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UMA CIDADE SEM MEMÓRIA CULTURAL É UMA CIDADE SEM FUTURO HISTÓRICO

Escola Baiana


Página Maria Granzoto
Arapongas - Paraná
Editora de Literatura Brasileira do artculturalbrasil
envie sua sugestão granzoto@globo.com

ESCOLA BAIANA
O sentimento Nacionalista, muito pequeno e vacilante ainda, no século XVI, começou a criar maior força e maior motivação no século XVII, em decorrência dos conflitos com os conquistadores estrangeiros.
Aquela época se distingue pelas lutas memoráveis que já visavam à conquista de uma pátria nova.
Mesmo omitindo os choques violentos com o fanatismo religioso dos luteranos - ingleses e flamengos - devemos nos lembrar das páginas imorredouras escritas a sangue, aqui mesmo na Colônia, nos combates contra os holandeses, refregas difíceis coroadas pelos triunfos dos Guararapes. Fernandes Vieira, Vidal Negreiros, Camarão, Henrique Dias (em suma, portugueses, brasileiros, índios e negros, possuídos de um só pensamento grandioso) foram os principais responsáveis pelas manutenção dos ideais da jovem nacionalidade.
Enquanto isso, ao lado dos portugueses, surgiram abastados senhores de engenho, brasileiros, criando os primórdios de uma aristocracia rural. E já estavam presentes os primeiros sucessos dos negócios políticos econômicos.
Também as letras começaram a chamar a atenção de todos para seu desenvolvimento. Principiamos a conhecer os poetas do renascimento italiano, espanhol e português.
Ronald de Carvalho lembra que Tasso, Góngora, Lope de Vega, Gabriel de Castro, e outros, eram lidos e imitados. E confirma que, "como nos do Portugal de D. Francisco Manuel de Melo, predominava, entre nossos letrados, quase todos, aliás, educados em Coimbra, a influência de Góngora e seus discípulos".
Havia, então, muitos cultores da boa latinidade.
Podemos citar a chamada "Escola Baiana", que reunia um grupo regular de poetas, cronistas, historiadores e figuras eminentes da eloqüência religiosa.
A nata do grupo era composta de Gregório de Matos Guerra (1633-1696) e Manuel Botelho de Oliveira (1636-1711) - poetas; Frei Vicente do Salvador (1564-1639) - cronista; padre Eusébio de Matos (1629-1692), irmão de Gregório, e padre Antônio de Sá (1620-1678), o melhor discípulo do padre Antônio Vieira - eloqüência consagrada.
E, em nível muito inferior, outros poetas hoje esquecidos, como Domingos Barbosa (1632-1685), Diogo Grasson Tinoco (que viveu no século XVII) e Bernardo Vieira Ravasco (1617-1697), irmão do padre Antônio Vieira. Diogo Grasson Tinoco publicou, em 1629, uma parte do poema "Descobrimento das Esmeraldas", cantando, antes de Bilac, a determinação e estoicismo de Fernão Dias Pais. Infelizmente do poema, são conhecidas, hoje, não mais do que quatro estâncias em oitava rima, colhidas por Claúdio Manuel da Costa. Na verdade, muito pouca coisa restou das obras desse segundo grupo.
E, a rigor, dentre os poetas da "Escola Baiana", só se salvaram, mesmo, Gregório de Matos e, muito distante, Manuel Botelho de Oliveira.
arquivoartculturalbrasil - texto de Vasco de Castro Lima
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A Literatura Baiana

Apresentação

A literatura baiana é de fundamental importância para a literatura brasileira, tendo em vista que as primeiras manifestações deste gênero ocorreram na Bahia, ainda no século XVII, quando despontavam no Barroco as figuras de Gregório de Mattos e Guerra com sua poesia lírico-sátirico-religiosa e do padre Antonio Vieira com seus aclamados sermões, vindo a ser conhecido, posteriormente, como imperador da Língua Portuguesa.
Não menos importante para o universo literário brasileiro é o poeta Castro Alves. Situado historicamente na escola literária Romantismo, Castro Alves dá nova dimensão a esse estilo de época ao instaurar a poesia de temática social, poesia essa que combatia a escravatura, e que, vai lhe conferir a alcunha de poeta da liberdade.
A importância de nomes como Gregório de Mattos, Antonio Vieira e Castro Alves propiciam à literatura baiana uma forte presença na história da literatura brasileira, assim como, mais recentemente, nomes como Jorge Amado e João Ubaldo Ribeiro, evidenciam a presença da literatura baiana no panorama da literatura brasileira contemporânea, sendo Jorge Amado um dos escritores mais lidos do Brasil.
Apesar da relevância e do reconhecimento dos nomes citados anteriormente, existe uma grande lacuna na divulgação dos trabalhos dos escritores contemporâneos da Bahia, tanto no próprio estado e mais ainda no eixo Rio-São Paulo, o que os deixa relegados ao ostracismo, tendo muitas vezes que, eles mesmos, fazerem a divulgação e uma penosa e limitada distribuição.
O que pretendemos com o Letras da Bahia é fazer uma amostragem da produção de escritores contemporâneos - uns já consagrados, outros estreantes e emergentes -, o que possibilitará aos interessados no assunto o acesso às obras desses escritores, assim como conhecer a opinião de cada autor sobre diversos temas dispostos nas respostas das entrevistas que foram feitas com cada um deles.
Letras da Bahia traz ainda a possibilidade do leitor adquirir - através de e-mail - as obras que despertem o seu interesse; o endereço do autor (e-mail também) estará disponível para que o leitor possa ter um contato direto com aquele escritor que mais goste. No mais é semear livros, "livros à mão cheia..."

BREVE PANORAMA DA POESIA BAIANA NO SÉCULO XX

Assis Brasil

Minha terra não é moça
minha terra é menino,
que atira badoque,
que mata mocó,
que arma arapuca
e sabe aboiar
e nada nos rios em tempo de cheia
e come umbu quente e não apanha malina.

Eurico Alves

As Epígrafes

Enquanto, em São Paulo, a década de 20 marcava o rompimento brusco e panfletário da inteligência mais atuante com os postulados estéticos do século XIX, na Bahia, parnasianos caudais e simbolistas de vôo rasteiro fossilizavam o prestígio de um decadentismo cultural que podemos chamar de belle époque epigônica dos becos e botecos da antiga metrópole colonial./Para melhor compreensão da vida literária baiana dessa época, convém não perder de vista o alvorecer do século, quando Afrânio Peixoto e Xavier Marques esboçaram um procedimento estético que se tornou matriz para poetas, prosadores e publicistas do primeiro quartel do século XX, na velha cidade de São Salvador e adjacências./Lembre-se que a posição desses dois escritores nas letras nacionais já representava uma contemporização do romantismo, aliada às pálidas tintas de um naturalismo meteórico./A rigor, após o romantismo, poucos conseguiram permanecer a cavaleiro neste baile castroalvino de viúvas condoreiras, que era o grande sarau literário da chorosa Bahia de Céceu. Entre estes, destacam-se uns poucos heróis: os “bravos rapazes” das revistas Nova Cruzada e Annaes, que desempenharam o papel de disseminadores do simbolismo, no primeiro decênio do século. Mas os nomes de Pethion de Vilar, Pedro Kilkerry, Durval de Moraes e Artur de Sales não poderiam transpor os limites do simbolismo visto da província e anunciar a instauração do pensamento moderno. Embora insólitos com relação ao gosto literário do fim do século XIX, as próprias condições do ambiente cultural baiano criavam entraves para o grande salto que representaria uma nova revolução na sua formação estética.
(Oh! Quão dessemelhante/In Triste Bahia: Cid Seixas, 1996)
Em poesia vivíamos em plena aura do Parnasianismo e do Simbolismo, exaustos de tanto brilho projetado por um espelho estético que quase mais nada tinha a refletir. O movimento da Nova Cruzada há muito não existia, mas chegaram até nós os rumores de seu prestígio. Nesse movimento – que durou de 1901 até cerca de 1914 – atuou numeroso grupo de poetas e prosadores expressivos, entre os quais cumpre destacar Pethion de Vilar, Artur de Sales, Pedro Kilkerry, Arnaldo Damasceno Vieira, Francisco Mangabeira, o próprio Carlos Chiacchio, Roberto Correia e Álvaro Reis./O movimento literário que a Semana de Arte Moderna originou, a rigor permanece – e, na Bahia, se apresentou com um perfil de hostilidade compreensível. É que nos vencia um ambiente pesado, de falsa cultura clássica, em seu tradicionalismo intocado. Foi quando, por uma atração de contrários, nos encontramos com Eugênio Gomes, Hélio Simões, Eurico Alves, Pinto de Aguiar.../E logo tivemos notícia de que, afastado de nós, na Feira de Santana das suas saudades e dos seus amores, um jovem.../também se encontrava perfeitamente ciente e consciente dos fundamentos estéticos do Modernismo.../ Trata-se de Godofredo Filho, o primeiro dos escritores novos da Bahia a dar notícias aos intelectuais do Sul de que aqui já pousara, já nos contagiara o espírito renovador das letras e das artes./Daí nasceu Arco & Flecha, de ares provincianos, no melhor entendimento da expressão, para divulgar o espírito dos novos e com o ingênuo propósito de publicar os seus primeiros textos.
(In Litetratura baiana (1920 – 1980): Carvalho Filho/1986)
Basicamente, podemos assinalar no Modernismo na Bahia quatro fases distintas que sempre se mostraram defasadas no que tange à evolução do movimento no País, mas que buscam assimilar-lhes as características./A primeira fase é naturalmente a de 1928, de implantação, através da revista Arco & Flecha, da qual foram editados cinco números, o primeiro isoladamente, em novembro daquele ano, e demais geminados (2-3, correspondendo a dezembro de 1928 e janeiro de 1929, e 4-5, de 1929, sem alusão a mês). Cada um dos integrantes desse grupo inicial de 1928 busca seus caminhos próprios, mas, de um modo geral, é possível sentir para além dos traços individualizadores uma certa preocupação consciente de traduzir espírito associativo e sobretudo identificação com os processos formais e a temática modernista da primeira hora./Entre os poetas da primeira hora é justo destacar pelo seu valor intrínseco Eurico Alves, Godofredo Filho, Carvalho Filho e Hélio Simões.
(Presença do Modernismo na Bahia. In Camões contestador e outros ensaios: João Carlos Teixeira Gomes/1979)
Na efervescência que caracteriza o ambiente cultural do Brasil na década de 60, com a vigência das diversas estéticas de vanguarda, tanto na literatura quanto nas outras artes, coexistem na Bahia (mais precisamente em Salvador) alguns poetas representativos que – por não estarem aliados a nenhum programa estabelecido – enfeixam o que se poderia denominar mais uma das vertentes da Geração 60./Assim, e aos poucos, Serial passou a ser o veículo revelador e/ou aglutinador de um grupo de poetas que, nascidos entre as décadas de 30 e 50, se identificam por uma característica comum às suas obras, bem diversas entre si, sob outros aspectos./Esta manifestação de repúdio à produção e à visão poética dos vanguardistas, sobretudo, no caso, ao Concretismo, pode ser atribuída em seu aspecto básico, por exemplo, a Antonio Brasileiro, que, responsável direto (e principal) pelo movimento gerado por Serial, é também, ao nosso entender, o nome mais representativo dessa geração de poetas.
De sua criação até hoje (1972/1996), foram editados 19 números de Hera, com a participação de, exatos, 80 autores./Apesar, no entanto, da atuação vigorosa do grupo e da qualidade do trabalho que realiza, sua produção – como de resto ocorre com produções semelhantes em todo o Brasil – continua ilhada.
(Roberval Pereyr/Depoimento/1997)
Os anos 80 começam com alguns vetores básicos que, conjugados, vão possibilitar o surgimento de novos autores, que atravessarão a década à sombra da Geração 60, numa espécie de segundo plano da vida literária. Estes vetores foram os seguintes: 1 – Edição do concurso Prêmios Literários UFBA (poesia), de 1980, que revelou quatro nomes; 2 – Movimento Hera, de Feira de Santana, que vinha desde 1972 revelando nomes como Roberval Pereyr, Iderval Miranda e Washington Queiroz; 3 – o Movimento Poetas na Praça, em que se destacaram Ametista Nunes, Geraldo Maia e Antonio Short, já falecido; 4 – a Coleção dos Novos, patrocinada pela Fundação Cultural do Estado da Bahia, que publicou 14 autores, dentre os quais seis poetas, no período 1981-82, iniciativa que ensejou os Encontros de Literatura Emergente I e II, em parceria com o Instituto de Letras da UFBA./Destes vetores, passo a destacar, nesse depoimento – muito pessoal e parcial – a Coleção dos Novos./Assim, os três nomes (Mirella Márcia, Marcos A. P. Ribeiro e Aleilton Fonseca), revelados pelo concurso da UFBA, juntaram-se àqueles revelados pelo Movimento Hera (Roberval Pereyr, Iderval Miranda e Washington Queiroz) compondo a meia dúzia de poetas publicados pela Coleção.
(Aleiton Fonseca. A Geração 80, na Bahia: os Poetas da Coleção dos Novos. Comunicação na Universidade Estadual de Feira de Santana, novembro de 1996).

Transição: Séculos XIX/XX

Pelo menos três poetas, de dimensão nacional, nascidos na Bahia, vão dar continuidade à série literária no século XX. Dois, mortos prematuramente, Junqueira Freire (1832 – 1855) e Castro Alves (1847 – 1871), e Luís Gama (1830 – 1882). Os dois primeiros pela alta qualidade da poesia – implicação social no caso de Castro Alves – e o outro, reconhecido por Sílvio Romero e Coelho Neto, poeta satírico na linha de Gregório de Mattos, tornar-se-ia nome emblemático pela sua posição antiescravagista.
Amigo e biógrafo de Junqueira Freire, Franklin Dória (1836 – 1906) teve certa projeção nacional e chamou a atenção de um crítico do Modernismo, Antônio Cândido. A “explosão condoreira” vai ficando para trás e Melo Morais e Filho (1844 – 1919), que chegou ao conhecimento de Sílvio Romero, escapa do “castrismo” por ter dado um cunho mais regional à sua obra.
Vamos entrar nas fases das revistas literárias – de que a Bahia, em todo o século XX, tem sido rica – e já dos primeiros sintomas de mudança estética, após o prolongado “rescaldo” romântico-condoreiro-parnasiano. Podemos falar da Nova Cruzada – Associação de Letras e Artes Nova Cruzada – de entusiasta grupo simbolista, reunido na primeira década do século (1901 – 1911). Mas antes, ou alcançando esta fase e a posterior de Arco & Flecha (1928 – 1929) – as gerações literárias não são estanques – devemos citar Pinheiro Viegas (1865 – 1937), que reapanha as formas tradicionais como o soneto alexandrino.
Pethion de Vilar (1870 – 1924), poeta do grupo Arco & Flecha, um parnasiano-simbolista algo intimidado por ser poeta, daí que se escondia por trás daquele pseudônimo e se chamava Egas Moniz Barreto de Aragão. Mas vamos seguir com o produtivo grupo simbolista de a Nova Cruzada, salientando que um ou outro poeta, como “indicava a própria Escola, já saía para a maior liberdade do verso”.
Assim, citemos Francisco Mangabeira (1879 – 1904), morto aos 25 anos de idade, poeta e médico humanitarista; Artur de Sales (1879 – 1952) aparece na antologia nacional pré-modernista de Fernando Góes; Álvaro Reis (1880 – 1932), tradutor de Baudelaire e Verhaeren, destaca-se como produtor de cultura; Galdino de Castro (1882 – 1929), que embora tenha sido um “dos mais aguerridos vanguardeiros” do grupo da Nova Cruzada, não é citado na Enciclopédia de Literatura Brasileira. Durval de Moraes (1882 – 1948) também não é citado, mas foi eleito, por seus companheiros de geração, “o maio poeta da Bahia”.
Pedro Kilkerry (1885 – 1917), “talvez a organização poética mais original do Simbolismo baiano”, é um caso à parte, dessas coisas raras que acontecem no Brasil, ou seja, um poeta ser “descoberto” depois de morto e sem livro publicado – ele teve ampla atuação, no entanto, na revista Nova Cruzada. Outro esquecido, Euricles de Matos (1888 – 1931) foi chamado de “modelo acabado de esteta” pelo crítico Massaud Moisés. Façanha curiosa do poeta: fundou, com Irineu Marinho, o jornal O Globo. José Maria Leoni (1892 – 1950) está fora também dos compêndios historiográficos baianos. Mais jovem, conviverá com o grupo da Nova Cruzada e fundará sua própria revista, Hélade, também “de cor simbolista”.

Arco & Flecha

Já podemos nos referir, mais detidamente, ao grupo da revista Arco & Flecha, pré-modernista, modernista ou uma tardia primeira fase do Modernismo no Estado. Eugênio Gomes (1897 – 1972), que se tornaria um respeitado crítico e ensaísta de renome nacional, leva o galardão, como poeta, de ter publicado o primeiro livro modernista da Bahia, Moema (1928); Sosígenes Costa (1901 – 1968), embora não ligado diretamente a Arco & Flecha e ainda com suas “reminiscências simbolistas”, foi um dos “pioneiros do Modernismo na Bahia”, na observação de José Paulo Paes.
Godofredo Filho (1904 – 1992) é tido como “o legítimo precursor do Modernismo na Bahia”. Quando da fundação de Arco & Flecha, ele estava em Feira de Santana, mas já “consciente” dos rumos novos que a poesia tomava; Carvalho Filho (1908 – 1994) tem também um livro pioneiro no Modernismo baiano, Rondas (1928); Eurico Alves (1909 – 1974): o grupo continua, rico de grandes poetas, este “o mais autenticamente modernista” no dizer de Helio Simões (1910 – 1987), que segue o “desdobramento do Modernismo” baiano.
Como toda unanimidade é burra, segundo aquele “filósofo” carioca, ao lado de Arco & Flecha – excetuando a sua continuidade com Os Anais – surgiram as revistas Samba, O Momento e Meridiano: estas duas últimas, embora se postassem com “rebeldia e inconformismo com o marasmo e o passadismo”, assumiram atitude ostensiva contra Arco & Flecha. O fato: “O Simbolismo e o Parnasianismo foram duas constantes na poesia baiana mesmo depois” desta revista, como observa João Carlos Teixeira Gomes ao estudar a “evolução da literatura baiana”. À época, inúmeras Academias são criadas, reunindo não somente poetas, mas ficcionistas e sociólogos.

Modernismo: Segundo Tempo

Poderíamos falar numa Geração de 45 na Bahia? Ou numa Geração de 40? Em todos os Estados há certos correspondentes... Muitos dos poetas baianos nesse período se representam pela atuação na revista Caderno da Bahia (1948 – 1951), central do movimento (1946 – 1960) que reunia um elenco maior de artistas. Pelo menos dois poetas tiveram circuito nacional ao serem incluídos na Antologia Poética da Geração de 45, Jorge Medauar (1918 – ) e Wilson Rocha (1921 – ). Jair Gramacho (1930 – ), um único livro, ficou meio esquecido, ao passo que Jacinta Passos (1914 – 1973) teve a sorte de ser notada por Antônio Cândido, Aníbal Machado e Mário de Andrade, e ainda ganhou uma reavaliação crítica de José Paulo Paes. Temos ainda Camilo de Jesus Lima (1912 –1975), esquecido, mas colaborador, como Wilson Rocha, do Caderno Bahia, e autor de vasta e significativa obra poética.
Firmino Rocha (1919 – 1970), poeta itabunense, desconhecido na própria Bahia, tem um poema gravado em bronze na sede das Nações Unidas e entra nesta Geração ao lado de Fernando Sales (1921 – ), que fez todo o seu périplo cultural e poético no Rio de Janeiro, mas não esqueceu a Bahia. Walker Luna (1925 – ) é outro poeta itabunense que pode ser agregado a esta Geração, bem como Valdelice Soares Pinheiro (1929 – 1993). A vida cultural de Helena Parente Cunha (1929 – ) vai ser feita também no Rio de Janeiro, o que não lhe tira a dimensão baiana. A esta Geração podemos ainda acrescentar – para efeito historiográfico e não necessariamente estético – Telmo Padilha (1930 – ), que na década de 70 teve um percurso nacional, Jehová de Carvalho (1930 – ) e Fred Souza Castro (1931 – ), nome este ligado a Glauber Rocha e financiador de seu primeiro filme, O Pátio, e que fará a ligação com a Geração seguinte.

Geração Mapa

A revista de mesmo nome pode abranger período curto nos seus três únicos números, entre 1957 e 1959, mas os poetas surgidos, então, são mais numerosos e importantes, como: Florisvaldo Mattos (1932 – ), citado em primeiro lugar por causa da idade, poeta de largos recursos formais, e Silva Dultra (1932 – ), exaltado sonetista – o que mostra que a forma petrarquiana está sempre viva na passagem das gerações; Adelmo Oliveira (1934 – ) já vai fazer a ligação com um grupo seguinte, de que o maior representante é outra revista, Serial, ou seja, já estamos passando de um terceiro tempo modernista para um novo “ciclo”, na definição de João Carlos Teixeira Gomes.
Ainda temos, no entanto, outros poetas ligados à Mapa, como Carlos Anísio Melhor (1935 – 1991), sonetista clássico e moderno; Raymundo Amado Gonçalves (1935 – ) é outro poeta migrante, mas não esquecido da Bahia. Obra poética vasta e importante, fez vários curta-metragens sobre poetas baianos: Junqueira Freire, Pedro Kilkerry, Carvalho Filho; e mais o ensaísta e historiador literário João Carlos Teixeira Gomes (1936 – ), domínio do soneto e do verso branco com a mesma inventividade; Fernando da Rocha Peres (1936 – ), um dos fundadores de As Jogralescas, nome emblemático, como Mapa, dessa fase de renovação literária; Myriam Fraga (1937 – ), obra poética volumosa e importante, grande produtora de cultura na Bahia; Affonso Manta (1939 – ), poeta de lirismo sensível e contundente; atuante nas décadas de 60 e 70, em Salvador, poeta e jornalista, José de Oliveira Falcón (1939 – 1971), inclusive alcançando a revista Serial.

Revista da Bahia e Serial

Uma geração literária vai, outra geração vem – nunca estanques, de fronteiras delineadas – e a série literária prossegue. Importante que passado/presente se irmanem e não sofram solução de continuidade, como queria T. S. Eliot: “Os poetas mortos deixam de ter qualquer utilidade para nós, a menos que tenhamos também poetas vivos.” Cyro de Mattos (1939 – ), um dos primeiros poetas e ficcionistas do “grupo de Itabuna”, vai colaborar na Revista da Bahia. Esta geração, posterior à Geração Mapa, vai deitar os melhores poetas da Bahia, ora aparecendo na Revista da Bahia, ora na revista Serial, como Ildásio Tavares (1940 – ), poderosa organização de poeta.
Outros nomes aparecerão: José Carlos Capinam (1941 – ), bom poeta e letrista; Ruy Espinheira Filho (1942 – ), outro poeta reconhecido nacionalmente; Fernando Batinga de Mendonça (1943 – ); Antonio Brasileiro (1944 – ), poeta, pintor, produtor de cultura, responsável pela criação de Serial e as Edições Cordel; Juraci Dórea (1944 – ), também bom poeta e pintor, colaborador da revista Hera, que fará par, nesta fase, com a Serial. Ele e ainda Antonio Brasileiro criariam o jornal cultural Légua & Meia. Outro nome importante do grupo, produtora de cultura, poetisa de corte nacional, é Maria da Conceição Paranhos (1944 – ).
Hermenegildo José Bastos (1944 – ), outro poeta migrante, não conhecido de alguns colegas baianos, começa a publicar seus poemas no jornal A Tarde e freqüenta a Oficina Literária de Judith Grossmann. E mais Cid Seixas (1948 – ), poeta, ensaísta e crítico, atuante nas revistas Serial e Hera; Sérgio Mattos (1948 – ), na mesma fase de Serial, cria Experimental, e foi recepcionado por Ildásio Tavares e Cid Seixas, poetas de sua geração; Iderval Miranda (1949 – ), outro bom poeta dos grupos Serial e Hera. Temos alguns nomes algo independentes em relação à sua geração, Claudius Portugal (1951 – ), produtor cultural que sairia para a experiência do poema visual; Carlos Roberto Santos Araújo (1952 – ), do Grupo de Itabuna, que aparece na antologia Itabuna, Chão de minhas Raízes; e Antonio Risério (1953 – ), outro produtor cultural e poeta de largos recursos experimentais.

Geração 80
Na série literária, nenhum escritor “tem significado pleno sozinho”, no dizer de T. S. Eliot e está sempre “envolvido num relacionamento dialético” com outros, de Haroldo Bloom. Assim é que já podemos adentrar uma Geração de 80 na Bahia com um elenco de autores que viriam de Serial e Hera, e atingirão a Coleção dos Novos da Fundação Cul (1953 – ), por exemplo, vem do grupo poético de Feira de Santana – vide revistas citadas – e se afirma na década de 90, bem como Luís Pimentel (1953 – ) e Washington Queiroz (1954 – ), estreante na revista Hera e na Coleção dos Novos e aparecendo na Antologia Oitenta (1996); também Wilson Pereira de Jesus (1955 – ). Luis Antonio Cajazeira Ramos (1956 – ) pertence a grupos de poetas independentes e/ou que ficaram à margem de grupos, mas que têm o seu lugar definido.

Mais dois outros poetas, Marcos A. P. Ribeiro (1957 – ) e Mirella Márcia (1957 – ) foram estreantes na Coleção dos Novos. E ainda Aleilton Fonseca (1959 – ), poeta, ficcionista e ensaísta, um dos responsáveis pela organização da Antologia Oitenta, comemorativa dos 15 anos daquela Coleção. Do grupo Hera, década mencionada, é também Rubens Alves Pereira (1959 – ), como Elieser César (1960–), um dos mais novos. Anne Cerqueira (1964 – ), aparece na coletânea Sete Faces, de 1996, atual representante da poesia de Feira de Santana, cujos poemas foram também publicados em Hera.

Tendências

Após a Geração Mapa – cujas formas estéticas são algo definidas – com um ou outro liame com as formas do passado – as tendências são um variado contraste de pesquisas, do soneto clássico, do soneto à “moda” de 45, da linguagem sacral à linguagem cotidiana e pedestre, chegamos também aos experimentos – mais modestos na Bahia – com os signos visuais, sendo significativo que muitos poetas sejam também pintores e desenhistas, achegando-se às ditas artes performáticas e plásticas, que caracterizam, hoje, o que já se convencionou chamar de pós-modernismo. O fenômeno é mundial, não estivesse a Arte ligada, no dizer de Pound, pelas “antenas” sensíveis dos artistas. Os poetas do século XXI, sem dúvida, vão viver essa cultura pluralista e fragmentária, reapanhando as formas do passado numa postura por vezes paródica e crítica.

As primeiras manifestações literárias do Brasil-Colônia sofreram, logicamente, a influência do quinhentismo português e do seiscentismo peninsular.

O quinhentismo, com o classicismo da Renascença; e o seiscentismo, com o Barroco.

Impôs-se, na poesia a princípio escrita no Brasil, o modelo camoniano, que encontrou seguidores em Bento Teixeira, na Escola Baiana, nas chamadas Academias Literárias e até, de certa maneira, no Arcadismo.

O Gongorismo também se fez presente por aqui, mas o Barroco foi o estilo que maior identificação demonstrou com a realidade brasileira dos três primeiros séculos.

Aliás, de acordo com a opinião idônea de Afrânio Coutinho, "a literatura nasceu no Brasil sob o signo do Barroco".

Podemos dizer que a poesia barroca chegou a alcançar o ano de 1768, quando foram publicadas as "Obras" de Cláudio Manuel da Costa, o primeiro neoclássico da literatura brasileira.

À literatura barroca do Brasil-Colonial, seguiu-se o Arcadismo, de origem italiana, reação contra os abusos do gongorismo.

Na sua primeira fase, haviam eclodido núcleos literários em Salvador, Recife, Rio de Janeiro, São Paulo e Vila-Rica.

Gonzaga, poeta da Arcádia, pode ser considerado, já, um dos precursores da escola seguinte, o Romantismo.

Apesar de tudo isso, ainda não chegara a época - de criarmos uma literatura realmente nacional.

Compreende-se que a emancipação intelectual não poderia despontar senão após a emancipação política.

Basta dizer que, até a transladação da Corte Portuguesa para o Brasil, era proibida qualquer tentativa de imprensa local, como também proibida era a instalação de estudos superiores.

Incontestável, pois, nossa menoridade, evidenciava-se também nesse terreno.

A partir do acontecimento histórico, que foi a nossa emancipação política, as coisas mudaram.

Retroagindo um pouco na marcha do tempo, vamos verificar que D. João VI (1767-1826) assumira a Regência do Reino de Portugal em 1792, quando do impedimento da mãe (D. Maria I), atacada de loucura.

Quinze anos depois, tropas de Napoleão Bonaparte, comandadas por Junot, invadiram Lisboa; e no mesmo instante, a 29 de novembro de 1807, a família real portuguesa, a conselho de seus aliados ingleses, estava embarcando para o Brasil.

Em Portugal continuaram as lutas, novas invasões, regências, revoltas, cujos detalhes não cabem aqui.

D. João VI instalou no Brasil a sede do Império português.

Como providências iniciais, declarou livres os portos e as indústrias; abriu, no Rio de Janeiro, uma cátedra de Retórica, sendo seu primeiro mestre Silva Alvarenga; e também instituiu uma cátedra de Economia Política, sob a direção de José da Silva Lisboa, o Visconde de Cairú.

Aliás, foi Cairú quem inspirou o decreto de abertura dos portos às nações amigas, em 23 de janeiro de 1808.

Tomou, ainda, outras medidas importantes, como a constituição de tribunais, bancos, escolas, a Academia de Belas Artes do Rio de Janeiro, Jardim Botânico, biblioteca real, imprensa régia, consolidação das fronteiras...

Outro indício de nova fase cultural foi, sem dúvida, a vinda, ao Brasil, em 1816, de uma missão de artistas plásticos, arquitetos, pintores e artífices franceses.

Por carta de lei de 16 de dezembro de 1815. elevou o Brasil à categoria de reino.

Não obstante, só em 6 de fevereiro de 1818, retardado por várias razões, inclusive a Revolução Pernambucana (1817), D. João VI foi coroado com o título de soberano do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarve.

Estava separado de Carlota Joaquina, que tentou, em vão, derrubá-lo do poder no Brasil, ambicionando ser Rainha de Espanha e Imperatriz das Américas Espanholas.

Após a revolução do Porto (1820), voltou D. João VI a Lisboa, com a família, deixando apenas o príncipe D. Pedro, herdeiro do trono português e regente no Brasil.

O fato mais importante de todos aqueles que decorreram da fuga da família real para o Brasil, foi, sem qualquer dúvida, a independência de nossa Pátria, em 1822.

Era a realização de amargurados sonhos e a cristalização dos sacrifícios cruentos de patriotas que lutaram e morreram antes daquela data, acreditando muito na liberdade e no futuro de um grande povo.

Para com o estuante e generoso Pedro I - posto de lado o que haja feito, ou não, no governo - o Brasil tem uma dívida de gratidão eterna.

A proclamação da independência do Brasil só foi reconhecida pelo tratado de 29 de agosto de 1825, assinado em Lisboa por D. João VI.

Começou a florescer, no Brasil, já prevista nos fins do século XVIII, uma nova vida política, econômica e intelectual.

Veio, portanto, o Romantismo, precedido de um sentimento nacionalista.

Entre nós, esse movimento não foi uma reação ao Clássico, que, a rigor, não existia no Brasil; e sim, muito mais, um movimento que se propunha a nacionalizar a literatura , com a primazia da sensibilidade sobre a razão.

Passou a ser inevitável a transformação da língua.

E, diga-se, o idioma de Camões, com a sua beleza e a sua tradição, em nada perdeu ao interpretar o sentimento genuinamente brasileiro.

Muita razão tinha Rodrigues Lobo ao sustentar que "o nosso belo idioma tem de todas as línguas o melhor: a pronunciação da latina, a origem da grega, a familiaridade da castelhana, a brandura da francesa, a elegância da italiana".

E Almeida Garret achava que "a língua portuguesa a todo estilo se presta, pela singeleza do seu dizer, pela malícia, popular e mordente, dos seus recursos".

Nossos ancestrais nos transmitiram a língua mais formosa do mundo.

Então, já era tempo de começarmos a edificar, com ela, uma literatura própria.

"Um povo sem literatura - diz Ronald de Carvalho - seria, naturalmente, um povo mudo, sem tradições e sem passado, fadado a desaparecer como reles planta nascida para ser pisada".

O Romantismo teve a sua época de triunfos inolvidáveis.

E, curiosamente, permaneceu vivo no âmago de todas as escolas e movimentos que o sucederam.

Mas.., a certa altura, principiaram a vir à tona inúmeras opiniões, segundo as quais havia, o Romantismo, atingido o seu ponto de saturação.

Para isso, influiu, inclusive, a situação política do país, criada, principalmente, pelas conseqüências da guerra do Paraguai, pela marcha do abolicionismo e pelos pruridos republicanos.

As idéias revolucionárias, enaltecendo a "união da arte com a ciência", pregadas por Taine, Leconte de Lisle e outros, já se difundiam no Brasil.

Era o Parnasianismo, que se nos oferecia com uma constelação brilhante de valores, notadamente poetas, buscando o apuro na forma, na linguagem, na estrutura do verso e na rima perfeita.

Depois.., o princípio estético dos parnasianos também cansou; e veio, então, o Simbolismo - expressão do pensamento por meio de simbolos - com uma singularidade: muitos poetas misturavam simbolismo com parnasianismo e com romantismo, excursionando muito à vontade pelas diversas escolas.

A época do Simbolismo passou, igualmente, e despontaram, após ele e antes do chamado Modernismo, intelectuais de grande significação, que podemos classificar de "indefiníveis".

Houve, por fim, aqueles poetas que preferiram caminhar, resolutos, para direção inteiramente nova: E apareceram, destacadamente, os "Modernistas", sem qualquer compromisso com as escolas do passado.

Deixemos, porém. este resumo histórico para entrarmos numa análise rápida, porém objetiva, do que foi a poesia, através das Escolas Literárias.

Alguns das poesias apresentadas neste site não correspondem, de maneira integral, à classificação dos seus autores dentro deste ou daquele movimento.

Enunciamos, apenas em princípio, a escola à sombra da qual o poeta predominantemente escreveu, e à qual esteve mais ligado, pelo estilo e pelo pensamento.

Filiado ou supostamente filiado a uma escola, não raras vezes foge às principais características da mesma, e isto ressaltamos no início do nosso trabalho.

Cada poesia aqui apresentada é, pois, o fragmento da obra de cada poeta.

Muitos dos poetas lembrados por nós cultivaram, também, outros gêneros, inclusive o épico, ou foram prosadores de alta categoria, artistas de várias facetas literárias.

Mas, o que nos interessou especificamente, resumiu-se na escolha das suas poesias.

Serão encontrados autores de sonetos perfeitos, que honram sobremaneira a invenção - do imortal poema.

Outrossim, aparecem brunidores zelosos desta pedra rara, menos brilhantes, porém formando,
com os demais, um rosário de maravilhas, digno de admiração.

Todos, indispensáveis para dimensionar a história da evolução do soneto brasileiro.

Excepcionais, ou simplesmente bons sonetistas, todos amaram o soneto e se distinguiram pela inspiração com que o criaram e pela beleza interior que deram de si, para a concretização de seus sonhos poéticos.

Nosso objetivo, não é mostrar uma seleção das maiores poesias brasileiras, ou seja, de todos aqueles que devam ser, porventura, considerados de primeiro nível.

Acreditamos até, que muitos bons poetas foram esquecidos, muitas injustiças fizemos em deixar de mostrar os seus poemas.

Não confundir com algumas ausências propositais, deixamos de apresentar poesias e poetas ditos " modernos" ou que, abandonaram o respeito pela poesia real, para "sujar-se" com os delírios desta incoerência, chamada "modernismo"; embora, respeitemos a - evolução - natural do nosso e dos demais idiomas, porém evolução, não é revolução para pregar a " anarquia literária " indesejável.

O que fazemos é mostrar a poesia "representativa" de cada época, ou de cada escola literária, mesmo cientes de que, numa comparação global, não estariam, muitos, em condições de se equiparar aos melhores de outras épocas, ou de outras escolas.

Não apreciamos, apenas, o soneto, amamos a poesia, onde quer que esteja, desde que realmente sincera.

São de Ronald de Carvalho estas palavras:
- "A verdadeira poesia nasce da boca do povo, como a planta do solo agreste e virgem.

É ele o grande criador, sincero e espontâneo, das epopéias nacionais, aquele que inspira os artistas, anima os guerreiros e dirige os destinos da pátria. Dos pastores do Himalaia aos bardos gregos e romanos, no mundo antigo; dos trovadores e jograis, na Idade Média, aos poetas das cortes e dos salões senhoriais, no Renascimento, não variou o sentimento poético. Somente as formas se modificaram".

E foi isto exatamente o que perderam os "modernistas" , o sentimento poético...!!!

Adotamos neste nosso trabalho o soneto, como objeto demonstrativo da poesia.

A poesia não é uma serva obsessiva do soneto. Mas é dele, seguramente, uma fiel cortejadora.

Por ser, o soneto, uma síntese preciosa, só os lídimos sonetistas, como diligentes ourives, podem lapidar, com mestria, suas jóias.

Nosso objetivo é mostrar essas jóias, portadoras de mensagens poéticas.

Temos, além disso, uma esperança: a de que o espírito do filósofo helênico Pitágoras nos envie, lá das esferas misteriosas em que se encontra, um sorriso magnânimo, de aprovação, envolvendo as palavras sábias daquele seu conselho: - "Cala-te, ou dize alguma coisa mais preciosa que o silêncio! ".

Preferimos não nos calar, porque temos, realmente, algo a dizer, através da poesia, que pertence a todos.

Segundo Musset, "a poesia está na alma, como o rouxinol nas ramagens"
Só com Gregório de Matos, é que começou a aparecer o sentimento poético brasileiro.

Antes dele, temos, porém, de registrar a presença de um poeta que refletiu, no Brasil dos primeiros tempos, o pensamento e os processos literários de Portugal: Bento Teixeira . (1560-1618).

Anchieta foi o precursor da nossa literatura, mas Teixeira, que escreveu a "Prosopopéia", é, segundo Sílvio Romero, "o mais antigo dos poetas nascidos no Brasil".

Romero e muitos outros historiadores e estudiosos da nossa literatura, acham que Bento Teixeira teria vindo à luz do dia em Pernambuco.

Esse fato forma como que um consenso. Mas, Rodolfo Garcia, citado por Clóvis Monteiro, levanta, a esse respeito, uma dúvida, admitindo tenha ele nascido em Portugal.

Alceu Amoroso Lima também acolhe a dúvida.

Nesse caso, teria chegado de Portugal, criança ainda, e estudado no Colégio da Bahia, dedicando-se ao ensino particular.

Como detalhe, registramos a informação de Pero Magalhães Gandavo, para quem havia, então, no Brasil, outros poetas escrevendo melhor do que Bento Teixeira.

É o que consta de sua "História da Província de Santa Cruz a que vulgarmente chamamos Brasil", publicada em Lisboa, no ano de 1576.

A princípio lhe era atribuído mais o sobrenome Pinto, porém Francisco Adolfo de Varnhagem, Capistrano de Abreu e Rodolfo Garcia apuraram que o poeta era apenas Bento Teixeira.

A "Prosopopéia", sem grande valor literário, é um poema épico bajulatório, de 94 estrofes em oitava rima, todas à maneira camoniana. Não tem separação de cantos.

Nessa obra, o poeta elogia os primeiros donatários da Capitania de Pernambuco: Duarte Coelho e D. Brites de Albuquerque, e seus filhos, Jorge de Albuquerque Coelho e Duarte Coelho, além de Jerônimo de Albuquerque.

O livro teve três principais edições: 1601, 1873 e. 1923, sendo esta última organizada por Afrânio Peixoto e publicada pela Academia Brasileira de Letras.

Através desse vate ingênuo, surgiram os primeiros passos indecisos do estilo clássico em nossa literatura colonial.

Diz Clóvis Monteiro: - "Apenas acabava de se escoar o século XVI, ainda quando a língua dos indígenas era bem aceita pelos próprios colonizadores, e já Bento Teixeira, na "Prosopopéia", imitava os versos heróicos de Camões".

Gregório de Matos


Gregório de Matos Guerra (1633-1696), segundo Sílvio Romero, "foi o fundador da nossa literatura".

Cognominado o "Ovidio brasileiro".

Ronald de Carvalho diz ter sido ele "a voz precursora da nossa independência mental".

Poeta de primorosos méritos, porém de vida desregrada, o genial mestiço fez muitos inimigos à custa de um desabusado talento satírico.

Chamavam-lhe o "Boca do Inferno".

Sem contestação, no gênero, o maior poeta daquele tempo, aqui e além-mar; e sua mordacidade não poupou sequer os grandes e poderosos, nobres, e até os "prelados que desonravam a Igreja".

Chefe e único valor de realce da "Escola Baiana", pode ser apontado como um dos maiores poetas da literatura luso-brasileira antes do movimento arcádico.

Era um rebelde, um irônico, um impiedoso poeta, mas teve, indubitavelmente, qualidades positivas.

Chegou a ser, também, um místico, e "um pensador sutil e avisado", como observa Ronald de Carvalho.

Fiel ao estilo barroco, sua obra é mesclada de materialismo e de espiritualismo.

Uma virtude significativa, ninguém poderá negar-lhe: a de ter sido o primeiro poeta a refletir, em suas produções, a sociedade brasileira da época.

Formou-se em Coimbra, onde recebeu o grau de doutor em leis.

Exerceu a advocacia, com êxito, na primeira capital da Colônia; e, em Lisboa, foi causídico e magistrado famoso.

Ocupou os empregos de Vigário Geral da Bahia e Tesoureiro-Mor da Sé, "com murça de cônego",
embora fosse, apenas, um "minorista".

De qualquer forma, isso nada lhe valeu, pois, em seu redor, continuaram a se avolumar invejas e vinganças.

O arcebispo D. Frei João de Madre de Deus tentou persuadi-lo a tomar ordens sacras, para evitar maiores complicações, recebendo resposta negativa.

E o prelado, com o correr dos acontecimentos, retirou-lhe a murça capitular, "com desprezo".

Em 1684, casou-se com Maria de Povos, tendo sido infeliz no casamento, porque não podia adaptar-se a uma tranqüila vida doméstica.

Para se manter, voltou a advogar na Bahia, fracassando também financeiramente.

A mulher fugiu de casa, como era inevitável.

Retirou-se para o Recôncavo, mas, por intrigas de um poderoso inimigo, foi preso e desterrado para Angola.

Protegido pelo Governador angolano, conseguiu voltar, desta vez para Pernambuco, "onde viveu ainda algum tempo, proibido de fazer versos", como diz Ronald de Carvalho.

Velho e doente, faleceu no Recife, em 1696, reconciliado com a Igreja.

Alceu Amoroso Lima classificou-o como "a figura mais pitoresca de toda a nossa literatura colonial".

Suas obras, só foram publicadas, pela primeira vez, em 1831; e mesmo assim em parte, depois, em 1882.

A Academia Brasileira de Letras as publicou, completas, em seis volumes (1923- 1933).

Sem embargo, é uma figura que ainda está a exigir um estudo aprofundado.

Leodegário A. de Azevedo Filho escreveu: - "A obra poética de Gregório de Matos representa o ponto mais alto da estética barroca em nossa poesia do século XVII, ao lado de outros poetas menores, que a tradição já esqueceu ou vai esquecendo.

Nela se reflete, plenamente, o estilo daquela época, através do vocabulário, da sintaxe e das habilidades métricas". (. ...) "Inflências de Góngora e Quevedo, mestres do Barroco espanhol, são bastante sensíveis e muito maiores que as possíveis influências de qualquer autor português".

João Ribeiro manifestou opinião semelhante, pois o acusou, no livro "Fabordão", de ser "às vezes servil imitador de Góngora e de Quevedo", acrescentando que "algumas poesias mesmas de Gregório de Matos não merecem mais que o nome de paráfrases".

Ainda hoje há dúvidas sobre a autenticidade integral de sua obra, tendo sofrido também acusações de plagiário.

De certa forma, porém, o Professor Segismundo Spina, da Universidade de São Paulo, o absolve de tais acusações, alegando que "essas adaptações poéticas, justamente com poesias que granjearam larga popularidade, não constituem uma artimanha que implica em desonestidade, mas uma faceta por onde fulge o espírito brincalhão e satírico do poeta baiano".

Eis como era o físico de Gregório, na palavra de Araripe Junior: "Boa estatura, seco de corpo, membros delicados, poucos cabelos e crespos, testa espaçosa, sobrancelhas arqueadas, olhos garços, nariz aquilino, boca pequena e engraçada, e barba sem demasia - o retrato de um fauno .

Gregório de Matos foi o primeiro brasileiro a "escrever", a "produzir" sonetos.

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Lineu Roberto de Moura
artculturalbrasil


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6 comentários:

  1. Bravo! Parabenizo-lhe por esta fantástica aula sobre a Literatura Baiana e a sua relevância, no cenário nacional. Agradeço-lhe e a Bahia, certamente, também agradece-lhe. Abraços.

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    1. Somente as almas sensíveis como a sua poderia tecer esse comentário! Agradecemos e convidamos para retornar ao nosso Blog! Gratos

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  2. Querida Maria, meus parabéns por brilhante exposição sobre os Poetas Baianos. Ao aprendermos Literatura, nos é dada uma rápida pincelada neste tópico e nos são destacados poucos poetas baianos.
    Obrigada por nos enriquecer cada vez mais.
    Meu carinho,
    Marise Ribeiro

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  3. Anônimo10:16

    essa historia é mt interessante , cada vez que eu leio eu quero saber mais sobre ele

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  4. Anônimo16:47

    Gostei do seu blog!
    Carlos Roberto Santos Araujo

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  5. Pedimos desculpas pela falta de resposta individual, mas agradecemos a todos pelos excelentes comentários, que nos move a produzir mais e mais! Obrigada!

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