1919
"Sou pequeno e penso em coisas grandes"
Cleonice Rainho nasceu em Angustura, município de Além Paraíba, Minas Gerais, em 15 de março de 1919, mas reside em Juiz de Fora, onde fez os primeiros estudos e bacharelou-se em Letras. É licenciada pela Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Rio de Janeiro. Iniciou carreira literária, colaborando na imprensa juizforana e de outras cidades. Participa de movimentos culturais e literários tanto em seu estado como fora dele. Tem recebido inúmeras premiações em concursos, quer de poesia, quer de prosa. Proferiu diversas conferências sobre temas referentes à educação, às letras e à cultura brasileira, não só em seu país, como em Portugal e na África. Publicou entre outros: Terra Corpo sem Nome (1970), Vôo Branco (1979), Intuições da Tarde (1990), Verde Vida (1993), O Palácio dos Peixes (1996), O Linho do Tempo (1997), Poemas Chineses (1997) e Liberdade para as Estrelas (1998). Participou de antologias nacionais e internacionais. Momento Chinês Do Rio Amarelo tiro o sol e os frutos do meu pomar. Do Rio Vermelho, a chama que me aquece a inspiração. Do Rio Azul tiro a calma e minha espiritualidade transcende. Deixo os verdes cotidianos na paisagem livre. Soneto Branco A Dnar Rocha O branco iluminando os quadros fez o soneto sem métrica sem rimas - branco, só o ritmo regendo o real na sintonia das forças criadoras. Equilibra-se a composição, vigiados os moldes por vertical silêncio, mas a geometria em sensibilidade salta e inquieta se move a fluidez das cores. Um ser em ascenção transcende das molduras nas auras de Beleza das tardes vermelhas, na visão do mundo que oferece o pintor. E ao sol dos sonhos vislumbrados vivem suas naturezas mortas - vivem fosforescendo júbilos de mágica emoção. Juiz de Fora O Paraibuna vomita a treva das noites nervos e sangue escorrendo grosso no vale de valores Artelhos articulam a dimensão do Homem que solta as pontas do dia. RAINHO, Cleonice. Terra Corpo sem Nome. Rio de Janeiro: Livraria São José, 1970. Vôo Branco. Rio de Janeiro: José Olympio, 1979. Intuições da Tarde. Rio de Janeiro: José Olympio, 1990. Verde Vida. Rio de Janeiro: José Olympio, 1993. O Palácio dos Peixes. Rio de Janeiro: Memórias Futuras, 1996. O Linho do Tempo. Rio de Janeiro: Sette Letras, 1997. Poemas Chineses. Brasília: Códice, 1997
Fonte: http://www.funalfa.pjf.mg.gov.br
Infância
Sou pequeno
e penso em coisas grandes:
pomares e mais pomares,
jardins de flores e flores
grama verdinha e bosques,
e asas de passarinhos.
Rios e mares de peixes
— aquários largos e livres
— ar dos campos e praias,
a manhã trazendo o dia
com o sol da esperança
e a noite de sonhos lindos,
nuvens calmas, lua e astros,
minhas mãos pegando estrelas
neste céu de doce infância.
E pelas estradas claras
meu cavalinho veloz
no galopar mais feliz:
— eu e ele sorrindo,
levando nosso cristal
para os meninos do mundo.
A Água
Subterrânea e purificada
por um filtro natural,
a água vem,
jorra nas fontes,
faz gluglu nas torneiras
para nosso bem.
Água de silêncio
dos remansos e lagos,
mar, rio, cachoeira
que se despenha
em borbotões —
força motriz
e energia também.
Na pia batismal,
no corpo e no campo,
na flor e no fruto,
na seiva e no sumo,
no orvalho e no vinho,
a água
faz leito e caminho
de bela missão.
Angorás
Coelhinhos brancos,
no parque,
correm e brincam.
Ágeis patas,
orelhas alertas,
pontilhando o ar.
Alvíssimos, fofos,
olhos de contas,
sutilizam-se
no verde, veja-os:
Dois coelhinhos
de carícia
e Paz.
Alvo
Companheiro,
vem beber a branca espuma
desse mar de carneiro que me toca
e colher as coisas transitivas
que ora viajam para o meu espírito
Vem ser o obreiro-irmão da cidade azul
onde bordaremos puros capitéis
e aprender os discursos de meu timbre
acertando o alvo de alvas direções
Vem abrir comigo este pombal
sentir o que do traço das asas subsiste
a envolver-nos nos fios desta tarde
em que a Paz se oferece como pão.
in Intuições da Tarde / José Olympio Editora.
A Borboleta Azul
Nosso jardim é uma festa
de borboletas:
pequenas e grandes,
listradas,
amarelas e pretas
e uma pintadinha
que é uma graça.
Mas a azul, azulzinha,
a preferida,
é como se fosse
minha filhinha:
vi-a nascer da lagarta,
virou crisálida,
depois borboleta.
Quando voou
pela primeira vez
bati palmas: Vivô!!!
Voa e volta leve,
azul, azulzinha
e pousa num cacho
de rosas brancas
sua casinha.
Às vezes se ajeita,
mansinha,
tomando a forma
de um coração.
Seu corpo sedoso,
macio,
parece vestido
com pano do céu.
A Calçada
A calçada da minha rua,
de pedra portuguesa,
preta e branca, já se vê,
que é bonita é,
mas não dá pra jogar maré
e eu já descobri por quê...
Tem desenhos lindos:
— Uma estrela que lembra luz
e ilumina meus pés
na sandália que reluz;
— um trevo de quatro folhas
que dizem dar sorte...
Será que dá?
Passo sobre ele
prá lá pra cá.
— Um dragão sossegado
porque não é de verdade.
Se fosse, nos dias de chuva,
saltava da calçada
e ia embora na enxurrada.
Pulo sobre ele: Plim... plom... plão!
Ôi, dragão! Não tenho medo, não!
A Floresta
A floresta é fortaleza
de verdes castelos.
Unem-se as copas
em tetos curvos
verde variado, veludo
— abóbada de beleza —
que lenhosas colunas
sustentam.
Farfalha o vento em volta
da folhagem fechada,
onde nem o sol pode penetrar.
Sobem heras,
descem lianas
que se alastram às raízes,
entre musgos e nascentes,
brotando nas sombras.
Mora o silêncio
nas grutas de mistério.
Mas a vida vem,
vem de pios, cicios,
estalos, rumores,
alaridos, zumbidos,
entre mil aromas
de resinas e flores.
A vida vem
dos pássaros que cantam
e dos ninhos pendurados
nos ramos.
ABC da Flor
Flor-abelha
Flor-alegria
Flor-alimento
Flor-amor
Flor-beleza
Flor-borboleta
Flor-colibri
Flor-orvalho
Flor-perfume
Flor-silêncio
Flor-sonho
Flor-vida,
Vida de flor.
A Pipa e o Vento
Aprumo a máquina,
dou linha à pipa
e ela sobe alto
pela força do vento.
O vento é feliz
porque leva a pipa,
a pipa é feliz
porque tem o vento.
Se tudo correr bem,
pipa e vento,
num lindo momento,
vão chegar ao céu.
...
Atual
...
Só hoje descobri Cleonice Rainho - como é possível? A sua Poesia é belíssima, tocante, enfim, maravilhosa! Ilona Bastos
ResponderExcluirBoa tarde, estou com dúvida na tarefinha da minha filha sobre o poema VAIVEM - Pergunta: Qual o assunto tratado no poema? Aguardo por favor, obrigada
ResponderExcluirEstimada leitora
ExcluirSolicitamos deixar nome e e-mail para receber resposta.
Atenciosamente,
ACB