Página Maria Granzoto
Editora de Literatura Brasileira ArtCulturalBrasil
Arapongas - Paraná
Quanto Tempo nos Resta?
(José Antonio Jacob)
Nossa vida é uma história mal contada,
Uma vaga novela incompreendida...
Para alguns é um feliz conto de fada,
Para outros uma lenda indefinida.
Vivemos de alvorada em alvorada,
(Que tempo ainda nos resta nessa vida?)
A dar sorrisos largos na chegada
E a lamentar a perda na partida.
Que bom matar o tempo numa rede,
Se ele nos desse a viva eternidade
De um quadro pendurado na parede...
E, enquanto a vida passa e o tempo avança,
Quanta tristeza vai numa saudade,
Quanta alegria vem numa esperança!
...
O Título
Nossa vida é uma história mal contada,
Uma vaga novela incompreendida...
Para alguns é um feliz conto de fada,
Para outros uma lenda indefinida.
Vivemos de alvorada em alvorada,
(Que tempo ainda nos resta nessa vida?)
A dar sorrisos largos na chegada
E a lamentar a perda na partida.
O primeiro terceto
Que bom matar o tempo numa rede,
Se ele nos desse a viva eternidade
De um quadro pendurado na parede...
O último terceto
E, enquanto a vida passa e o tempo avança,
Quanta tristeza vai numa saudade,
Quanta alegria vem numa esperança!
...
Foto ArtCulturalBrasil José Antonio Jacob 2011
Conclusão
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O Título
“Quanto Tempo nos Resta?” É uma interrogativa que todos nós deveríamos nos fazer! Mas o que é, afinal, o tempo? Nem mesmo eu sei responder, ainda que já tenha vivido tanto (ou pouco?) tempo! Então vamos à pesquisa sobre tão interessante temática abordada neste soneto do poeta José Antonio Jacob! É preciso saber do que se fala, como e para quem! O tempo sempre foi tratado como um conceito adquirido por vivência, indefinível em palavras. A concepção do tempo tem sido muito discutida desde o início da cultura ocidental, até hoje. Parmenides (530 - 460 a.C.) defendia o ponto de vista de que todas as transformações que observamos no mundo físico resultam da nossa percepção, isto é, de um processo mental. Elas, de fato, não ocorreriam. A realidade para Parmenides seria ao mesmo tempo indivisível e destituída do conceito de tempo. Um dos discípulos de Parmenides, Zenon de Eleia (505 - ? a.C.), apresentou alguns paradoxos sobre o tempo, dos quais o mais famoso é aquele do corredor Aquiles e da tartaruga. Esses paradoxos tinham a intenção de questionar o conceito de tempo. No caso de Aquiles e a tartaruga, Zenon procura provar que o movimento é impossível se o tempo puder ser subdividido indefinidamente em intervalos cada vez menores.
O paradoxo consiste no seguinte: o corredor Aquiles persegue uma tartaruga. Os dois iniciam o movimento num determinado instante de tempo. Para cada distância percorrida pelo corredor a tartaruga avançaria certa distância. Por exemplo, quando o corredor atingisse o ponto do qual a tartaruga partiu ela já estaria a uma outra distância. Quando o corredor atingisse essa distância a tartaruga estaria numa outra posição. E assim por diante. Não seria pois possível ao corredor alcançar a tartaruga. Este paradoxo tem solução!
Platão (427 - 348 a.C.) afirmou que o tempo nasceu quando um ser divino colocou ordem e estruturou o caos primitivo. O tempo tem, portanto, de acordo com Platão, uma origem cosmológica.
Platão procura estabelecer a distinção entre o "ser'' e o "não ser''. O mundo do "ser'' é fundamental e não está sujeito a mutações. Ele é, portanto, eternamente o mesmo. Este mundo, entretanto, é o mundo das idéias, apreensível apenas pela inteligência e pode ser entendido utilizando-se a razão. O mundo do "não ser'' faz parte as sensações, que são irracionais, porque dependem essencialmente de cada pessoa. Para Platão este mundo é irreal.
O domínio do tempo estaria nesse segundo mundo, assim como tudo o que se observa no universo físico, tendo assim uma importância menor. Talvez possa ser dito que para Platão o tempo essencialmente não existe, uma vez que faz parte do mundo das sensações.
A filosofia oriental parece ter sustentado que o tempo, bem como o espaço, são construções da mente humana.
Aristóteles considerava importante o mundo observado e entendia a noção do tempo como intrínseca ao Universo. Na filosofia aristotélica o mundo existia na forma de seu modelo cosmológico geocêntrico (a Terra estática no centro dos outros astros) desde sempre. Aristóteles, como a maioria dos pensadores gregos da época, não acreditava na idéia de um momento inicial da criação do Universo, que foi dada para o mundo ocidental pela tradição judaico-cristã.
Esta questão de tempo cíclico ou não cíclico, portanto, aparece como uma das questões relativas às características do tempo desde as origens da ciência ocidental. Esta idéia apareceu naturalmente em função dos inúmeros fenômenos periódicos na Natureza: as marés, as estações sazonais, os dias sucedendo as noites, e assim por diante. Esses fatos conhecidos desde as civilizações mais antigas, sendo evidentes fenômenos cíclicos, levaram as civilizações primitivas, bem como os pensadores da Antigüidade a imaginarem que o tempo também seria circular, ou seja, a Natureza evoluiria de forma a se repetir.
O tempo cíclico dos gregos derivava também da idéia de perfeição, sempre presente na filosofia natural grega. Essa mesma idéia os induziu à escolha do círculo, uma figura perfeita, para a trajetória dos corpos celestes. Em seu "Física'' Aristóteles afirma que "existe um círculo em todos os objetos que tem um movimento natural. Isto se deve ao fato de os objetos serem discriminados pelo tempo, o início e o fim, estando em conformidade com um círculo; porque até mesmo o tempo deve ser pensado como circular".
Outros pensadores, os estóicos, acreditavam que sempre que os planetas voltassem à sua posição original, a qual seria o início do tempo cósmico, o Universo recomeçaria de novo. Muitas e muitas vezes, portanto.
Os Maias da América Central acreditavam igualmente num tempo cíclico. A história se repetiria depois de um período de 260 anos, o lamat dos Maias.
A idéia de um tempo linear, sem retornos, parece ter sido defendida apenas pelos hebreus e os persas zoroastras. Essa filosofia foi incorporada pelos cristãos.
Os cristãos introduziram a crença em acontecimentos únicos, como por exemplo, a crucificação e ressurreição de Cristo. Estes fenômenos não se repetem. Também o apocalipse descreve o fim de um mundo, indicando que haverá o encerramento de um ciclo que não se repete mais.
No século IV, Santo Agostinho respondia à indagação sobre o que é o tempo da seguinte forma: ``se ninguém mo perguntar, eu sei; se o quiser explicar a quem me fizer a pergunta, já não sei''.
O mesmo filósofo cristão, Santo Agostinho, divagou sobre o conceito do tempo nos seguintes termos: "ouvi dizer a um homem instruído que o tempo não é mais do que o movimento do Sol, da Lua e dos astros. Não concordei!!! Porque não seria antes o movimento de todos os corpos? Se os astros parassem e continuasse a mover-se a roda do oleiro, deixaria de haver tempo para medirmos as suas voltas? Não poderíamos dizer que estes se realizam em espaços iguais, ou, se a roda umas vezes se movessem mais devagar, outras depressa, não poderíamos afirmar que umas voltas demoravam mais, outras menos?''
A questão da realidade do tempo levou vários filósofos a elaborarem idéias a respeito da mesma. Para Kant (1724-1804), por exemplo, o tempo, apesar de ser essencial como parte da nossa experiência, é destituído de realidade: "tempo não é algo objetivo. Não é uma substância, nem um acidente, nem uma relação, mas uma condição subjetiva, necessariamente devida à natureza da mente humana.''
Uma possibilidade, para essa teoria do subjetivismo do tempo é negar a sua realidade. Essa negação se encontra em trabalhos de filósofos tão antigos quanto Parmenides e Platão, como mais recentes como Hegel (1770-1831) e Spinoza (1632-1677). Tendo em vista que a Literatura é uma leitura de mundo de quem escreve e de quem lê o que está escrito, considero de suma importância os fundamentos da filosofia, em especial, para melhor entendimento do intrínseco da temática que os autores abordam, neste caso, o tempo. Rematando o parágrafo, cito o verso de outra poesia de Jacob, “Resposta ao Passado”, em sextilhas, onde o poeta aparta com simplicidade uma frase de Platão e coloca no seu poema o seguinte verso: “O tempo é a eternidade que se move”, que é um límpido raciocínio poético desenvolvido na Doutrina tomista, apoiado no platonismo, que afirma: “O tempo é a imagem móvel da eternidade imóvel”. Ora, sendo a eternidade imóvel, Deus não existiria na concepção tomista. Eis o primeiro dos cinco argumentos que para Tomás de Aquino demonstram a existência de Deus:
(1) O "primeiro motor imóvel": o movimento existe, é evidente aos nossos sentidos. Ora, tudo aquilo que se move é movido por outra força, ou motor. Não é lógico que haja um motor, outro e outro, e assim indefinidamente; há de haver uma origem primeira do fenômeno do movimento, um motor que move sem ser movido, que seria Deus.
O primeiro quarteto
Uma vaga novela incompreendida...
Para alguns é um feliz conto de fada,
Para outros uma lenda indefinida.
Aí está contemplado o pensamento de Platão! “O mundo do "ser'' é fundamental e não está sujeito a mutações. Ele é, portanto, eternamente o mesmo. “Este mundo, entretanto, é o mundo das idéias, apreensível apenas pela inteligência e pode ser entendido utilizando-se a razão.” Mas quem nos conta mal essa história? Nós mesmos! Nossa vida nos é dada por Deus. E a partir do momento em que entramos neste mundo, começamos a viver a nossa história, a nossa “novela”! Só que não atuamos sozinhos, embora sejamos o personagem central. Existem os coadjuvantes ( pais, irmãos, cônjuges, filhos, amigos... )! Assim construímos a nossa “vaga novela”: um conto de fadas, conforme o nosso imaginário ou circunstâncias de vida ou como “lenda indefinida”, isto é, algo que só existe na imaginação. E a lenda nada mais é que uma narrativa fantasiosa transmitida pela tradição oral através dos tempos. De caráter fantástico e/ou fictício, as lendas combinam fatos reais e históricos com fatos irreais que são meramente produto da imaginação humana. Com exemplos bem definidos em todos os países do mundo, as lendas geralmente fornecem explicações plausíveis, e até certo ponto aceitáveis, para coisas que não têm explicações científicas comprovadas, como acontecimentos misteriosos ou sobrenaturais (“uma lenda indefinida...”) As lendas, normalmente, eram repassadas oralmente de geração a geração, mas sofreram alterações à medida em que foram sendo recontadas. Atualmente, as lendas não são apenas orais, mas também escritas.
O segundo quartetoVivemos de alvorada em alvorada,
(Que tempo ainda nos resta nessa vida?)
A dar sorrisos largos na chegada
E a lamentar a perda na partida.
O problema é que o passado não está mais aqui, o futuro ainda não chegou e o presente voa tão rápido que parece não ter extensão alguma. Aliás, se o presente só surge para virar passado, não daria pra dizer que o tempo é uma caminhada rumo à não-existência? Assim pensava Santo Agostinho sobre a questão temporal. Foi assim que a natureza deu para não deixar que tudo acontecesse de uma vez só. “Uma ilusão. A distinção entre passado, presente e futuro não passa de uma firme e persistente ilusão.” (Albert Einstein)
Não há fluxo. Os eventos, independentemente de quando ocorram, simplesmente existem. Todos existem. Eles ocupam para sempre o seu ponto particular no espaço-tempo. Se você estava se divertindo a valer no réveillon, você ainda está lá, pois esta é uma das localizações imutáveis do espaço-tempo. “A chegada” e “os sorrisos largos” poderão representar o nascimento, a descoberta de um amor, de uma amizade sincera e” a perda na partida” que lamenta, a morte, o abandono, a decepção. Mas são espaços de tempo. São hiatos da vida. No entanto, perenes, porque permanecem no espaço-tempo de nossas vidas. As “alvoradas” se repetem, mas o tempo em que cada uma acontece, não!
O primeiro terceto
Que bom matar o tempo numa rede,
Se ele nos desse a viva eternidade
De um quadro pendurado na parede...
Nunca conseguiremos “matar o tempo”, por mais que queiramos. A “viva eternidade” física do ser é completamente diferente do quadro na parede, assim como as pirâmides do Egito. Onde estão os faraós? Então, o que ficará “ad eternum” será aquilo que realizarmos enquanto vivermos o tempo que a cada um é reservado. Se nada fizermos, nada deixaremos. Nem mesmo um simples quadro na parede... Dessa forma, “matar o tempo” é a própria anulação de si, é o nada. É pensar ter vivido, mas já ter nascido morto! Paradoxos do ócio no tempo! Cada segundo cético vivido sem propósito, bandeira ou causa, afasta-nos cada vez mais da vida em plenitude O tempo "ocioso" é um tempo perigoso...Mas ao homem é dada a liberdade de escolher (ou não) seus caminhos, de imergir nas suas escolhas: a imersão é marcada também por mudanças na concepção de tempo: em competições, "segundos valem ouro"; no cinema, "momentos produzem emoção" (DaMatta 1991:42), a passagem de dias, meses ou anos é representada em segundos. O tempo [da produção escrita de um poema, de estudo], especialmente de um soneto tão profundo e admirável quanto este, pode ser medido em horas - minutos de estudo, de pensares - ou sentido, por exemplo, do corpo na rede, no corpo que cansa. O tempo da leitura de um poema de Jacob é percebido de formas diversas conforme o envolvimento daquele que é atingido pela reflexão. Um poema pode ser longo, demorado e até interminável quando não se está envolvido; é veloz, intenso, "passa" rápido para aquele que imergiu. Assim, aprendi que não somos isolados na vida, quando lemos um poema, ainda que queiramos viver em solidão! O que acontece, de fato, é exatamente o contrário. É o tempo quem nos mata a todos, sem exceção.
O último terceto
E, enquanto a vida passa e o tempo avança,
Quanta tristeza vai numa saudade,
Quanta alegria vem numa esperança!
...
Vivemos em tempo de urgência e enquanto ficamos parados esperando que um futuro maravilhoso chegue até nós deixamos passar o presente insubstituível que temos agora. Lembro aqui do que disse Amália Rodrigues, a maior cantora de fado de Portugal:
”Quando eu era jovem, tinha um sonho: queria possuir um par de sapatos. Não consegui. Hoje, depois de velha e doente, tenho quinhentos ou mil pares, se quiser. Porém, não tenho mais pernas para andar. De que me adiantam, pois, os sapatos agora”.
Ilustra muito bem os dois últimos versos! Este presente momento estático do instante contínuo que permanece e muda sem se alterar enquanto se transforma, se conservando nesta transformação e se transformando nesta conservação, a isto chamamos tempo, e nada mais!
Conclusão
Não sabemos quanto tempo existimos nem como medir o tempo que passou porque a definição dos anos, meses e dias é insignificante para qualquer outro fim que não seja o horário laboral e os aniversários, ano após ano. Não sabemos quanto tempo temos nem como habitaremos esse tempo. Não sabemos quantos sucumbirão a ele perante o nosso olhar inconformado, nem de que modo nem em que lugar ou circunstância. Não sabemos quando o corpo irá recusar a eterna juventude que lhe queremos impor e se assumirá cansado, marcado pelo tempo que passou e da forma como passou.
Não sabemos onde estaremos com quem partilharemos o tempo por vir. As tempestades, as pestes, os pesadelos, o medo e o contrário de tudo isto – se a vida for generosa e o tempo auspicioso. Não sabemos da sua (ir) reversibilidade.
Sabemos muito pouco daquilo a que decidimos chamar Tempo. Ele é precioso e a nós só é permitido usá-lo. Digo só usá-lo porque nunca saberemos “Quanto Tempo nos Resta?”! Poeta José Antonio Jacob, Obrigada pela partilha deste soneto ímpar que nos leva a profundas reflexões sobre a vida e o tempo!
REFERÊNCIAS
. José Maria Filardo Bassalo em vários textos intitulados "Nascimentos da Física", publicados na Revista Brasileira de Ensino de Física, em vários números dos vols. 17 a 20.
. Mário Schenberg em "Princípios da Mecânica (Tese de Cátedra) - Introdução à História da Ciência (Curso)"; editado pelo CEFISMA do Instituto de Física da USP
. Moysés Nussenzveig - Curso de Física Básica - 1 - Mecânica; Editora Edgard Blucher Ltda (1981).
. Nivaldo de Carvalho em "A filosofia Medieval, o Renascimento e a Filosofia Moderna"; São Paulo (1997).
SILVA, Franklin Leopoldo. 2000. "Tempo: realidade e símbolo". Sexta feira - Antropologia, Artes, Humanidades, 5:81-88.
. Timothy Ferris em "O Despertar na Via Láctea - uma história da astronomia", Editora Campus (1990).
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