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UMA CIDADE SEM MEMÓRIA CULTURAL É UMA CIDADE SEM FUTURO HISTÓRICO

Análise do Discurso 3

2012
Página Maria Granzoto
Professora Maria Granzoto da Silva
Editora de Literatura Brasileira ArtCulturalBrasil
Arapongas - Paraná
granzoto@globo.com

Parte III
Análise do Discurso: conclusão e amostras

É evidente que o tema não se esgota aqui. No entanto, é um estímulo aos que se interessam pelo assunto. O objetivo maior foi mostrar como o processo discurso/memória é importante para o entendimento dos textos e as relações inter-textos, isto é, os textos do passado retomam textos anteriores e se integram nos textos do presente. É um olhar mais aprofundado na obra literária, conforme veremos adiante..

Saussure atribui à língua, concebida como um sistema, o estatuto de objeto dos estudos lingüísticos, excluindo a fala desse campo. A língua se opõe à fala, sendo a primeira sistêmica e objetiva e a segunda concreta, variável de acordo com cada falante e, por isso, subjetiva.

Para Pêcheux, o deslocamento conceitual introduzido por Saussure consiste em separar a homogeneidade cúmplice entre a prática e a teoria da linguagem pois, sendo a língua pensada como um sistema, ela “deixa de ser compreendida como tendo a função de exprimir sentido; ela torna-se um objeto do qual uma ciência pode descrever o funcionamento” (Pêcheux, 1997b, p.62).

Na Lingüística da Enunciação, a linguagem não é um instrumento externo de comunicação e transmissão de informação, mas uma forma de atividade entre os protagonistas do discurso.

Esta dimensão individual e subjetiva atribuída ao discurso vai ser, como veremos a seguir, contestada pela AD que tem como objeto o discurso, considerado como uma instância integralmente histórica e social.

O quadro epistemológico para a AD desenvolvido por Pêcheux apresenta-se como a articulação de três regiões do conhecimento científico: o materialismo histórico como teoria das formações sociais e suas transformações, aí compreendida a teoria das ideologias; a lingüística, como teoria dos mecanismos sintáticos e dos processos de enunciação ao mesmo tempo, e a teoria do discurso, como teoria da determinação histórica dos processos semânticos.

A AD recusa, desde o primeiro momento, “qualquer metalíngua universal supostamente inscrita no inatismo do espírito humano, e de toda suposição de um sujeito intencional como origem enunciadora de seu dizer” (Pêcheux,1997a, p.311). Porém, foi só a partir do refinamento e, conseqüentemente, a postulação do primado da alteridade, que o sujeito do discurso passa a ser compreendido como um sujeito atravessado pelo inconsciente.

Uma das maiores influências no trabalho de Pêcheux foi a teoria marxista de ideologia de Althusser (1998), na qual ele destaca a autonomia relativa da ideologia de uma base econômica, e a sua significativa contribuição para a reprodução ou transformação das relações econômicas. Ele afirma que a ideologia ocorre em formas materiais e atua através da constituição das pessoas como sujeitos sociais, fixando-os em posições-sujeito e dando-lhes, ao mesmo tempo, a ilusão de serem agentes livres. Esses processos ocorrem em várias instituições como a família, a lei, a escola,  que são, segundo o autor,  elementos do ‘Aparelho Ideológico do Estado’.

Segundo (Pêcheux, 1983), o sujeito caracteriza-se por dois esquecimentos: no esquecimento um, o sujeito tem a ilusão de que é o criador absoluto do seu discurso, a origem do sentido, apagando tudo que remeta ao exterior de sua formação discursiva; no esquecimento dois, o sujeito tem a ilusão de que tudo que ele diz tem apenas um significado que será captado pelo seu interlocutor. Há o esquecimento de que o discurso caracteriza-se pela retomada do já dito, tendo o sujeito a ilusão de que sabe e controla tudo o que diz (Pêcheux e Fuchs, 1997, p.168-9).

Pêcheux dá uma grande contribuição aos estudos lingüísticos ao desenvolver a idéia de que a linguagem é uma importante forma material da ideologia. Na sua análise do discurso, ele procura demonstrar os embates ideológicos que ocorrem no funcionamento da linguagem e a existência da materialidade lingüística na ideologia.

Fazendo referência a Nietzsche, ele diz que “todo fato já é uma interpretação”, demonstrando que não temos a perspectiva de essência de um contato com o objeto ou com o outro sem mediação, seja ela qual for. Assim, a linguagem não pode ser compreendida como um sistema significativo fechado, sem relação com o exterior, devendo ser compreendida a partir do contexto histórico-ideológico dos sujeitos que a produzem e que a interpretam. Pêcheux diz, ainda, que é necessário “suspender a posição do espectador universal como fonte da homogeneidade e interrogar o sujeito paradigmático, no sentido kantiano e também no sentido contemporâneo do termo” (Pêcheux, 1983, p.32). Dessa forma, ele não só rejeita a noção kantiana de sujeito consciente que controla os sentidos que produz, como também relativiza a concepção de sujeito inconsciente, que é disperso, descentrado, como é atualmente entendido em AD. Isto aponta para uma importante questão nessa área, pois, considerando que as relações entre inconsciente e ideologia não estão, hoje, bem delineadas, é preciso que se relativize as relações entre a Psicanálise e a AD, pois quando optamos por trazer conceitos de uma área para outra, precisamos ter em mente até que ponto isso não fere o que é a proposta da disciplina.

O autor afirma que “todo enunciado é intrinsecamente suscetível de tornar-se outro, diferente de si mesmo, se deslocar discursivamente para derivar para um outro” (Pêcheux,1983, p.53), o que é significativo para a AD, pois o sentido não é compreendido como uma unidade fixa, já que é histórico e, por isso, pode deslizar-se para outro.

Algumas Análises do Discurso para ilustração, sem a sequencia de escolas e datas.



Vinícius de Moraes um marco na linguagem subjetiva: 

Vinícius sabia perseguir o tempo sem perder o passo. Ninguém poderia imagina-lo por exemplo, tomando o chá das cinco, engravatado e triste, na Academia Brasileira de Letras. Teve porém, um pacto fechado com a imortalidade, em cada um de nós. Drummond disse certa vez: "Vinícius é o único poeta brasileiro que viveu como um poeta". Ele vivia intensamente e era de sua vida que arrancava a poesia. Quanto mais veloz era a vida, mais numerosos os parceiros, mais envolventes as mulheres, melhor sua poesia. Essa multiplicidade emprestava ao poeta e letrista aquela imagem de que ele não acabaria nunca. Uma força, e uma coragem impar de sua alma. A imortalidade.

Vinícius, segundo Castello (1994), se levarmos em consideração o temperamento dionisíaco e extremamente "quente" do compositor, percebe-se que os aspectos emocionalmente contidos da bossa nova não se harmonizam com sua imagem de boêmio e apaixonado por todas as informações que vêm dos mais diferentes redutos, dos refinados aos populares, ao trocar o status de poeta erudito pela condição de letrista popular, o que faz desde os anos 50, quando passa a ter mais contato com os músicos populares, Vinícius não busca um meio- termo; aliás, a moderação não é percebida em sua personalidade nem em seus discursos como pessoa pública e como eterno apaixonado pela vida. Procura, pelo contrário, entrar em profunda comunhão com a linguagem e a companhia pouca "elevada", dos sambistas, se comparadas com o mundo da diplomacia, onde atuava, e o dos poetas livrescos.     


Vinícius de Moraes se tornou um marco, não só como poeta que é, mas no grande letrista que se transformou, enriquecendo a música popular brasileira, com seu lirismo. Seguia sua intuição à risca. Para ele, poetas não deviam temer a sua intuição, sob pena de trair aquilo mesmo que os constitui. Poetas não devem evitar esses estados de contemplação gratuita em que, à sua revelia e muitas vezes contra seus próprios pensamentos, muitas sentimentalidades e miragens transcendentes sobre o amor e sobre a vida, passam.

Logo, percebe-se que Vinícius sabia respeitar a sua própria cegueira, às vezes quase estupidez, que deu lastro a tantas de suas criações. Ia pelo faro, e o seu instinto fundido a sua sensibilidade aguçada lhe dizia que: "de repente não mais que de repente (...)" a poesia não estava mais nos livros, mas em barzinhos apertados, em rodas de violão, em esquinas, apartamentos, e por que não no meio da rua e na beira-mar, onde rapazes e moças até então desconhecidos se deixavam guiar pelo coração, resplandecendo as emoções únicas que o ato de amar, apaixonar favorecia para que o lirismo, o ser amante se legitimasse dentro do organismo social.

Em suas composições, com toda sutiliza de poeta, é perceptível algumas contradições, favorecidas pelos mitos e folclores da diferença que vestem os gêneros. Por isso, podemos encontrar em Vinícius vários momentos em que o poeta encontra-se em desafio com ele mesmo. São diferentes os prismas que colocam o amor em diversas instâncias de superioridade, ampliando-a ao conceito de poesia, retirando a restrição que havia nos gêneros literários para que a poesia seja o mundo real. A amplitude de Vinícius tem estar em fazer a conexão entre a fraqueza humana e aos mistérios majestosos guardados nas miudezas do cotidiano, de seu apelo as emoções (Cf LYRA, 1983).

Para o homem Vinícius a poesia era tão vital que ela seria o retrato de sua vida. Como todo indivíduo, ele está envolvido por instituições, regras sociais e morais que definem o comportamento, o ato de pensar e até mesmo os sonhos, e todos nós, sem exceção, crescemos acreditando como certo, são os valores que interiorizamos e em paradoxo desejos e fantasias que não fazem parte da matemática social. Era o poeta da encruzilhada e o poeta nas encruzilhadas (Cf CASTELO, 1994).

Vinícius de Moraes
Uma significação objetivada - A Poesia Viva
Vinícius de Moraes - Fotomontagem ArtCulturalBrasil
Todo indivíduo, segundo Beger & Luckman (2002), passa por dois processos de socialização: primário (valores institucionais apreendidos na infância) e o secundário que requer indagação e a atividade social em diversos grupos em que há formação de estilo de vida, desenvolvimento da percepção críticas subjetiva e objetiva do sujeito inserido no organismo social se transformando em membro da sociedade.

Segundo Castello (1994), Vinícius foi um homem que viveu para se ultrapassar, para se entregar totalmente as emoções e aos momentos, para compartilhar sentimentalidades, momentos e palavras, para jogar com as ilusões e com a credulidade. Um ser apaixonado e, por isso, um indomável pelas regras sociais. Pode-se perceber a tamanha relação que existe o homem Vinícius com suas experiências no percurso que ele mesmo traça para si. Este sujeito ativo é considerado um marco na alta-modernidade, transbordando vivacidade e emoções nos versos; sua identidade é formada, a partir do momento, que ele, com toda sua singularidade, entende a importância dos diferentes significados que ele apreende com as relações que ele mantém nos grupos que passa a pertencer - com toda sua necessidade de viver intensamente cada pessoa, sentimento e palavra - durante o processo de socialização secundária.

Assim, em princípio, uma ação e seu sentido podem ser apreendidos a partir do desempenho individual e dos vários processos subjetivos que a eles se associam. Dessa forma, Vinícius teve a sociedade como uma realidade subjetiva e objetiva, que apresentara o seguinte significado: estar em sociedade é participar da dialética da sociedade e foi isso que ele fez durante sua vida.

Dele disse Carlos Drumond de Andrade in Castello (1994):

Vinícius é o único poeta brasileiro que ousou viver sob o signo da paixão. Quer dizer, da poesia em estado natural (...) eu queria ter sido Vinícius de Moraes.

Quando deixa a poesia de gabinete em segundo plano e abandona a diplomacia, ele passa a ser considerado como o grande letrista e fundador do estilo musical, que é conhecido hoje, como MPB. Além disso, passa a Ter a vida como grande aliada para estar borboleteando entre amores e viagens, parcerias e madrugadas, dor e saudade, boêmia, muitos e diversificados amigos e algumas doses de uísque. Experiências que iriam fomentar a sua inspiração e transformá-lo no primeiro letrista que expressara em suas linhas, a poesia em forma de música, que tem uma singular característica, a existência de homens e mulheres claramente definidos e que estão em sintonia com a expressão amorosa independentemente dos atributos dos papéis sociais. O amor era a única instituição verdadeiramente universal.

CONCLUSÃO

Há, entre as realidades, uma que se apresenta como sendo a realidade por excelência: a da vida cotidiana, onde os signos e sistemas de sinais apreendidos são dotados de significados para o sujeito que participa ativamente ou como observador da interação social.

A vida cotidiana é, sobretudo, a vida com linguagem, e é por meio desta que se torna possível a interação social e consequentemente a formação das diversas representações sociais. A compreensão e desmistificação da apreensão da linguagem a priori verbal e seus significados é feita através da análise de discurso.

A linguagem, como instrumento de comunicação entre os atores sociais, intensifica a interação social e, de certa forma, dispõe - para a objetivação das experiências vivenciadas pelos indivíduos - uma sedimentação de conhecimento que é, em todos os instantes, interpretado de acordo com tais experiências, extraindo diferentes significações. Desse modo, a linguagem é decisiva para que se possa interpretar e dar sentido as objetivações apresentadas - de acordo com as experiências vivenciadas.

Sendo os universos simbólicos produtos históricos da atividade humana, eles são construídos segundo uma cultura e podem vir a ser modificados através de ações dos seres humanos. Este fato se deve à realidade social e culturalmente definida por sistemas de sinais e seus respectivos significados.

A formação da identidade social se processa a partir das representações sociais. A identidade pode ser considerada como um produto derivado da dialética do indivíduo com a sociedade em que vive. Deduz-se que a diversidade de identidade é provocada pelo vasto universo simbólico, base da realidade sócio-cultural. Dessa forma, a teoria sobre a formação da identidade social e de sua apropriação de significação está relacionada com o universo simbólico por meio da linguagem.

Para Vinícius de Moraes a realidade é pura poesia; por isso percebe-se que os seus limites são ultrapassados pelas palavras dotadas de significações que tratam da subjetividade humana e que demonstram a relação que o indivíduo mantém entre o mundo de suas emoções implícitas com a sua vida cotidiana.

A dialética entre o indivíduo e o mundo socialmente construído está sempre em transformação, na qual o ser humano é sujeito ativo, pois produz a realidade social por meio da linguagem e suas diferentes conotações - com as diversas significações apreendidas na e pela construção social da realidade. Vinícius de Moraes e José Antonio de Souza Jacob, nesse processo, tornam-se desbravadores que utilizam a poesia como instrumento de trabalho para desmistificar as atribuições de papéis sociais, a partir das experiências que eles compartilham com as diversas relações que mantêm durante a sua vida, dentro do contexto sócio-cultural em que viveu Vinícius e vive o poeta mineiro José Antonio Jacob.

É fato que para se entender a realidade da vida diária dos indivíduos é necessário levar em consideração as diversas atribuições de significados e interpretações dos sistemas de sinais. A investigação dos fundamentos do conhecimento da vida cotidiana realizada por meio da linguagem constrói as objetivações dos processos de significados e o mundo intersubjetivo individual e coletivo. A realidade sempre é apresentada com uma dialética que tem como característica principal a objetividade e a subjetividade que os símbolos e a própria linguagem têm dentro do organismo social. Isso se deve ao fato de existir na vida cotidiana uma continua interação e comunicação, em que há compreensão das objetivações e subjetivações da organização social.

A realidade da vida diária aparece com campos infinitos de significações de modo geral mas limitada quando comparada a outras realidades. Dentro desta relação, a linguagem aparece como meio de interpretação, comunhão de conhecimento e fornece à realidade uma distinção entre os grupos que, juntos, formam a estrutura da sociedade.

Isso se deve ao fato de a análise de discurso permitir a tradução das experiências que pertencem à vida diária e suas diversas relações sociais ordenadas e organizadas, dentro de um campo de apropriações de significados em que se tem a linguagem verbal como principal instrumento de comunicação entre todos os membros do organismo social. É o que se vê e sente em “Veritas”

José Antonio Jacob - Foto ArtCulturalBrasil-2011

VERITAS
(José Antonio Jacob)


Um dia ela voltou mais sorridente,
Emudecendo as vozes dos fuzis
E misturou-se ao povo, como a gente,
Na praça pública do meu país...

Ainda que essa igualdade comovente
Passasse em nossa vida por um triz,
(Pois que tudo se foi tão de repente)
No chão da pátria penetrou raiz...

Mas vai distante o aroma dessas flores...
Aonde caminha a paz o mal a espreita,
(Mas onde estão os frutos da colheita?)
Ah! Satã montou seu circo de horrores!

E o fez com “lobo em pele de cordeiro”
Que não se vexa de nutrir seus filhos
Com os parcos recursos maltrapilhos
Da miséria do povo brasileiro.

Sacode o Berço Esplêndido e civil,
Depura o chão da nódoa da cobiça;
Que ferva o sangue nobre da Justiça
No coração valente do Brasil!

Não tarda o solavanco do revés...
- Levanta Justiceira! Ergue teu busto!
Empunha o gládio por causa do justo
E esmaga essa impostura com teus pés!






Drummond - Imagem da internet

Os poemas de Drummond, embora escritos no século passado, ainda repercutem por possuírem características contemporâneas. Neste trabalho, procuramos mostrar como as categorias de análise do discurso dialogismo, intertextualidade, heterogeneidade constitutiva e mostrada – se fazem presentes na obra literária, sustentando o pressuposto bakhtiniano de que um texto sempre se constrói a partir de outro. Verificamos, de forma bastante explícita, a influência de algumas poesias de Drummond sobre produções contemporâneas. Os textos trabalhados não foram e nem serão os únicos inspirados por Drummond, pois o autor é apreciado, não somente por poetas consagrados, mas também por poetas desconhecidos que, às vezes sem saber, citam versos do autor em meio a multidão. A cada dia, nasce uma nova obra, fruto da semente fértil deixada por outro autor, que trilhou o caminho do texto literário num momento anterior ao presente. Linguagens - Revista de Letras, Artes e Comunicação ISSN 1981-9943 Blumenau, v. 3, n. 2, p. 164-175, mai./ago. 2009 

O objetivo deste trabalho foi demonstrar como a ANÁLISE DE DISCURSO serve como base para outras ciências humanas com o estudo do universo simbólico, que difere de sociedade para sociedade, e forma uma estrutura sólida para a produção de representações sociais e para a construção social da realidade por meio de atribuições de significados.

Contudo, a função principal da sátira, é a arma de denuncia, de critica a valores e comportamentos prescritos pela sociedade, que se busca derrubar, no intuito do estabelecimento de uma nova ordem. Vê-se, pois, que se trata de um instrumento de denuncia e uma operação seria que desmascara nossos defeitos individuais e sociais.

E é com o estilo satírico que desenvolveremos um estudo mais direcionado a Gregório de Matos, ele que pretendia, através da sátira, manifestar explicitamente o funcionamento dos discursos do poder. Em seus poemas utiliza de elementos como a "malandragem", "plágio", "imoralidade", "adultério", "inveja", "racismo", "realismo", "furto", "repúdio", "libertinagem" e "promiscuidade". Portanto, partiremos para a análise deste discurso satírico de Gregório de Matos, no seu poema torna a definir o poeta os maus modos de obrar na governança da Bahia, principalmente naquela universal fome de que padecia a cidade.

Que falta nesta cidade?................Verdade (1)
Que mais por sua desonra?...........Honra (2)
Falta mais que se lhe ponha..........Vergonha. (3)

O demo a viver se exponha, (4)
Por mais que a fama a exalta, (5)
numa cidade, onde falta (6)
Verdade, Honra, Vergonha. (7)

Quem a pôs neste socrócio?..........Negócio (8)
Quem causa tal perdição?.............Ambição (9)
E o maior desta loucura?...............Usura. (10)

Notável desventura (11)
de um povo néscio, e sandeu, (12)
que não sabe, que o perdeu (13)
Negócio, Ambição, Usura. (14)

Quais são os seus doces objetos?....Pretos (15)
Tem outros bens mais maciços?.....Mestiços (16)
Quais destes lhe são mais gratos?...Mulatos. (17)

Dou ao demo os insensatos, (18)
dou ao demo a gente asnal, (19)
que estima por cabedal (20)
Pretos, Mestiços, Mulatos. (21)

Quem faz os círios mesquinhos?...Meirinhos (22)
Quem faz as farinhas tardas?.........Guardas (23)
Quem as tem nos aposentos?.........Sargentos. (24)

Os círios lá vêm aos centos, (25)
e a terra fica esfaimando, (26)
porque os vão atravessando (27)
Meirinhos, Guardas, Sargentos. (28)

E que justiça a resguarda?.............Bastarda (29)
É grátis distribuída?......................Vendida (30)
Que tem, que a todos assusta?.......Injusta. (31)

Valha-nos Deus, o que custa, (32)
o que El-Rei nos dá de graça, (33)
que anda a justiça na praça (34)
Bastarda, Vendida, Injusta. (35)

Que vai pela clerezia?..................Simonia (36)
E pelos membros da Igreja?..........Inveja (37)
Cuidei, que mais se lhe punha?.....Unha. (38)

Sazonada caramunha! (39)
enfim que na Santa Sé (40)
o que se pratica, (41)
é Simonia, Inveja, Unha. (42)

E nos frades há manqueiras?.........Freiras (43)
Em que ocupam os serões?............Sermões (44)
Não se ocupam em disputas?.........Putas. (45)

Com palavras dissolutas (46)
me concluís na verdade, (47)
que as lidas todas de um Frade (48)
são Freiras, Sermões, e Putas. (49)

O açúcar já se acabou?..................Baixou (50)
E o dinheiro se extinguiu?.............Subiu (51)
Logo já convalesceu?.....................Morreu. (52)

À Bahia aconteceu (53)
o que a um doente acontece, (54)
cai na cama, o mal lhe cresce, (55)
Baixou, Subiu, e Morreu. (56)

A Câmara não acode?...................Não pode (57)
Pois não tem todo o poder?...........Não quer (58)
É que o governo a convence?........Não vence. (59)

Que haverá que tal pense, (60)
que uma Câmara tão nobre (61)
por ver-se mísera, e pobre (62)
Não pode, não quer, não vence. (63)
(Gregório de Matos¹)

Gregório de Matos - Imagem da internet


Analisar o poema gregoriano exige um olhar critico e observador. É necessário compreender as figuras de linguagem, a mensagem e as formas como as palavras vêm arrumadas no poema. De inicio, o título do poema é instigante, causa no leitor uma estranheza por ser um pouco extenso. Este, porém, revela uma característica única do autor, que vem satirizando de forma aguda o governo estabelecido na Bahia, bem como, as autoridades religiosas, os militares e o "povão" em geral.

Neste poema, há uma critica óbvia à promiscuidade e a libertinagem (versos 46 a 49), ao racimo (18 a 21), imoralidade (versos 11 a 14), assim como também, à incompetência e à desonestidade. Por meio de falsas perguntas, para as quais o poeta oferece respostas, Gregório vai decompondo o interior da organização social. Este procedimento parece dar um certo didatismo², reforçado pelo processo de disseminação e recolher, muito comum na poesia barroca. Primeiro, as palavras se disseminam, se dispersam para depois serem recolhidas, reunidas num mesmo verso. Assim, cria-se um tom conclusivo no final das estrofes. Conclusão que abrange desde morais (verdade, honra, vergonha) e abstratos até os motivos concretos da degradação desde valores (negócio, ambição, usura) e seus principais agentes: pretos, mestiços, meirinhos, guardas, etc.

Neste poema, o mundo presente é insatisfatório, corroído pela inversão de valores. O honesto é pobre; o ocioso triunfa; o incompetente manda. O racismo e a libertinagem são representados de maneira inversa: o racismo pela ascensão do negro e a libertinagem pelo declínio do clero. No discurso satírico de Gregório, os termos "negros", "mulata", "puta", "mestiços", etc., aplicam-se também como metáforas estereotipadas, como caracterização pejorativa e insulto.

 Como vemos, do alto da pirâmide social à "rale", dos donos do poder aos mestiços, todos são responsáveis pela universal fome que padecia a Bahia. As estrofes se assemelham do ponto de vista das rimas, quando nos três primeiros versos são rimas horizontais; nos quatro restantes, rimas verticais; e de sua disposição gráfica: estrofes de três versos seguidas de estrofes de quatro versos, sendo o último um conjunto de sete versos que compõe cada esquema duplo de estrofes.


Que falta nesta cidade?................Verdade         Rimas horizontais
Que mais por sua desonra?...........Honra 
Falta mais que se lhe ponha..........Vergonha. 

O  de mo a  vi  ver  se ex po nha, 
Por mais que a fama a exalta,          Rimas verticais (opostas)
numa cidade, onde falta 
Verdade, Honra, Vergonha.

Em termos de conteúdo, as estrofes também se assemelham: do abstrato para o concreto (verdade, honra, vergonha... negócio, ambição, usura), dos tipos sociais às instituições, do povo néscio a El-Rei, Gregório de matos vai decompondo a organização de uma sociedade barroca baiana. A coloquialidade da linguagem, o uso de termo "de baixo calão", o tom de oralidade e principalmente a arrasadora critica que faz às desigualdades mostra como é forte o discursos satírico de Gregório, um poeta ligado as questões sociais e publicas, que também defende momentos melhores para sua terra, a Bahia.

Portanto, o discurso satírico de Gregório serve para criticar os costumes e preconceitos de uma sociedade e muitas vezes, a critica feita a comportamentos explícitos ou encobertos, pode-se transformar em uma denuncia a atos dissimulados que contrariam a ordem e as normas humanas.

No que se refere à teoria de Sartre (2004), conclui-se que o poeta é engajado sim, e Gregório de Matos e Guerra caminhou por essa linha de engajamento. Por isso mesmo ele foi um homem amado e odiado. Numa antítese tipicamente barroca, ele andou pelas trevas, mas também conheceu a luz, tudo em busca de uma poesia feita para o OUTRO. Assim, fica o mito eternizado e o Cânone brasileiro Gregório de Matos e Guerra.

NOTA:

¹ GUERRA, Gregório de Matos e. Torna a definir o poeta os maus modos de obrar na governança da Bahia, principalmente naquela universal fome de que padecia a cidade. IN: MENDES, Cleise Furtado. Senhora Dona Bahia: poesia satírica de Gregório de Matos. Salvador: EDUFBA,1996. p: 54 e 55.

Castro Alves - Fotomontagem ArtCulturalBrasil
Castro Alves, influenciado pelo poeta francês Victor Hugo, como todos da fase de 1850 a 1870, assumiria uma retórica altaneira, cheia de antíteses e hipérboles, abordando temas sociais e políticos. Mas o hugoanismo, termo tirado do nome do poeta francês, passou a denominação de condoreirismo, conforme sugeriu Capistrano de Abreu, devido à sua inspiração tão profunda quanto à altura do vôo do condor, símbolo da América do Sul nos Andes. A retórica condoreira já estava presente nas páginas de Tobias Barreto et alii, mas Castro Alves foi bem mais representativo, porque se definiu de modo pragmático, embora não tivesse sido o introdutor do tema do escravo na poesia brasileira. Na poesia abolicionista, o poeta de A Cachoeira de Paulo Afonso (1876) se apresenta fecundado por sincera adesão a uma causa social e humanitária de caráter atual e dá expansão ao seu talento de orador.

Embora tenha tido ampla vertente lírica dentro do Romantismo, ressaltemos dele apenas as suas características do espírito reformista, sua fé e sua liberdade criadora, tão presentes na coletânea Os Escravos (1883), que reúne, além de O Navio Negreiro eVozes d’África, outros poemas abolicionistas.

O Brasil, na segunda metade do século XIX, convive com o tráfico de escravos, embora tenha sido proibido pela Lei Eusébio de Queirós de 1850, mas ainda havia resistência política da elite agrária escravocrata para emperrar o processo da Abolição, que só chegaria em 1888. O pensamento abolicionista e as idéias republicanas crescem contra o governo monárquico. É nesse contexto que surge a poesia grandiloqüente de Castro Alves, como arma poderosa na defesa dos ideais libertários.

O Navio Negreiro foi declamado por Castro Alves em 1868, em São Paulo. São dezoito anos após a Lei Eusébio de Queirós. Mas pergunta-se: será que ainda ouvimos ou lemos notícia de trabalho escravo ainda hoje no Brasil do século XXI? Ou o homem ainda continua a ser aquilo que Plauto disse em sua peça Asinaria, v.495, quando o mercador afirmou que não podia dar dinheiro a um desconhecido porque, enquanto desconhecido, já que Lupus est homo homini non homo, o homem é lobo, e não homem, para outro homem? A expressão plautina parece se inspirar no provérbio: Homo homini lupus, o homem é um lobo para outro homem.

Nil sub sole novum, nada há de novo sob o sol.(Eclesiastes, Prólogo, na tradução da Vulgata) Podemos recuar de novo no tempo: Nil admirari, não se admirar de nada (Horácio, Epistolas 1,6,1). Ou seja, sabemos bem que o homem sempre quis eliminar a tirania ou o despotismo, desde que ele seja o senhor da situação.

Este poema está divido em seis partes. Na primeira envolve-se o leitor numa navegação que ignora o próprio subtítulo do poema:Tragédia no Mar. O poeta aí observa a beleza da natureza. Com recorrência a mecanismos semânticos em relação a hipérboles, metáforas, antíteses, ritmos, que incluem - além da rima, a aférese: ‘Stamos em pleno mar... cuja intenção, embora formal, note-se a manutenção do verso decassílabo, conquista o receptor e o persuade pela reincidência; assim, a iteração ou repetição é uma regra para gerar construções discursivas, como o é também a contração e as crases, embora aqui sejam apresentados exemplos abaixo colhidos em Vozes d’África, vale a pena a digressão ao tema, porque são bem típicos do estilo de Castro Alves. Estão respectivamente nos parênteses: Quan(doeu) passo no (Saa) (raa)mortalhada; ou mesmo a sua pontuação.

O Navio Negreiro é um discurso poético fundado na redundância de múltiplos traços, que não se esgota na simples interpretação ou indicação de metáforas, hipérboles, ritmos ou observação do seu estilo de pontuação.

Ainda na primeira parte, o ouvinte ou o leitor está diante de decassílabos, retomados a cada estrofe com o quase hemistíquio ‘Stamos em pleno mar... E desse modo, se vê num ambiente antitético, mas surpreendentemente compatível com os seus sentidos:Embaixo – o mar... em cima – o firmamento... Como se a imensidade do painel, enfatizado por expressões que denotam grandeza as vagas marítimas, o incomensurável firmamento, astros, dois infinitos, contaminasse nossos sentidos com a visão do condoreirismo do poeta. Elementos estes que ele diz ser plácidos, sublimes, música suave, livre poesia..., e não devem dar espaço a nenhuma navegação, muito menos se esta for escorregadiça, como é o doudo cometa.

Mas navegar é preciso, por isso, o poeta, que mantém o discurso em primeira pessoa como se estivesse presente, quer compartilhar da viagem do veleiro brigue e insiste curiosamente com pedidos exclamativos, indagações, sem sucesso e nem retorno. Pede, então auxílio, criando, neste momento, um símbolo condoreiro: Albatroz! Albatroz! dá-me estas asas... Aqui, surge uma figuração poética, como na Autopsicografia, de Fernando Pessoa (ele-mesmo), no sentido de:

O poeta é um fingidor,
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.

Tal lugar é dimensionado pela hipérbole, contida na iteratividade de expressões, que conotam grandeza, pois ele passa a mencionar a imensidade, o sem fim a ponto de poder existir até dois infinitos. Tudo imbricado em antíteses, como Qual dos dois é o céu? Qual é o oceano?...

Porém, vamos cotejar esta parte com a quinta. Descobriremos nesta comparação uma oposição entre a paisagem que nos foi descrita até agora e a da quinta parte, que é o mar poluído pelo crime. Este novo momento é aquele em que há Tanto horror perante os céus..., este borrão, loucura ou verdade. A primeira parte dá impressão contém a suave paisagem, como já se disse, e até concordamos com algumas edições do poema, que circulam por aí e registram a expressão majestade não escrita por Castro Alves. O que é uma pena, pois, se poderíamos interpretar esta primeira parte como um painel majestoso. Vejamos (CHEDIAK, 2000):

Bem feliz quem ali pode nest’hora
Sentir deste painel a majestade!...

Mas o manuscrito de Castro Alves registra:

Bem feliz quem ali pode nest’hora
Sentir deste painel a imensidade!...

Além disso, na quinta parte, Castro Alves invoca a maior entidade do universo e tal apóstrofe se insere no seu estilo de hipérbole:Senhor Deus dos desgraçados! e pede em outra apóstrofe que o mar, local primordial, um espaço de ação in illo tempore, naquele tempo, cheio de mistério e de convulsões, como tufão e onde tudo desaba Astros! noite! tempestades!, para que, pela instância do poeta, apague tudo, até o brigue imundo, como ele o chama lá pelo final do poema.

Também nesta parte cinco há o que se pode denominar de poli-isotopia, cuja tensão advém de metáforas, antíteses, ainda hipérboles, sempre que o poeta tenta descobrir Quem são estes desgraçados e, como não pode faltar a repetição, marcadora de um ritmo, ele enfatiza com a pergunta: Quem são?... A interrogação é uma das principais marcas de linguagem humana. Desde tenra idade o homem identifica o mundo através da indagação. Pode-se dizer que a pergunta é a base de uma investigação científica. Castro Alves reincide-a em suas múltiplas estâncias, como na primeira estrofe da parte final: mas que bandeira é esta, / Que impudente na gávea tripudia?!...; ou, como na quinta parte:

Ó mar, por que não apagas
Co'a esponja de tuas vagas
De teu manto este borrão?...

Daí, seguem-se descrições por antítese, distribuídas regularmente na alternância de cada estrofe, quer dizer, uma indagará, por exemplo, Quem são este desgraçados, outra alternará: São os filhos do deserto... A tribo dos homens nus; de novo: São mulheres desgraçadas e a outra: Lá nas areias infindas... crianças lindas; mais uma vez: Depois o areal extenso... e Ontem a Serra-Leoa,... Sob as tendas d’amplidão...

Mas o nome da África não é mencionado, mas sempre identificando-a nos guerreiros ousados, tigres mosqueados, homens simples, fortes, bravos... e cá, no Brasil, Hoje míseros escravos, cúm’lo de maldade / Nem são livres p’ra... morrer...

Quanto às reticências, há não a simples lacuna ou supressão de palavras de fácil compreensão, mas o inefável, tão do gosto de uma poesia romântica, com toda a sua significação espiritualizada, a ponto de, na primeira estrofe da última parte, não admitirtanta infâmia e cobardia!...; ou aquela passagem da quinta parte, penúltima estrofe: Ao som do açoite... Irrisão!... Sendo as suas exclamações um suporte ao seu tom de indignação e repúdio ao ato escravocrata.

A leitura da segunda parte, ou seja, a história da marinha no mundo, é uma oposição ao fecho do poema; registra-se, portanto, outra antítese. Assim, Castro Alves distribuiu o compasso de sua antítese entre a primeira e a quinta e a segunda e a sexta, deixando as terceira e quarta partes para a Tragédia no Mar.

O poeta nos faz acreditar historicamente que existiria uma Espanha, uma França, uma Itália ou uma Inglaterra, as potências da época mencionadas por ele, como colonizadoras benevolentes e justiceiras, quando sabemos qual foi o comportamento histórico delas, por exemplo: Montezuma, o último imperador dos astecas, obedecendo a uma lei divina, a hospitalidade, recebeu Fernando Cortez (1485-1547), que, apesar do talento e trabalhos prestados à sua nação e ao mundo, destruiu cruelmente os súditos de Montezuma. Este desgostoso deixou-se morrer de fome em 1520. E por que surgiu o apartheid na África do Sul, senão por causa da ganância humana de descendentes de colonizadores ingleses e holandeses?

E assim, retomando a nossa interpretação, Castro Alves põe em relevo as cantilenas / Requebradas da sensual Espanha, ou a Itália,Terra de amor, ou a predestinação notável da França, bem como a gloriosa Inglaterra. Tudo isso deverá, na sexta parte e logo na primeira estrofe, contrastar com um povo que a bandeira empresta / P’ra cobrir tanta infâmia e cobardia!..., que é o povo brasileiro.

O leitor pode até se distrair e pensar que Castro Alves esteja elogiando a bandeira brasileira, devido ao efeito da cadência alcançada na repetição fônica desta aliteração, que retira do nome Brasil, o conjunto de fonema /b/, /z/, /b/, /z/, /b/, /j/, /b/, /s/, como se a sucção sonorizasse similarmente a um beijo: Auriverde pendão da minha terra, / Que a brisa do Brasil beija e balança. Após esse efeito, segue-se uma metáfora tocante: Estandarte que a luz do sol encerra, / As promessas divinas da esperança...

É bem expressivo o fato de Castro Alves quebrar essa seqüência com um anacoluto. Como sabemos é uma construção interrompida, típica de registro de oralidade. Mas Castro Alves sentiu que o seu amor pela pátria estava superando a ruína moral desse povo diante dos seus olhos e tal sedução ele a rejeitou. Daí, ele se voltar para o Brasil e dizer-lhe:

Tu, que da liberdade após a guerra,
Foste hasteado dos heróis na lança,
Antes te houvessem roto na batalha,
Que servires a um povo de mortalha!...

Observando bem, notamos que tu deveria ser sujeito oracional, mas ficou apenas como antecedente da oração adjetiva e o seu predicado foi eliminado. É interessante que aparecerá como objeto direto da locução houvessem roto, na qual roto está em lugar derasgado, porque o poeta explorou a aproximação existente entre o particípio e o adjetivo. Ou seja, roto vem do latim, pela forma erudita ruptus, -a, -um, que significa rasgar, quebrar. Eis o compromisso do poeta: Andrada! arranca este pendão dos ares! / Colombo! fecha a porta dos teus mares!

A terceira parte é o espanto do poeta. É a descoberta da tragédia que ocorre no tombadilho de um navio negreiro. Na parte que se segue, a quarta, ele a chama de sonho dantesco. Neste passo, as suas palavras nos fazem ver, ouvir, sentir empaticamente, respirar o clima de terror e, na segunda estrofe, repudiar o paladar das crianças, em cujas bocas pretas / Rega o sangue das mães. A posição das palavras na oração confunde o leitor que não procurar distinguir o sujeito oracional. Mas o que quer Castro Alves com isso? Ele quer a expressividade sonoro dos fonemas do ato do chicote estalar, acentuando a crueldade dos marinheiros no sentido das palavras do comandante:

Vibrai rijo o chicote, marinheiros!
Fazei-os mais dançar!...

Quer também imitar, na disposição métrica: ora pela extensão do verso, ora pela alternância de dois decassílabos com seqüência em redondilhas menor, compondo seis estrofes, a própria forma do chicote cruel no ar. Como se este fosse a serpente:

E da ronda fantástica a serpente
Faz doudas espirais...

O capitão é o próprio Satanás: E ri-se Satanás!... Nesta expressão, fica concentrado o repúdio à brutalidade. Só mesmo uma entidade tão maligna poderia praticar tamanha atrocidade. E faz a repetição da própria estrofe, cuja metade é a mesma do início desta parte:

E ri-se a orquestra irônica, estridente...
E da ronda fantástica a serpente
Faz doudas espirais...

A harmonização das repetições, no sentido de bis repetita placent, as coisas duas vezes repetidas agradam, tornou o poema de Castro Alves singular. Soube ele escolher traços semânticos virtuais, amplificando e dramatizando a sua eloqüência condoreira, de modo a redimir o escravo do sentido insignificante e secundário em que estava imerso cotidianamente e elevá-lo à condição romanticamente trágica, impondo de tal modo à atenção daquela sociedade tão acostumada e anestesiada pelo hábito de três séculos de escravidão, que superou a banalização de ser normal nascer escravo e é desse modo pungente que lamenta e rechaça:

Fatalidade atroz que a mente esmaga!
Extingue nesta hora o brigue imundo
O trilho que Colombo abriu nas vagas,
Como um íris no pélago profundo!

Ritmo, como se viu, foi decorrente de movimentos diversos na cadeia do discurso. Em figuras de linguagem, com regularidade nos intervalos, bem como no material fônico, pausa respiratória, entoação etc. Ora, um tique-taque do relógio, um trote da marcha do cavalo ou uma regularidade de som da marcha dos soldados promovem um ritmo. Na linguagem, a rima veio de um compasso de freqüência pela igualdade dos sons em dada posição no verso, em geral no fim, ou seja, foram distribuídos sons idênticos com intervalos regulares, tornando a enunciação mais expressiva.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CÂMARA JR., Joaquim Mattoso. Dicionário de Filologia e Gramática. Rio de Janeiro: J. Ozon, 1968. 409 p.
CHARAUDEAU, Patrick & MAINGUENEAU, Dominique. Dicionário de Análise do Discurso. Tradução de Fabiana Komesu. São Paulo: Contexto, 2004.
CHEDIAK, Antônio José. Castro Alves: Tragédia no Mar (O Navio Negreiro). Cotejo do manuscrito com 63 textos integrais e 5 parciais, no total de 15998 versos. Rio de Janeiro: Academia Brasileira de Letras, 2000. 695 p.
JOTA, Zélio dos Santos. Dicionário de Lingüística. Rio de Janeiro: Presença,
OS DOIS PILARES DO BARROCO NO BRASIL:
PE. ANTÔNIO VIEIRA E  GREGÓRIO DE MATOS

O Barroco no Brasil, apesar da produção de alguns autores, tem como pilar a obra de dois escritores que se  distam pela forma como escrevem e aproximam-se, pelo menos em um momento, pela temática da qual tratam.

Para que possamos compreender essas diferenças e semelhanças, partiremos  da análise da obra de cada um de maneira separada para, em seguida,  contrastarmos as duas. Vale ressaltar que nosso objetivo de comparação, no  presente trabalho, é a composição do discurso religioso dos dois autores e seus objetivos diferentes, pelo menos em alguns pontos.

Pe. Antônio Vieira é, reconhecidamente, um dos maiores pregadores que o Brasil já teve, usando o púlpito  das igrejas nas quais pregava, para espalhar seu pensamento religioso e político. Desde muito cedo, Vieira estava unido ao pensamento jesuítico, tendo entrado com doze anos no seminário jesuíta e ordenado aos dezoito anos de  idade. Sua incrível capacidade de oratória chama a atenção de seus superiores e, aos dezenove anos, começa a dar aulas de retórica no seminário que o formou.

Nesse contexto, percebemos que é a retórica de Vieira que dará a ele reconhecimento e importância dentro de nosso Barroco. Seus sermões, organizados por ele mesmo mais para o final de sua vida, quando recolheu-se ao Maranhão, ganham valor literário  e transformam-se na nossa produção barroca em prosa. A partir desse momento, importa-nos a organização do texto 4 e assim podemos analisar como se organiza, no caso específico de Vieira, seu discurso religioso. O discurso de Vieira era organizado dentro do que chamamos, em análise do discurso, de paranética, ou seja, a como se constrói o discurso religioso. De maneira geral, o pregador parte do chamado prólogo, que por sua vez divide-se em tema, intróito e invocação, quando se apresenta, explica-se e pede-se um auxílio sobrenatural aos céus para o tratamento do tema a ser tratado e justifica-se a escolha da passagem bíblica que será usada como base da pregação. Em seguida, temos a  argumentação, na qual o pregador apresenta os exemplos bíblicos e insere argumentos que fundamentem seu pensamento. Em Vieira, era comum  a aproximação, nesse momento, da realidade, a qual seria  criticada em busca de  melhora. Por fim, a peroração buscava persuadir os ouvintes de suas idéias e finalizar o sermão.

Destas características apresentadas, interessa-nos a utilização da palavra de Deus, a Bíblia, com suas parábolas e histórias, como fundamento do sermão, algo que será repetido, mesmo que de maneira inversa, na obra de Gregório de Matos. A presença da palavra divina serve como o é até hoje, como legitimadora dos ditos de seu locutor, ou seja, ao usar a palavra de Deus como recurso argumentativo, o autor tem seus ditos como que divinizados, mostrados como palavras do próprio Deus.

Esse expediente aparece constantemente nos sermões de Vieira, como no da Sexagésima, quando o sacerdote discorre sobre o próprio ato da pregação, da retórica, utilizando-se da  parábola do semeador como fonte inspiradora: A definição do pregador é a vida e o exemplo. Por isso Cristo no Evangelho não o comparou ao semeador, senão ao que semeia. Reparai. Não diz Cristo: saiu a semear o semeador, senão, saiu a semear o que semeia:  Ecce exiit, qui seminat, seminare. Entre o semeador e o que semeia há muita diferença. Uma coisa é o soldado e outra coisa o que peleja; uma coisa é o governador e outra o que governa. Da mesma maneira, uma coisa é o semeador e outra o que semeia; uma coisa é o pregador e outra o que prega. O semeador e o pregador é nome; o que semeia e o que prega é ação; e as ações são as que dão o ser ao pregador. Ter o nome de pregador, ou ser pregador de nome, não importa nada; as ações, a vida, o exemplo, as obras, são as que convertem o Mundo. O melhor conceito que o pregador leva ao púlpito, qual cuidais que é? – o conceito que de sua vida têm os ouvintes (VIEIRA, 1655). 5

Considerações finais: realmente aparece, por meio de comparações, como aquilo que dará fundamento ao pensamento de Vieira. Além da legitimação das idéias do pregador, podemos perceber que os interlocutores, como participantes da religião Católica, seriam mais facilmente persuadidos com essa utilização. Vieira, no próprio Sermão da Sexagésima afirma que a pregação deverá fundamentar-se na palavra de Deus, para que tenha raízes profundas. Outro exemplo dessa utilização, essa com um intuito político mais claro, encontramos no  Sermão da Epifania, no qual Vieira discorrerá acerca da modificação do acordo entre jesuítas e colonizadores, que previa que os índios, depois de educados e catequizados durante seis meses, deveriam servir nas lavouras por período igual. Sua intenção, neste sermão, é mostrar que a mudança pretendida pelos colonizadores, a de aumentar o tempo de serviço dos índios na lavoura, não era tão rentável quanto pensava a metrópole.

É do conhecimento de todos, a simpatia que o Padre tinha pela defesa do gentio e dos escravos, utilizando-se, sempre que possível, do púlpito como bancada de defesa, quase jurídica, dessas duas etnias. Claro que essa defesa era construída de forma a não atacar ou voltar-se contra os interesses da metrópole, sendo montada, por parte de  Vieira de maneira diplomática e política.

No referido sermão, Pe. Antônio Vieira usa do nascimento de Cristo para fundamentar sua idéia, lembrando aos seus interlocutores que, quando os reis magos vieram visitar o grande rei,  esses não voltaram para suas terras destituídos de realeza. Mais uma vez a palavra divina aparece sendo a base do discurso, mesmo que com um objetivo tão político: (...) porque devendo defender os gentios que trazemos a Cristo, como Cristo defendeu os Magos, nós, acomodando-nos à fraqueza do nosso poder e à força do alheio, cedemos da sua justiça, e faltamos à sua defesa (...). Cristo não consentiu que os Magos perdessem a soberania, porque reis vieram e reis tornaram: e nós não só consentimos que aqueles gentios percam a soberania natural com que nasceram e vivem isentos de toda a sujeição; mas somos os que sujeitando-os ao jugo espiritual da Igreja, os obrigamos, também, ao temporal da coroa,fazendo-os jurar vassalagem. Finalmente, Cristo não consentiu que os Magos perdessem a liberdade, porque os livrou do poder e da tirania de Herodes, e nós não só não lhes defendemos a liberdade, mas fizemos pacto com eles, por eles, como seus curadores, que sejam meio cativos, obrigando-os a servir alienadamente a metade do ano (...) (Vieira, 1951)

Nosso outro autor de destaque é Gregório de Matos Guerra que, segundo Bosi (1994), é o primeiro poeta brasileiro de grande valor, ultrapassando Anchieta que tem, em sua obra, muito mais importância na representação do início, do que na qualidade literária de sua obra. Gregório de Matos, doravante GM, será aqui  visto como grande representante do pensamento confuso e mesclado do homem barroco, além, é claro, de ser visto como um autor plural, que conseguiu, com suas sátiras, suas poesias líricoamorosas, filosóficas e religiosas,  escrever um quadro, quase pintado, da realidade do homem seiscentista.

Sua pena, que não poupava ninguém, rendeu-lhe a alcunha de “Boca do inferno”, fazendo com que, de maneira até certo ponto errônea, sua obra ficasse marcada pela crítica e pela falta de “papas na língua”.

Apesar disso, muito ainda se precisa saber acerca das outras vertentes de sua obra. Uma dessas vertentes interessantíssimas, por ser um retrato metafísico do homem, é a poesia religiosa de GM, que demonstrava a confusão e a divisão do homem barroco. Vale destacar que, diferentemente do que todos podem pensar, o homem barroco não era um homem feliz, pois vivia dividido entre as conquistas do pensamento renascentista e a necessidade de voltar-se para Deus, buscando o perdão de seus pecados.

Esta confusão em GM pode ser melhor entendida se olharmos um pouco para sua biografia. Logo jovem, o poeta mudou-se para Portugal, como era costume entre as famílias mais ricas, para estudar direito em Coimbra, tornando-se doutor em leis. Lá, fez  carreira no governo e gozou de muito prestígio, sendo inclusive, após seu retorno ao Brasil, indicado para ocupar o cargo de Vigário-Geral da ordem Jesuítica na Bahia. De sua biografia, pelo menos para este trabalho, nos importam essas duas informações: o conhecimento do pensamento e do modo de vida europeu, e sua relação direta com a religião, no caso, o Catolicismo.

Essas marcas de sua biografia, segundo Spina (1986), mostram como pôde ele retratar a situação do homem barroco sob a perspectiva do europeu, ainda muito influenciado pelo Renascimento que havia terminado há pouco, fez com que GM, pelo menos nos momentos em que se aproximou do claustro e 7 da reflexão, pudesse voltar-se para si e tentar entender como essa forma de pensar influenciava sua vida e sua postura diante do mundo e de Deus. Ao analisamos a poesia religiosa de GM, podemos perceber duas posturas distintas. Uma busca alertar os homens acerca de sua situação de pecado, e outra na qual se somam características do sátiro, na qual coloca-se como pecador, mas justifica seu pecado pela necessidade de perdão de Deus, como se o que o fizesse ser divino e Senhor fosse a misericórdia e o perdão. A poesia sacra admoestadora é escrita de um ponto de vista universalista e serve de reflexo do eterno contraste entre a carne e o céu, marca do próprio autor que, mesmo ao escrever visando agradar a Deus e a religião, deixa marcas de seu pensamento confuso e cultista.

Um bom exemplo desse primeiro tipo de composição poética é o poema abaixo:
CONTINUA O POETA COM ESTE ADMIRÁVEL
 A QUARTA FEIRA DE CINZAS

Que és terra Homem e em terra hás de tornar-te, 
Te lembra hoje Deus por sua Igreja, 
De pó te faz espelho, em que se veja 
A vil matéria, de que quis formar-te.
Lembra-te Deus, que és pó para humilhar-te,
E como o teu baixel sempre fraqueja
Nos mares da vaidade, onde peleja,
Te põe à vista a terra, onde salvar-te.
Alerta, alerta pois, que o vento berra,
E se assopra a vaidade e incha o pano,
Na proa a terra tens, amaina e ferra.
Todo o lenho mortal, baixel humano
Se busca a salvação, tome hoje terra,
Que a terra de hoje é porto soberano. 

No poema acima, Gregório alerta os homens acerca do comportamento corrente, no qual é comum a maior  valorização dos bens terrenos, em detrimento daquilo que vem do alto, da religiosidade. Nele, podemos perceber 8 certo tom de sermão eclesial, uma vez que é escrito diretamente para o leitor, em segunda pessoa. Aqui, podemos perceber que o tom do autor é universalista, pois ele não se inclui entre os admoestados. Essa composição serve para ilustrar a idéia de que GM  sente-se, pelo menos em determinado momento, impelido a ser comunicador da salvação. 

Outro aspecto que merece destaque é a temática comum ao Barroco, que sempre que possível traz à tona a idéia do aproveitamento consciente dos bens terrenos, evitando que o homem, influenciado pelo pensamento humanista, deixe-se levar pela vaidade e pelo desejo de posso, tão comumao capitalismo mercantil.

Outro bom exemplo dessa intenção admoestadora de GM é o poema “Juízo Final”, transcrito abaixo: 

O alegre do dia entristecido,
O silêncio da noite perturbado
O resplandor do sol todo eclipsado,
E o luzente da lua desmentido!
Rompa todo o criado em um gemido,
Que é de ti mundo? onde tens parado?
Se tudo neste instante está acabado,
Tanto importa o não ser, como haver sido.
Soa a trombeta da maior altura,
A que a vivos e mortos traz o aviso
Da desventura de uns, d'outros ventura.
Acabe o mundo, porque é já preciso,
Erga-se o morto, deixe a sepultura,
Porque é chegado o dia do juízo.

No poema acima, mais uma vez GM toma a palavra de Deus, no caso o Apocalipse de João, capítulos 8 e 9,  como base e inspiração para a poesia, que também tem objetivo admoestador e universalista. Outra faceta da obra de GM, citada anteriormente, é a que soma características sacras com características satíricas, quando o eu lírico posiciona-se como pecador, mas chantageia Deus em busca da aplicação de sua misericórdia. Neste ponto, a poesia  constrói-se também sobre histórias bíblicas, mas, dessa vez, essas  aparecem de outra forma, não como legitimadoras das idéias do autor, mas sim como base para a chantagem do eu lírico. Um bom exemplo é o texto abaixo:

Pequei, Senhor, mas não porque hei pecado, 
Da vossa alta clemência me despido;
Porque quanto mais tenho delinqüido,
Vos tenho a perdoar mais empenhado. 
Se basta a vos irar tanto pecado,
A abrandar-vos sobeja um só gemido:
Que a mesma culpa que vos há ofendido, 
Vos tem para o perdão lisonjeado. 
Se uma ovelha perdida e já cobrada
Glória tal e prazer tão repentino
Vos deu, como afirmais na sacra história, 
Eu sou, Senhor, a ovelha desgarrada,
Cobrai-a; e não queirais, pastor divino,
Perder na vossa ovelha a vossa glória. 

No texto acima, percebemos que, mais uma vez, o eu lírico usa a história bíblica, no caso a parábola da ovelha perdida, na qual Jesus fala do amor do pastor por suas ovelhas, principalmente por aquela que está perdida. O eu lírico coloca-se como a ovelha perdida e constrói seu discurso colocando, em Deus, a necessidade de resgatá-lo, e, como diz o próprio autor, não “perder na vossa ovelha a vossa glória”. 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A referência constante à Bíblia, constante do presente trabalho, deve-se à comparação proposta entre a obra religiosa de Pe. Antônio Vieira e a de Gregório de Matos. Uma análise mais detida das duas mostrará semelhanças, tais como a exortação e a busca por aquilo que é sublime, divino, pois, como vimos anteriormente, o contexto histórico e a realidade cultural brasileira do século XVII traziam em seu cerne a exaltação da vida divina. A partir desta análise, podemos inferir que a boa compreensão das obras de Gregório de Matos e de Pe.  Antônio Vieira necessita de uma compreensão bíblica por parte do leitor. Apesar de não ser indispensável, tal conhecimento auxiliará o leitor. Vale ressaltar que  é cerne, na compreensão literária, conhecimentos que extravasem a pura leitura.

O presente estudo, ainda que superficial e potencial, demonstra que a presença de embasamento e conhecimento  bíblico são constantes nas duas obras, apesar de, em Gregório, encontrarmos uma vertente que une a sátira à religiosidade e na obra de Vieira, como era de se esperar, a palavra de Deus é usada como reafirmação da palavra do próprio autor.  

Referências bibliográficas:

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SAUSSURE, F. de. Curso de Lingüística Geral. Trad. A. Chelini et al. São Paulo: Cultrix, 1974.


Analise do Discurso

Realização







Um comentário:

  1. Parabéns pelo excelente trabalho. Seu blogue está listado em "meus favoritos".
    Eliane F.C.Lima (Blogue "Literatura em vida 2")

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