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UMA CIDADE SEM MEMÓRIA CULTURAL É UMA CIDADE SEM FUTURO HISTÓRICO

Mário de Andrade


São Paulo - SP
1893-1945
Mário Raul de Morais Andrade (Nascido em 9 de outubro de 1893 e falecido em 25 de fevereiro de 1945 em São Paulo); poeta, professor, ensaísta, jornalista, crítico, musicólogo, teórico de arte, folclorista. Ele foi o "papa" do "Modernismo Brasileiro", mas antes andou freqüentando as regiões do parnasianismo. Antes de mais nada, para se chegar ao parnasianismo, é preciso entender os três grandes ciclos da literatura universal: o Oriental, o Clássico e o Ocidental, que deram luz às escolas principais, ou maiores, sob o ponto de vista rigorosamente estético, que são: a Clássica, a Romântica, a Realista, a Simbolista e a Modernista. "O Parnasianismo, movimento, sem dúvida, dos mais importantes da literatura ocidental, segundo pensamento dos grandes historiadores e teoristas literários, não é considerado uma escola, mas uma notável tendência do Realismo. Nas mesmas condições estariam o Naturalismo e o Impressionismo". (João Rangel Coelho)
Não nos compete aqui dissertarmos sobre o Parnasianismo, mas pelo menos entendermos o que este movimento tanto atraiu e tanto inspirou poetas no mundo inteiro, sendo que a muitos poetas seduziu a alma, e a outros gerou o ódio e a revolta por não conseguirem, em suas vãs tentativas, a perfeição dos versos parnasianos. Da mesma forma Mário de Andrade acometeu-se ao doce canto parnasiano quando estreou, aos 24 anos, em 1917, com o livro "Há uma gota de sangue em cada Poema", de versos classificados de parnasianos e simbolistas, tendo-o publicado sob o pseudônimo de Mário Sobral. Em 1922 Mário de Andrade iniciou a "poesia moderna brasileira" com o livro "Paulicéia Desvairada", onde ele confessou que, perto de dez anos, metrificou e rimou. E afirmou que não era futurista, embora tivesse comunicação com o futurismo. Ele mesmo confessaria, mais tarde, em "O Empalhador de Passarinho": "Por esse tempo eu sofria de um complexo de inferioridade orgulhosíssimo. Não vê que pouco menos de um ano antes, eu escolhera, no amontoado milionário de meus versos, o que considerava de melhor, uns quinze sonetos, e mandara a Vicente de Carvalho, com uma carta assombrada de idolatria e servidão. E lhe pedia humildemente que me dissesse qualquer coisa, um "não" que fosse, para esclarecer as minhas dúvidas sobre mim. É quase absolutamente certo que Vicente de Carvalho recebeu a minha carta, entregue quase que às mãos dele, num dia em que ele se achava em casa. Jamais resposta veio, nem "sim" nem "não", nada. O que sofri de angústia, de despeito, de humilhação, de revolta, não se conta! E comecei a cultivar um complexo de inferioridade prodigiosamente feliz, que me deixava solto, livre, irresponsável, desligado dos meus ídolos poetas parnasianos, curioso de todas as inovações, sequaz incondicional de todas as revoltas." Por três décadas desempenhou um papel de vanguarda na literatura brasileira, com uma produção literária volumosa e sem fronteiras, como as já citadas acima, entre outras: Clã do Jabuti (1927) - Amar - verbo intransitivo (1927) - Macunaíma (1928), além de inúmeras obras de notável valor que constam em sua bibliografia. Correspondeu-se ininterruptamente com amigos como Manuel Bandeira, Carlos Drumomd de Andrade, Oswald de Andrade, Tarsila do Amaral, Fernando Sabino, Augusto Meyer e outros.Mário de Andrade foi o primeiro Diretor do Departamento de Cultura da Prefeitura de São Paulo (1934-1937). Também foi Diretor do Instituto de Artes do Rio de Janeiro e foi escolhido Patrono da Cadeira nº 40 da Academia Brasileira de Música.
Texto organizado por artculturalbrasil
Bibliografia:
Vasco de Castro Lima "O Mundo Maravilhoso do Soneto"Rangel Coelho "Tentativa de Prefácio"Agrippino Grieco "Evolução da Poesia Brasileira"Alceu Amoroso Lima "Quadro Sintético da Literatura Brasileira"
Fragmentos colhidos na internet
Mário de Andrade estudou no Grupo Escolar do Triunfo, no Ginásio Nossa Senhora do Carmo e no Conservatório Dramático e Musical de São Paulo, vindo a lecionar, neste estabelecimento de ensino, desde 1922, História da Música. Dirigiu o Departamento Municipal de Cultura, que ideou, nele promovendo cursos de etnografia e folclore. Dotou-o também de Discoteca Pública. Foi Diretor do Instituto de Artes da Universidade do Distrito Federal, aí regendo a cátedra de Filosofia e História da Arte. Organizou o Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, do Ministério da Educação. Teve a iniciativa, em São Paulo, do Primeiro Congresso da Língua Nacional Cantada e elaborou, para o Instituto Nacional do Livro, o plano de uma Enciclopédia Brasileira. Dedicou-se à poesia, ao conto e ao romance, à crônica, ao ensaio, à crítica literária e de artes plásticas e à estética. Foi musicólogo, folclorista e conferencista.

Biografia

Mário Raul de Morais Andrade (São Paulo SP 1893 - idem 1945). Poeta, contista, romancista, crítico literário, folclorista e crítico musical. Passa a maior parte de sua vida em São Paulo, cidade com a qual mantém forte ligação. Forma-se bacharel em ciências e letras em 1909. Estuda no Conservatório Dramático e Musical de São Paulo em 1911. Em 1917, passa a colaborar com críticas de arte na Folha da Manhã e em O Estado de S. Paulo, entre outros periódicos. Já com o pseudônimo de Mário Sobral, lança seu primeiro livro: Há uma Gota de Sangue em Cada Poema. É um dos responsáveis pela criação da Revista Klaxon e organização da Semana de Arte Moderna, em 1922. Publica nesse ano Paulicéia Desvairada, considerado o primeiro livro de poemas do modernismo, no qual se encontram princípios de colagem típicos da pintura da época. Nas escadarias do Teatro Municipal, onde ocorre a Semana de 22, lê, de seu recém-lançado livro, o Prefácio Interessantíssimo, apontando pressupostos e caminhos a serem seguidos pela poesia modernista e a fundação do "desvairismo", revelando afinidades com a chamada "escrita automática", pregada pelo escritor francês André Breton (1896 - 1966), fundador do surrealismo. Ainda na década de 1920, publica marcos do movimento em todas as formas de verso e prosa: a poesia experimental de Losango Cáqui, o uso do folclore nos poemas de Clã do Jabuti, os contos de Primeiro Andar, o ensaio A Escrava que Não É Isaura (em que aprofunda os pressupostos do Prefácio Interessantíssimo) e os romances Amar, Verbo Intransitivo e Macunaíma, o Herói sem Nenhum Caráter. Macunaíma, traduzido para vários idiomas, conjuga o conhecimento do folclore nacional, o tratamento literário requintado e abordagens psicanalíticas dos mitos. Em 1927, realiza sua primeira viagem etnográfica à Amazônia, pesquisando e recolhendo manifestações de cultura popular. Nos anos 1930, dirige o Departamento de Cultura da Prefeitura de São Paulo, funda a Discoteca Pública e promove o 1º Congresso de Língua Nacional Cantada, além de dar grande impulso à Revista do Arquivo Municipal. Entre 1938 e 1940, reside no Rio de Janeiro e leciona estética na Universidade do Distrito Federal, atual Universidade do Estado do Rio de Janeiro - Uerj.
Mais sobre Mário de Andradehttp://www.itaucultural.org.br/

Quarenta Anos

A vida é para mim, está se vendo,
uma felicidade sem repouso:
eu nem sei mais se gozo, pois que o gozo
só pode ser medido em se sofrendo.
Bem sei que tudo é engano, mas, sabendo
disso, persisto em me enganar... Eu ouso
dizer que a vida foi o bem precioso
que eu adorei. Foi meu pecado... Horrendo
seria, agora que a velhice avança,
que me sinto completo e além da sorte,
me agarrar a esta vida fementida.
Vou fazer do meu fim minha esperança,
ó sono, vem!... Que eu quero amar a morte
Com o mesmo engano com que amei a vida.

Poemas da amiga
A tarde se deitava nos meus olhos
E a fuga da hora me entregava abril,
Um sabor familiar de até-logo criava
Um ar, e, não sei porque, te percebi.
Voltei-me em flor. Mas era apenas tua lembrança.
Estavas longe doce amiga e só vi no perfil da cidade
O arcanjo forte do arranha-céu cor de rosa,
Mexendo asas azuis dentro da tarde.
Quando eu morrer quero ficar,
Não contem aos meus amigos,
Sepultado em minha cidade,
Saudade.
Meus pés enterrem na rua Aurora,
No Paissandu deixem meu sexo,
Na Lopes Chaves a cabeça
Esqueçam.
No Pátio do Colégio afundem
O meu coração paulistano:
Um coração vivo e um defunto
Bem juntos.
Escondam no Correio o ouvido
Direito, o esquerdo nos Telégrafos,
Quero saber da vida alheia
Sereia.
O nariz guardem nos rosais,
A língua no alto do Ipiranga
Para cantar a liberdade.
Saudade...
Os olhos lá no Jaraguá
Assistirão ao que há de vir,
O joelho na Universidade,
Saudade...
As mãos atirem por aí,
Que desvivam como viveram,
As tripas atirem pro Diabo,
Que o espírito será de Deus.
Adeus.
Descobrimento
Abancado à escrivaninha em São Paulo
Na minha casa da rua Lopes Chaves
De supetão senti um friúme por dentro.
Fiquei trêmulo, muito comovido
Com o livro palerma olhando pra mim.
Não vê que me lembrei que lá no Norte, meu Deus!
muito longe de mim
Na escuridão ativa da noite que caiu
Um homem pálido magro de cabelo escorrendo nos olhos,
Depois de fazer uma pele com a borracha do dia,
Faz pouco se deitou, está dormindo.
Esse homem é brasileiro que nem eu.
Lundu do escritor difícil
Eu sou um escritor difícil
Que a muita gente enquizila,
Porém essa culpa é fácil
De se acabar duma vez:
É só tirar a cortina
Que entra luz nesta escurez.
Cortina de brim caipora,
Com teia caranguejeira
E enfeite ruim de caipira,
Fale fala brasileira
Que você enxerga bonito
Tanta luz nesta capoeira
Tal-e-qual numa gupiara.
Misturo tudo num saco,
Mas gaúcho maranhense
Que pára no Mato Grosso,
Bate este angu de caroço
Ver sopa de caruru;
A vida é mesmo um buraco,
Bobo é quem não é tatu!
Eu sou um escritor difícil,
Porém culpa de quem é!...
Todo difícil é fácil,
Abasta a gente saber.
Bajé, pixé, chué, ôh "xavié"
De tão fácil virou fóssil,
O difícil é aprender!
Virtude de urubutinga
De enxergar tudo de longe!
Não carece vestir tanga
Pra penetrar meu caçanje!
Você sabe o francês "singe"
Mas não sabe o que é guariba?—
Pois é macaco, seu mano,
Que só sabe o que é da estranja.
Aceitarás o amor como eu o encaro ?...
Aceitarás o amor como eu o encaro ?......
Azul bem leve, um nimbo, suavemente
Guarda-te a imagem, como um anteparo
Contra estes móveis de banal presente.
Tudo o que há de melhor e de mais raro
Vive em teu corpo nu de adolescente,
A perna assim jogada e o braço, o claro
Olhar preso no meu, perdidamente.
Não exijas mais nada. Não desejo
Também mais nada, só te olhar, enquanto
A realidade é simples, e isto apenas.
Que grandeza... a evasão total do pejo
Que nasce das imperfeições. O encanto
Que nasce das adorações serenas.
Leia a A carta de Anita a Mário na Flanela Paulistana

2 comentários:

  1. qual é a critica do poema: Aceitarás o amor como o encaro?

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  2. Prezado Israel! Com um dia de atraso motivado por questões particulares, seguem as minhas considerações sobre o seu questionamento “qual é a critica do poema: Aceitarás o amor como o encaro?” Posso dizer-lhe que esse poema faz parte da primeira fase da poesia de Mário, no qual se notam resquícios parnasianos: rimas, ritmo, etc. Mais tarde, Mário abandona essas formas para assumir o verso livre em seus poemas. Lembrando que se trata de um soneto.
    É um poema sensual e muito lindo. Não temos por hábito realizar análises solicitadas pelos leitores do Blog, visto que o objetivo do mesmo é difundir a Cultura e a Literatura, suscitando nos leitores a curiosidade e o prazer literário. Sei que não é o seu caso, mas já vivi situações em que a resposta a certos questionamentos foram utilizados em trabalhos de graduação e pós graduação. Posso adiantar-lhe que cada pessoa vê, sente e idealiza o amor conforme os seus sentimentos e o seu caráter. Assim, a maneira como encaramos o amor pode não ser aquilo que o ser amado espera ou esperava que o fosse. Espero que prossiga na sua curiosidade cultural das descobertas de sentidos que se escondem e permeiam cada poema! Parabéns e obrigada mesmo!

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