Guilherme de Almeida


Campinas - SP
1890-1969
No ano de 1936 Guilherme de Almeida encontrou-se com o cônsul japonês no Brasil, Kozo Ichige. Coicidência ou não, nesse mesmo ano começou a escrever "haicais em português". Os haicais são poemas japoneses compostos por três versos. No ano seguinte, publicou o artigo "Os Meus Haicais". Nele, além de expor suas Idéias de como seria o haicai em português, também os sistematizava.
Terceiro ocupante da Cadeira 15 da Academia Brasileira de Letras, eleito em 6 de março de 1930, na sucessão de Amadeu Amaral e recebido pelo Acadêmico Olegário Mariano em 21 de junho de 1930. Recebeu o Acadêmico Cassiano Ricardo.
Guilherme de Almeida (G. de Andrade e A.), poeta e ensaísta, nasceu em Campinas, SP, em 24 de julho de 1890, e faleceu em São Paulo, SP, em 11 de julho de 1969.
Filho do jurista e professor de Direito Estevam de Almeida, estudou nos ginásios Culto à Ciência, de Campinas, e São Bento e N. Sra. do Carmo, de São Paulo. Cursou a Faculdade de Direito de São Paulo, onde colou grau de bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais, em 1912. Dedicou-se à advocacia e à imprensa em São Paulo e no Rio de Janeiro. Foi redator de O Estado de São Paulo, diretor da Folha da Manhã e da Folha da Noite, fundador do Jornal de São Paulo e redator do Diário de São Paulo.
A publicação do livro de poesias Nós (1917), iniciando sua carreira literária, e dos que se seguiram, até 1922, de inspiração romântica, colocou-o entre os maiores líricos brasileiros. Em 1922, participou da Semana de Arte Moderna, fundando depois a revista Klaxon. Percorreu o Brasil, difundindo as idéias da renovação artística e literária, através de conferências e artigos, adotando a linha nacionalista do Modernismo, segundo a tese de que a poesia brasileira “deve ser de exportação e não de importação”. Os seus livros Meu e Raça (1925) exprimem essa orientação fiel à temática brasileira.
A essência de sua poesia é o ritmo “no sentir, no pensar, no dizer”. Dominou amplamente os processos rímicos, rítmicos e verbais, bem como o verso livre, explorando os recursos da língua, a onomatopéia, as assonâncias e aliterações. Na época heróica da campanha modernista, soube seguir diretrizes muito nítidas e conscientes, sem se deixar possuir pela tendência à exaltação nacionalista. Nos poemas de Simplicidade, publicado em 1929, retornou às suas matrizes iniciais, à perfeição formal desprezada pelos outros, mas não recaiu no Parnasianismo, porque continuou privilegiando a renovação de temas e linguagem. Sobressaiu sempre o artista do verso, que Manuel Bandeira considerou o maior em língua portuguesa.
A sua entrada na Casa de Machado de Assis significou a abertura das portas aos modernistas. Formou, com Cassiano Ricardo, Manuel Bandeira, Menotti del Picchia e Alceu Amoroso Lima, o grupo dos que lideraram a renovação da Academia.
Em 1932 participou da Revolução Constitucionalista de São Paulo e esteve exilado em Portugal. Distinguiu-se também com heraldista. É autor dos brasões-de-armas das seguintes cidades: São Paulo (SP), Petrópolis (RJ), Volta Redonda (RJ), Londrina (PR), Brasília (DF), Guaxupé (MG), Caconde, Iacanga e Embu (SP). Compôs um hino a Brasília, quando da inauguração da cidade. Em concurso organizado pelo Correio da Manhã foi eleito, 16 de setembro de 1959, “Príncipe dos Poetas Brasileiros” (4o do título).
Era membro da Academia Paulista de Letras; do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo; do Seminário de Estudos Galegos, de Santiago de Compostela; e do Instituto de Coimbra.
Traduziu, entre outros, os poetas Paul Géraldy, Rabindranath Tagore, Charles Baudelaire, Paul Verlaine e, ainda, a peça a peça Huis clos (Entre quatro paredes) de Jean Paul Sartre.
Fonte da biografia: (Academia Brasileira de Letras http://www.academia.org.br/)
Fragmentos colhidos na internet
Filho do jurista e professor de Direito Estevam de Almeida, estuda nos ginásios Culto à Ciência, de Campinas, e São Bento e N. Sra. do Carmo, de São Paulo.
No ano de 1912 forma-se em direito e passa a exercer as atividades tanto no ramo da advocacia como na área jornalística. Trabalha ainda como cronista social e crítico cinematográfico, além de atuar como redator de diversos jornais paulistanos, entre eles "O Estado de S. Paulo".No ano de 1917 faz sua estréia literária com a publicação do livro "Nós". Nessa obra percebe-se claramente que o poeta ainda influenciado pela cultura neoclássica. No entanto, "o trato pessoal do verso e a liberdade das imagens" já revelam que estamos diante de um precursor do modernismo. Logo em seguida Guilherme de Almeida publica mais quatro livros, ainda com características neoclássicas: A Dança das Horas (1919); Messidor (1919); A suave colheita, Livro de Horas de Sóror Dolorosa (1920) ; Era uma vez... (1922). Sobre esses cinco primeiros livros escritos por Guilherme de Almeida, Manuel Bandeira referiu-se assim: "Todos cinco pertencentes ao clima parnasiano-simbolista, todos cinco revelando um habilíssimo artista do verso, que, com mais fundamento ainda do que Bilac, poderia dizer que imita o ourives quando escreve".

O motivo de tantos elogios vindos de Manuel Bandeira não é em vão. Isso porque Guilherme de Almeida é um sonetista exímio que possui um estilo bem pessoal, pois trata o verso com extrema habilidade e, ao mesmo tempo, dá liberdade às imagens. Quando Manuel Bandeira diz que Guilherme de Almeida tem "mais fundamento ainda do que Bilac", ele refere-se a formação do poeta, pois ele sabia latim, grego e era um profundo conhecedor da cultura renascentista.

Depois desses primeiros livros, inicia-se a fase modernista do poeta: em 1922 participa da Semana de Arte Moderna e funda a revista Klaxon. Viaja pelo país fazendo conferências e palestras nas quais defende e divulga os princípios da renovação artística e estética do modernismo. No ano de 1924 publica a obra "A Frauta que Eu Perdi (subtítulo: Canções Gregas). No ano seguinte publica "Meu" e "Raça". Nessa fase percebe-se que os seus versos são livres e há também o uso de recursos como a sonoridade e a disposição gráfica. No entanto o significado desses versos, que volta e meia ainda possuem rima, não é muito agudo.Em 1928 entra para a Academia Paulista de Letras. Ocupa a cadeira que pertencera a seu pai. No ano de 1930, é eleito para ocupar a Cadeira n. 15, na sucessão de Amadeu Amaral, na Academia Brasileira de Letras. Foi recebido, em 21 de junho de 1930, pelo acadêmico Olegário Mariano. Ainda em 1930, com a publicação da obra "Você", percebe-se que a fase "modernista" do poeta chegou ao fim. Os poemas voltam a ter a forma fixa de soneto, como versos voltam a ser metrificados e rimas raras.
Em 1932, com a ascensão de Getúlio Vargas ao poder, Guilherme de Almeida, defensor da causa constitucionalista, alistou-se como soldado na revolução de 1932. Devido a esse ato, foi exilado por oito meses em Portugal, onde foi recebido com herói e como um dos maiores poetas da língua.Em 1933, em 1º de agosto, retorna do exílio e vai morar na Rua Pamplona em São Paulo.
No ano de 1936 Guilherme de Almeida encontro-se com o cônsul japonês no Brasil, Kozo Ichige. Coicidência ou não, nesse mesmo ano começou a escrever "haicais em português".
(arquivo arculturalbrasil)
Felicidade

Ela veio bater à minha porta
E falou-me a sorrir, subindo a escada:
“Bom dia, árvore velha e desfolhada”
E eu respondi: “Bom dia, folha morta”

Entrou: e nunca mais me disse nada...
Até que um dia (quando pouco importa!)
Houve canções na ramaria torta
E houve bandos de noivos pela estrada...

Então chamou-me e disse:“Vou-me embora!
Sou a felicidade! Vive agora
Da lembrança do muito que te fiz”

E foi assim que em plena primavera,
Só quando ela partiu contou quem era...
E nunca mais eu me senti feliz!

Soneto XXV
O nosso ninho, a nossa casa, aquela
nossa despretensiosa água-furtada,
tinha sempre gerânios na sacada
e cortinas de tule na janela.
Dentro, rendas, cristais, flores... Em cada
canto, a mão da mulher amada e bela
punha um riso de graça. Tagarela,
teu cenário cantava à minha entrada.
Cantava... E eu te entrevia, à luz incerta,
braços cruzados, muito branca, ao fundo,
no quadro claro da janela aberta.
Vias-me. E então, num súbito tremor,
fechavas a janela para o mundo
e me abrias os braços para o amor!

Soneto XXI
Fico - deixas-me velho. Moça e bela,
partes. Estes gerânios encarnados,
que na janela vivem debruçados,
vão morrer debruçados na janela.
E o piano, o teu canário tagarela,
a lâmpada, o divã, os cortinados:
- "Que é feito dela?" - indagarão - coitados!
E os amigos dirão: - "Que é feito dela?
"Parte! E se, olhando atrás, da extrema curva
da estrada, vires, esbatida e turva,
tremer a alvura dos cabelos meus;
irás pensando, pelo teu caminho,
que essa pobre cabeça de velhinho
é um lenço branco que te diz adeus!

Soneto XXXII
Quando a chuva cessava e um vento fino
franzia a tarde tímida e lavada,
eu saía a brincar, pela calçada,
nos meus tempos felizes de menino.
Fazia, de papel, toda uma armada;
e, estendendo meu braço pequenino,
eu soltava os barquinhos, sem destino,
ao longo das sarjetas, na enxurrada...
Fiquei moço. E hoje sei, pensando neles,
que não são barcos de ouro os meus ideais:
são feitos de papel, são como aqueles,
perfeitamente, exatamente iguais...
- Que os meus barquinhos, lá se foram eles!
Foram-se embora e não voltaram mais!

Essa que eu hei de amar…
Essa que eu hei de amar perdidamente um dia
será tão loura, e clara, e vagarosa,e bela,
que eu pensarei que é o sol que vem, pela janela,
trazer luz e calor a essa alma escura e fria.
E quando ela passar, tudo o que eu não sentia
da vida há de acordar no coração, que vela…
E ela irá como o sol, e eu irei atrás dela
como sombra feliz… — Tudo isso eu me dizia,
quando alguém me chamou. Olhei: um vulto louro,
e claro, e vagaroso, e belo, na luz de ouro
do poente, me dizia adeus, como um sol triste…
E falou-me de longe: "Eu passei a teu lado,
mas ias tão perdido em teu sonho dourado,
meu pobre sonhador, que nem sequer me viste!"

Indiferença
Hoje, voltas-me o rosto, se ao teu lado
passo. E eu, baixo os meus olhos se te avisto.
E assim fazemos, como se com isto,
pudéssemos varrer nosso passado.
Passo esquecido de te olhar, coitado!
Vais, coitada, esquecida de que existo.
Como se nunca me tivesses visto,
como se eu sempre não te houvesse amado.
Se às vezes, sem querer nos entrevemos,
se quando passo, teu olhar me alcanças
e meus olhos te alcançam quando vais.
Ah! Só Deus sabe! Só nós dois sabemos.
Volta-nos sempre a pálida lembrança.
Daqueles tempos que não voltam mais!

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