Barroco Brasileiro II


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BARROCO BRASILEIRO II
4.2 - Padre Antônio Vieira:

Padre Antônio Vieira, nasceu em Lisboa, em 1608. Aos sete anos parte com a família para a Bahia, no Brasil, onde o pai exercia a função de secretário do Governo.

Estuda no colégio jesuíta da Bahia e ingressa em 1623, na Companhia de Jesus, recebendo ordens em 1635 e iniciando nessa altura o seu trabalho como pregador. Em 1641, parte para Lisboa com o governador para apresentar-se ao rei D. João IV, de quem se tornaria confessor. Ele aderiu à causa da Restauração, que foi o movimento pelo qual Portugal liberta-se do domínio espanhol. O rei encarregou-o de várias missões diplomáticas na Holanda e em Roma. Não sendo bem sucedido nestes encargos, regressou novamente ao Brasil e dedicou-se à missionação dos índios. Politicamente, Vieira tinha contra si a pequena burguesia cristã, por defender o capitalismo judaico e os cristãos-novos; os pequenos comerciantes, por defender um monopólio comercial; os administradores e colonos, por defender os índios. Após a morte de D. João IV, essas posições tomadas por Vieira, principalmente a defesa dos cristãos-novos, lhe custam uma condenação pela Inquisição. Fica preso de 1665 a l667. Com a subida ao trono de D. Pedro II, Padre Antônio Vieira é absolvido.

Depois, regressa definitivamente à Bahia, onde morre com quase 90 anos de idade, no Colégio da Bahia.

O padre Antônio Vieira foi missionário, pregador, diplomata, político e escritor.

Sua obra pode ser dividida da seguinte maneira:

As Profecias organizadas em três obras: História do futuro, Esperanças de Portugal e Clavis prophetarum, em que se notam o Sebastianismo e as esperanças de Portugal se tornar o Quinto Império do Mundo, pois, tal fato estaria escrito na Bíblia. Isso demonstra seu estilo alegórico de interpretação bíblica, um nacionalismo megalomaníaco e uma servidão incomum, própria dos Jesuítas.

As Cartas, que se contam cerca de 500, versam sobre o relacionamento entre Portugal e Holanda, sobre a Inquisição e os cristãos-novos e sobre a situação da Colônia. Constituem importantes documentos históricos.

Os Sermões, que buscam arrebatar o ouvinte para despertar sua consciência, convidam-no a pensar e a agir. É interessante que visando a esse objetivo o jesuíta geralmente estabelece analogias entre o presente vivo e a Bíblia. São quase 200 sermões, e representam o melhor da obra de Vieira. De estilo barroco conceptista, totalmente oposto ao Gongorismo, o predador português joga com as idéias e os conceitos, segundo os ensinamentos da retórica dos jesuítas.

Um de seus principais sermões é o Sermão da sexagésima, pregado na Capela Real de Lisboa em 1655 e conhecido também por “A palavra de Deus”. “O Sermão da Sexagésima”, de caráter metalingüístico, versa sobre a arte de pregar em suas dez partes. Nele Vieira usa de uma metáfora: pregar é como semear. Traçando paralelos entre a parábola bíblica sobre o semeador que semeou nas pedras, nos espinhos (onde o trigo frutificou e morreu), na estrada (onde não frutificou) e na terra (que deu frutos), Vieira critica o estilo de outros pregadores contemporâneos seus (e que muito bem caberia em políticos atuais), que pregavam mal, sobre vários assuntos ao mesmo tempo (o que resultava em pregar em nenhum), ineficazmente e agradavam aos homens ao invés de pregar servindo a Deus, conforme vocês poderão observar na transcrição abaixo do “Sermão da sexagésima”:

“Será por ventura o estilo que hoje se usa nos púlpitos? Um estilo tão dificultoso, um estilo tão afetado, um estilo tão encontrado a toda parte e a toda natureza? Boa razão é também esta. O estilo há de ser muito fácil e muito natural. Por isso, Cristo comparou o pregar ao semear. Compara Cristo o pregar ao semear, porque o semear é uma arte que tem mais de natureza que de arte.


Já que falo contra os estilos modernos, quero alegar por mm o estilo do mais antigo pregador que houve no Mundo. E qual foi ele? O mais antigo pregador que houve no Mundo foi o Céu. Suposto que o Céu é pregador, deve ter sermões e deve ter palavras. E quais são estes sermões e estas palavras do Céu? As palavras são as estrelas, os sermões são a composição, a ordem, a harmonia e o curso delas. O pregar há de ser como quem semeia, e não como quem ladrilha ou azuleja. Não fez Deus o céu em xadrez de estrelas, como os pregadores fazem o sermão em xadrez de palavras. Se de uma parte está branco, de outra há de estar negro: se de uma parte está dia, de outra há de estar noite? Se de uma parte dizem luz, da outra hão de dizer sombra; se de uma parte dizem desceu, da outra hão de dizer subiu. Basta que não havemos de ver num sermão duas palavras em paz? Todas hão de estar sempre em fronteira com o seu contrário?(...)


Mas dir-me-eis: Padre, os pregadores de hoje não pregam do Evangelho, não pregam das Sagradas Escrituras? Pois como não pregam a palavra de Deus? – Esse é o mal. Pregam palavras de Deus mas não pregam a Palavra de Deus”[1].

Dentre as obras mais conhecidas de Vieira, destacam-se ainda o “Sermão pelo bom sucesso das armas de Portugal contra as de Holanda” pregado na Igreja de Nossa Senhora da Ajuda, na Bahia, em 1640. Nele, Vieira incita o povo a combater os holandeses falando sobre os horrores e depredações que os protestantes fariam: “entrarão por esta cidade com fúria de hereges e vencedores, não perdoarão o estado, o sexo nem a idade”. Há também, o “Sermão de Santo Antônio”, chamado de “Sermão aos peixes”, sobre os colonos que aprisionavam índios.
Com características bastante diferentes do Padre Antônio Vieira, Manuel Botelho que comentaremos a seguir; cantava o Brasil e seu nativismo.

4.3 – Manuel Botelho de Oliveira:

Manuel Botelho de Oliveira nasceu em 1636, era de uma família abastada de Salvador e estudou Leis em Lisboa, sendo contemporâneo de Gregório de Matos. Dedicou-se à advocacia na Bahia com sucesso. Foi vereador, advogado e agiota. Foi também o primeiro escritor nascido no Brasil a ter uma obra impressa. O trabalho de Manuel Botelho de Oliveira é de cunho estilizado, e o mesmo não representa o universo brasileiro senão no seu poema “À Ilha de Maré”, pelo seu caráter pictórico, exuberância de minúcias, e especialmente pela preocupação por uma paisagem brasileira, manifestando um nativismo, que o próprio poeta justifica na dedicatória ao Duque do Cadaval. “Ilha de Maré” foi um dos primeiros poemas a louvar a terra, conforme poderão observar na transcrição do mesmo:

“Esta Ilha de Maré, ou de alegria,
Que é termo da Bahia,
Tem quase tudo quanto o Brasil todo,
Que de todo o Brasil é breve a pôdo;
E se algum tempo Cietéria a achará,
Por esta sua chipre desprezada,
Porém tem com Marília verdadeira
Outra vênus melhor por padroeira”[2].

Outras belas ilustrações da obra de Manuel Botelho encontram-se nos poemas que se seguem abaixo. O primeiro deles é “Desdém e formosura”, onde o poeta inclui com maestria um tema caro à psicanálise que é a relação entre o belo e a morte.

“Querendo ver meu gosto
O cândido e purpúreo de teu rosto,
Sinto o desdém tirano,
Que fulmina teu rosto soberano;
Mata-me o equívoco, o belo me convida,
Encontro a morte, quando busco a vida”[3].

No seguinte poema, “Teme que seu amor não possa encobrir-se”, podemos observar como o poeta dá voz à desmedida do desejo; bem ao gosto do estilo barroco.

“Não pode bela ingrata,
Encobrir-se este fogo, que me mata;
Que quando calo as dores,
Teme meu coração que entre os ardores
Das chamas, que deseja,
Meu peito se abra, e minha fé se veja”[4].

4.4 - Bento Teixeira:

Bento Teixeira era portuense, cristão novo, nascido em 1565, veio para o Brasil por volta de 1567 e estudou com os Jesuítas na Bahia para seguir a carreira eclesiástica. Exerceu o magistério particular e a advocacia.

Em 1570 foi preso pelo assassinato da mulher, possivelmente por crime de adultério; acoitou-se então, no convento de Beneditinos, em Pernambuco; foi condenado a 20 anos de prisão, que não se sabe ao certo se cumpriu. Foi mais ou menos nessa época que escreveu a Prosopopéia.
A Prosopopéia é um poema encomiástico, ou seja, que se refere ao louvor; foi publicado em Lisboa, em 1601, cujo título significa discurso feito por pessoa fictícia, no caso, por Proteu, figura mitológica marinha, deus dos vaticínios, ou seja, que profetiza, prenuncia algo. É um pequeno poema épico em que o poeta exalta a figura de Jorge Albuquerque Coelho e seu irmão Duarte, donatários da Capitania de Pernambuco. É uma imitação de Os Lusíadas, com 94 estâncias em oitava- rima e decassílabos heróicos com todas as partes clássicas do modelo épico renascentista: proposição, inovação, dedicatória e narração. Porém esta sua perspectiva épica renascentista revela-se secundária dado que se encontra atravessada por uma inspiração trágica e barroca. Na prosopopéia a narrativa é feita por Proteu, referindo os acontecimentos heróicos no Brasil. Segue abaixo, parte desse poema:

“Ò sorte, tão cruel, como mudável,
Por que usurpas aos bons o seu direito?
Escolhes sempre o mais abominável,
Reprovas, e abominas o perfeito.
O menos digno, fazes agradável,
O agradável mais, menos aceito.
Ò frágil, inconstante, quebradiça,
Roubadora dos bens, e da justiça!”[5].

Em 1594, o poeta denunciou-se cristão novo perante o Visitador do Santo ofício em Olinda e é mandado para Lisboa para ser julgado, onde abjurou o judaísmo, obtendo liberdade condicional. Faleceu na prisão em Lisboa não se sabe quando.

Bento Teixeira muito se aproveitou d’Os Lusíadas (episódios, imagens conceitos, maneiras de dizer, esquemas rítmicos e rímicos), em muitos pontos deu-se o direito de discordar, e até explicitamente, do seu modelo camoniano, e por vezes, também, de seus modelos antigos, que considera e declara errados no que respeita a crença no elemento mitológico.
A crítica em geral, em conformidade com os cânones clássicos da época, não lhe atribuiu grande valor literário, porém, merece a atenção dos historiadores por ser a primeira obra poética, que deu início a uma linhagem laudatória e ufanista da terra e da gente brasileira.

5 - A utilização de características da linguagem barroca no mundo contemporâneo

O barroco está sendo aqui enfocado como um estilo atemporal, eterno. Não propriamente como uma negação do espírito clássico, mas como outra forma de estética com características e peculiaridades próprias.

É certo que na atualidade está ocorrendo uma reapropriação de características do estilo barroco em setores significativos da arte; agora, porém, conquistando uma legitimidade estética. Sobre este fenômeno nos diz Irlemar Chiampi: “tem o valor de uma experiência poética que inscreve o passado na dinâmica do presente para que uma cultura avalie suas próprias contradições na produção da modernidade.”[6]

Vários autores da atualidade adotaram o estilo barroco em seus poemas e músicas. O que ocorre é que temas como o conflito, a morte, o grotesco, o absurdo da vida, são eternos, sempre preocuparam e sempre preocuparão o ser humano e em certos momentos, por razões diversas, permanecem no cenário cultural. Por razões histórico-sociais, esses temas absorvem o homem barroco e diríamos, o barroquismo de todos os tempos. Aproveitaremos este movimento para comentar aspectos de um novo barroco literário em manifestação.

Assim, serão utilizados nesse trabalho, versos de Carlos Drummond de Andrade. De fato, este grande poeta contemporâneo tem a “alma barroca”, isto é, sua sensibilidade combina com a do estilo barroco, e isso se manifesta em inúmeros poemas de sua autoria.

Também vamos utilizar as poesias de Affonso Ávila, ensaísta e Diretor da Revista Barroco, editada pela UFMG que é um poeta ligado a tendências predominantemente concretistas no qual, seus poemas buscam, em geral, uma interligação entre os aspectos temático, rítmico e visual. No entanto, Affonso Ávila, carrega uma forte herança barroca. Tal herança parece ser incorporada e trabalhada de forma inconsciente pelo poeta, que denominou um de seus livros de Barrocolagens. Nesta obra, o autor realiza, de fato, colagens de textos de Padre Antônio Vieira, Gregório de Matos Guerra, entre outros, misturados a versos de sua autoria, nos quais, reproduz o estilo discursivo e a temática barroca.[7]

Assim, apresentaremos neste capítulo algumas relações entre o estilo literário barroco e o estilo desses autores contemporâneos:

No que diz respeito ao sentimento que a realidade humana é absurda, sem solução, repleta de contrastes, Drummond fala por nós:

“O amor não nos explica. E nada basta,
nada é de natureza assim tão casta.

que não macule ou perca a sua essência
ao contato furioso da existência

Nem existir é mais que um exercício
de pesquisar da vida um vago indício

a provar a nós mesmos que, vivendo,
estamos para doer, estamos doendo”[8].


Bem como Caetano em Tropicália canta a expressão do grotesco, do chocante, do monstruoso, dando a ver o “feísmo”, ou o “belo horrível” magistralmente barroco:

“O monumento não tem porta
a entrada é uma rua antiga estreita e torta
e no joelho uma criança sorridente
feia e morta estende a mão”[9].

Também é comum ao mundo moderno a angústia religiosa, ligada à mistura entre o sagrado e o profano, que Drummond tão bem apresenta no “Poema das sete faces”:
“(...)Meu Deus por que me abandonastese sabias que eu não era Deusse sabias que eu era fraco.Mundo mundo vasto mundo,Se eu me chamasse Raimundoseria apenas rima, não seria solução.Mundo mundo vasto mundo,mais vasto é meu coração.Eu não devia te dizermas essa luamas esse conhaquebotam a gente comovido como o diabo”[10].

Em muitos poemas da atualidade é comum a expressão do conflito, manifestado através da anteposição de imagens e sentimentos antagônicos conforme o demonstra “Anjo de duas faces” de Affonso Ávila:


“Anjo de duas faces,
o sol e as trevas, eis,
E vós, Indecisão,
serpente me venceis

Bigênito demônio
solevando punhal,
deuses escarnecendo,
sois o Bem, sois o Mal?
Sorriso de mulher
em pose de invectiva,
o choro da criança
Não morta, semiviva

Anjo de duas faces,
duplo lago reflete
o olhar de uma condena,
o olhar de outra promete.[11]”


Ainda em Affonso Ávila é fácil encontrar o rebuscamento, a sutileza e a complexidade das idéias que são características especiais do barroco. O poema abaixo é um belo exemplo disso:


“Os remédios do amor e o amor sem remédio
são as quatro coisas e uma só
o primeiro remédio é o tempo
tudo cura o tempo, tudo faz esquecer,
tudo gasta, tudo digere, tudo acaba
atrevesse o tempo a colunas de mármore,
quanto mais a coração de cera?
são as afeições como a vida,
que não há mais certo sinal
de haverem de durar pouco,
que terem durado muito”[12].

Apesar de possuírem características barrocas, não se pode dizer que os textos de Drummond, Ávila e Caetano Veloso são barrocos, pois, eles apresentam, em sua predominância traços que caracterizam a literatura do nosso tempo. A técnica de colagem de Affonso Ávila, por exemplo, é tendência da arte moderna. Os poemas de Drummond por sua vez, apresentam uma visão moderna do universo, ainda que os sentimentos do poeta se manifestem, muitas vezes, através de formas barrocas de expressão. Bem como, Caetano Veloso que utiliza a linguagem barroca nas suas composições, porém, as músicas são modernas. Assim, como citamos acima, entre o barroco e o moderno parece que inúmeros laços podem ser tecidos como bem demonstra o trabalho de Chiampi[13] em seu texto.

[1] VIEIRA, Pe. Antônio. Sermões. Rio de Janeiro, AGIR, JGIR, 1960, p. 107.
[2] Op. cit., p. 74.
[3] AMORA. Antônio Soares. Panorama da poesia brasileira: Era luso-brasileira. Vol. I. Rio de Janeiro,
Editora Civilização Brasileira, 1959, p. 64.
[4] Op. cit., p. 65.
[5] Op. cit., p. 09
[6] CHIAMPÍ, Irlemar. Barroco e modernidade. Ensaios sobre literatura latino- americana. São Paulo, Editora Perspectiva, Fapesp, 1998, p.3.
[7] In: www.geocities.com/alcalina.gel/39litera/
[8] In: www.geocities.com/alcalina.gel/39litera/
[9] VELOSO, Caetano. “Tropicália”. O melhor de Caetano Veloso. LP Compact Disc. Poly Gram/Philips, 1989, faixa 3.
[10] In:http://demolay.virtualave.net/new/index.html
[11] In: www.geocities.com/alcalina.gel/39litera/
[12] In: www.geocities.com/alcalina.gel/39litera/
[13] CHIAMPÍ, Irlemar. Barroco e modernidade. Ensaios sobre literatura latino- americana. São Paulo, Editora Perspectiva, Fapesp, 1998.



A literatura barroca, como uma forma de criação artística, estaria referida ao campo daquilo que é impossível de ser simbolizado. O texto é lacunar, se serve à função de desvelar algo. Assim como a pulsão de morte destacada por Lacan o barroco aponta para a relação do sujeito a um “mais – além” do campo da representação simbólica.


A exacerbação das metáforas acentua o universo arbitrário em que vivemos já que somos sujeitos da linguagem. O barroco sugere e excita a participação do leitor. O apelo desmedido à experiência dos sentidos, a utilização de inúmeras figuras de linguagem e a presença de uma rica estruturação formal possibilitam a comunicação de uma realidade intransmissível. A articulação das palavras produz um efeito de fascinação e enigma, permitindo ao leitor apreender subjetivamente o texto. Como nos diz Afonso Ávila sobre a criação literária barroca, “temos uma forma que se abre sem determinar limites, apelando a um êxtase dos sentidos.”[1]

O limite do poder da representação é evidenciado pelo fato de o inconsciente não se esgotar e pela influência da pulsão de morte no psiquismo. Barroco e psicanálise se enderaçam para além do mito do Pai já que denunciam valores que tentam calar o enigma da existência, não reduzem a vida à representação. Buscam situar a relação do sujeito ao gozo, “é a economia do gozo que nele opera para além do que a linguagem pode distinguir”.[2]

A obra de arte barroca exalta o não racional que alheio à subjetividade revela uma dimensão de gozo que está para além do sujeito. Paradoxalmente, percebemos em tais obras a exibição do corpo que alude à obscenidade. É como se nesse modo de exibição do corpo, o que se pretendesse fosse a revelação da alma, a apreensão da verdade do sujeito que em última instância encontra-se além de seu modo particular de subjetivação.

Por todo o exposto, verifica-se que o barroco utilizando-se de temas contraditórios e conflituosos, como a morte, o absurdo da vida, o diferente toca uma dimensão de apreensões que são eternas, sempre estarão presentes na vida das pessoas. A criação barroca por seu caráter bastante autônomo, veio a praticamente propor uma abordagem particular da condição humana, quase que uma nova forma de agir e de ser. Desse modo, o contexto emocional que mobilizou seu surgimento não é alheio a outros períodos da história, o que justifica sua incidência em maior ou menor grau nas diversas expressões modernas da arte e da literatura no ocidente.

Assim, como enfatiza Denise Maurano, o inconsciente freudiano não é o avesso da consciência e o barroco não é uma decadência do clássico, mas apresenta suas características próprias de funcionamento e expressão. Portanto mais que um estilo artístico e literário, um estilo de vida que tomou conta do período compreendido entre o final do século XVI e o século XVII, e de que participaram todos os povos do Ocidente e, além disso, encontra expressão em diversos movimentos que constituem a modernidade. Eis a razão pela qual revela – se pertinente sua abordagem na atualidade.

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www.geocities.com/alcalina.gel/39litera/
www.proex.ufu.br/consti/hino.html
http://demolay.virtualave.net/new/index.html
[1] ÁVILA, Affonso. O Lúdico e as Projeções do Mundo Barroco. São Paulo, Editora Perspectiva, p.217.
[2] MAURANO, Denise. Na tragédia da subjetividade: A ascenção da expressão barroca na cultura. Inédito, s/d, p.100


Recomendamos
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Lineu Roberto de Moura

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