Visite nosso faceArtCulturalBrasil

UMA CIDADE SEM MEMÓRIA CULTURAL É UMA CIDADE SEM FUTURO HISTÓRICO

Alves Júnior


Juiz de Fora - MG
+ 1944
ArtCulturalBrasil agradece a Revista Histórica de Juiz de Fora - 2005 - Ed. Bumerangue -  que gentilmente nos forneceu a foto e os sonetos do poeta Alves Júnior. Pesquisamos exaustivamente outras informações sobre Alves Júnior, no site da prefeitura de Juiz de Fora e no site da UFJF, e nada encontramos sobre a biografia deste importante poeta juiz-forano. Fica nossa observação de que uma cidade sem memória cultural, sem identidade com o passado de seus filhos ilustres, é uma cidade sem conexão com o futuro. O texto de abertura é do jornalista e historiador juiz-forano Paulino de Oliveira.

Vou falar agora dos meus amigos mortos, dos amigos importantes e dos amigos humildes. Começo por Alves júnior, que pode ser incluído nas duas categorias. Foi um dos rapazes mais inteligentes que conheci. José Alves Júnior, filho de um modesto pedreiro, começou a vida como tipógrafo, depois de ter feito o curso primário. Não chegou a ser um bom tipógrafo, porque logo depois revelou-se como jornalista. E, como não fazia fé nas redações, devido à sua pouca idade, fundou o seu próprio jornal - "O Alicate". Ainda não havia começado a fazer versos ou, se fazia, não os publicava, mas era já um bom clarinetista. De tanto implicar com o namoro dos outros no seu jornal, Alves Júnior acabou sendo também um namorador, tornando-se noivo com menos de vinte anos de idade. Foi então que se revelou como poeta, publicando o seu primeiro livro de versos com este título besta: "Alma de cisne... coração de pomba". Não falarei dos seus versos, porque não entendo de Poesia. Sinto a Arte, gostando ou não gostando. Assim, sobre os versos de Alves Júnior, só posso dizer que gosto deles. Depois de "O Alicate", Alves Júnior arranjou uma namorada em Mar de Espanha, desfez o seu noivado aqui, e fundou lá um novo jornal. Por havê-lo envolvido na política, colocando-o ao lado de um grupo, elementos de outro grupo empastelaram suas oficinas. Acabou recebendo do Estado uma pequena indenização. Voltou para Juiz de Fora em 1929, indo fazer comigo e Sales Duarte a campanha da Aliança Liberal no "Correio de Minas", então de propriedade do coronel Severino Costa. Eu era chefe dos dois, ganhando quatrocentos e cinqüenta mil réis por mês. Alves Júnior, trabalhando menos, ganhava duzentos e Sales Duarte quinhentos. Este, porém, não recebia do jornal, mas de uma serraria do coronel, de sociedade com João Silveira Filho, existente na rua Marechal Deodoro. Téo Sobrinho era tipógrafo e ainda não tinha esse pseudônimo. Era o Teodorinho (Teodoro Lenz Sobrinho). Depois da revolução de 30, creio que Alves Júnior fundou a "Folha de Minas". Em 1932 colocou-se ao lado da revolução constitucionalista e teve que fugir com Carlos Lourenço Jorge. Foram homiziar-se na fazenda do dr. Alberto Rodrigues Silva, em São José das Três Ilhas. Arthur Bernardes havia dito: "Fico com São Paulo, porque para lá se transplantou a alma cívica do Brasil". Toda Juiz de Fora ficou, inclusive os políticos que um dia viraram, depois de uma visita do dr. José Bernardino, que aqui veio como porta-voz de Olegário Maciel. Eu já era funcionário da Prefeitura, mas, mesmo assim, fiquei com São Paulo e com Bernardes. Pedro Marques sabia disso, mas não me criou nenhum embaraço. Alves Júnior regressou a Juiz de Fora e continuou por alguns anos a sua vida de boêmio. Acompanhei-o nela, às vezes, mas com certa moderação. Adoeceu, afinal, e foi internado num sanatório de Belo Horizonte. Lá, também tinha as suas saídas, fazia as suas noitadas e, por isso, ao invés de melhorar, foi piorando cada dia e acabou morrendo. Seu amigo das últimas horas foi Albertino Gonçalves Vieira, que pleiteou do então prefeito José Celso Valadares, transportar seus restos mortais para Juiz de Fora, por conta da Prefeitura, mas não o conseguiu. Cleonice Rainho reuniu seus versos (seis livros) num volume, em 1956, o qual foi publicado por conta do Município. Lá, no seu "Poema bataclânico", em que descreve figuras e figurinhas do Cinema Pax, estou retratado como um "filósofo inveterado e jornalista anarquizado, que faz da vida brincadeira".
INVERNIA


Aperto as mãos enregeladas, frias,
Como o teu coração que é um campo morto
Onde deixei as minhas alegrias,
E encontrei o primeiro desconforto...
A neblina umedece as serranias
Em que descanso meu olhar absorto,
Sob a saudade de passados dias,
Carpindo toda angústia do meu horto.
Uma ternura infinda me atormenta,
Sonho-te junto a mim, toda carinho,
Vencendo o tédio que me desalenta...
Mas tu não vens... E eu sinto-me sozinho,
Olhando a serrania que apresenta
Toda mágoa que paira em meu caminho.
...

LONGE DA VISTA

Para dar consolo, um lenitivo
A esta saudade que me traz penando,
A distância em que vives e em que vivo
Eu costumo vencer, de quando em quando.
Vou visitar-te. E volto, pensativo,
Pensando mais em ti e mais te amando,
E inutilmente busco, em vão, motivo
Para a dor desta ausência ir abrandando.
Sempre que volto, meu amor, eu vejo
Que é cada vez maior o meu desejo
De ter-te sempre junto a mim... E em vão,
Busco ocultar a dor que me contrista:
- Quanto mais longe estás de minha vista
Mais perto ficas do meu coração!
...

CONTRASTES
Quando por mim outrora ela passava,
E os olhos vivos para mim volvia,
Uma grande esperança em mim cantava,
Que de esperanças eu então vivia...
Hoje, se acaso a vejo como a via,
Hoje, que é dor esta minha alma escrava,
Não sinto o mesmo encanto que sentia,
E já não canto como então cantava.
É a eterna lei da natureza: agora,
Uma ilusão ao náufrago que chora,
Amanhã, uma lágrima ao feliz...
Assim, eu que vivi ontem cantando,
Sofro hoje a angústia que me vai matando,
Por amor de um amor que tanto quis...


...

Um comentário:

  1. Cesar Olimpio Ribeiro Magalhães12:45

    Juiz de Fora, MG., EM 14 DE NOVEMBRO DE 2010.
    Jose Alves Junior é o meu patrono na academia Juiz-Forana de Letras. Quando tomei posse na cadeira no. 08, 26 de novembro de 2OO4, desta Academia pesquisei um pouco sobre este jornalista/poeta. A minha apologia foi simples, não tive tempo para aprofundar-me nos seus escritos. Posteriormente fui agraciado pelo escritor, ALMIR DE OLIVEIRA , com mum livro de Cleonice Rainho, um florilégio sobre AlvES Junior
    A cidade de JF HOMENAGEOU o escritor num bairro cuja rua tem o seu nome. Todos os seus trabalhos são admiráveis, contudo, a poesia DEUSA despertou-me a atenção de forma muito especial:
    " Essa por quem minha alma se extasia,
    nos arroubos extremos da paixão.
    Essa que traz nom olhar toda a magia
    dos mais ricos templários da ilusão.
    Essa que encarna a doce nostalgia
    dessa líricas tardes de verão.
    essa que é a predileta fantasia
    das fantasias do meu coração;
    Busca, debalde o mundo conhece-la.
    E só logra saber que ela é uma estrela.
    Que , a caminho da glória me conduz .
    Mas eu não sou avaro e aqui digo:
    - Essa DEUSA que sempre andou comigo,
    ÉS TU POESIA, ESPLENDOROSA LUZ!

    cesar olimpio ribeiro magalhães- cad 08 AJFL

    ResponderExcluir