1934 - 1993
...
..."...faço questão de morrer em Juiz de Fora"
Daltemar Cavalcanti Lima nasceu no dia 11 de Julho de 1934, no Rio de Janeiro, e morreu em 05 de março de 1993, em Juiz de Fora.
Figura das mais queridas e populares da noite juiz-forana morreu aos 58 anos vítima de parada cardíaca.
Lima, como era chamado pelos amigos, marcou sua presença entre nomes de destaque da cultura da cidade e catalogava entre suas amizades a do Presidente Itamar Franco, que lhe tinha uma grande admiração pelo jeito simples, amoroso, amigo e leal, era conhecido como" O Poeta da Madrugada".
Seu último livro "Ainda", lançado em maio de 1992, recebeu elogios do Presidente Itamar Franco.
O poeta, que tinha a noite como testemunha de sua vida, por ironia morreu às 3 horas da manhã.
Querido por personalidades, intelectuais, artistas, empresários, e até mesmo por marginais, era um cidadão comum, sensível, de bom humor. Jamais se dispôs a tirar proveito próprio de seus relacionamentos. Seu caráter simples não lhe permitia intimidade profissional acima da afetividade amistosa da amizade.
Carioca, iniciou carreira nos anos 50, como operador de som da Rádio Metropolitana - RJ, prosseguindo como cronista de turfe de vários jornais do Rio de Janeiro e depois repórter policial.
Teve uma breve passagem pela Rede Globo com o programa "Estado do Rio na TV”. Sempre esteve envolvido nas campanhas eleitorais de Itamar Franco, associando-se mais tarde a poetas, trovadores, compositores e músicos, "para expandir meus arrependimentos através da poesia".
A famosa “mesa do espelho" no restaurante brasão, em Juiz de Fora, era o lugar preferido de seus encontros com os amigos mais próximos, invariavelmente, todos os dias.
Podemos citar entre seu círculo de amizade boemia em Juiz de Fora os poetas: Roberto Medeiros, José Antonio Jacob, Gilberto Vaz de Melo, Carlos Décio Mostaro, Messias da Rocha, Hegel Pontes, Dormevilly Nóbrega, Marcos Nunes, a amiga Janete Batista, a cantora Raquel Silvestre, os compositores e poetas Roberto e Ricardo Barroso, Jorge Alves, Mamão, entre outros. Uma de suas últimas declarações aos amigos foi essa: “Como nasci no Rio de Janeiro, faço questão de morrer em Juiz de Fora. "Minha maior paixão não é ser poeta, não é ser jornalista como sou. “Ela se chama Medicina, porque trabalha com o material mais caro da natureza: a vida humana”.
(arquivo artculturalbrasil)
Poeta da Gema
Por José Antonio Jacob
“Daltemar Cavalcanti Lima, carioca de nascença, poeta da gema, chegou a Juiz de Fora por volta de 1968, numa época em que a cidade preparava um dos seus tradicionais festivais de MPB. Em pouco tempo o Lima integrou-se no meio intelectual, com os poetas do NUME (Núcleo Mineiro de Escritores) tornando-se, desde então, eminente presença em todas as rodas de poesia, música e política da época. Tornou-se amigo do prefeito Itamar Franco, além de todo grupo da administração municipal. Tratava o futuro presidente da república pelo primeiro nome.
Itamar, que sempre incentivou as iniciativas culturais, tornou-se amigo do Lima e alguns afirmam que - em virtude de sua precária condição financeira - lhe foi oferecido cargo de confiança na prefeitura, ao qual o poeta rejeitou, alegando incompatibilidade no fuso horário entre seus afazeres de poeta e a nova responsabilidade que teria de assumir.
Assim, prosseguiu sua vida de boêmio e de poeta, e adotou Juiz de Fora sua cidade natal. Nunca mais viajou, tampouco arredou pé dos bares do centro da cidade, nunca mais!... Era a Época de Ouro da cultura juiz-forana, onde fervilhavam a cultura poética e a arte musical, a cultura popular e erudita, além de muitas conversas políticas, que para o Lima eram “pratos cheios” em suas observações de poeta nato.
Lima publicou - com tiragem pequena e selo independente - uma série de três ou quatro livros.
Nos arquivos culturais da prefeitura de Juiz de Fora nada se comenta sobre a poesia do Lima – na Fundação Cultural Alfredo Ferreira Lage – FUNALFA - pouco se menciona nome de outros poetas e escritores juiz-foranos, a não ser o do consagrado e internaconal poeta Murilo Mendes.
Uma alma fácil e dócil, jamais pronunciou palavra de mal estar ou ergueu sua voz contra o semelhante. Nenhuma manifestação crítica, maledicente ou de insinuação negativa, o Lima pronunciou em sua vida. Também não escreveu palavras ásperas e nem participou de movimento de caráter subjetivo contra outra pessoa.
Uma alma fácil e dócil, jamais pronunciou palavra de mal estar ou ergueu sua voz contra o semelhante. Nenhuma manifestação crítica, maledicente ou de insinuação negativa, o Lima pronunciou em sua vida. Também não escreveu palavras ásperas e nem participou de movimento de caráter subjetivo contra outra pessoa.
Ele não comentava sua vida passada, a não ser que havia nascido no Rio de Janeiro. Nunca disse a ninguém seu ano de nascimento, nem o dia do seu aniversário, e só fui saber que tinha família no dia de sua morte, quando sua irmã Djanira veio do Rio para tomar providencias preliminares no seu velório e depois do enterro foi embora sem dar mais notícias. Foi sepultado no Cemitério Municipal de Juiz de Fora, em cova desconhecida, sem lápide, sem inscrição, com nenhuma referência ao seu nome.
Logo depois da morte do Lima o então vereador de Juiz de Fora, poeta Gilberto Vaz de Melo, apresentou projeto de Lei mudando o nome da Praça General Emílio Garrastazu Médici para "Praça Poeta Daltemar Cavalcanti Lima". O projeto não foi sancionado pelo Custódio de Matos que era o prefeito da época . Somente depois de quase uma década, com novo prefeito, o projeto foi sancionado, pois que o Gilberto usou dispositivos legais para fazer cumprir seu projeto de Lei.
Ainda hoje, decorridos 16 anos, a praceta do bairro Bom Pastor continua sendo conhecida por "Pracinha do Bom Pastor", ainda que haja no local uma acanhada plaqueta com o nome do poeta, colocada pela prefeitura.
No seu primeiro livro "Acuado", lançado em maio de 1979, o Lima imprimiu a seguinte dedicatória na página de rosto:
"Dedico este livro a JUIZ DE FORA que me recebeu e me acolheu com carinho e liberdade humana para viver como sempre quis."
O poeta não poderia imaginar o descaso das futuras administrações municipais.
Em março de 1993, na véspera de sua morte, de tardinha, encontrei casualmente o Lima na galeria do Bar do Beco, em Juiz de Fora. Ele estava à mesa de um bar: cabisbaixo e com as pernas cruzadas. Bebemos alguns goles e conversamos amenidades poéticas até o anoitecer, quando ele se levantou e se despediu.
Ainda guardo na memória a imagem do Lima se afastando, caminhando - calmo e elegante - rumo ao destino da sua manhã seguinte.”
Juiz de Fora, 07 de setembro de 2009
José Antonio Jacob
(exclusivo de ArtCulturalBrasil)
Acuado
( Daltemar Cavalcanti Lima)
Naquela esquina, não passo.
Alguém vai me inquirir,
Não vou responder
Tudo que sei do que fiz.
Também não. Naquela rua, não ando.
Vão me intimidar,
Não vou corresponder
Nem pra ser feliz!
Naqueles bares, não entro...
No convite à bebida,
Posso vacilar,
Tenho que segredar a razão das reações.
Minha liberdade é pequena,
Tem o tamanho de uma dívida
Cerceada pela cobrança.
Gostaria de viver escondido
Entre o colchão e a cama,
Sem respirar, com receio
Da procura que não se cansa.
Qualquer “psiu”
Me identifica.
Paro e olho instintivamente,
É a conspiração do medo.
É a vontade de fugir
Que me faz parado...
Alguém vai me inquirir,
Não vou responder
Tudo que sei do que fiz.
Também não. Naquela rua, não ando.
Vão me intimidar,
Não vou corresponder
Nem pra ser feliz!
Naqueles bares, não entro...
No convite à bebida,
Posso vacilar,
Tenho que segredar a razão das reações.
Minha liberdade é pequena,
Tem o tamanho de uma dívida
Cerceada pela cobrança.
Gostaria de viver escondido
Entre o colchão e a cama,
Sem respirar, com receio
Da procura que não se cansa.
Qualquer “psiu”
Me identifica.
Paro e olho instintivamente,
É a conspiração do medo.
É a vontade de fugir
Que me faz parado...
Até agora só falei de amor.
( do livo Acuado - 1979)
...
Viagem
(Daltemar Cavalcanti Lima)
(Daltemar Cavalcanti Lima)
Fiz uma terraplenagem em minha vida
e desapareceram
todas lombadas que o amor deixou.
Nos trechos sinuosos das indecisões
coloquei um sinal de perigo
às minhas pretensões.
Determinei ao meu sonho
que não ultrapassasse
a velocidade máxima da ilusão.
Na passagem de nível
construí viadutos
para evitar o choque
com a mediocridade.
Nas curvas em declive
e em aclive
não saí da mão da consciência.
Tive o cuidado
de alertar a distração dos transeuntes
que se preocupam erroneamente
com minhas despreocupações.
Nos trevos
das minhas variações mentais
semáforos
me pedem atenção
por aqueles
que apreciam meus desfeitos.
Jamais
joguei nos abismos e acostamentos
quem sempre me estendeu as mãos...
são os que nunca usaram retrovisores
para me olhar de frente!
Na vaga
do meu último estacionamento
os silvos me homenageiam,
não há multas a pagar...
Só espero o troco
dos pedágios
que paguei para viver.
( do livo Acuado - 1979)
...
Alvará
(Daltemar Cavalcanti Lima)
Tenho licença
para ficar comigo,
libertar o sonho antigo
e ouvir o silêncio
(entre gritos e apelos)
do indiferente
que é a própria gente.
Com licença
para fingir sentir
a dor que não é minha,
o lamento que não é meu,
na saudade vizinha.
Dê licença
para viver criança,
ter um pouco de esperança
de meu amanhã.
( do livo Acuado - 1979)
...
Eu - Para mim
(Daltemar Cavalcanti Lima)
Busco, fingindo fugindo,
a intimidade perdida
dos teus afagos e apegos
- minha emoção incontida.
Subo degraus movediços
da indecisão do reencontro.
Escada de teu descanso
no meu crescente cansaço.
Quero o teu amor alheio,
perdido no meu ideal
e na razão de teu anseio
de requinte social.
E esse desespero febril
traz-me uma intrepidez hostil
que nunca irá esquecer
porque - nunca haverás de saber.
( do livo Acuado - 1979)
...
Desviver
(Daltemar Cavalcanti Lima)
Não desvivo. É inverdade.
Apenas externo repúdio interno
pela desigualdade.
Se a fome não faz meu apetite
nem por isso se admite
que eu não queira comer.
Se meu sono quer dormir
e não consegue deitar,
creia:
não sou leito
para o seu mal-estar.
Quero mulheres
(para não falar de amor).
Quero atenções
(para não fingir carinhos).
Quero ouvir canções
nos ouvidos das flores.
Quero mais amigos
para não viver sozinho.
( do livo Acuado - 1979)
...
Sem couvert
(Daltemar Cavalcanti Lima)
Páginas mais acessadas
Páginas mais acessadas
Seu garçom,
Estou subnutrido
E preciso alimentar-me de amor.
Não quero cardápio,
Pois as opções às vezes nos levam
À duvida.
Nem tudo que se escolhe
Satisfaz.
Desejo um PF
Bem temperado de carinho,
Transbordando ansiedades.
Dispenso a presença da faca e do garfo.
Prefiro a colher
Para que possa ter minha boca
Boquiaberta e sentir o paladar
Do molho excitante e ofegante.
Também não quero
Sobremesa sobre a mesa
- ela mudará a digestão do sabor -
de um provável orgasmo mexido.
Digo: um ensopado de calorias.
Seu garçom,
Fale ao dono deste restaurante
- O senhor destino –
Que não tenho dinheiro para pagar.
Afinal, amor não se paga.
Quanto à gorjeta,
Aqui está:
- Minha esperança!
...
Realização ArtCulturalBrasil
artculturalbrasil@gmail.com
Estou subnutrido
E preciso alimentar-me de amor.
Não quero cardápio,
Pois as opções às vezes nos levam
À duvida.
Nem tudo que se escolhe
Satisfaz.
Desejo um PF
Bem temperado de carinho,
Transbordando ansiedades.
Dispenso a presença da faca e do garfo.
Prefiro a colher
Para que possa ter minha boca
Boquiaberta e sentir o paladar
Do molho excitante e ofegante.
Também não quero
Sobremesa sobre a mesa
- ela mudará a digestão do sabor -
de um provável orgasmo mexido.
Digo: um ensopado de calorias.
Seu garçom,
Fale ao dono deste restaurante
- O senhor destino –
Que não tenho dinheiro para pagar.
Afinal, amor não se paga.
Quanto à gorjeta,
Aqui está:
- Minha esperança!
...
Realização ArtCulturalBrasil
artculturalbrasil@gmail.com
Desde mis BLOGS:
ResponderExcluir--- HORAS ROTAS ---
y
--- AULA DE PAZ ----
quiero presentarme
en esta nueva apertura
del eminente otoño.
TE SIGO---ARCULTURALBRASIL---
Tiempo que aprovecho
ahora para desear
un feliz reingreso en
la actividad diaria.
Así como INVITAROS
a mis BLOGS:
--- HORAS ROTAS ---
y
--- AULA DE PAZ ----
con el deseo de que
estos sean del agrado
personal.
Momentos para compartir
con un fuerte abrazo de
emociones, imaginación y
paz. Abiertos a la comunicación
siempre.
afectuosamente :
ARCULTURALBRASIL
jose
ramon…