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Para o meu Perdão
(Adelmar Tavares - Pernambuco - 1888- 1963)
Eu que proclamo odiar-te, eu que proclamo
Querer-te mal, com fúria e com rancor,
Mal sabes tu como, em segredo, te amo
O vulto pensativo e sofredor.
Quem vê o fel que em cólera derramo,
No ódio que punge, desesperador,
Mal sabe que, se a sós me encontro, chamo
Por teu amor, com o mais profundo amor...
Mal sabe que, se acaso, novamente,
Buscasses o calor do velho ninho
De onde um capricho te fizera ausente,
Eu, esquecendo a tua ingratidão,
Juncaria de rosas o caminho
Em que voltasses para o meu perdão...
(Adelmar Tavares - Pernambuco - 1888- 1963)
Eu que proclamo odiar-te, eu que proclamo
Querer-te mal, com fúria e com rancor,
Mal sabes tu como, em segredo, te amo
O vulto pensativo e sofredor.
Quem vê o fel que em cólera derramo,
No ódio que punge, desesperador,
Mal sabe que, se a sós me encontro, chamo
Por teu amor, com o mais profundo amor...
Mal sabe que, se acaso, novamente,
Buscasses o calor do velho ninho
De onde um capricho te fizera ausente,
Eu, esquecendo a tua ingratidão,
Juncaria de rosas o caminho
Em que voltasses para o meu perdão...
Hão de chorar por ela os Cinamomos...
(Alphonsus de Guimaraens - Minas Gerais - 1870-1921)
Hão de chorar por ela os cinamomos,
Murchando as flores ao tombar do dia.
Dos laranjais hão-de cair os pomos,
Lembrando-se daquela que os colhia.
As estrelas dirão: - "Ai! nada somos,
Pois ela se morreu silente e fria"...
E, pondo os olhos nela como pomos,
Hão-de chorar a irmã que lhes sorria.
A Lua, que lhe foi mãe carinhosa,
Que a viu nascer e amar, há-de envolvê-la
Entre lírios e pétalas de rosa.
Os meus sonhos de amor serão defuntos...
E os arcanjos dirão no azul, ao vê-la,
Pensando em mim: - "Por que não vieram juntos?".
Contraste
(Padre Antonio Tomás - Ceará - 1868-1941)
Quando partimos no verdor dos anos,
Da vida pela estrada florescente,
As esperanças vão conosco à frente,
E vão ficando atrás os desenganos.
Rindo e cantando, céleres e ufanos,
Vamos marchando descuidosamente...
Eis que chega a velhice, de repente,
Desfazendo ilusões, matando enganos.
Então, nós enxergamos, claramente,
Como a existência é rápida e falaz,
E vemos que sucede exatamente
O contrário dos tempos de rapaz:
- Os desenganos vão conosco à frente
E as esperanças vão ficando atrás.
O Frade e a Freira
(Benjamim Silva - Espírito Santo - 1897-1954)
Na atitude piedosa de quem reza
E como que num hábito embuçado,
Pôs naquele recanto a natureza
A figura de um frade recurvado.
E sob um negro manto de tristeza
Vê-se uma freira tímida a seu lado,
Que vive ali rezando, com certeza,
Uma oração de amor e de pecado...
Diz a lenda - uma lenda que espalharam -
Que aqui, dentre os antigos habitantes,
Houve um frade e uma freira que se amaram...
Mas que Deus os perdoou lá do infinito,
E eternizou o amor dos dois amantes
Nessas duas montanhas de granito!
Ato de Caridade
(Djalma Andrade - Minas Gerais - 1894-1975)
Que eu faça o bem e de tal modo o faça,
Que ninguém saiba o quanto me custou.
- Mãe, espero de Ti mais esta graça:
Que eu seja bom, sem parecer que o sou.
Que o pouco que me dês, me satisfaça
E, se do pouco mesmo, algum sobrou,
Que eu leve esta migalha onde a desgraça
Inesperadamente penetrou.
Que a minha mesa, a mais, tenha um talher,
Que será, minha Mãe, Senhora Nossa,
Para o pobre faminto que vier.
Que eu transponha tropeços e embaraços:
- Que eu não coma, sozinho, o pão que possa
Ser partido, por mim, em dois pedaços!
As Pombas
(Raimundo Correia - Maranhão - 1860-1911)
Vai-se a primeira pomba despertada...
Vai-se outra mais... mais outra... enfim dezenas
De pombas, vão-se dos pombais, apenas
Raia, sanguínea e fresca, a madrugada...
E, à tarde, quando a rígida nortada
Sopra, aos pombais, de novo, elas serenas,
Ruflando as asas, sacudindo as penas,
Voltam todas em bando e em revoada...
Também dos corações, onde abotoam,
Os sonhos, um por um, céleres voam,
Como voam as pombas dos pombais:
No azul da adolescência as asas soltam,
Fogem... Mas aos pombais as pombas voltam,
E eles ao coração não voltam mais!...
Velho Tema (I)
(Vicente de Carvalho - São Paulo - 1866-1924)
Só a leve esperança, em toda a vida,
Disfarça a pena de viver, mais nada.
Nem é mais a existência, resumida,
Que uma grande esperança malograda.
O eterno sonho da alma desterrada,
Sonho que a traz ansiosa e embevecida,
É uma hora feliz sempre adiada
E que não chega nunca em toda a vida.
Essa felicidade que supomos,
Árvore milagrosa, que sonhamos
Toda arreada de dourados pomos.
Existe, sim, mas nós não a alcançamos,
Porque está apenas onde nós a pomos
E nunca a pomos onde nós estamos.
Que uma grande esperança malograda.
O eterno sonho da alma desterrada,
Sonho que a traz ansiosa e embevecida,
É uma hora feliz sempre adiada
E que não chega nunca em toda a vida.
Essa felicidade que supomos,
Árvore milagrosa, que sonhamos
Toda arreada de dourados pomos.
Existe, sim, mas nós não a alcançamos,
Porque está apenas onde nós a pomos
E nunca a pomos onde nós estamos.
Legenda dos Dias
(Raul de Leoni - Petrópolis - RJ - 1895-1926)
O Homem desperta e sai cada alvorada
Para o acaso das cousas... e à saída,
Leva uma crença vaga, indefinida,
De achar o ideal nalguma encruzilhada...
As horas morrem sobre as horas... Nada!
E ao Poente, o Homem, com a sombra recolhida,
Volta pensando: "Se o Ideal da Vida
Não veio hoje, virá na outra jornada “...
Ontem, hoje, amanhã, depois, e, assim,
Mais ele avança, mais distante é o fim,
Mais se afasta o horizonte pela esfera...
E a Vida passa... efêmera e vazia;
Um adiamento eterno que se espera,
Numa eterna esperança que se adia...
A Espera
(Manuel Batista Cepelos - São Paulo - 1872-1915)
Com sua voz assustadinha e doce,
Doce como um trinar de passarinho,
Ela me disse que esperá-la fosse,
Fosse esperá-la à beira do caminho.
Mas o tempo de espera prolongou-se,
Prolongou-se demais! E, então, sozinho,
Passei o dia. Veio a tarde e trouxe,
Trouxe arrulhos de amor, de ninho em ninho.
Desespero. O silêncio me tortura.
Mas de repente, alvoroçado escuto
Um farfalhar de folhas na espessura.
Ela chega e tão linda, de maneira
Que só para gozar este minuto
Eu a esperara a minha vida inteira.
Renúncia
(Manuel Bandeira - Pernambuco - 1886-1968)
Chora de manso e no íntimo... Procura
curtir sem queixa o mal que te crucia:
o mundo é sem piedade e até riria
da tua inconsolável amargura.
Só a dor enobrece e é grande e é pura.
Aprende a amá-la que a amarás um dia.
Então ela será tua alegria,
e será. ela só, tua ventura...
A vida é vã como a sombra que passa...
Sofre sereno e de alma sobranceira,
sem um grito sequer, tua desgraça.
Encerra em ti tua tristeza inteira.
E pede humildemente a Deus que a faça
tua doce e constante companheira...
Legado
(Carlos Drummond de Andrade - MG - 1902-1987)
Que lembrança darei ao país que me deu
tudo que lembro e sei, tudo quanto senti?
Na noite do sem-fim, breve o tempo esqueceu
minha incerta medalha, e a meu nome se ri.
E mereço esperar mais do que os outros, eu?
Tu não me enganas, mundo, e não te engano a ti.
Esses monstros atuais, não os cativa Orfeu,
a vagar, taciturno, entre o talvez e o si.
Não deixarei de mim nenhum canto radioso,
uma voz matinal palpitando na bruma
e que arranque de alguém seu mais secreto espinho.
De tudo quanto foi meu passo caprichoso
na vida restará, pois o resto se esfuma,
uma pedra que havia em meio do caminho.
Soneto da Fidelidade
(Vinícius de Morais – Rio de Janeiro – 1913 – 1980)
De tudo, ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que, mesmo em face do maior encanto,
Dele se encante mais meu pensamento.
Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento.
E assim, quando mais triste me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive,
Quem sabe a solidão, fim de quem ama,
Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama,
Mas que seja infinito enquanto dure.
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gosto muito de sonetos
ResponderExcluirExiste uma nova forma de soneto, o Soneto Brasileiro. http://pt.wikipedia.org/wiki/Soneto_Brasileiro
ResponderExcluirEis um exemplo
Trombetas
Após alguns dias apenas de comprada,
Quando já eras nascida, porém, fechada,
Comecei a sentir seu som pela narina
Ao chegar perto para em aberto vê-la
E observar o seu levantar de saias
E naqueles roxos tecidos sobrepostos
Se vêem os viveres não só seus, mas nossos
Nos panos abaixo dos seus panos mais rasos,
Dentro dos quais se veriam todos os passos
Pois abaixo do círculo calmo que dá ar
Ao som refreado de chuva que em tu há
Se vê suas línguas finas serpentear.
Nestes instrumentos de nome angelical
Há clara a cor daquele que os suporta.
ki bom
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