"Sou de todos os lugares,
menos de mim mesmo"
menos de mim mesmo"
Ricardo do Carmo nasceu no Rio de Janeiro. Escritor, professor de Educação Artística, pós-graduado em Folclore (UFRJ) e Teoria do Teatro (UFRJ).
É autor de poemas, contos, letras de música e um romance premiado pela Biblioteca Nacional. Tem acumulado prêmios literários e este ano foi agraciado com dois prêmios, na 13ª edição do Concurso Literário do Servidor Público do Estado do Rio de Janeiro: 2º lugar, com Até Quinta-feira (conto), e Menção Honrosa, com Atravessando os Arcos (poesia).
As duas obras fazem parte do livro "Servidor das Letras". Participou dos últimos três fóruns de poesia da UFRJ e ano passado foi finalista do Concurso Nacional de Poesia Augusto dos Anjos, em Leopoldina (MG).
Em Minas já recebeu o prêmio Newton Paiva (BH), e Menção Honrosa da Academia de Letras e Artes de Araguari. Foi o 1º colocado no III Concurso Nacional de Poesia em Descalvado (São Paulo -2004) e Menção Honrosa, em Amora (Portugal).
Seu poema Chico Mendes, transformado em poesia visual, faz atualmente grande sucesso na internet.
Acaba de lançar, com sucesso, o Livro e CD Amor de Consumo, o livro com excelente designer gráfico e o CD com poesias declamadas pelo próprio autor.
Quem quiser conhecer mais de sua obra pode buscar no site do autor: http://www.ricardodocarmo.com.br/
buscar no site do autor:
...
CHICO MENDES
Quem é que consegue dormir
com esse assassino rondando a pátria?
Só os ponteiros do relógio,
que em horas como 3 e 15,
4 e 20 e 5 para as 11,
o ponteiro de cima deita sobre o de baixo
no sexo anal-anual-secular dos relógios.
Quem é que consegue dormir
sabendo que o homem está marcado
numerado na conta mortal do latifúndio.
Lá fora premiado,
aqui, alvejado e sua morte
comemorada com um churrasco.
Sua causa era a dos seringueiros
mas seu corpo não era de borracha.
E o mundo segue:
o trem fazendo piuí
o Brasil Piauí
e nós psiiii... silêncio de hospital!
Não era um rio
não era um rei
era um exemplo
um sonho previsto
no manual de instrução
para gente e árvore.
Pena que não exista verde depois da morte
para o morto lutar pelo verde que já morreu!
ATRAVESSANDO OS ARCOS
Só os ponteiros do relógio,
que em horas como 3 e 15,
4 e 20 e 5 para as 11,
o ponteiro de cima deita sobre o de baixo
no sexo anal-anual-secular dos relógios.
Quem é que consegue dormir
sabendo que o homem está marcado
numerado na conta mortal do latifúndio.
Lá fora premiado,
aqui, alvejado e sua morte
comemorada com um churrasco.
Sua causa era a dos seringueiros
mas seu corpo não era de borracha.
E o mundo segue:
o trem fazendo piuí
o Brasil Piauí
e nós psiiii... silêncio de hospital!
Não era um rio
não era um rei
era um exemplo
um sonho previsto
no manual de instrução
para gente e árvore.
Pena que não exista verde depois da morte
para o morto lutar pelo verde que já morreu!
ATRAVESSANDO OS ARCOS
Minha rua tem passarela
e às vezes arcos-da-chuva
mas o meu maior desafio
é atravessar o meio-fio
sem pensar nela
Vento viajeiro
leva minha mala de horizontes
e põe no coração da minha amada
um pôr-do-sol e um diamante
leva minha mala de horizontes
e põe no coração da minha amada
um pôr-do-sol e um diamante
Recita
receita ou sopra
esse poema
assassinado às pressas
com a minha letra
e a minha tristeza
receita ou sopra
esse poema
assassinado às pressas
com a minha letra
e a minha tristeza
Já gritei por escrito
duzentas vezes
no livro de insistências
mas ela só namora de ouvido
não conhece clave de sol
nem fã sustenido
duzentas vezes
no livro de insistências
mas ela só namora de ouvido
não conhece clave de sol
nem fã sustenido
Como a traça
lê a seu modo
procuro entender
o motivo
lê a seu modo
procuro entender
o motivo
Eu venho eu vou
eu vivo em busca do sublime
que nenhuma hp imprime
O sublime
que pode ser somente
estar deslumbrado
com o que há de mais simples
Como por exemplo:
atravessar (com ela)
de mãos dadas
os Arcos — íris — da Lapa
A PÁTRIA É O HOMEM
eu vivo em busca do sublime
que nenhuma hp imprime
O sublime
que pode ser somente
estar deslumbrado
com o que há de mais simples
Como por exemplo:
atravessar (com ela)
de mãos dadas
os Arcos — íris — da Lapa
A PÁTRIA É O HOMEM
Tenho um irmão em Santiago
nunca me enviou uma carta
nunca me ligou a cobrar
nunca me falou de seu filho mais moço
nunca me emprestou seu lenço
Não dividiu comigo qualquer silêncio
não fomos vistos juntos no bar
não soprou cisco no meu olho
não me trouxe no braço seu abraço
Jamais conversamos sobre cáries ou carências
jamais me ensinou a dançar la cueca
jamais me assustou com um tremor de terra
jamais repartimos bolo de locos
Se é operário, florista ou agita-dor
se lê Neruda, toma pisco ou doma-dor
se sofre dos rins ou da cabeça
se conta nos dedos arrancados de Victor Jara,
não sei!
Tenho um irmão em Santiago
um irmão que jamais conheci
mas sei que é meu irmão
porque o vi via intelsati
gritando liberdade.
O HOMEM VIRTUAL
Como dentro do lar
nunca me ligou a cobrar
nunca me falou de seu filho mais moço
nunca me emprestou seu lenço
Não dividiu comigo qualquer silêncio
não fomos vistos juntos no bar
não soprou cisco no meu olho
não me trouxe no braço seu abraço
Jamais conversamos sobre cáries ou carências
jamais me ensinou a dançar la cueca
jamais me assustou com um tremor de terra
jamais repartimos bolo de locos
Se é operário, florista ou agita-dor
se lê Neruda, toma pisco ou doma-dor
se sofre dos rins ou da cabeça
se conta nos dedos arrancados de Victor Jara,
não sei!
Tenho um irmão em Santiago
um irmão que jamais conheci
mas sei que é meu irmão
porque o vi via intelsati
gritando liberdade.
O HOMEM VIRTUAL
Como dentro do lar
coubesse a terra toda,
navego um mar de arquivos
e mundos aparentes.
Sou de todos os lugares,
menos de mim mesmo.
Eu não me concluo
e, fragmentado,
cada pedaço meu
é um inimigo.
Atravessando rios
que não molham,
chão que não piso
gente que não sinto
(lágrimas de cristal líquido),
vivo o que não vivo
como foda em fada.
E falando nisso
a minha namorada
é o meu computador.
O mouse
a extensão do meu carinho,
meu webtesão.
São tantas opções de sexo
para uma masturbação perfeita
que, sobre o teclado,
minhas mãos queimam excitadas.
E gozo de vocês todos.
Gozo desse mundo
que já não é tão grande assim
e cabe dentro do meu silêncio.
Navegando essa nau online
persigo meu artificial destino.
Como diriam antigos navegadores:
Navegar é preciso
Viver não é preciso.
VIVA A VIDA
Quando alguém morria
VIVA A VIDA
Quando alguém morria
apressava-se em viver
vivia vivia vivia
depois esquecia...
Então alguém morria
vivia vivia vivia
depois esquecia...
Até que chegou o dia
que ninguém mais morria
esqueceu-se para sempre de viver.
MUNDINHO
Não sou homem do mundo
Sou da minha vasta escuridão
Do meu quintal para dentro
Do meu peito pra fora
Não sou homem do mundo
Sou da janela onde acomodo meus cotovelos
Dos chinelos que reinventam meus dedos
Do recorte de chão que semeia meus pés plantados
Não sou homem do mundo
Sou do meu velocípede quebrado na infância
Dos meus medos e mapas desvairados
Meu passaporte inválido, minha esperança inútil
Minha face instalada
Não sou homem do mundo
Sou das minhas plantas sinceras
Meus pássaros e minha gaiola
Meu sofá de nuvens
Meu rodízio de doenças
Minhas crenças absurdas
Meu corrimão de letras
Não sou homem do mundo
Sou do meu grito
Do que vivi e fui vivido
Das minhas miudezas...
Eu sou do meu mundinho
(Ricardo do Carmo – 2010)
...
vivia vivia vivia
depois esquecia...
Então alguém morria
vivia vivia vivia
depois esquecia...
Até que chegou o dia
que ninguém mais morria
esqueceu-se para sempre de viver.
MUNDINHO
Não sou homem do mundo
Sou da minha vasta escuridão
Do meu quintal para dentro
Do meu peito pra fora
Não sou homem do mundo
Sou da janela onde acomodo meus cotovelos
Dos chinelos que reinventam meus dedos
Do recorte de chão que semeia meus pés plantados
Não sou homem do mundo
Sou do meu velocípede quebrado na infância
Dos meus medos e mapas desvairados
Meu passaporte inválido, minha esperança inútil
Minha face instalada
Não sou homem do mundo
Sou das minhas plantas sinceras
Meus pássaros e minha gaiola
Meu sofá de nuvens
Meu rodízio de doenças
Minhas crenças absurdas
Meu corrimão de letras
Não sou homem do mundo
Sou do meu grito
Do que vivi e fui vivido
Das minhas miudezas...
Eu sou do meu mundinho
(Ricardo do Carmo – 2010)
Realização
Lineu Roberto de Moura
Presidente
Robles Celmo de Carvalho
Robles Celmo de Carvalho
Administrador Geral
Esqueceram-se de dizer que este escritor(?)
ResponderExcluiré também um galã.
Ricardo, na busca de belos poemas, arrisquei clicar no seu nome. Pode crer: encontrei muito mais do que esperava.
ResponderExcluirObrigada pelos belissimos poemas e , de joelhos, obrigada pelo "Chico Mendes" e "A Pátria é o Homem".
Valeu meu dia hoje!!!
Emília Casas
Ricardinho, muito lindo "Viva a Vida"...Valeu!!
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