRS, 1995.
7. CANDIDO, Antonio. Erico Verissimo de Trinta e Setenta. In: CHAVES, Flávio Loureiro (Org.). O Contador de Histórias: 40 anos de vida literária de Erico Verissimo. Porto Alegre: Globo, 1981. p.40-51.
8. CARPEAUX, Otto Maria. Erico Verissimo e o público. In: CHAVES, Flávio Loureiro (Org.). O Contador de Histórias: 40 anos de vida literária de Erico Verissimo. Porto Alegre: Globo, 1981. p.35-39.
9. CESAR, Gilhermino. O Romance Social de Erico Verissimo. In: CHAVES, Flávio Loureiro (Org.). O Contador de Histórias: 40 anos de vida literária de Erico Verissimo. Porto Alegre: Globo, 1981. p.71-85.
10. CHAVES, Flávio Loureiro (Org.). O Contador de Histórias: 40 anos de vida literária de Erico Verissimo. Porto Alegre: Globo, 1981.
11. CHAVES, Flávio Loureiro. Erico Verissimo e o mundo das personagens. In: CHAVES, Flávio Loureiro (Org.). O Contador de Histórias: 40 anos de vida literária de Erico Verissimo. Porto Alegre: Globo, 1981.
12. CHAVES, Flávio Loureiro. Realismo & Sociedade. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1981.
13. DAVID-PEYRE, Yvonne. Erico Verissimo, lecteur de Flaubert. Revista Caravelle. Université de Toulouse, n.29, 1977.
14. FERNANDES, Célio Marques. Erico Verissimo, o grande escritor. Brasília, Câmara dos Deputados, 1976.
15. FILIPOUSKI, Ana Mariza (e ZILBERMANN, Regina). Erico Verissimo e a literatura infantil. Porto Alegre, IEL/UFRGS, 1978.
16. FONSECA, Suzana Job Borges da. Floriano Cambará - personagem de O Tempo e o Vento. Porto Alegre: Instituto de Letras da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 1985. Dissertação de Mestrado.
17. FRESCO, Daniel. O Aspecto Político em Erico Verissimo. Paris, Université de Paris III, 1975. Dissertação de Mestrado.
18. FURLAN, Oswaldo Antonio. Estética e Crítica Social em "Incidente em Antares". Florianópolis, Universidade Federal de Santa Catarina, 1977.
19. GONÇALVES, Robson Pereira (Org.). O Tempo e o Vento - 50 Anos. Santa Maria, EDUSC & Editora UFSM, 2000.
20. LIMA, Alceu Amoroso (Tristão de Athayde). Erico Verissimo e o antimachismo. In: CHAVES, Flávio Loureiro (Org.). O Contador de Histórias: 40 anos de vida literária de Erico Verissimo. Porto Alegre: Globo, 1981. p.86-102.
21. LORENZON, Algir. História de um contador de estórias. Porto Alegre, Assembléia Legislativa do Rio Grande do Sul. 1976.
22. LUCAS, Fábio. O Romance de Erico Verissimo e o mundo oferecido. In: CHAVES, Flávio Loureiro (Org.). O Contador de Histórias: 40 anos de vida literária de Erico Verissimo. Porto Alegre: Globo, 1981. p.144-157.
23. LUFT, Lya. "Clarissa": diacronia de um estilo. Porto Alegre, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, 1975. Dissertação de Mestrado.
24. MARTINS, Wilson. Erico Verissimo. In: O Modernismo. São Paulo, Cultrix, 1965. p.292-296.
25. MONTENEGRO, Olívio. Erico Verissimo. In: O romance brasileiro. 2.ed Rio de Janeiro, José Olympio, 1953. p.265-272.
26. OLLIVIER JR., Luis L. Syncrony, amalgam and communion: Erico Verissimo's "O Tempo e o Vento" as a symbolic complex. Tese de doutorado apresentada à The New Mexico University. Albuquerque, dez.1973.


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Atenciosamente,

Lineu Roberto de Moura
artculturalbrasil




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5 comentários:

  1. ganhei minha tardeao som de, misty-lfe...mid
    beijosss♥

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  2. Não tenho palavras para agradecer.
    Érico Veríssimo é um dos grandes escritores e esta postagem Mostra muito bem o valor de sua obra " O tempo e o Vento".
    Sou paulista, mas acima de tudo apaixonada por história e, este romance histórico me marcou muito.
    Obras como esta, com este valor, dicifilmente serão esquecidas por quem as lê.
    Mais uma vez obrigada pela atenção. Tenho certeza que muitos apreciarão.
    Não sou escritora, nem poeta, mas gosto de escrever. Convido quem puder para visitar meu cantinho http://angel-acasos.blogspot.com/.
    Serão recebidos com amor e carinho.
    Abraço

    Angela

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  3. Obrigada pela atenção e carinho.
    A surpresa foi muito boa.Um presente valiosíssimo.
    Fiz uma recomendação e um link desse blog lá no meu cantinho.
    Grande abraço
    angela

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  4. Anônimo09:21

    Venho agradecer ao ArtculturalBrasil pelo carinho atenção e principalmente o Sr. Lineu pelo reembolso do exemplar do Almas Raras do poeta Jacob, que eu andava tanto tempo a procurar sem encontrar. Obrigado de coração a toda equipe deste blog por fazer realidade este meu sonho. Já tenho meu livro em mãos. Muito grato.
    Osenir Gonçalves de Souza - Fortaleza, Ceará

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  5. Anônimo08:14

    It's fantastic that you are getting ideas from this post as well as from our discussion made here.

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